As Leis Morais são compreendidas como aquelas
que agrupam princípios, normas e/ou regras atinentes à conduta do ser, considerando
que este é um Espírito encarnado em processo evolutivo que lida, a todo tempo,
com a dualidade existente na Terra (bem e mal) e as suas inclinações íntimas. O
estabelecimento, portanto, de um arcabouço de orientações morais para o bem
viver e conviver, preconizado por Espíritos Missionários, a serviço da Luz
Maior, remontam o tempo. As suas formas de entendimento e aplicação, no
entanto, guardam fidelidade com o contexto cultural, consciencial e societal em
que se propagaram, ilustrando que o amparo e a Direção Divina sempre se
fizeram, fazem e farão presentes, a despeito da forma como a Humanidade recebe,
lida e pratica essas orientações, no exercício soberano dos livres-arbítrios.
As Leis Morais são também Leis Naturais, uma
vez que procedem do Divino e têm como características a eternidade, a
imutabilidade ao longo do tempo e das circunstâncias e a imparcialidade. Há uma
universalidade intrínseca que as regulam e as tornam perfeitas, embora elas
também tragam em si os germes do progresso. É pertinente lembrar que todas as
criaturas carregam as noções do certo e do errado (Leis Morais) no âmago do
ser, nas suas consciências, ilustrando a perfectibilidade das Leis, a sabedoria
e a igualdade de princípios que o Divino oportuniza, respeitando a diversidade
das individualidades e dando à todas as criaturas exatamente as mesmas balizas
de conduta.
As Leis que regem o mundo moral são essencialmente lastreadas nos ensinamentos do Mestre Jesus, que em vivência e em docência delas, corporificado no orbe terreno, instruiu a Humanidade e se converteu em modelo e guia, como responderam à Kardec os Espíritos Lumiares que sustentaram e organizaram a Codificação da Doutrina Espírita, quando questionados sobre o tipo mais perfeito que Deus ofereceu às criaturas (O Livro dos Espíritos, questão 625). Jesus, enquanto Espírito Crístico destinado a conduzir a Humanidade terrena, foi quem apresentou de maneira mais completa e profícua as Leis Morais que regem o Universo. Com uma metodologia própria, exaltou a moral interior e refutou as práticas exteriores como meio de melhoria das criaturas.
A Doutrina Espírita, repetindo e dilatando os
ensinamentos do Cristo Jesus, já no seu primeiro livro – O Livro dos
Espíritos, parte terceira – se dedica a apresentar, aprofundar e
esmiuçar todas as Leis Morais. Considera, pois, que o respeito, a conduta e a
vivência, amparadas nessas Leis, se convertem em caminhos preciosos e
fundamentais para a harmonização das criaturas, a integração coletiva e a
satisfação íntima. Regem, as Leis Morais, o progresso espiritual e o
estabelecimento de boas relações entre as criaturas. Aplicáveis em todas as
circunstâncias e sem sofrerem com a mutabilidade do tempo, elas se diferenciam
das leis humanas que são passageiras e sublinhadas por momentos históricos.
Convertem-se, dessa forma, em bases seguras para o crescimento e
desenvolvimento integral do ser, em direção à Luz Maior.
O Benfeitor Espiritual Áureo informa que “A
ordem é a base em que se assenta a grande harmonia do Universo. Em todos os
círculos da vida predomina a disciplina da Lei” (Sant’anna, 1993, p.
15). Na mesma cadência de ideias a Benfeitora Espiritual Joanna de Ângelis afirma
que as Leis Morais são atemporais acrescentando que “Invioláveis, constituem
o roteiro de felicidade pelo rumo evolutivo, impondo-se, paulatinamente, à
inteligência humana achando-se estabelecidas nas bases da harmonia perfeita em
que se equilibra a Criação” (Franco, 2019, p. 04). Derivam-se
desses raciocínios que as Leis Morais são melhores assimiladas e exercitadas, à
medida que se dilatam as consciências, à proporção em que o ser se desloca para
uma compreensão mais ampla da realidade se despojando de automatismos, cultivando
o esforço e a vontade e mantendo ideais superiores, como ensina
o Benfeitor Espiritual André Luiz (Xavier, 2005).
As
Leis Morais, conforme o Espiritismo, facultam a
aquisição, a potencialização e o desenvolvimento das virtudes, não se
circunscrevendo a um conjunto enrijecido de regras de conduta, mas sim em um
portfólio de aconselhamentos lógicos, sublimes e amorosos de direcionamento das
vidas. Figuram-se como possibilidades de exercitar e descobrir sentidos mais
amplos para a vida, tornando-a mais leve e bonita, numa acepção filosófica,
ética e espiritual. Com a Doutrina Espírita as Leis Morais são apresentadas e
divididas em dez partes, assim como foram dez os mandamentos recebidos por
Moisés, e em cada uma dessas Leis há orientações para a conduta, para o
equilíbrio espiritual, para a integração coletiva e para o bem-estar
individual.
A
Lei de Adoração não à toa é
apresentada primeiro. Através dela é estimulada a conexão com o Divino e o
culto sincero da prece. Há também advertências quanto à inutilidade da vida
contemplativa, da realização de sacrifícios e das práticas exteriores para a
adoração. Ensinam os Benfeitores Espirituais que a relação das criaturas com o
Criador pode ser simples, íntima, direta e não burocrática, bastando que o
coração se eleve com sinceridade e verdade.
A
Lei do Trabalho é apresentada como uma necessidade
para o Espírito que precisa de ações, práticas e movimentos para crescer. É uma
Lei da Natureza que faculta o desenvolvimento da inteligência e a aquisição de
habilidades. Não se circunscreve apenas à aquisição dos meios necessários para
a manutenção da vida na Terra, mas também se afigura como meio fundamental para
o progresso moral e espiritual. Assinalam os Benfeitores para a necessidade do
descanso e do respeito aos limites do trabalho. Derivam-se daí aconselhamentos
sobre a não exploração alheia e uma cultura de cooperação e solidariedade
laboral.
A
Lei de Reprodução é lastreada pela
necessidade da reencarnação enquanto mecanismo amoroso e generoso de recomeço e
evolução espiritual. Endossam os Benfeitores sobre as responsabilidades
afetivas, a importância da família e os cuidados nos relacionamentos amorosos.
Há um relevo ético-moral que precisa ser transportado, inclusive, quando se
analisam cristãmente, na contemporaneidade, outras formas legítimas e possíveis
de relações afetivossexuais, como as que marcam as sexualidades ditas
dissidentes. A criatura, independente da orientação sexual, é sempre convidada
a crescer e amar, a ser fecunda espiritualmente.
A Lei de Conservação fala
sobre o instinto e a necessidade da preservação e manutenção da vida, da saúde
e do bem-estar. Pode ser melhor entendida quando se dilatam as concepções e se
consideram as criaturas como biopsicossocioespirituais e multideterminadas.
Adicionalmente, é preciso também observar que a Terra é um ser vivo que reclama
cuidados cotidianamente e que não pode ser vilipendiada por interesses
materiais ou escusos, sem que a vida das criaturas que estão na crosta também
não seja afetada. Falam os Benfeitores a respeito do supérfluo e do necessário,
sobre o gozo dos bens terrenos e os meios de conservação.
A Lei de Destruição instrui sobre a
necessidade dos aprimoramentos e das renovações, por isso velhas estruturas,
formas e paradigmas, ao longo dos tempos, são substituídos e/ou superados. Os
Benfeitores distinguem sobre as destruições necessárias ao progresso e
renovação de toda a forma de vida na Terra, daquelas ocasionadas pelo abuso e
mau uso do livre-arbítrio. Apresentam, ainda, os flagelos destruidores como
mecanismos de aceleração do progresso (dores-lições) e as guerras, os
assassínios, as crueldades, os duelos e as penas de morte como características
da baixa evolução da Humanidade que, por vezes, é ensandecida pelos instintos.
A Lei de Sociedade indica a
necessidade da comunhão, das relações, das trocas, da interdependência e das
famílias para a realização da vida. Segundo os Benfeitores, o isolamento e o
silêncio são atitudes que criam obstáculos para o crescimento e o aprendizado.
A tarefa é evoluir convivendo e esta evolução só se dará em termos coletivos
quando as decisões, as escolhas e as atitudes das criaturas e agrupamentos
forem lastreadas no interesse e bem-estar coletivo, nas malhas da fraternidade,
justiça, amor e caridade, como bem assinalados pelo Mestre Jesus. As minorias
precisam ser acolhidas, as iniquidades desnaturalizadas, as desigualdades
superadas, caso se deseje instituir uma Nova Era, sob a luz do Cristo.
A Lei do Progresso fala sobre a
impermanência e sobre o aprimoramento de tudo. Absolutamente tudo, na matéria e
no Espírito, está assinalado para progredir, melhorar. Conforme os Benfeitores,
a marcha do progresso não pode ser interrompida, ainda que a Humanidade, no
usufruto do seu livre-arbítrio possa criar embaraços. Em meio a turbulentas e
complexas situações que assinalam as sociedades na atualidade, gestando questionamentos
e despetalando algumas esperanças, seguem todas as escolhas das coletividades
encarnadas passíveis de fornecerem aprendizados e de promoverem a melhoria e o
progresso individual e coletivo, quando da busca de superações e soluções para
aquilo que se converte enquanto danoso e malsão. O desafio perpassa por
entender e conceber o progresso em termos materiais e espirituais como uma Lei
e um direito para todas as criaturas.
A Lei da Igualdade afasta a ideia
de privilégios porque evidencia que todas as criaturas estão submetidas às
mesmas Leis e possuem espiritualmente as mesmas condições de ascender e
melhorar (igualdade natural). Desenvolve-se a ideia do aprimoramento das
aptidões e da manutenção destas pelo trabalho, vontade e esforço. Os
Benfeitores nesta parte também respondem sobre as desigualdades sociais, as
atribuindo ao egoísmo e ao orgulho. Ponderam sobre a desigualdade das riquezas,
sobre as provas da miséria e da riqueza, sobre a igualdade entre os direitos
das mulheres e dos homens e, também, sobre a igualdade após o túmulo. Meditando
nessa Lei é possível fazer ilações sobre a necessidade de equidade e inclusão
frente às diferentes condições de vida e as barreiras erguidas pelos marcadores
sociais de gênero, classe, origem, raça, orientação social, entre outros, que
aumentam distanciamentos, dificuldades e sofrimentos.
A Lei de Liberdade versa sobre as
responsabilidades e a inviolabilidade do livre-arbítrio. Os Benfeitores
destacam a liberdade natural, a de pensar e a da consciência. Concebem a
privação da liberdade (escravidão) como uma violação da Lei da Natureza,
desconstroem a ideia de fatalidade, ponderam a respeito do conhecimento do
futuro e, em síntese, dizem que quanto maior for o alinhamento da criatura às
Leis Divinas, maior o gozo e o usufruto da sua liberdade.
A Lei de Justiça,
Amor e Caridade se assenta na imprescindibilidade da
convivência sadia, amorosa, empática, justa, fraterna e indulgente. Esta Lei
congrega e sintetiza todas as Leis anteriores. O seu respeito possibilita a superação
e a cura de hostilidades, preconceitos e malquerenças que dificultam o livre e
leve fluir da vida. A sua vivência suaviza e pavimenta os caminhos para a
construção do Reino dos Céus no imo do ser que escoa para a melhoria da vida
coletiva. Esta lei aquilata o desenvolvimento moral e espiritual da criatura e
através dela se concebem, então, os aprimoramentos precisos, justos, amorosos e
caridosos para o exercício cristão da vida na Terra.
Todas as Leis Morais trazidas pelos Lumiares
da Espiritualidade, através de O Livro dos Espíritos, possibilitam
reflexões, educam o ser para posturas mais respeitosas, fraternas e amorosas,
ajudando na melhoria individual e coletiva, auxiliando também no progresso da
Humanidade. Desdobram-se essas lições nos capítulos constantes em O
Evangelho Segundo o Espiritismo que se pautam nos ensinamentos morais,
enquanto direcionamentos universais e essenciais para a vivência íntima das
lições do Cristo. Vale a leitura, a meditação e a vivência de todas essas
lições morais, como pródromos da evolução.
Fonte:
Letra espírita, por Gepherson Espínola.
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