1. Utilizada certa vez por Jesus, como podemos ler nos textos evangélicos, a expressão “a carne é fraca” tem sido repetida por pessoas que certamente atribuem ao corpo físico as atitudes infelizes e, por extensão, as quedas morais dos seres humanos. Provavelmente, outra não é a razão pela qual existem criaturas que procuram enfraquecer e mesmo flagelar o corpo, com o propósito de evitar as tentações.
2. A maceração do corpo, contudo, não produz
nem significa perfeição moral porque, evidentemente, uma não leva à outra. O
que se sabe é que o cuidado com o corpo material, promovendo a saúde e
prevenindo as enfermidades, influi de maneira importante sobre a alma,
porquanto para que essa prisioneira viva se expanda, e chegue a conceber as
ilusões da liberdade, tem o corpo de estar sadio, disposto, forte.
3. Com efeito, temos no corpo humano o mais
sublime dos santuários e uma das maravilhas da obra divina. Da cabeça aos pés,
sentimos a glória do Supremo Idealizador que, no curso incessante dos milênios,
organizou para o Espírito em crescimento o domicílio de carne em que a alma se
manifesta.
4. Não padece dúvida de que, isolado na concha milagrosa do corpo, o Espírito se encontra reduzido em suas percepções a limites que se fazem necessários. Visão, audição, tato padecem enormes restrições. O cérebro físico é gabinete escuro, que lhe proporciona ensejo de recapitular e reaprender. Conhecimentos adquiridos e hábitos arraigados aí jazem na forma estática de intuições e tendências.
O corpo físico é o instrumento passivo da alma
5. Dentro das grades dos sentidos
fisiológicos, o Espírito recebe, no entanto, gloriosas oportunidades de
trabalho em busca da autossuperação. Entendamos, pois: O corpo material é
instrumento de manifestação do Espírito encarnado. Não é ele – corpo – que é
fraco no tocante às quedas morais, mas sim o Espírito.
6. O corpo nada mais é que um instrumento
passivo e é de sua condição perfeita que depende a perfeita exteriorização das
faculdades do Espírito. Da cessação da atividade desse ou daquele centro
orgânico resulta o término da manifestação que lhe é correspondente. É daí que
provém toda a sabedoria da velha máxima “mente sã em corpo são”.
7. O corpo material não funciona apartado da
alma – ele é, em verdade, a sua representação. Suas células são organizadas
segundo as disposições perispirituais do indivíduo, de modo que o organismo
doente retrata um Espírito enfermo.
8. No que se refere ao “corpo são”, tem o
atletismo um papel importante e seria sua ação das mais edificantes no tocante
à saúde humana, se o homem em sua vaidade e egoísmo não houvesse viciado também
a fonte da ginástica e do esporte, transformando-a muitas vezes em tablado de
entronização da violência e do abastardamento moral da mocidade, iludida com a
força bruta e enganada pelos imperativos da chamada eugenia.
Não cuidar do corpo é desatender a lei de Deus
9. O homem tem o dever de velar pela
conservação do seu corpo. É esta uma lei absoluta, que não lhe é dado ab-rogar
e, por esse motivo, não lhe assiste o direito de sacrificar ao supérfluo os
cuidados que o veículo físico reclama.
10. Devemos amar nossa alma, sim, cuidando
igualmente da saúde do corpo, instrumento que serve à evolução daquela.
Desatender às necessidades que a própria Natureza prescreve é desatender à lei
de Deus, e tal atitude gera efeitos inevitáveis, como André Luiz registrou em
sua primeira obra.
11. Quando André, após ser examinado por
Henrique de Luna, escutou-o a dizer-lhe que lamentava tivesse “vindo pelo
suicídio”, André protestou: "Lutei mais de quarenta dias, na Casa de
Saúde, tentando vencer a morte. Sofri duas operações graves, devido a oclusão
intestinal..." O médico espiritual explicoulhe então que a oclusão
radicava-se em causas profundas. "Talvez o amigo não tenha ponderado
bastante. O organismo espiritual apresenta em si mesmo a história completa das
ações praticadas no mundo", explicou-lhe Henrique. (Nosso Lar, cap. 4)
12. A oclusão – observou em seguida o facultativo – derivava de elementos cancerosos e estes, por sua vez, de algumas leviandades cometidas por André no campo da sífilis. A moléstia talvez não assumisse características tão graves se seu procedimento mental no planeta estivesse enquadrado nos princípios da fraternidade e da temperança. Seu modo especial de agir, muita vez exasperado e sombrio, captara destruidoras vibrações nos que o rodeavam. A cólera é manancial de forças negativas para nós mesmos. A ausência de autodomínio, a inadvertência no trato com as pessoas, a quem muitas vezes ofendera sem refletir, conduziam-no com frequência à esfera dos seres doentes e inferiores. Foi isso que agravou o seu estado. Todo o aparelho gástrico fora destruído à custa de excessos de alimentação e de bebidas alcoólicas; a sífilis devorou-lhe energias essenciais; o suicídio era incontestável. (Obra citada, cap. 4)

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