210. Abrindo este capítulo, Delanne diz que seu objetivo é mostrar que os principais ensinos do Espiritismo decorrem de estudos minuciosos, harmônicos com as concepções modernas e constituindo uma filosofia religiosa de imponente realidade. Dito isso, ele passa a reportar, de forma reduzida, as informações contidas no cap. VI, “Uranografia geral”, de “A Gênese”, de Allan Kardec, a respeito do espaço, do tempo e da matéria. (Págs. 212 e seguintes)
211. A par dos textos extraídos d’ A Gênese,
o autor consignou nesta obra algumas informações interessantes sobre o assunto:
I) Tales de Mileto reconheceu a esfericidade da Terra e a causa dos eclipses.
II) Pitágoras ensinava o movimento diurno da Terra sobre seu eixo e seu
movimento anual em torno do Sol, e ligou os planetas e os cometas ao sistema
solar. III) Segundo Sir Charles Lyell, que empregou os métodos usados em
Geologia, mais de 300 milhões de anos transcorreram depois da solidificação das
camadas superficiais do globo terrestre. (Págs. 214 a 216)
212. As ciências físicas admitem - diz
Delanne - que todos os corpos têm suas moléculas animadas de duplo movimento:
de translação ou oscilação em torno de uma posição mediana e de libração
(balanço) ou de rotação em torno de um ou de muitos eixos. Esses movimentos se
efetuam sob a influência da lei de atração. (Pág. 220)
213. Nos sólidos, as moléculas se encontram dispostas segundo um sistema de equilíbrio ou de orientação estável; nos líquidos, acham-se em equilíbrio instável; nos gases, encontram-se em movimento de rotação e em perpétuo conflito umas com as outras. (Págs. 220 e 221)
214. Todos os corpos da Natureza se acham
submetidos a essas leis: seja a asa de uma borboleta, a pétala de uma rosa, o
rosto de uma donzela, o ar, o mar, ou o solo, tudo vibra, gira, se balança ou
se move. Repouso é, na Natureza, palavra carente de sentido. (Pág. 221)
215. Fechando o capítulo, Delanne disserta
sobre as famílias químicas e lembra que todos os tecidos dos vegetais e dos
animais são formados basicamente de combinações variadas de quatro gases
apenas: o hidrogênio, o oxigênio, o carbono e o nitrogênio, aos quais se
adicionam fracas quantidades de corpos sólidos em número muito reduzido. (Págs.
221 a 224)
216. Em suma, diz Delanne, a ideia de uma
matéria única, donde necessariamente tudo o mais derivaria, é também admitida
pelos sábios, e os Espíritos que a preconizaram estão, pois, de acordo com a
ciência contemporânea. (Pág. 225)
217. Delanne de novo se reporta ao cap. VI de
“A Gênese”, de Allan Kardec, parte do qual ele transcreve. Um fluido etéreo,
dizem os Espíritos, enche o espaço e penetra os corpos. Esse fluido é a matéria
cósmica primitiva, geratriz do mundo e dos seres. A Natureza – assevera Delanne
– jamais está em oposição a si mesma, e uma só é a divisa no brasão do
Universo: Unidade. (Pág. 227)
218. Escapa ao homem o poder de criar qualquer
parcela de energia, ou destruir a que existe. Transformar um movimento em outro
é tudo o que está ao seu alcance. Assim, não se pode criar a energia e firmado
está que ela não se destrói. (Pág. 228)
219. Pertence ao médico J. R. Mayer, de
Heilbronn, a Colding e ao físico Joule o mérito de haverem demonstrado que nem
uma só fração de energia se perde e que é invariável a quantidade total de
energia de um sistema fechado. (Pág. 228)
220. Para dissertar sobre o mundo espiritual,
Delanne se vale de parte do cap. XIX, “Os fluidos”, de “A Gênese”, em que Allan
Kardec mostra que os fluidos mais próximos da materialidade compõem a atmosfera
espiritual da Terra e é desse meio que os Espíritos encarnados ou desencarnados
extraem os elementos necessários às suas existências. (Pág. 231).
221. A solidificação da matéria mais não é -
segundo a obra citada - do que um estado transitório do fluido universal, que
pode volver ao seu estado primitivo, quando deixarem de existir as condições de
coesão. (Pág. 232)
222. É preciso - diz Delanne - que o público,
ao ouvir-nos falar de fluidos, se habitue a não ver nessa expressão um termo
vago, destinado a mascarar a nossa ignorância. Que todos fiquem bem persuadidos
de que estamos constantemente mergulhados numa atmosfera invisível, intangível
aos nossos sentidos, mas tão real quanto o próprio ar. (Pág. 233)
223. Se estudando a matéria gasosa, chegamos
a imaginar certos estados transcendentes, que não se dirá do estado radiante,
em que os átomos se movem a velocidades fantásticas? E tudo isso dentro dos
limites da matéria conhecida! (Pág. 235)
224. Nas primeiras idades da ciência, parecia
que as forças eram separadas e que o número delas se multiplicava ao infinito.
Pouco a pouco, porém, se reconheceu que efeitos diferentes podem derivar de uma
causa única. Newton identificou a gravidade e a atração, observando na queda da
maçã e na manutenção do astro em sua órbita efeitos de uma mesma causa: a
gravitação universal. Ampère demonstrou que o magnetismo é apenas uma forma de
eletricidade. (Págs. 236 e 237)
225. Nos dias atuais, uma grandiosa concepção
veio mudar de novo a face da ciência: a de que todas as forças da Natureza se
reduzem, na verdade, a uma só. A energia ou a força (são sinônimos os dois
termos) pode assumir todas as aparências, sendo, alternativamente, calor,
eletricidade, luz e dar origem às combinações e decomposições químicas. (Pág.
237)
226. Aquecer um corpo significa aumentar-lhe
o movimento interno, isto é, o movimento de suas moléculas. Ora, desde o átomo
invisível até o corpo celeste, tudo se acha sujeito a movimento, tudo gravita
numa órbita imensa ou infinitamente pequena. Em geral, a aceleração do
movimento das moléculas lhes aumenta as órbitas e as afasta uma das outras, ou,
por outras palavras, aumenta o volume dos corpos. (Págs. 237 e 238)
227. Sob a influência do calor, as moléculas
- afastando-se cada vez mais - fazem com que os corpos passem do estado sólido
ao líquido e, em seguida, ao gasoso. Persistindo o calor, os gases se dilatam
indefinidamente, e aí está o princípio que rege os veículos movidos a vapor.
(Pág. 238)
228. À medida que a matéria passa do estado
sólido ao estado líquido, o volume aumenta; depois, do estado líquido ao
gasoso, a dilatação se torna ainda maior, de sorte que a matéria se rarefaz, na
proporção em que o movimento molecular se pronuncia. Um litro d’ água, por
exemplo, dá 1.700 litros de vapor, isto é, ocupa um volume 1.700 vezes superior
ao que ocupava no estado líquido. Nessas condições, as atrações mútuas entre as
moléculas diminuem e o movimento oscilatório das mesmas se torna mais rápido.
(Págs. 238 e 239)
229. A velocidade das moléculas será tanto
maior quanto mais leve for o gás, ou seja, quanto menos matéria contiver na
unidade de volume. Assim, enquanto a velocidade média por segundo, à
temperatura do gelo em fusão (zero grau), é de 485 metros para as moléculas do
ar, ela alcança 1.848 metros por segundo no caso das moléculas do hidrogênio.
(Pág. 239)
230. Ora, se acompanharmos a ciência em suas
induções, será perfeitamente possível conceber um estado em que a matéria se
ache tão rarefeita que o seu movimento molecular a liberte da atração
terrestre. O éter dos físicos atende a essa concepção. (N.R.: A espuma quântica
da Física moderna corresponderia, segundo o professor Antônio Carlos Tôrres
Teixeira, de Leopoldina-MG, ao conceito espírita de fluido cósmico universal.)
(Pág. 240)
231. De acordo com o Espiritismo, os
Espíritos possuem um corpo fluídico que nenhuma das formas de energia pode
influenciar. Nem os frios intensos dos espaços interplanetários, nem a
temperatura de muitos milhares de graus dos sóis qualquer influência exercem
sobre a matéria perispirítica. (Pág. 241)
232. Os fluidos do mundo espiritual
caracterizam-se - segundo Delanne - por movimentos cada vez mais rápidos das
moléculas e dos átomos e, por isso, são sempre imponderáveis. (Pág. 245)
233. Encerrando este capítulo, o autor trata
da questão da ponderabilidade e explica por que um pedaço de ferro apresenta
pesos diferentes, conforme seja posto numa balança em Paris, no equador ou num
dos pólos do globo. É que o peso de um corpo mais não é do que a soma das
atrações exercidas pela Terra sobre cada uma das moléculas desse corpo. Ora, a
atração decresce com muita rapidez segundo o afastamento do objeto em relação
ao centro do planeta. Assim, um pedaço de ferro que pesasse 2 kg em Paris, no
equador pesaria menos 5,70 gramas e no pólo mais 5,70 gramas. (Pág. 246)
234. A gravidade é, portanto, uma propriedade
secundária, não ligada intimamente à substância, o que permite conceber com
certa facilidade como a matéria pode vir a ser imponderável. Basta-lhe
desenvolver uma força suficiente para contrabalançar a atração terrestre. (Pág.
247)
235. Os corpos que giram em torno de um
centro, como a Terra gira sobre si mesma, desenvolvem uma força que é
denominada força centrífuga, que tem por efeito diminuir o efeito da gravidade.
No pólo ela é nula e máxima no equador. Calculou-se que se a Terra girasse
dezessete vezes mais depressa, isto é, se fizesse sua rotação em 1 hora e 24
minutos, a força centrífuga se tornaria grande bastante para destruir a ação da
gravidade, de modo que um corpo colocado no equador deixaria de pesar. (Pág.
247)
236. Aplicando esses conhecimentos às
moléculas materiais, que são animadas também de um movimento duplo, de
oscilação e de rotação, possível nos será imaginar, para cada uma delas, um
movimento de rotação bastante rápido para que a força centrífuga desenvolvida
anule a de gravitação. Nesse momento, a matéria se tornará imponderável.
Aplicado o raciocínio à matéria fluídica, em que a rarefação é mais acentuada
do que nos gases, é fácil compreender por que a matéria perispirítica é
imponderável. (Págs. 247 a 249)
237. Concluindo, diz Delanne que os fluidos
formativos da atmosfera terrestre têm uma densidade bastante fraca, mas
suficiente para os reter em nossa esfera de atração. Decorre daí o motivo pelo
qual a alma, revestida do seu corpo fluídico, não pode abalar para o infinito,
no momento em que a morte a libera da prisão carnal. Somente quando se ache
terminada a sua evolução terrenal, quando o perispírito estiver suficientemente
desprendido dos fluidos grosseiros que o tornam pesado, é que o Espírito poderá
gravitar para outras regiões e abandonar, afinal, o seu berço. (Pág. 249)
238. À vista dos volumosos arquivos do
Espiritismo contendo relatórios promanantes de homens de ciência universalmente
estimados, seria necessária a mais insigne má-fé para não se reconhecer o
imenso alcance dessas experiências. Evidentemente, isso não quer dizer que
devamos aceitar todas as afirmações espíritas que nos forem feitas, porque
faz-se preciso, sobretudo nessas matérias, nos mostremos excessivamente severos
quanto ao valor dos testemunhos e proceder a uma seleção rigorosa no acervo das
observações. (Pág. 252)
239. Em todos os relatos sérios já publicados
sobre as materializações, a primeira parte da narrativa é consagrada à
descrição das providências tomadas para evitar o embuste, sempre suspeitável,
porque todo o cuidado ainda é pouco. Vejam-se por exemplo as clássicas
pesquisas de William Crookes: só ao cabo de três anos de investigações, feitas
na maioria em sua própria casa, conseguiu ele ver e fotografar simultaneamente
o Espírito e a médium, certificando-se assim de que a aparição não era devida a
um disfarce de Florence Cook. (Pág. 253)
Fonte:
A alma é imortal, Gabriel Delanne, traduzida por Guillon Ribeiro. FEB, 6a edição.

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