31. Na correspondência que manteve com Deleuze, o doutor Billot afirma sua crença na existência dos Espíritos e admite que os guias espirituais podem atuar sobre o corpo dos pacientes, pois foi, certa vez, testemunha de uma sangria que por si mesmo cessou, logo que o sangue saiu em quantidade suficiente, sem que houvesse necessidade de fazer-se qualquer ligadura. (Págs. 43 e 44)
32. Nessa correspondência, Deleuze revela, a
princípio, dificuldade em aceitar as ponderações do dr. Billot, mas, por fim,
admite também ter podido observar pacientes que se achavam em comunicação com
as almas dos mortos. (Pág. 45)
33. O magnetismo, segundo ele, demonstra a
espiritualidade da alma e sua imortalidade, e prova a possibilidade da
comunicação das Inteligências separadas da matéria com as que lhe estão ainda
ligadas. Relata Deleuze: “Uma moça sonâmbula, que perdera o pai, por duas vezes
o viu muito distintamente. Viera dar-lhe conselhos importantes. Depois de lhe
elogiar o proceder, anunciou-lhe que um partido se lhe ia apresentar; que esse
partido pareceria convir e que o rapaz não lhe desagradaria; mas, que ela não
seria feliz desposando-o, e, portanto, o recusasse. Acrescentou que, se ela não
aceitasse esse partido, outro logo depois apareceria, devendo achar-se tudo
concluído antes do fim do ano”. Os fatos ocorreram tal como foram preditos pelo
pai da jovem sonâmbula. (Pág. 45)
34. A fim de levar seu amigo a uma crença completa, o dr. Billot narrou-lhe alguns fenômenos de trazimento de objetos de que fora testemunha. Num deles, ocorrido a 17 de outubro de 1820, diz o dr. Billot que fora trazida à sessão uma planta - um arbúsculo com flores labiadas e em espigas - a exalar delicioso perfume. Antes que o transporte se desse, a sonâmbula informou ter visto uma donzela apresentando-lhe aquela planta, que, segundo ela, seria útil no tratamento de uma senhora com amaurose presente à sessão. (Págs. 46 e 47)
35. Por esse testemunho se vê que os
fenômenos de trazimento já eram conhecidos nos começos do século XIX, o que
demonstra mais uma vez a continuidade das manifestações espíritas que
constantemente se têm realizado, mas que o público rejeitava como diabólicas,
ou considerava apócrifas. O dr. Billot mostra ainda, em sua correspondência,
que não lhe era estranho o conhecimento da tiptologia. (Pág. 48)
36. Conta Chardel, autor da obra Fisiologia
do Magnetismo, que a sonâmbula Lefrey explicou-lhe certa vez, após lhe ditar
algumas prescrições terapêuticas, que lhe era possível ver muito bem o que saía
do corpo do magnetizador quando este a magnetizava. “A cada passe que o senhor
me dá - disse-lhe a sonâmbula -, vejo sair-lhe das extremidades dos dedos como
que pequenas colunas de uma poeira ígnea, que se vem incorporar em mim e,
quando o senhor me isola, fico por assim dizer envolta numa atmosfera ardente,
formada dessa mesma poeira ígnea.” (Pág. 49)
37. Na sequência, a sonâmbula informou
ser-lhe possível ouvir - sempre que quisesse - ruídos produzidos ao longe e
sons emitidos a cem léguas dali. Eis o que textualmente ela disse: “não preciso
que as coisas venham a mim; posso ir ter com elas, onde quer que estejam, e
apreciá-las com muito maior exatidão, do que o poderia qualquer outra pessoa
que não se encontre em estado análogo ao meu”. (Pág. 49)
38. Refere ainda Chardel que uma outra
sonâmbula costumava ter, à noite, uma espécie de êxtase, que explicava assim:
“Entro, então, num estado semelhante ao em que o magnetizador me põe e,
dilatando-se o meu corpo pouco a pouco, vejo-o muito distintamente longe de
mim, imóvel e frio, como se estivesse morto. Quanto a mim, assemelho-me a um
vapor luminoso e sinto-me a pensar separada do meu corpo. Nesse estado,
compreendo e vejo muito mais coisas do que no sonambulismo, quando a faculdade
de pensar se exerce sem que eu esteja separada dos meus órgãos. Mas, escoados
alguns minutos, um quarto de hora, no máximo, o vapor luminoso de minha alma se
aproxima cada vez mais do meu corpo, perco os sentidos, cessa o êxtase”. (Págs.
49 e 50)
39. Delanne argumenta que, se as almas
desencarnadas podem comunicar-se entre si, claro é que poderão manifestar-se
aos sonâmbulos, quando estes se acharem mergulhados no sono magnético, ocasião
em que - desprendido em parte do laço fisiológico - a alma se encontra num
estado quase idêntico ao em que um dia se achará permanentemente. (Págs. 50 e
51)
40. Os magnetizadores - esclarece Delanne -
se viram, em sua maioria, obrigados a reconhecer tal fato, como admite o dr.
Bertrand, autor de Tratado de Sonambulismo, o qual, falando de uma sonâmbula
muito lúcida, disse que a sonâmbula se exprimia sempre como se um ser distinto,
separado dela, lhe houvesse transmitido as noções extraordinárias que ela
manifestava no estado sonambúlico. (Pág. 51)
41. Atesta o Dr. Bertrand, em sua obra
referida: “Verifiquei o mesmo fenômeno na maior parte dos sonâmbulos que tenho
observado. O caso mais vulgar é o em que ao sonâmbulo parece que os
acontecimentos que ele anuncia lhe são revelados por uma voz”. (Pág. 51)
42. O barão du Potet, por longo tempo
incrédulo, foi também constrangido a confessar a verdade. Diz ele ter
encontrado de novo, no magnetismo, a espiritologia antiga e afirma que se pode
entrar em contato com os Espíritos desprendidos da matéria, ao ponto de
obter-se deles aquilo de que tenhamos necessidade. (Pág. 51)
43. Delanne adverte, contudo, que devemos
preservar-nos com cuidado de dar crédito às afirmações dos sonâmbulos, salvo
quando assentem em provas absolutas, do gênero das que foram aqui reproduzidas,
apresentadas pelo dr. Billot. É que, na maior parte das vezes, os pacientes são
sugestionados pelo experimentador e por sua própria imaginação. Carece, pois,
de valor positivo a visão de um Espírito, se não existe certeza absoluta de que
não se trata de uma auto-sugestão do sonâmbulo ou de uma transmissão de
pensamento do operador. (Pág. 52)
44. Com Cahagnet, autor de Os Arcanos da vida
futura desvendados, não há dúvida: Espíritos que viveram entre nós se mostram,
conversam, movem-se e afirmam categoricamente que a morte não os atingiu.
Evidentemente, quando seu livro surgiu, tudo o que a ignorância, o fanatismo e
a tolice fizeram posteriormente contra a doutrina espírita foi então despejado
sobre o pobre magnetizador. (Pág. 53)
45. Cahagnet era, porém, um lutador soberbo
que, combatendo vigorosamente seus contraditores, reduziu-os ao silêncio. O
ponto culminante de sua obra - que contém as descrições de experiências
realizadas com oito extáticos que possuíam a faculdade de ver os desencarnados
- foi atingido com um deles: Adélia Maginot, com quem obteve longa série de
evocações. Há na obra mais de 150 atas firmadas por testemunhas que declararam
haver reconhecido os Espíritos descritos pela sonâmbula. (Pág. 54)
46. Após reproduzir um dos casos tratados por
Cahagnet, Delanne esclarece que ninguém jamais contestou a boa-fé do grande
magnetizador, mas, reconhecendo-o homem honesto, seus contemporâneos
pretenderam que aqueles fenômenos podiam explicar-se todos por uma transmissão
de pensamento, entre o consultante e o paciente, uma objeção sem nenhum valor,
porque vai contra as circunstâncias dos fatos. (Pág. 56)
47. O caso testemunhado pelo padre Almignana,
que pediu a Adélia evocasse a irmã de sua criada, de nome Antonieta Carré,
morta alguns anos antes, é expressivo e concludente no sentido de que a suposta
transmissão de pensamento não explica todos os fenômenos. (Págs. 56 a 58)
48. As narrativas contidas na obra de
Cahagnet constituem documentos preciosos, porque se acham autenticados, e
mostram que o Espírito conserva ou pode retomar no espaço a forma que tinha na
Terra, reproduzindo-a com extraordinária fidelidade, de maneira a ser
reconhecido, mesmo por estranhos. (Pág. 58)
49. Uma questão importante, discutida à época
de Cahagnet, foram as roupas pelos Espíritos vistos pelos sonâmbulos. O barão
du Potet ridicularizou o que Cahagnet havia dito, no primeiro volume de sua
obra, a respeito das vestes espirituais. Ele e outros negavam-se a admitir que
os Espíritos usem vestes terrenas. (Págs. 58 e 59)
50. Delanne transcreve as palavras com que
Cahagnet rebateu tais críticas, e diz que, na verdade, o Espírito cria,
voluntariamente ou não, a sua vestidura fluídica, como mais tarde se verá neste
livro. O importante, porém, para Delanne é o fato de que, graças ao
sonambulismo, o homem
se acha na posse de um meio de ver os
Espíritos e certificar que eles se apresentam com uma forma corpórea que
reproduz fielmente o corpo físico que tinham na Terra. (Pág. 60)
51. Da mesma forma que alguns sonâmbulos,
mergulhados em sono magnético, podem ver os Espíritos e descrevê-los fielmente,
há pessoas que possuem essa faculdade no estado de vigília: os chamados médiuns
videntes. (Pág. 61)
52. Vê-se, assim, que a vista é uma faculdade
do Espírito e pode exercer-se sem o concurso do corpo, tanto que os sonâmbulos
vêem a distância, com os olhos fechados. Quando esses fenômenos se produzem,
tem-se a comprovação da existência de um sentido novo, que se pode designar
pelo nome de sentido espiritual. (Pág. 62)
53. O sonambulismo e a mediunidade são graus
diversos da atividade desse sentido, que é, como os demais, mais ou menos desenvolvido,
mais ou menos sutil, conforme os indivíduos. Todos, porém, o possuem e é por
meio dele que percebemos os eflúvios fluídicos dos Espíritos e que nos
inspiramos com os seus pensamentos. (Pág. 62)
54. A vista espiritual, vulgarmente chamada
dupla vista ou segunda vista, lucidez, clarividência, ou, enfim, telestesia e
agora criptestesia, é um fenômeno menos raro do que geralmente se imagina.
Muitas pessoas são dotadas dessa faculdade, sem disso suspeitarem. (Pág. 63)
55. Após transcrever um texto escrito por
Kardec, publicado na Revista Espírita de junho de 1867, Delanne diz que havia
quinze anos que vinha estudando a mediunidade vidente, que nem sempre se
manifesta com o cunho de constância que se nota em algumas narrativas. As mais
das vezes, ela é fugitiva, temporária, mas, ainda assim, faculta-nos a certeza
de que a crença na imortalidade não é vã ilusão e sim uma realidade grandiosa,
consoladora e demonstrada. (Pág. 64)
56. O envoltório sutil da alma foi objeto de
perseverantes estudos da parte de Kardec. Em seus colóquios com os Espíritos
ele pôde conhecer o corpo fluídico e compreender o papel e a utilidade desse
corpo. Quem deseje conhecer a gênese dessa descoberta - assevera Delanne - deve
ler a Revista Espírita, do período de 1858 a 1869. (Pág. 65)
57. Num dos números da Revista Espírita - em
1861 - o doutor Glas, evocado por Kardec, esclarece que os fluidos que compõem
o perispírito são muito etéreos, não suficientemente materiais para nós, os
encarnados. Contudo, pela prece, pela vontade, pela fé, podem tornar-se mais
ponderáveis, mais materiais e sensíveis ao tato, que é o que se dá nas
manifestações físicas. (Pág. 66)
58. Comentando a informação, Delanne observa
que todos os Espíritos têm dito que o envoltório perispirítico é, para eles, tão
real, quanto o corpo físico o é para nós. Tem-se, portanto, aí um ponto firmado
pelo testemunho unânime de todos os que hão sido interrogados, o que explica e
confirma as visões dos sonâmbulos e dos médiuns. (Pág. 67)
59. Desde o começo das manifestações
espíritas, organizaram-se grupos de estudo em quase todas as cidades da França.
Os resultados obtidos com suas pesquisas se registravam quase sempre em atas,
cujas súmulas eram enviadas à imprensa. A doutrina espírita, portanto, não foi
imaginada; constituiu-se lentamente, e a obra de Kardec, resumindo essa imensa
investigação, mais não é do que a compilação lógica de tão vasta documentação.
(Pág. 67)
60. Num desses relatos, conforme publicado em
1864 pelo jornal O Salvador dos Povos, de Bordéus, vê-se que um sonâmbulo
presente à sessão descreve os Espíritos ali presentes, inclusive o de um padre
que ali estava para manifestar-se. Em seguida, o médium escrevente recebe uma
comunicação do padre C... A visão sonambúlica confirmou, nesse caso, a
autenticidade do agente que fazia o médium escrever, demonstrando o nenhum
valor da teoria que diz que as comunicações procedem sempre do inconsciente de
quem escreve. (Pág. 69)
Fonte:
A alma é imortal, Gabriel Delanne, traduzida por Guillon Ribeiro. FEB, 6a edição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário