A palavra Apocalipse por si só gera arrepios. O primeiro pensamento é de catástrofe ou fim do mundo. Imaginam-se cenas hollywoodianas e um salvem-se quem puder e se puder. Contudo, respiremos em meio ao caos da própria palavra e reflitamos acerca do tema.
O escritor Haroldo Dutra Dias no livro Apocalipse
Mitos e Verdades (2022, p. 15) explica a origem do vocábulo. APO
significa extrair, tirar, puxar e o verbo CALIPSE tem a acepção de encobrir,
colocar o véu. Desse modo, Apocalipse quer dizer tirar o véu, revelar o que
está oculto.
Na Bíblia é o último livro do Novo Testamento
escrito pelo apóstolo João e convenhamos, não é um tema fácil, porque o
conteúdo espiritual da obra é o mais relevante e o mais desafiador.
Dias (2022, p. 11) salienta em seu livro que
as pessoas preocupam-se com a data exata do fim do mundo ou do momento em que
acontecerá o início da transição do mundo de provas e expiações para o mundo de
regeneração.
Todavia, é necessário tirar o véu do misticismo
para se utilizar a fé raciocinada. O que Apocalipse quer dizer? Qual o seu
conteúdo? O teor da mensagem? A Comunidade Espírita precisa ou deve se
interessar por esse tema ou ele é exclusivo dos outros irmãos cristãos?
Nesse livro, Apocalipse Mitos e Verdades, o autor aborda esse tema complexo e polêmico e esmiúça para o leitor, analisando e trazendo a luz pontos relevantes sob a perspectiva espírita.
O apóstolo João Evangelista escreveu um texto
literário carregado de símbolos hebraicos e com muitas metáforas. Para
decifrá-lo faz-se mister conhecer tanto o Velho como o Novo
Testamento que são as duas revelações. É de conhecimento universal os sonhos do
profeta Daniel e como as revelações foram se cumprindo.
Haja vista que a missão dos profetas é ter
esse contato com a Espiritualidade que lhe revela algum “pedaço” do porvir no
sentido de alertar, foi nessa toada que veio o livro do Apocalipse. Dias
explica que o objetivo do livro apocalíptico não é causar um temor universal,
mas que aprendêssemos as lições, sem necessariamente passarmos pelos
sofrimentos. (2022, p. 23).
E o que seria esse alertar? O ser humano é
uma criatura de comportamentos repetitivos, isso quer dizer que em sucessivas
reencarnações integra os mesmos grupos, comete os mesmos atos delituosos e
avança de forma vagarosa. Caso o ser humano opte em se manter nesse ritmo de
atrapalhar a Lei do Progresso, consequentemente atropelará as demais Leis
Divinas e o Criador sacudirá o Universo. É como Dias escreve: Ou você para de
errar ou muda de erro! (2022, p. 26).
Na perspectiva bíblica existem os símbolos e
uma narrativa ao passo que na perspectiva espírita há a interpretação que é a
visão espiritual. Quando apóstolo João narra, o leitor ilude-se com os sentidos
da visão e audição e por meio da imaginação apega-se às imagens e histórias e
não gasta o seu tempo em se debruçar para interpretar.
O que o ser humano enxerga é o material e o
que a Espiritualidade revela é o imaterial – o que poucos buscam, porque se
apegam na literalidade do texto. Dias conduz nessa obra uma trilha do pensar.
Toma os símbolos e explica os seus significados. No Antigo Testamento fala-se
da serpente que tentou Eva, que é a metáfora da maldade e como ela age. A
serpente é rasteira, ardilosa e discreta.
Sob a influência do mal, Eva e Adão
desobedeceram à Lei de Deus e se colocaram no centro do Universo, já que
queriam ser tão poderosos quanto Ele. Na obra do Apocalipse, fala-se da figura
do Dragão, que é a evolução da serpente. O mal se aperfeiçoou e passou por essa
mutação, tornando-se maior e mais forte.
Dias explica em seu livro que o conceito de
mal (dragão) na obra de João diz respeito ao espiritual, que se materializa por
meio do poder político e econômico de algumas nações.
Mas como se chega nessas conclusões? Observando
a história da Humanidade. O povo Hebreu, a Babilônia, Roma e Egito. As
invasões, guerras e massacres de povos e tribos. O ser humano foi deixando um
rastro de destruição e sangue sem se dar conta que a colheita viria. E em algum
momento o trigo e o joio seriam separados.
Na narrativa bíblica se fala de bestas, porém
a Espiritualidade nos mostra que monstros são as próprias civilizações, que se
comportam como monstros, matam e exploram o que tocam e enxergam.
Infelizmente, diante da Espiritualidade, o ser
humano não conquistou honras, glórias e territórios. Essa expansão de reinos a
custa de sangue, impérios a custa de guerras e poder a custa de morte de
inocentes não é do agrado de Deus. Nessa corrida da conquista material o ser
humano se iludiu demais.
E por isso era aguardada a chegada do
Cordeiro, o Mestre Jesus. Dias (2022, p. 78) ensina que cordeiro, em hebraico,
significa integral, então a expressão Homem Cordeiro ou Homem Integral que
corresponde ao aperfeiçoamento espiritual, o caminho da perfeição, da
integridade.
O cordeiro teria seus seguidores e servidores
que são os Espíritos que deixaram suas marcas de amor, renúncia e bondade. Dias
(2022, p. 78) recorda alguns nomes familiares: Gandhi, Madre Teresa de Calcutá,
Irmã Dulce, Chico Xavier, Francisco de Assis, Divaldo Franco, Raul Teixeira.
A obra Apocalipse necessita de uma
interpretação à altura. A matéria é necessária, porém a leitura “seca” se torna
rasa. Precisa dos olhos espirituais que transcendem e exigem que transpiremos
um pouco para que consigamos alcançar o significado de algumas metáforas.
O Mestre estava certo quando pensou em ditar
para o apóstolo essa visão, porque sabia que conseguiríamos compreender se
tentássemos já, que foi Ele que nos aconselhou a buscar o Reino de Deus, a pedir
para obter, que se batêssemos, abrir-se-á.
O
Apocalipse não é um castigo. Não é o fim. É um aviso.
Que um dia a Humanidade seja capaz de
aprender pela trilha do amor e da obediência às Leis Divinas, para que paremos
de reprovar em velhas lições na escola do planeta Terra e assumamos uma postura
de seres a caminho da regeneração.
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