181. A última aparição de Katie, conforme relatado pelo jornal The Spiritualist de 29/5/1874, ocorreu numa sessão dirigida por William Crookes. Florence Cook se deitou no chão, com a cabeça sobre um travesseiro, após ser conduzida por Crookes ao gabinete mediúnico. Katie apareceu logo em seguida, vestida de branco, enquanto a médium trajava um vestido azul-claro. Após distribuir flores aos presentes, escreveu cartas de adeus a alguns amigos, pondo-lhes a assinatura: Annie Owen Morgan, seu verdadeiro nome na última existência terrena. Depois, com uma tesoura, cortou uma mecha de seus cabelos, oferecendo certa porção deles a cada um, fazendo o mesmo com o seu vestido. (Págs. 192 e 193)
182. Ao fim da sessão, após transmitir
diversas instruções ao Sr. Crookes, Katie penetrou no gabinete e despertou a
médium, que lhe pediu, banhada em lágrimas, que se demorasse mais um pouco.
Katie lhe disse, porém, que havia cumprido a sua missão e que, por causa disso,
deveria partir, como de fato ocorreu. (Pág. 193)
183. As aparições de Katie King foram tantas,
que não se pode duvidar um instante sequer de que fosse um Espírito que assim
se manifestava; contudo, não era possível verificar-se-lhe a identidade, visto
que, segundo informara, ela havia vivido muitos séculos antes, sob o reinado de
Carlos I, com o nome de Annie Owen Morgan. (Pág. 194)
184. No caso de Florence, a filha da Sra Florence Marryat, vimos que a jovem se fez reconhecer por um sinal particular do lábio, que comprovou materialmente a sua identidade. Afirma, porém, o Sr.
Aksakof ser impossível deparar-se com um caso
mais concludente de identidade de um Espírito materializado, do que o de
Estela, morta em 1860. (Pág. 194)
185. Duraram cinco anos, de 1861 a 1866, as
materializações de Estela, sendo médium a célebre Kate Fox, com quem o Sr.
Livermore realizou 388 sessões, cujas particularidades ele publicou num jornal.
As sessões transcorriam em completa obscuridade, mas o Sr. Livermore, na
maioria das vezes, estando a sós com Kate, segurava-lhe as mãos o tempo todo.
Kate ficava sempre em estado normal, tornando-se, pois, testemunha consciente
de tudo o que se passava. (Pág. 194)
186. Foi gradual a materialização de Estela e
somente na 43a sessão foi possível ao Sr. Livermore reconhecê-la, sob intensa
claridade, de origem misteriosa, ligada ao fenômeno e, em geral, sob a direção
de outra figura que a acompanhava e auxiliava em suas manifestações. Esse
Espírito chamava-se Franklin. (Pág. 195)
187. Além de mostrar-se, Estela deixou uma
centena de comunicações por ela escritas em folhas de papel que o Sr. Livermore
levava, previamente marcadas pelas suas mãos. Enquanto a aparição escrevia, ele
- tendo as mãos de Kate Fox entre as suas - via perfeitamente a mão e a figura
da esposa desencarnada. (Pág. 195)
188. A caligrafia dessas comunicações é
reprodução exata da caligrafia da Sra Estela Livermore, quando encarnada. A
respeito das aparições da esposa, o Sr. Livermore diria mais tarde ao Sr.
Benjamin Coleman, de Londres: “Sua identidade foi estabelecida, de modo a não
deixar subsistisse a menor dúvida: primeiro, pela sua aparência, em seguida
pela sua caligrafia e, finalmente, pela sua individualidade mental, sem falar
de numerosas outras provas, que seriam concludentes nos casos ordinários, mas
que não levei em conta, senão como provas complementares”. (Pág. 195)
189. Além das provas já referidas, deve-se
acrescentar que Estela escreveu também algumas comunicações em francês, língua
que Kate Fox desconhecia inteiramente, mas que Estela dominava. A propósito
disso, o Sr. Aksakof, tão difícil em matéria de provas, escreveu: “Temos aqui
uma dupla prova de identidade, dada não só pela caligrafia, semelhante, em
todos os pontos, à do defunto, mas também por ser desconhecida do médium a
língua em que está escrita a mensagem. O caso é extremamente importante e, ao
nosso parecer, apresenta uma prova absoluta de identidade”. (Pág. 196)
190. Encerrando este capítulo, Delanne
reitera o fato de que a realidade da alma se impõe como corolário obrigatório
do fenômeno de desdobramento. Esse eu que se desloca não é uma substância
incorpórea, é um ser bem definido, com um organismo que reproduz os traços do
corpo material. (Pág. 197)
191. O grau de materialidade do perispírito
varia: ora é uma simples névoa branca que desenha os traços, atenuando-os; ora
apresenta contornos muito nítidos e parece um retrato animado. Ele se mostra
também, às vezes, com todos os caracteres da realidade e revela a existência de
um organismo interno semelhante ao de um indivíduo vivo. (Págs. 197 e 198)
192. A distância que separe do corpo a sua
alma em nada influi sobre a intensidade das manifestações. (Pág. 198)
193. As aparições de vivos são, em geral,
bastante demonstrativas, mas, dada a sua espontaneidade, se opõem a toda
pesquisa metódica. O mesmo não se dá quando as aparições se produzem nas
sessões espíritas, porque aí todas as precauções são tomadas para se verificar
cuidadosamente a sua objetividade. A fotografia é uma dessas formas de
comprovação. (Pág. 199)
194. Tem-se fotografado o corpo fluídico
durante a vida e depois da morte, o que fornece a certeza absoluta de que a
alma existe sempre, antes e depois da morte. A continuidade do ser se revela
claramente pelas aparições que se verificam algumas horas depois da morte. O
perispírito que acaba de desligar-se do corpo lhe retraça fielmente não só a
imagem, como também a configuração física, que se patenteia pelas marcas que
deixa no papel enegrecido e pelas moldagens. (Pág. 199)
195. O Espírito materializado é, por
completo, um ser que vive temporariamente, como se houvesse nascido na Terra.
Bate-lhe o coração, funcionam-lhe os pulmões, ele vai e vem, conversa e também
ouve o que lhe falam. (Pág. 199)
196. Delanne resume, por fim, em nove itens
as informações que a observação e a experiência permitiram reunir: 1o, o ser
humano pode desdobrar-se em duas partes: o corpo e a alma; 2o, a alma, separada
do corpo, reproduz exatamente a sua imagem; 3o, as manifestações anímicas
independem do corpo físico; 4o, a aparição pode denotar todos os graus de
materialidade, desde a de uma simples aparência até a de uma realidade
concreta; 5o, a forma fluídica da alma pode ser fotografada; 6o, a forma
fluídica da alma pode deixar marcas ou moldes; 7o, durante a vida, a alma pode
perceber sensações, sem o concurso dos órgãos dos sentidos; 8o, a forma
fluídica reproduz não só o exterior, mas toda a constituição interna do ser;
9o, a morte não destrói a alma, que subsiste com todas as suas faculdades
psíquicas e com um organismo dotado de todas as leis biológicas do ser humano.
(Pág. 200)
197. Que se deve concluir de todos esses
fatos? Em primeiro lugar, observa Delanne, somos forçados a admitir que o corpo
e a alma são duas entidades absolutamente distintas, que se podem separar, e
que o organismo físico não passa de um envoltório que se torna inerte, logo que
o princípio pensante se separa dele. (Pág. 201)
198. Os fatos demonstraram, de forma muito
clara, a sobrevivência da alma à morte, comprovando cientificamente a
imortalidade, que foi, com certeza, a mais importante e a mais fecunda
descoberta do século 19, porquanto chegar a conhecimentos positivos sobre o
amanhã da morte é revolucionar a humanidade inteira, dando à moral uma base
científica e uma sanção natural, à revelia de todo e qualquer credo dogmático e
arbitrário. (Pág. 202)
199. Sem dúvida, mesmo quando essas
consoladoras certezas tiverem penetrado as massas humanas, a humanidade não se
achará só por isso bruscamente mudada, nem se tornará melhor subitamente;
disporá, todavia, da mais forte alavanca que possa existir para derribar o
montão de erros acumulados desde há seis mil anos. Então a vida futura se
tornará tão evidente quanto a claridade do Sol e se compreenderá que a Terra
não é mais do que um degrau nos destinos do homem; que alguma coisa de mais
útil há do que a satisfação dos apetites materiais, e que cada um terá que
conseguir, a todo custo, refrear suas paixões e domar seus vícios. Eis os
benefícios indubitáveis que o Espiritismo traz consigo. (Pág. 202)
200. Não tendo sido possível submeter o
perispírito aos reativos ordinários, forçoso é que nos atenhamos à observação e
ao que os Espíritos hão dito a seu respeito. (Pág. 203)
201. Antes de tudo, não se pode esquecer que
a observação comprovou que existe uma matéria invisível aos olhares humanos e
que, no entanto, pode impressionar uma chapa fotográfica, mesmo na mais
absoluta obscuridade, como se deu com a célebre experiência em que Aksakof
fotografou um Espírito em completa escuridão. (Págs. 203 e 204)
202. Eis, sucintamente, os princípios gerais
em que nos apoiaremos, extraídos da obra de Allan Kardec, que magistralmente
resumiu em seus livros todos os ensinos dos Espíritos que o assistiram: I)
Existe uma causa eficiente e diretora do Universo: a sublimada inteligência
que, pela sua vontade onipotente, imutável, infinita e eterna, mantém a
harmonia do Cosmos. II) A alma, a força e a matéria são igualmente eternas; não
podem aniquilar-se. III) O princípio espiritual é a causa de todos os fenômenos
intelectuais que se dão nos seres vivos. No homem, esse princípio se torna a
alma. IV) É-nos desconhecida a natureza da alma, mas certamente ela não é a
resultante das funções cerebrais, pois que subsiste após a morte do corpo. V)
Da análise de suas faculdades ressalta que a alma é simples, isto é,
indivisível, e que suas faculdades ela as desenvolve por uma evolução
incessante que tem por teatro, alternadamente, o espaço e o mundo terrestre.
VI) A alma é dotada de livre-arbítrio proporcional ao número de suas
encarnações, dependendo a sua responsabilidade do grau do seu adiantamento
moral e intelectual. VII) Assim como o mundo físico tem a regê-lo leis
imutáveis, o mundo espiritual é regido por uma justiça infalível, de sorte que
as leis morais têm sanção absoluta após a morte. VIII) Como o Universo não se
limita ao globo que habitamos, as futuras existências do princípio pensante
podem desenvolver-se nesses diferentes sistemas de mundos. (Págs. 206 e 207)
203. O homem é formado da reunião de três
princípios: 1o, a alma ou Espírito, causa da vida psíquica; 2o, o corpo,
envoltório material, a que a alma se associa temporariamente durante sua
passagem pela Terra; 3o, o perispírito, substrato fluídico que serve de liame
entre a alma e o corpo, por intermédio da energia vital. Em qualquer grau que
se encontre na animalidade, o Espírito está sempre intimamente associado ao
perispírito, cuja eterização corresponde ao seu adiantamento moral. (Pág. 208)
204. Segundo o ensino dos Espíritos, o
perispírito é extraído do fluido universal e sua constituição lhe permite
atravessar todos os corpos com mais facilidade do que a que tem a luz para
atravessar o vidro, ou o raio X para atravessar os diferentes obstáculos. (Pág.
209)
205. A velocidade do deslocamento da alma
parece superior à das ondulações luminosas, diferindo destas, porém, pelo fato
de que nada a detém. (Pág. 209)
206. O perispírito se nos afigura
imponderável, pelo que a ação da gravidade parece inteiramente nula sobre ele;
mas disso não se deve concluir que, desprendido do corpo, possa o Espírito
transportar-se a todas as partes do Universo. O espaço é pleno de matérias
variadas, em todos os estados de rarefação, de modo que, para o Espírito,
existem certos obstáculos fluídicos de tanta realidade, quanta pode ter para o
homem a matéria tangível. (Pág. 209)
207. Nos seres muito evolvidos o perispírito
carece, no espaço, de forma absolutamente fixa; mas, regra geral, predomina no
corpo fluídico a forma humana. (Pág. 209)
208. Depois de esclarecer que os dados gerais
constantes deste capítulo foram tirados da obra de Kardec - a mais completa e a
mais racional que possuímos sobre o Espiritismo - Delanne diz que a dedução rigorosa
é o caráter distintivo desta doutrina. “Em vez de forjar seres imaginários para
explicar os fatos mediúnicos - afirma o autor -, o Espiritismo deixou que o
fenômeno se revelasse por si mesmo.” (Pág. 210)
209. Fechando o capítulo, Delanne observa que
é forçoso concluir, à vista dos fatos, que o perispírito é formado de uma
matéria diferente: invisível, imponderável e dotado de tal sutileza, que coisa
alguma lhe é impenetrável, caracteres que pareciam em absoluta contradição com
os que a Física de sua época ensinava como sendo os da matéria. (Pág. 211)
Fonte:
A alma é imortal, Gabriel Delanne, traduzida por Guillon Ribeiro. FEB, 6a edição.

Nenhum comentário:
Postar um comentário