(Douay, 13 de março de 1867 - Médium: Sra.
M...)
Pergunta. ─ O gênio é conferido a cada
Espírito conforme sua conquista, ou conforme uma lei divina, em relação com as
necessidades de um povo ou de uma Humanidade?
Resposta. ─ O gênio, caros filhos, é a
radiação das conquistas anteriores. Essa radiação é o estado do Espírito no
desprendimento ou nas encarnações superiores. Há, pois, duas distinções a
fazer.
O gênio mais comum entre vós é simplesmente o
estado de um Espírito, do qual uma ou duas faculdades ficaram descobertas e em
estado de agir livremente; ele recebeu um corpo que permite sua expansão na
plenitude adquirida. A outra espécie de gênio é o Espírito que vem dos mundos
felizes e adiantados, onde a aquisição é universal sobre todos os pontos; onde
todas as faculdades da alma chegaram a um grau eminente, desconhecido na Terra.
Estas espécies de gênio se distinguem dos primeiros por uma excepcional aptidão
para todos os talentos, para todos os estudos. Eles concebem todas as coisas
por uma intuição segura que confunde a Ciência ensinada pelos mais sábios. Eles
se destacam em bondade, em grandeza de alma, em verdadeira nobreza, em obras
excelentes. Eles são faróis, iniciadores, exemplos, São homens de outras
terras, vindos para fazer resplandecer a luz do Alto num mundo obscuro, assim
como se enviam entre os bárbaros, para instruí-los, alguns sábios de uma
capital civilizada. Tais foram, entre vós, os homens que em diversas épocas
fizeram avançar a Humanidade, os sábios que ampliaram os limites dos
conhecimentos e dissiparam as trevas da ignorância. Eles viram e pressentiram o
destino terrestre, por mais longe que estivessem da realização desse destino.
Todos lançaram os fundamentos de alguma ciência, ou foram o seu ponto culminante.
O gênio, portanto, não é gratuito e não está subordinado a uma lei; ele sai do próprio homem e de seus antecedentes. Refleti que os antecedentes são todo o homem. O criminoso o é por seus antecedentes; o homem de mérito, o homem de gênio, são superiores pela mesma causa. Nem tudo é velado na encarnação a ponto de nada penetrar nosso ser interior. A inteligência e a bondade são luzes muito vivas, focos muito ardentes para que a vida terrena os reduza à obscuridade.
As provas a sofrer bem podem velar, atenuar
algumas de nossas faculdades, adormecê-las, mas se elas tiverem chegado a um
alto grau, o Espírito não pode perder inteiramente a sua posse e exercício. Ele
guarda em si a certeza de que as mantém sempre à sua disposição; muitas vezes
mesmo, ele não pode consentir em delas privar-se. Eis o que causa as vidas tão
dolorosas de certos homens adiantados que preferiram sofrer por suas altas
faculdades do que deixar que estas se apagassem por algum tempo.
Sim, todos nós somos pela esperança, e alguns
pela lembrança, cidadãos dessas altas esferas celestes, onde o pensamento
irradia puro e poderoso. Sim, todos nós seremos Platões, Aristóteles, Erasmos;
nosso Espírito não verá mais empalidecer suas aquisições sob o peso da vida do
corpo, ou extinguir-se sob o peso da velhice e das enfermidades.
Amigos, eis verdadeiramente a mais sublime
esperança. Que são junto a tudo isto as dignidades e os tesouros que eram
postos aos pés desses homens? Os soberanos mendigavam suas obras, eles
disputavam sua presença. ─ Credes que essas honras vãs os lisonjeavam? Não. A
lembrança de sua gloriosa pátria era muito viva. Eles voltaram felizes sobre o
brilho de sua glória aos mundos que seus Espíritos desejavam incessantemente.
Terra! Terra! Região fria, obscura, agitada;
Terra cega, ingrata e rebelde! Tu não lhes podias fazer esquecer a pátria
celeste onde viveram, onde voltariam a viver.
Adeus, amigos! Ficai certos de que todo homem
de bem tornar-se-á cidadão desses mundos felizes, dessas Jerusaléns
esplêndidas, onde o Espírito vive livre num corpo etéreo, possuindo sem nuvens
e sem véus todas as suas conquistas. Então conhecereis tudo quanto aspirais
conhecer, compreendereis tudo quanto procurais compreender, mesmo o meu nome,
caro médium, que não te quero dizer.
UM ESPÍRITO.
Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — julho 1865.
Nenhum comentário:
Postar um comentário