Capítulo
8 – Treva e sofrimento
Após o resgate do Padre
Domênico e o seu encaminhamento para a Casa Transitória de Fabiano, os
trabalhadores do Bem aproveitam a viagem para conversar com os irmãos que
habitam as Trevas.
A responsável pela expedição
solicita então que o padre Hipólito se dirija aos infelizes. Ele faz um belo
discurso, lembrando os ensinamentos de Jesus
e convidando todos a renovação.
“Sejamos razoáveis, meus irmãos, reconhecendo que esse inferno é construção mental em nós mesmos. O estacionamento, após esforço destrutivo, estabelece clima propício aos fantasmas de toda sorte, fantasmas que torturam a mente que os gerou, levando-a a pesadelos cruéis. Cavamos poços abismais de padecimentos torturantes, pela intensidade do remorso de nossas misérias intimas; arquitetamos penitenciárias sombrias com a negação voluntária, ante os benefícios da Providência. Desertos calcinantes de ódio e malquerença estendem-se aos nossos pés, seguindo-se a jornadas vazias de tristeza e desconsolo supremo. Semelhamo-nos a duendes vagabundos da inquietação e do desalento, pela amargura do que fomos e pela dificuldade quase invencível na aquisição dos recursos para o que devemos vir a ser. De um lado, a falência gritante; do outro, o desafio da vida eterna. Como o rico infeliz da parábola, todavia, sabemos que muitas de nossas vítimas de outro tempo escalaram altas posições no campo hierárquico da eternidade; que muitos daqueles mendigos de carinho da estrada humana foram conduzidos a fontes da Maravilhosa Sabedoria e do Inesgotável Amor, e, assim, porque não impetrarmos o concurso de suas bênçãos intercessoras?”
Alguns irmãos tentam atravessar o abismo e alcançar a equipe socorrista, mas são impedidos por espíritos mais endurecidos. Vendo que não pode mais postergar o retorno à Casa Transitória, a responsável pela expedição se dirige aos infelizes antes de partir.
“Regozijei-vos, ó corações de boa vontade! e
confiai, sobretudo, na proteção de Nosso Senhor Jesus. Dilaceram-nos vossas
dores, tocam-nos, de perto, as incompreensões e sofrimentos a que vos
entregastes, apartados da Lei Divina, e se não atravessamos o fosso negro, na
tentativa suprema de salvar-vos temporariamente do mal, é que somos igualmente
companheiros de luta, sem imunidades angélicas, detentoras de possibilidades
limitadas no amparo aos semelhantes! Alegrai-vos, porém, e aguardai,
confiantes, porque se manifestará, em vosso benefício, o fogo consumidor, nesta
região menos feliz, onde tantas inteligências perversas tripudiam sobre os
mandamentos do Pai e menosprezam-Lhe as bênçãos de luz. Amanhã mesmo,
demonstrar-se-á o Supremo Poder.”
Este capítulo é muito triste, pois mostra o quanto ainda estamos longe de compreender que somos todos filhos de um Pai amoroso e justo. Ninguém é cobrado por dívida que não fez.
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