Leitor, desejamos que este
último Caso também fique em sua memória.
Ele não é apenas lindo; é comovedor.
Graças a José Ávila, Presidente do “Centro
Espírita Irmã Terezinha”, de Pindamonhangaba, Estado de S. Paulo, a que
pertence o Asilo de Velhos, dirigidos pelo Cap. Manoel Pereira dos Santos, foi
possível documentá-lo fartamente.
Lutavam os Espíritas de Pinda
com as costumeiras dificuldades para harmonizar e orientar os esforços no
sentido de uma obra social, quando o dirigente Espiritual de um Grupo, reunido
em Sessão de trabalhos práticos, mandou que fossem a Campos de Jordão, em
determinado Sanatório, e procurassem, em certo quarto, uma jovem que estava
prestes a desencarnar e viria, em seguida, trabalhar com eles.
Chamava-se Terezinha. Era uma flor em botão que se finava.
A ordem foi cumprida e a
moça os recebeu, encantada com aqueles estranhos tão bondosos e simpáticos. De
tão feliz e agradecida quis dar-lhes uma expressiva lembrança e a melhor que
encontrou disponível foi seu retrato colado na caderneta escolar de normalista,
hoje preciosa relíquia do Centro.
Terezinha era filha de pais
abastados, residentes em São Paulo, Capital, mas nem ela e nem eles eram
espíritas.
Poucos dias depois,
desencarnou, e, em espírito, veio trabalhar com os simpáticos visitantes, já
então consagrados em torno dela e do fato esplendidamente testemunhado.
Reuniu os trabalhadores,
eliminou diferenças, estimulou corações e o Asilo de Velhos começou a sair. Os
recursos apareciam como por milagre quando o aperto parecia maior.
Muitos foram levados a
contribuir materialmente, conquistados pela animação irradiada do esforçado
Grupo.
Em breve, no meio de um belo
jardim, o acolhedor e espaçoso casarão abrigava quase uma centena de felizes
velhinhos.
Pereirinha reformou-se do
serviço ativo na Força Policial de S. Paulo e foi morar com a família dentro do
Asilo, entregando-se, com sua abnegada companheira, de corpo e alma ao trabalho
cristão.
Aconteceu, porém, o que
sempre aconteceu. Um momento de invigilância. E as forças do mal semearam a
discórdia.
As dificuldades cresceram,
as incompreensões se aprofundaram. E, um dia, a bomba estourou. Só havia uma
solução; a saída do casal Pereirinha e sua mudança para a casa do Ávila, na
cidade.
A notícia espalhou-se entre
os velhos. E a choradeira foi enorme e tocante. Fizeram uma manifestação a D.
Mariazinha, esposa do Diretor do Asilo. Os Diretores do Centro foram
consultados e a decisão foi contrária. Pereirinha, de malas arrumadas, há meses
amargurado, sentia-se entre o dever de ficar e a necessidade de sair. Lá fora
todas as contingências humanas o chamavam à “vida”, às “necessidades” sociais da
família, com uma filha noiva e dois filhos rapazes, com o “direito” de ir ao
cinema e passear no jardim à hora da retreta, — uma porção de coisas que enchem
a vida dos homens de vida espiritualmente vazia.
A angústia dos velhinhos
refletiu lá em Cima no Plano Espiritual, porque decidida a mudança, Pereirinha
foi convidado para assistir a uma sessão no dia 13 de março de 1953. E do que
nela se deu, a carta abaixo dá uma ideia:
Centro Espírita Irmã
Terezinha Com Albergue Noturno “Padre Zabeu” Abrigo aos velhos desamparados.
Av. S. João Bosco, 706. Tel.
312... Pindamonhangaba — Estado de S. Paulo.
Sr. Ávila Boa tarde, Ontem
as velhas aqui abrigadas fizeram uma manifestação à Mariazinha. pedindo que não
saísse da Casa.
Soube que. quando Marta,
Sara, Rosa, Alice e outras choraram, Mariazinha chorou também.
Fiz logo uma sessão e irmã
Matilde disse o seguinte:
“Vocês não acreditam mais em
mim, ninguém acredita mais nos espíritos que se comunicam nesta cidade, mas
vocês vão ver, Terezinha vai mandarlhes um recado ou por intermédio do Chico ou
por qualquer Médium que não seja de Pinda”.
Vamos esperar, notei que até
o Marcílio emocionou-se.
De modo que alugue a casa a
outro e conte com a minha eterna amizade.
Isto não impede que eu diga
ao amigo que estou à sua disposição para o que puder e quiser.
Peço não falar mais nisso e
combinar com os amigos não tocarem no assunto para não magoarem minha
companheira.
Abraços — Pereirinha.
23-3-1953.
O último período indica o
estado de alma do autor. Que não lhe atormentassem a família. Ele ali estava.
Irmã Matilde, mentora espiritual da casa onde assistira à sessão, foi clara e
precisa. Ele tinha fé. Poupassem-lhe a paz doméstica e esperassem. Porque
alguém, da Espiritualidade, iria, por um Médium de localidade distante, mandar-lhes
um recado, já que santo de casa não estava fazendo milagres...
Não esperaram muito. No
mesmo dia em que escreveu, 23 de março de 1953, Chico Xavier punha no correio
de Pedro Leopoldo, o cartão que chegaria no dia 1º de abril. Dizia o cartão.
Pedro Leopoldo, 23/3/1953.
Meu caro José Ávila. Paz e
saúde.
A nossa irmã Terezinha, hoje
benfeitora espiritual dos pobres, visitando-me ontem, nas preces da noite,
pede-me ou, aliás, recomenda-me escrever-lhe, apelando para que o abrigo dos
velhinhos de Pindamonhangaba não sofra alteração, rogando, por isso, aos irmãos
Pereirinha e D. Mariazinha, não se afastarem da direção. Disse-me rogar muito
especialmente à D. Mariazinha não permitir que o esposo se afaste, esclarecendo
que os velhinhos são a abençoada família deles e dos amigos do Alto,
acrescentando que a alegria da Espiritualidade Superior será muito grande com a
decisão dos confrades — Pereirinha e senhora, permanecendo no lugar que Jesus
lhes confiou. Que estará acontecendo? Escrevo-lhe porque não posso deixar de
fazê-lo; embora ignore o que ocorre. Penso, porém, que o assunto é importante.
Aguardo suas notícias, sim? Abraços do seu Chico Xavier.
23/3/53
Meu caro José Ávila
Jesus nos ajude no
desempenho dos nossos deveres.
Que vemos aí? Um Lindo Caso
de mediunidade comprovado e abençoado, salvando uma instituição que é, no dizer
do nosso caro irmão Ávila, “a grande bandeira hasteada em benefício dos que
sofrem”.
A aflição do Chico,
refletida no cartão acima estampado, era o eco da de Terezinha e dos responsáveis
pela obra, na Espiritualidade, e também refletida no coração dos companheiros
de Pinda, como se pode ver desse trecho da carta que o irmão Ávila nos mandou:
“Acontece que no dia 22 de
março de 1953, Pereirinha, em visita ao nosso companheiro Agostinho de San
Martin, por volta de 17:40, a fim de ali trocar impressões sobre o caso de sua
possível saída do IRMÃ TEREZINHA, e, avizinhando-se 18 horas, quando na
residência de San Martin é costume fazerse uma prece ao Senhor, sua filha,
Helena de San Martin, nota a presença de Batuira desejando dizer alguma coisa,
sendo posteriormente atendido, quando se verifica dizer que receberíamos um
aviso de qualquer parte, de que falara também a irmã Matilde. No dia 23, logo
pela manhã, envia-me Pereirinha pelo velho Maurício, ali internado, o recado.
Guardei-o, posteriormente conversei com os companheiros, uns franziam o cenho,
outros se acalmaram, entre eles Clovis Moreira Celez grande companheiro de
nossa Doutrina. Eu fui tratando de ir acomodando a situação, em nada pensando,
nem mesmo cogitando do caso, quando sem menos esperar, no dia 1º de abril, às
16 horas, recebo uma carta, com data de 23/3/1953, de Pedro Leopoldo, o que
verifiquei pelo registro; abrindo-a, pressurosamente, deparo com uma mensagem a
mim dirigida, a qual reputo de valor imensurável, não apenas pelo fato provado,
mas pelo efeito que a mesma veio ter em nossos meios. onde passou, depois
disto, a reinar a maior paz deste mundo, marcando ainda um início áureo de uma
época nova para nós”.
O cartão do Chico fez o
efeito sugerido na estampa do clichê: as ovelhas novamente se ajuntaram. E
Pereirinha continuou no Asilo, onde está hoje. Um novo ânimo se apossou dos
trabalhadores e o Asilo se refez aumentando seu corpo de mantenedores e já
tendo projetadas novas obras nos grandes terrenos de sua propriedade.
* * *
Vêm os leitores que um
instrumento afinado entre a Terra e o Céu muito pode fazer em benefício de
todos. Mas é uma grande verdade: que é custoso manter-se em constante estado de
prece, “servindo de ponte”. E só Deus sabe como o consegue o nosso caro Chico,
dizendo-nos, de uma vez: que o dia que não chora, que não verte lágrimas, não
ganhou seu dia e nem o vestiu de vigilância e oração, vitoriando-o com bons
atos, serviços para Jesus.
* * *
Os Lindos casos do Chico não
param aqui, havendo muitos outros que ainda não devem nem podem ser contados;
mas os que privam de sua esplêndida companhia bem os conhecem e com suas
evangélicas lições se identificaram.
Um dia surgirão em letra de
forma para que a lenda que há de lhe envolver o nome não os deturpe.
Um Médium, porém, com tanta
responsabilidade, está cheio de razões, afligindo-se quando dele se fala ou
escreve, pois não é sempre que a compreensão opulenta a mente dos que leem,
resultando um benefício para a sua tarefa mediúnica.
Por isto pedimos ao
caríssimo leitor: se gostou deste livro, Jesus o ajude nas Preces que fizer em
favor do nosso bondoso Médium, e, se não gostou, seja condescendente: peça ao
Mestre que perdoe aquele que ousou escrevê-lo e cuja intenção foi a melhor
possível: para que, mirando-nos pelo Espelho da alma do querido Chico Xavier,
e, sabendo, pelos seus Lindos Casos, como vive e porque vive, o imitemos,
dizendo, com o Irmão Aniceto, a Mensagem abaixo, que o polígrafo de Pedro Leopoldo
recebeu na tarde de 20/9/1949, quando mais sentia a responsabilidade e a glória
da sua aprendizagem:
“Senhor, ilumina-nos a visão
de trabalhadores imperfeitos. Justo Juiz, ampara os criminosos e transviados.
Construtor Celeste, restaura as obras respeitáveis, ameaçadas pela destruição.
Divino Médico, salva os doentes. Amigo dos Bons, regenera os maus Mensageiro da
Luz, expulsa as trevas que ainda nos rodeiam. Emissário da Sabedoria,
esclarece-nos a ignorância. Dispensador do Bem, compadece-te de nossos males.
Advogado dos Aflitos, reajusta os infelizes que provocam o sofrimento. Sumo
Libertador, emancipa-nos a mente, encarcerada em nossas próprias criações menos
dignas. Benfeitor do Alto, estende compassivas mãos a todos aqueles que te
desconhecem os princípios de amor e trabalho, humildade e perdão, nas zonas
inferiores da vida.
Senhor, eis aqui os teus servos incapazes. Cumpra-se em nós a tua vontade sábia e justa, porque a nossa pequenez é tudo o que possuímos, para que, em Teu Nome, possamos operar a nossa própria redenção, hoje, aqui e agora. Assim seja”.
Do livro Lindos casos de
Chico Xavier, de Ramiro Gama.
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