O livro dos espíritos. Questão 431

MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS

CAPÍTULO VIII – EMANCIPAÇÃO DA ALMA

Sonambulismo

431. Qual a origem das ideias inatas do sonâmbulo e como pode falar com exatidão de coisas que ignora quando desperto, de coisas que estão mesmo acima de sua capacidade intelectual?

“É que o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que os que lhe supõe. Apenas, tais conhecimentos dormitam, porque, por demasiado imperfeito, seu invólucro corporal não lhe consente rememorá-lo. Que é, afinal, um sonâmbulo? Espírito, como nós, e que se encontra encarnado na matéria para cumprir a sua missão, despertando dessa letargia quando cai em estado sonambúlico. Já te temos dito, repetidamente, que vivemos muitas vezes. Esta mudança é que, ao sonâmbulo, como a qualquer Espírito ocasiona a perda material do que haja aprendido em precedente existência. Entrando no estado, a que chamas crise, lembra-se do que sabe, mas sempre de modo incompleto. Sabe, mas não poderia dizer donde lhe vem o que sabe, nem como possui os conhecimentos que revela. Passada a crise, toda recordação se apaga e ele volve à obscuridade.”

A.K.: Mostra a experiência que os sonâmbulos também recebem comunicações de outros Espíritos, que lhes transmitem o que devam dizer e suprem à incapacidade que denotam. Isto se verifica principalmente nas prescrições médicas. O Espírito do sonâmbulo vê o mal, outro lhe indica o remédio. Essa dupla ação é às vezes patente e se revela, além disso, por estas expressões muito frequentes: dizem-me que diga, ou proíbem-me que diga tal coisa. Neste último caso, há sempre perigo em insistir-se por uma revelação negada, porque se dá azo a que intervenham Espíritos levianos, que falam de tudo sem escrúpulo e sem se importarem com a verdade.

Origem das ideias

A origem das ideias dos sonâmbulos, já falamos em mensagem anterior, está na consciência profunda, arquivo da alma onde Deus depositou todas as leis da vida, e onde ela recolhe todas as experiências colhidas nas vidas sucessivas que teve o Espírito neste ou em outros mundos.

Em muitos casos, também o sonâmbulo serve de medianeiro para outros Espíritos que se comunicam por seu intermédio. A prática do sonambulismo faz despertar igualmente outros dons do Espírito. É uma profusão de sabedoria que fica recolhida na profundidade da consciência. Podemos observar, como nos primórdios da Doutrina dos Espíritos, quando, por vezes, sonâmbulos sem instrução que os qualificassem, diziam coisas maravilhosas. Ou a fonte é a consciência profunda, ou são os instrutores espirituais que lhes sopram aos ouvidos sensíveis pelo transe sonambúlico. Eis aí a origem das ideias por eles ventiladas.

O corpo impede que o Espírito conheça certas ciências, mas em estado mediúnico, ou na profundidade do termo sonambúlico, o Espírito relembra todas as filosofias e ciências que tem guardado nos arquivos do seu ser.

Quando o sonâmbulo volta ao estado normal da sua mente, todo o saber que expressava no transe é recolhido para a consciência profunda de onde estava vertendo.

Mesmo para os espíritas mais estudiosos, existem muitas coisas em segredo reservadas para o amanhã. Todas as revelações vêm pouco a pouco. A verdade tem uma marcha que a ponderação dirige, e que o bom senso comanda também. Cada pessoa recebe o que merece, na altura da sua evolução espiritual. As escolas são exemplos disso; há muitos alunos em uma universidade, mas, cada grupo em uma faixa de conhecimento. Não se pode torturar um aluno do primeiro grau, com noções de matemática de grau mais elevado.

Na verdade, as ideias têm muitas fontes e a primeira está em Deus. É qual a eletricidade que, sendo gerada na queda d’água, passa por muitos transformadores, e se divide em frações de forças para ser útil aos homens. Assim, a ideia de Deus passa por muitas interpretações até chegar ao homem, que nela imprime seus sentimentos como semente, respondendo por ela.

Se o sonâmbulo transmite algo que não devia falar, pode ser por interferência de Espíritos de idoneidade duvidosa, que encontraram no médium sonambúlico sintonia de alguns desequilíbrios. Para tanto, devem os que ouvem usar a razão e aceitar o que a consciência em Jesus permitir. Assim se deve fazer em tudo.

O que mais interessa, por enquanto, aos grandes comandantes dos pensamentos puros, é a mudança dos homens. Quando é preciso mudar, é necessário compreender o amor e passar a amar todas as criaturas e todas as coisas. É pela irradiação do amor que se fica sabendo de tudo o que mais interessa na Terra e no céu. A própria sabedoria nasce do amor. A origem de tudo é Deus, até do que pensa ser o mal, que não existe, pois tudo tem uma razão de ser, em todo lugar onde palpita a vida.

“Tudo tem uma razão de ser, e nada se faz sem a permissão de Deus” (pergunta 536). É justo que devemos observar tudo, escolhendo o que nos convém, dependendo da nossa evolução espiritual, conforme o plano que habitamos e as leis que havemos de obedecer.

Fonte:

O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.

Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes. 

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