MOISÉS, O
MENSAGEIRO DA PRIMEIRA REVELAÇÃO
Moisés foi um judeu criado
na casa real do faraó egípcio. Estando Moisés com 40 anos fugiu para o deserto,
após ter agredido um egípcio que maltratou um judeu (Êxodo, 2:11-12. Atos dos
Apóstolos, 7:23-24).
Na lei mosaica há duas
partes distintas: a Lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou
disciplinar, decretada por Moisés. Uma é invariável; a outra, apropriada aos
costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo. A Lei de Deus está
formulada nos Dez Mandamentos. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo.
Cap. I, item 2.
Moisés foi inspirado a
reunir todos os elementos úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando o
monoteísmo e estabelecendo o Decálogo, sob a inspiração divina. Emmanuel:
Emmanuel. Cap. 2.
1. Informações históricas
A Bíblia nos relata que
Abraão teve dois filhos: Isaque, nascido de sua esposa Sara, e Ismael, de sua
escrava egípcia, Hagar. (Gênesis, 21:1-21; Atos dos Apóstolos, 7: 2-8) Isaque, considerado
o legítimo herdeiro, casou-se com Rebeca (Gênesis, 24) e teve dois filhos: Esaú
e Jacó. Este, cuja progenitura ganhou do irmão em troca de um prato de
lentilhas, casou-se com Raquel, com quem teve dois filhos: José e Benjamim. No
entanto, Jacó teve mais dez filhos, cinco de Lia, irmã de Raquel, com quem se
casara primeiro, e cinco de escravas. (Gênesis, 35: 23-26).
Os hebreus, descendentes de
Jacó, chamavam a si próprios de filhos de Israel ou israelitas, e formaram as
doze tribos de Israel. Os irmãos de José venderam-no como escravo ao faraó
egípcio, mas, em razão de sua sabedoria e influência, tornou-se vice-rei do
Egito (Gênesis, 37:1-36. Atos dos Apóstolos, 7:8-10).
Devido à fome reinante, os
judeus foram viver no Egito, inclusive os irmãos de José (Gênesis, 42 a 50).
Por influência deste, os judeus se tornaram numerosos no Egito. No entanto,
ocorrendo substituição no trono egípcio, o novo faraó temendo que os filhos de
Israel se tornassem demasiadamente poderosos, como estava acontecendo, tornou-os
escravos (Atos dos Apóstolos, 7:11-18).
O povo hebreu esteve cativo no Egito por cerca de 400 anos, oprimido por penosos trabalhos de construção e de cultivo de cereais. Mais tarde, o faraó determinou que se lançassem ao Nilo todos os meninos hebreus, recém-nascidos para que não se mantivesse a progenitura racial judaica (Êxodo, 1:15-22; Atos dos Apóstolos, 7).
Uma das mães israelitas, da
casa de Levi (um dos filhos de Jacó), teve um filho, escondendo-o durante três
meses. Porém, não podendo conservá-lo oculto por mais tempo, tomou um cesto de
junco betumado com resina e pez, acomodou dentro o menino e deixou o cesto
boiar entre os canaviais, à margem do rio Nilo. A irmã do menino conservou-se
escondida a alguma distância para ver o que aconteceria. Chegou a filha do
faraó e, vendo o cesto no meio do canavial, mandou uma criada buscá-lo. Abriu-o
e viu o menino chorando. Ficou cheia de pena e disse: “É um filho de hebreus”.
A irmã da criança aproximou-se e perguntou: “Quereis que vá chamar uma mulher
israelita para amamentar esse menino?” Ela respondeu: “Vai, sim”. A menina foi
chamar a própria mãe, que, sob a proteção da filha do faraó, amamentou o menino
e acompanhou de perto sua educação, sem revelar o parentesco que havia entre
ambos. A mãe adotiva de Moisés deu-lhe este nome porque das águas o tinha
tirado (Êxodo, 2:1-10).
Moisés, judeu de nascimento,
foi, portanto, educado por uma egípcia da casa real (Atos dos Apóstolos,
7:20-22) Estando Moisés com aproximadamente 40 anos, não suportava mais ver a aflição
dos israelitas, cativos do rei do Egito. Certa vez, ao ver um judeu sendo
maltratado, Moisés defendeu o irmão de raça, matando ou ferindo o egípcio
(Êxodo, 2:11-12. Atos dos Apóstolos, 7:23-24).
Sentenciado à morte pelo
faraó, Moisés fugiu para a terra de Midian (ou Madian), vivendo com a família
de Jetro, um sacerdote. Moisés casa-se, então com Zípora, uma das seis filhas
do sacerdote, com quem teve um filho chamado Gérson (Êxodo, 2:15-22) e, mais
tarde, outro de nome Eliezer.
Na solidão do deserto,
cuidando de ovelhas, Moisés meditava a respeito de tudo o que lhe tinha
ocorrido, desde o nascimento. Elaborou então um plano que serviria, no futuro,
de base para a constituição da fé judaica. O sofrimento e a solidão do deserto
fizeram Moisés entender que os deuses egípcios jamais ajudariam os hebreus,
cujas práticas devocionais eram muito simples, se comparadas com os rituais
egípcios. Percebeu, assim que todos os descendentes de Jacó adoravam ídolos
caseiros, os therafins tribais, e os obscuros deuses da natureza, os elohins. Moisés
concluiu, por inspiração, que, na verdade, existia apenas um único e poderoso
Deus, capaz de agir sobre os demais e sobre todas as coisas, tal como um século
antes afirmara o faraó Amenotep IV, que pregava a existência de um único Deus
(a divindade solar Athen/Athon) (Êxodo, 3 e 4).
2. Moisés: o mensageiro da primeira revelação
divina
Certo dia, andando pelo
deserto com suas ovelhas, perto do monte Sinai, pertencente à cadeia montanhosa
do Horebe, Moisés viu um anjo, que surgiu numa chama de fogo, dentro de uma
sarça. Reparou que o fogo ardia, mas a sarça não se consumia. Então, o anjo
disse:
Moisés, Moisés! Eu sou o
Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó!
Certamente vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor.
Conheço-lhe o sofrimento. Vem, agora, e eu te enviarei a faraó, para que
tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito. Então disse Moisés a Deus:
Quem sou eu para ir ao faraó e tirar do Egito os filhos de Israel? Deus lhe
respondeu: Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de
haver tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte. (Êxodo, 3:1-22)
Conta a tradição judaica
que, a partir daquele instante, Deus concedeu poderes a Moisés, permitindo, com
o auxílio de seu irmão Aarão, o resgate dos judeus das terras egípcias. A
retirada dos judeus ocorreu após árduas lutas, entremeadas com as manifestações
da prodigiosa mediunidade de Moisés, que culminaram no surgimento das dez
pragas, a saber: transformação das águas dos reservatórios naturais e dos
utensílios em sangue; invasão de rãs; disseminação de piolhos; invasão de
enxames de moscas; peste nos animais; úlceras e tumores nos homens e animais;
chuva de pedras; invasão de gafanhotos; surgimento das trevas, transformando o
dia em noite; condenação à morte de todos os filhos primogênitos dos egípcios,
inclusive o filho de faraó (Êxodo, 4-14).
Ao sair do Egito,
transportando uma multidão de judeus, os exércitos de faraó fazem a última
tentativa de mantê-los prisioneiros, mas Moisés consegue, pela sua mediunidade,
o prodígio de abrir caminho nas águas do Mar Vermelho (Êxodo, 14: 1-31).
Contam, ainda, as tradições
do Judaísmo que Moisés conduziu os israelitas pelo deserto, durante 40 anos,
antes de localizarem a Canaã, a terra prometida por Deus a Abraão (Êxodo, 17 a
40). A vida dos judeus no deserto foi dura, repleta de grandes e pequenos
obstáculos, antes de se organizarem como nação e de se unirem em torno de uma
única religião, fundada com o recebimento do Decálogo ou Dez Mandamentos, no
monte Sinai (Êxodo, 20: 1-26).
Consta que, para suprir a
fome de milhares de judeus (cerca de 600 mil), Deus teria concedido o maná,
alimento que caía do céu em forma de chuva (Êxodo, 16:4-5). Estando Moisés com
o povo num lugar sem água, viu-se em extrema dificuldade, já que as pessoas
ameaçavam apedrejá-lo. Ele, então, recorre a Deus no sentido de solucionar o
problema. O Senhor orienta Moisés a ir até a pedra de Horebe e feri-la com a
mesma vara com a qual ele tocara o rio.
Moisés segue as orientações
dadas pelo Senhor, e a água surge para saciar a sede do povo (Êxodo, 15: 23-27;
17).
No terceiro mês após a saída
do Egito, diz a tradição, que os israelitas chegaram ao pé do Sinai, armaram
suas tendas e Moisés subiu até o cimo, onde o Senhor lhe disse: “Manda que
lavem as vestes e estejam prontos para o terceiro dia. Nesse dia, quando soar a
trombeta, que todos se aproximem do monte”. Moisés obedeceu ao Senhor e, na
madrugada do terceiro dia, houve trovões e relâmpagos, e uma espessa nuvem
envolveu o Sinai. Ouviu-se o som estridente de trombetas. Todos se atemorizaram
(Êxodo, 19).
Moisés levou os israelitas
para perto da montanha, e o Senhor promulgou, então, o Decálogo, pelas mãos de
Moisés, em duas tábuas de pedra (Êxodo, 20: 1-21; Deuteronômio, 5:6-21).
Na lei mosaica há duas
partes distintas: a Lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou
disciplinar, decretada por Moisés. Uma é invariável; a outra, apropriada aos
costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo.
A
Lei de Deus está formulada nos dez mandamentos seguintes:
I. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa
da servidão. Não tereis, diante de mim, outros deuses estrangeiros. Não fareis
imagem esculpida, nem figura alguma do que está em cima do céu, nem embaixo na
Terra, nem do que quer que esteja nas águas sob a terra. Não os adorareis e não
lhes prestareis culto soberano.
II. Não pronunciareis em vão o nome do Senhor, vosso Deus.
III. Lembrai-vos de santificar o dia do sábado.
IV. Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo
na terra que o Senhor vosso Deus vos dará.
V. Não mateis.
VI. Não cometais adultério.
VII. Não roubeis.
VIII. Não presteis testemunho falso contra o vosso próximo.
IX. Não desejeis a mulher do vosso próximo.
X. Não cobiceis a casa do vosso próximo, nem o seu servo, nem a
sua serva, nem o seu boi, nem o seu asno, nem qualquer das coisas que lhe
pertençam.
Esclarecem, ainda, os
Espíritos da Codificação:
É de todos os tempos e de todos
os países essa lei e tem, por isso mesmo, caráter divino. Todas as outras são
leis que Moisés decretou, obrigado que se via a conter, pelo temor, um povo de
seu natural turbulento e indisciplinado, no qual tinha ele de combater
arraigados abusos e preconceitos, adquiridos durante a escravidão do Egito.
Para imprimir autoridade às suas leis, houve de lhes atribuir origem divina,
conforme o fizeram todos os legisladores dos povos primitivos. A autoridade do
homem precisava apoiar-se na autoridade de Deus; mas só a ideia de um Deus
terrível podia impressionar criaturas ignorantes, nas quais ainda pouco
desenvolvidos se encontravam o senso moral e o sentimento de uma justiça reta.
Com o Decálogo inicia-se
verdadeiramente a religião judaica, organizada por Moisés, ficando
estabelecidas as bases da teocracia do Judaísmo.
Além de médium, Moisés era
legislador e homem como os demais. A grande lei, diz ele, foi transmitida
diretamente por Deus. Mas conheci- dos como hoje se conhecem, os fenômenos
psíquicos, logo se percebe que um Espírito elevado foi o mensageiro daqueles
mandamentos, que o profeta transmitiu à posteridade com as falhas infalíveis do
crivo humano e os acréscimos que a época impunha.
Devemos considerar que,
devido ao nível evolutivo de Moisés, é improvável que ele conversasse
diretamente com Deus.
A Lei ou a base da Lei, nos
dez mandamentos, foi-lhe ditada pelos emissários de Jesus, porquanto todos os
movimentos de evolução material e espiritual do orbe se processaram, como até
hoje se processam, sob o seu augusto e misericordioso patrocínio.
É
importante destacar também o seguinte:
As seitas religiosas, de
todos os tempos, pela influenciação dos seus sacerdotes, procuram modificar os
textos sagrados; todavia, apesar das alterações transitórias, os dez
mandamentos, transmitidos à Terra por intermédio de Moisés, voltam sempre a
ressurgir na sua pureza primitiva, como base de todo o direito no mundo,
sustentáculo de todos os códigos da justiça terrestre.
Moisés possuía uma
mediunidade prodigiosa, desenvolvida na intimidade do templo egípcio. Todavia,
o seu Espírito ainda tinha muito que evoluir.
Por esse motivo há
discrepâncias entre o que ensinava, tendo como base o Decálogo, e o que
exemplificava.
A legislação de Moisés está
cheia de lendas e de crueldades compatíveis com a época, mas, escoimada de
todos os comentários fabulosos a seu respeito, a sua figura é, de fato, a de um
homem extraordinário, revestido dos mais elevados poderes espirituais. Foi o
primeiro a tornar acessíveis às massas populares os ensinamentos somente
conseguidos à custa de longa e penosa iniciação, com a síntese luminosa de
grandes verdades.
A saída do Egito é
comemorada como a Páscoa judaica. É uma das tradições primitivas mais
festejadas, mas sem o cerimonial e a concepção extremista do passado. A
tradição transmitida às gerações futuras diz que essa festa foi, até a morte de
Moisés, comandada por Miriam, sua irmã (a que ficou vigiando-o quando, em
criança, foi colocado numa cesta no Nilo), e se caracterizava por danças e
cânticos alegres, animados pelos sons de tamborins.
Moisés era possuidor de uma
personalidade magnética, dominadora, hábil manipulador das massas e grande
líder. Sabia incutir nas almas supersticiosas e ignorantes os temores animistas
de um Deus vingador e zeloso. A sua prodigiosa mediunidade de efeitos físicos,
associada à de outros auxiliares diretos, sobretudo a do seu irmão Aarão, que
tinha o dom da fala e do convencimento, foram fatores que contribuíram para
organizar a nação e a religião judaicas. Contudo, Moisés era um produto do meio
onde fora criado em que o conhecimento espiritual era usado para obter domínio
junto às mentes vacilantes. Outro costume herdado da sua educação egípcia está
relacionado à infidelidade conjugal, incomum entre os judeus, mas difundida
entre os não hebreus. Acredita-se que Moisés desentendeu vezes sem conta com a
sua irmã Miriam a este respeito, pois, é sabido que o missionário teve outras
esposas, além de Zipporah [Zípora] (Números, 12:1-16; Juízes, 4:11).
Acredita-se que Moisés,
educado na cultura egípcia, teria sido um sacerdote de Osíris. Ele julgava o
ritual da religião faraônica muito complicado e que merecia ser simplificado.
Para ele os rituais mais significativos estavam diretamente relacionados aos
números, fazendo surgir, assim, as bases da Cabala judaica.
Este foi o ponto inicial da
cisão ocorrida entre Moisés e os egípcios. Dessa forma, rompe com a tradição
dos chamados inicia- dos. Ele ensinou, a todos, os mistérios da Cabala, mas sob
o véu do simbolismo, de forma que somente os Espíritos mais adiantados ou
argutos conseguiram entendê-la. Por essa razão é que muitos livros de Moisés
podem parecer infantis aos que desconhecem o lado oculto dos ensinamentos,
transmitidos de forma oral.
A tradição ora da Cabala não
é repassada a qualquer adepto do Judaísmo. É, antes, confiada a 70 discípulos
escolhidos segundo as ideias existentes em Números, 11:16-17 e 25. A esotérica
iniciação judaica acontece com a compreensão do Livro da criação, ou Sepher
Jersirah, e do Livro dos princípios, ou Zohah. São obras de leitura e
entendimento difíceis, uma vez que a linguagem abstrata é incompreensível para
quem não tem a chave da iniciação (transmitida oralmente). Um dos mestres do
pensamento esotérico moderno, Eduardo Schuré, não tem dúvidas de que Moisés
teria escrito o livro Gênesis em hieróglifos, em três sentidos diferentes,
confiando a chave da interpretação e a explicação dos mesmos, oralmente, aos
seus sucessores.
A chave e as explicações
estariam relacionadas não apenas aos números, mas à sonoridade da pronúncia das
palavras que, parece, induziriam a um estado de transe e ligação com Espíritos.
Ainda segundo este estudioso, na época de Salomão o livro Gênesis teria sido
traduzido em caracteres fenícios e, quando em cativeiro na Babilônia, Esdras o
teria redigido em caracteres arianos caldaicos. Os tradutores gregos da Bíblia
tinham uma informação superficial da chave e explicações de Moisés. São
Jerônimo, que fez a versão da Bíblia para o latim, nada sabia das tradições.
Foi assim que se perdeu, pelo menos para os religiosos não judeus, o entendimento
esotérico dos ensinamentos de Moisés.
Até agora, a Humanidade da
Era Cristã recebeu a grande Revelação em três aspectos essenciais: Moisés
trouxe a missão de Justiça; o Evangelho, a revelação de insuperável Amor, e o
Espiritismo, em sua feição de Cristianismo Redivivo, traz, por sua vez, a
sublime tarefa da Verdade.
No centro das três
revelações encontra-se Jesus Cristo, como o funda- mento de toda a luz e de
toda a sabedoria. É que, com o Amor, a Lei manifestou-se na Terra no seu
esplendor máximo; a Justiça e a Verdade nada mais são que os instrumentos
divinos de sua exteriorização, com aquele Cordeiro de Deus, alma da redenção de
toda a Humanidade. A Justiça, portanto, lhe aplainou os caminhos, e a Verdade,
conseguinte- mente, esclarece os seus divinos ensinamentos.
Fonte: Estudo aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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