OS DISCÍPULOS DE
JESUS
Deus só confia missões importantes aos que Ele sabe capazes de cumpri-las, porquanto as grandes missões são fardos pesados que esmagariam o homem carente de forças para carregá-los. Em todas as coisas, o mestre há de sempre saber mais do que o discípulo; para fazer que a Humanidade avance moralmente e intelectualmente, são precisos homens superiores em inteligência e em moralidade. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XXI, item 9.
O discípulo da Boa Nova tem de servir a Deus, servindo à sua obra neste mundo. Ele sabe que se acha a laborar com muito esforço num grande campo, propriedade de seu Pai, que observa com carinho e atenta com amor nos seus trabalhos. Humberto de Campos: Boa nova. Cap. 6.
Designou o Senhor ainda
outros setenta e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as
cidades e lugares aonde ele havia de ir. (Lucas, 10:1.)
Foi
confiado aos quinhentos da Galileia o serviço glorioso da evangelização das
coletividades terrestres, sob a inspiração de Jesus Cristo. Humberto de Campos:
Boa nova. Cap. 29.
1. Os discípulos do Cristo
O termo discípulo,
significando literalmente “aluno”, aparece no Novo Testamento somente nos
evangelhos e em Atos dos Apóstolos. De emprego, em particular, para identificar
os doze apóstolos, designa, em geral, a ampla variedade dos seguidores de
Jesus. Entretanto, nem todos os seguidores do Cristo se constituíram em seus
legítimos discípulos, aceitando a mensagem cristã e colocando-se a serviço de
Jesus. Grande parte da população seguia o Mestre em busca de alívio dos
problemas que lhes afligiam a existência.
Em virtude dos seus
postulados sublimes de fraternidade, a lição do Cristo representava o asilo de
todos os desesperados e de todos os tristes. As multidões dos aflitos pareciam
ouvir aquela misericordiosa exortação: “Vinde a mim, vós todos que sofreis e
tendes fome de justiça e eu vos aliviarei”. E da cruz chegava-lhes, ainda, o
alento de uma esperança desconhecida. A recordação dos exemplos do Mestre não
se restringia aos povos da Judeia, que lhe ouviram diretamente os ensinos
imorredouros. Numerosos centuriões e cidadãos romanos conheceram pessoalmente
os fatos culminantes das pregações do Salvador. Em toda a Ásia Menor, na
Grécia, na África, e mesmo nas Gálias, como em Roma, falava-se dele, da sua
filosofia nova que abraçava todos os infelizes, cheia das claridades
sacrossantas do reino de Deus e da sua justiça. Sua doutrina de perdão e de
amor trazia nova luz aos corações e os seus seguidores destacavam-se do
ambiente corrupto do tempo, pela pureza de costumes e por conduta retilínea e
exemplar.
Ao lado das criaturas que
seguiam o Mestre em busca de alívio para os seus males, havia os servidores
fiéis, que abraçaram de corpo e alma a causa do Cristo, conforme rezam as
escrituras e a tradição. Em todas as épocas renasceram no Planeta discípulos
sinceros de Jesus, almas valorosas que, em razão do trabalho por elas
desenvolvido, se constituíram em guardiões e disseminadores da mensagem cristã,
estimulando o progresso da Humanidade, ao longo dos séculos.
Deus só
confia missões importantes aos que Ele sabe capazes de cumpri-las, porquanto as
grandes missões são fardos pesados que esmagariam o homem carente de forças
para carregá-los. Em todas as coisas, o Mestre há de sempre saber mais do que o
discípulo; para fazer que a Humanidade avance moralmente e intelectualmente,
são precisos homens superiores em inteligência e em moralidade. Por isso, para
essas missões são sempre escolhidos Espíritos já adiantados, que fizeram suas
provas noutras existências, visto que, se não fossem superiores ao meio em que
têm da atuar, nula lhes resultaria a ação.
Neste sentido, o verdadeiro
missionário, justifica-se “pela sua
superioridade, pelas suas virtudes, pela grandeza, pelo resultado e pela
influência moralizadora de suas obras, a missão de que se diz portador.” E como
poderemos nos transformar em legítimos discípulos do Cristo? O que é necessário
fazer? É o próprio Jesus que nos ensina:
Ama a Deus, nosso Pai, com toda a tua alma, com todo o teu coração
e com todo o teu entendimento. Ama o próximo como a ti mesmo. Perdoa ao
companheiro quantas vezes se fizerem necessárias. Empresta sem aguardar
retribuição. Ora pelos que te perseguem e caluniam. Ajuda os adversários. Não
condenes para que não sejas condenado. A quem te pedir a capa cede igualmente a
túnica. Se alguém te solicita a jornada de mil passos, segue com Ele dois mil.
Não procures o primeiro lugar nas assembleias, para que a vaidade te não tente
o coração. Quem se humilha será exaltado. Ao que te bater numa face, oferece
também a outra. Bendize aquele que te amaldiçoa. Liberta e serás libertado. Dá
e receberás. Sê misericordioso. Faze o bem ao que te odeia. Qualquer que perder
a sua vida, por amor ao apostolado da redenção, ganhá-la-á mais perfeita, na
glória da eternidade. Resplandeça a tua luz. Tem bom ânimo. Deixa aos mortos o
cuidado de enterrar os seus mortos. Se pretendes encontrar-me na luz da
ressurreição, nega a ti mesmo, alegra-te sob o peso da cruz dos próprios
deveres e segue-me os passos no calvário de suor e sacrifício que precede os
júbilos da aurora divina!
Percebemos, assim, que a
existência de cada servidor fiel se resume na adoção de um determinado tipo de
conduta que o caracteriza como homem de bem.
A vida de
cada criatura consciente é um conjunto de deveres para consigo mesma, para com
a família de corações que se agrupam em torno dos seus sentimentos e para com a
Humanidade inteira. E não é tão fácil desempenhar todas essas obrigações com
aprovação plena das diretrizes evangélicas. Imprescindível se faz eliminar as
arestas do próprio temperamento, garantindo o equilíbrio que nos é particular,
contribuir com eficiência em favor de quantos nos cercam o caminho, dando a
cada um o que lhe pertence, e servir à comunidade, de cujo quadro fazemos
parte. Sem que nos retifiquemos, não corrigiremos o roteiro em que marchamos. Se
buscamos a sublimação com o Cristo, ouçamos os ensinamentos divinos. Para
sermos discípulos dele é necessário nos disponhamos com firmeza a conduzir a
cruz de nossos testemunhos de assimilação do bem, acompanhando-lhe os passos.
2. Os discípulos e sua missão
2.1 A
missão dos setenta discípulos da Galileia
Lucas nos relata que, após a
transfiguração no Tabor e a cura de um epilético obsidiado, Jesus designou
setenta discípulos (alguns códices, como a Bíblia de Jerusalém, mencionam 72),
que deveriam anunciar os ensinamentos de Jesus, fornecendo-lhes instruções
precisas de como deveriam agir.
·
Primeiramente “mandou-os adiante da sua face,
de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir” (Lc 10:1).
·
Asseverou que os enviava “como cordeiros ao
meio de lobos” (Lc 10:3).
·
Orientou-lhes: “Não leveis bolsa, nem
alforje, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho” (Lc 10:4).
·
Instruiu-os a como proceder ao chegar a uma
residência: “onde entrar- des, dizei primeiro: Paz seja nesta casa. E, se ali
houver algum filho de paz, repousará sobre ele a vossa paz; e, se não, voltará
para vós. E ficai na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois
digno é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em casa”. (Lc 10: 5-7).
·
Esclareceu-lhes agir como hóspedes educados:
“E, em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos
puserem diante” (Lc10: 8).
·
Pediu-lhes: “E curai os enfermos que nela
houver e dizei-lhes: É chega- do a vós o Reino de Deus. Mas, em qualquer cidade
em que entrardes e vos não receberem, saindo por suas ruas, dizei: Até o pó que
da vossa cidade se nos pegou sacudimos sobre vós. Sabei, contudo, isto: já o
Reino de Deus é chegado a vós” (Lc10: 9-11).
·
Informou-lhe, ainda: Quem vos ouve a vós a
mim me ouve; e quem vos rejeita a vós a mim me rejeita; e quem a mim me
rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc10: 16).
Lucas nos esclarece também
que o empreendimento dos setenta discípulos foi coroado de êxito, que
retornaram felizes, dizendo: “Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos
sujeitam. E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Eis que vos dou
poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos
fará dano algum” (Lc 10: 17-19). Jesus, porém, os alertou: “Mas não vos
alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos, antes, por estar o
vosso nome escrito nos céus” (Lc 10: 20).
Percebe-se nesse texto do
Evangelho que a despeito de ser Jesus o Governador espiritual do Planeta, não
dispensa a cooperação de servidores que, à semelhança de “batedores”, seguem à
frente anunciando a Boa Nova.
Jesus não
prescinde da participação de outros Espíritos de condição espiritual inferior a
dele para o desenvolvimento de sua tarefa. Em
tarefa de redenção espiritual de elevado porte, faz-se acompanhar de uma
falange invisível e de um punhado de homens e mulheres carregando consigo
conquistas e débitos espirituais. Atua em conjunto, investindo no potencial do
grupo, ainda que reconhecesse suas fragilidades. Dá o apoio, mas deixa que cada
um cumpra a cota de serviço necessária ao processo de crescimento individual e
coletivo.
Outro ponto relevante,
evidenciado nessa passagem evangélica, diz respeito às instruções que Jesus
transmitiu aos seus discípulos. O Mestre não se limita a dizer-lhes “o que
fazer” mas, também, “o como fazer”, tendo em vista as diferentes situações que
surgiriam na execução do trabalho. O êxito da missão foi, assim, garantido tanto
pelas sábias orientações prestadas pelo Senhor quanto pelo esforço dos
discípulos em cumpri-las.
Os grandes operários da
Espiritualidade; cheios de coragem e de austeridade, sulcaram as estradas de
vila em vila, de aldeia em aldeia, sem se preocuparem com haveres, com roupas,
com bolsas, com alforjes nem com sandálias, no cumprimento das ordens que
receberam, já curando enfermos e levando a paz às multidões sufocadas pelas
tribulações, já anunciando à viva voz e sem desejar outros valores, a chegada
do Reino de Deus, que, deveria dominar os corações.
É, pois, necessário o
desenvolvimento de valores morais para sermos considerados discípulos de Jesus:
“desinteresse, abnegação, sacrifício, mansidão, coragem, dignidade, humildade,
amor”.
A lição evangélica nos faz
refletir também sobre a carência de liderança positiva no mundo atual. As
pessoas, em geral, estão muito envolvidas com aquisição de bens transitórios.
A ausência de objetivos
superiores é um dos grandes males humanos. Estacionados na rotina, os homens
tendem a preocupar-se com ninharias, emprestando demasiada importância a
acontecimentos banais, a fenômenos naturais de desgaste orgânico e ao
procedimento alheio, transformando-se em eternos inquietos, em doentes crônicos
e amigos da maledicência. Quando resolvem mudar, não cogitam de olhar para o
Alto. Preferem descer ao rés do chão, resvalando para a inconsequência e o
vício.
Em razão da nossa acanhada
evolução, moral e intelectual, ainda nos empenhamos em servir a Jesus por meio
de práticas exteriores, adiando para o grande amanhã a verdadeira transformação
íntima.
Também nós, sensibilizados
com os propósitos de elevação, permanecemos vinculados aos dispositivos da Boa
Nova. No entanto, aguarda o Mestre que as atitudes exteriores de seus
seguidores possam, um dia, acionarem-se objetivamente, desprendendo seus
corações das imantações milenares, mediante decisiva disposição de se elevarem
espiritualmente.
2.2 A
missão dos quinhentos discípulos da Galileia
Depois do Calvário,
verificadas as primeiras manifestações de Jesus no cenáculo singelo de
Jerusalém, apossara-se de todos os amigos sinceros do Messias uma saudade
imensa de sua palavra e de seu convívio. A maioria deles se apegava aos
discípulos, como que querendo reter as últimas expressões de sua mensagem
carinhosa e imortal. Foi quando Simão Pedro e alguns outros
salientaram a necessidade do regresso a Cafarnaum, para os labores
indispensáveis da vida. Em breves dias, as velhas redes mergulhavam de novo no
Tiberíades, por entre as cantigas rústicas dos pescadores. Mas, ao
pé do monte onde o Cristo se fizera ouvir algumas vezes, exalçando as belezas
do Reino de Deus e da sua justiça, reuniam-se invariavelmente todos os antigos
seguidores mais fiéis, que se haviam habituado ao doce ali- mento de sua
palavra inesquecível. Numa tarde de azul profundo, a reduzida
comunidade de amigos do Messias, ao lado da pequena multidão, reuniu-se em
preces, no sítio solitário. João havia comentado as promessas do Evangelho,
enquanto na encosta se amontoava a assembleia dos fiéis seguidores do Mestre.
Viam-se, ali, algumas centenas de rostos embevecidos e ansiosos. Eram romanos
de mistura com judeus desconhecidos, mulheres humildes conduzindo os filhos
pobres e descalços, velhos respeitáveis, cujos cabelos alvejavam da neve dos
repetidos invernos da vida.
As tradições cristãs nos
relatam que, naquele dia, Jesus apareceu a aproximadamente quinhentas pessoas —
denominadas, mais tarde, de Os Quinhentos da Galileia —, prestando-lhes os
seguintes esclarecimentos:
— Amados —, eis
que retorno a vida em meu Pai para regressar à luz do meu Reino!... Enviei meus
discípulos como ovelhas ao meio de lobos e vos recomendo que lhes sigais os
passos no escabroso caminho. Depois deles, é a vós que confio a tarefa sublime
da redenção pelas verdades do Evangelho. Eles serão os semeadores, vós sereis o
fermento divino. Instituo-vos os primeiros trabalhadores, os herdeiros iniciais
dos bens divinos. Para entrardes na posse do tesouro celestial, muita vez
experimentareis o martírio da cruz e o fel da ingratidão... Em conflito
permanente com o mundo, estareis na Terra, fora de suas leis implacáveis e
egoísticas, até que as bases do meu Reino de concórdia e justiça se estabeleçam
no espírito das criaturas. Negai-vos a vós mesmos, como neguei a minha própria
vontade na execução dos desígnios de Deus, e tomai a vossa cruz para seguir-me.
Assinalando na mente e no
coração os seus ensinamentos imorredouros, e voltando o olhar para o futuro o
Mestre lhes alerta:
Séculos de luta vos esperam
na estrada universal. É preciso imunizar o coração contra todos os enganos da
vida transitória, para a soberana grandeza da vida imortal. Vossas sendas
estarão repletas de fantasmas de aniquilamento e de visões da morte. O mundo
inteiro se levantará contra vós, em obediência espontânea às forças tenebrosas
do mal, que ainda lhes dominam as fronteiras. Sereis escarnecidos e
aparentemente desamparados; a dor vos assolará as esperanças mais caras;
andareis esquecidos na Terra, em supremo abandono do coração. Não participareis do venenoso banquete das posses materiais, sofrereis a perseguição e o
terror, tereis o coração coberto de cicatrizes e de ultrajes. A chaga é o vosso
sinal, a coroa de espinhos o vosso símbolo, a cruz o recurso ditoso da
redenção. Vossa voz será a do deserto, provocando, muitas vezes, o escárnio e a
negação da parte dos que dominam na carne perecível. Mas, no desenrolar das
batalhas incruentas do coração, quando todos os horizontes estiverem abafados
pelas sombras da crueldade, dar-vos-ei da minha paz, que representa a água
viva. Na existência ou na morte do corpo, estareis unidos ao meu Reino.
Prosseguindo nas suas
orientações, Jesus enfatiza:
Amados, eis que também vos
envio como ovelhas aos caminhos obscuros e ásperos. Entretanto, nada temais!
Sede fiéis ao meu coração, como vos sou fiel, e o bom ânimo representará a
vossa estrela! Ide ao mundo, onde teremos que vencer o mal! Aperfeiçoemos a
nossa escola milenária, para que aí seja interpretada e posta em prática a lei
de amor do nosso Pai, em obediência feliz à sua vontade augusta!
Esclarece-nos o Espírito
Humberto de Campos que, a partir daquela “noite de imperecível recordação, foi confiado
aos quinhentos da Galileia o serviço glorioso da evangelização das
coletividades terrestres, sob a inspiração de Jesus Cristo.”
Mal
sabiam eles, na sua mísera condição humana, que a palavra do Mestre alcançaria
os séculos do porvir. E foi assim que, representando o fermento renovador do
mundo, eles reencarnaram em todos os tempos, nos mais diversos climas
religiosos e políticos do planeta, ensinando a Verdade e abrindo novos caminhos
de luz, por meio dos bastidores eternos do Tempo.
Foram eles os primeiros a
transmitir a sagrada vibração de coragem e confiança aos que tombaram nos
campos do martírio, semeando a fé no coração pervertido das criaturas. Nos
circos da vaidade humana, nas fogueiras e nos suplícios, ensinaram a lição de
Jesus, com resignado heroísmo. Nas Artes e nas Ciências, plantaram concepções
novas de desprendimento do mundo e de belezas do Céu e, no seio das mais variadas
religiões da Terra, continuam revelando o desejo do Cristo, que é de união e de
amor, de fraternidade e concórdia.
Na qualidade de discípulos
sinceros e bem-amados, desceram aos abismos mais tenebrosos, redimindo o mal com
os seus sacrifícios purificadores, convertendo, com as luzes do Evangelho, à
corrente da redenção, os Espíritos mais empedernidos. Abandonados e
desprotegidos na Terra, eles passam, edificando no silêncio as magnificências
do Reino de Deus, nos países dos corações e, multiplicando as notas de seu
cântico de glória por entre os que se constituem instrumentos sinceros do bem
com Jesus Cristo, formam a caravana sublime que nunca se dissolverá.
Cedo ou tarde a Humanidade
terá que optar por Jesus, mantendo-se fiel ao seu Evangelho.
— Na causa de Deus, a fidelidade deve ser uma das primeiras
virtudes. Onde o filho e o pai que não desejam estabelecer, como ideal de
união, a confiança integral e recíproca? Nós não podemos duvidar da fidelidade
do nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos cerca os espíritos, desde o
primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já Ele nos amava. E, acaso, poderemos
desdenhar a possibilidade da retribuição?
A respeito deste assunto,
relata ainda o Espírito Humberto de Campos que, em diálogo com Jesus, Judas
Tadeu inquiriu do Mestre: “De que modo, porém, se há de viver como homem e como
apóstolo do Reino de Deus na face deste mundo?”
A resposta de Jesus,
luminosa e firme, como não poderia deixar de ser, foi:
— Em verdade ninguém pode servir, simultaneamente, a dois
senhores. Fora absurdo viver ao mesmo tempo para os prazeres condenáveis da
Terra e para as virtudes sublimes do Céu. O discípulo da Boa Nova tem de servir
a Deus, servindo à sua obra neste mundo. Ele sabe que se acha a laborar com
muito esforço num grande campo, propriedade de seu Pai, que o observa com
carinho e atenta com amor nos seus trabalhos. É certo
que as forças destruidoras reclamarão a indiferença e a submissão do filho de
Deus; mas o filho de coração fiel a seu Pai se lança ao trabalho com
perseverança e boa vontade. Entrará em luta silenciosa com o meio, sofrer-lhe-á
os tormentos com heroísmo espiritual, por amor do Reino que traz no coração
plantará uma flor na qual haja um espinho; abrirá uma senda, embora estreita,
em que estejam em confusão os parasitos da Terra; cavará pacientemente,
buscando as entranhas do solo, para que surja uma gota de água onde queime um
deserto. Do íntimo desse trabalhador brotará sempre um cântico de alegria,
porque Deus o ama e segue com atenção.
Esses edificantes
esclarecimentos nos conduzem a outro diálogo de Jesus com um dos apóstolos, no
caso, com André. Este apóstolo perguntou a Jesus: “Como poderei ser fiel a
Deus, estando enfermo?” Obteve do Senhor a seguinte resposta à sua indagação:
Nos
dias de calma, é fácil provar-se fidelidade e confiança. Não se prova, porém,
dedicação, verdadeiramente, senão nas horas tormentosas, em que tudo parece
contrariar e perecer.
André, se algum dia teus
olhos se fecharem para a luz da Terra, serve a Deus com a tua palavra e com os
teus ouvidos; se ficares mudo, toma, assim mesmo, a charrua, valendo-te das
tuas mãos. Ainda que ficasses privado dos olhos e da palavra, das mãos e dos
pés, poderias servir a Deus com a paciência e a coragem, porque a virtude é o
verbo dessa fidelidade que nos conduzirá ao amor dos amores!
Fonte:
Estudo
aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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