A ÚLTIMA CEIA
E, chegada a hora, pôs-se à
mesa, e, com ele, os doze apóstolos. E disse-lhes: Desejei muito comer convosco
esta Páscoa, antes que padeça, porque vos digo que não a comerei mais até que
ela se cumpra no Reino de Deus. E, tomando o cálice e havendo dado graças,
disse: Tomai-o e reparti-o entre vós, porque vos digo que já não beberei do
fruto da videira, até que venha o Reino de Deus. E, tomando o pão e havendo
dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é
dado; fazei isso em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da
ceia, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado
por vós (Lucas, 22:14-20).
Mas eis que a mão do que me trai está comigo à mesa. E, na verdade, o Filho do Homem vai segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído! E começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isso (Lucas, 22: 21-23).
Levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois, pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido (João, 13:4-5).
Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós (João 13:34).
·
Não se turbe o vosso coração; credes em Deus,
crede também em mim. Na casa do Pai há muitas moradas; se não fosse assim eu
vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos o lugar (João 14:1-2).
·
Se me amardes, guardareis os meus
mandamentos. E rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador, para que fique
convosco para sempre (João, 14:15-16).
1. A última ceia
A última ceia de Jesus com
os seus apóstolos representa mais um apelo do Mestre à vivência da lei de amor,
segundo os princípios da verdadeira fraternidade que devem reinar na
Humanidade. Nessa ceia, o Mestre transmite também orientações finais aos
discípulos, anuncia acontecimentos e empenha, mais uma vez, o seu amor e
proteção a todos que o aceitarem como orientador maior.
Jesus, ao iniciar a última
ceia destaca a sua importância: “E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e, com Ele,
os doze apóstolos. E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta Páscoa,
antes que padeça, porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra
no Reino de Deus. E, tomando o cálice e havendo dado graças, disse: Tomai-o e
reparti-o entre vós, porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até
que venha o Reino de Deus. E, tomando o pão e havendo dado graças, partiu-o e
deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isso em memória
de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é
o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós (Lucas, 22:14-20).
— Amados — disse Jesus, com
emoção —, está muito próximo o nosso último instante de trabalho em conjunto e
quero reiterar-vos as minhas recomendações de amor, feitas desde o primeiro dia
do apostolado. Este pão significa o do banquete do Evangelho; este vinho é o
sinal do espírito renovador dos meus ensinamentos. Constituirão o símbolo de
nossa comunhão perene, no sagrado idealismo do amor, com que operaremos no
mundo até o último dia. Todos os que partilharem conosco, através do tempo,
desse pão eterno e desse vinho sagrado da alma, terão o espírito fecundado pela
luz gloriosa do Reino de Deus, que representa o objetivo santo dos nossos
destinos.
O simbolismo do pão e do
vinho, que seria posteriormente incorporado ao ritual da missa católica, sob o
nome de eucaristia, tem significado específico, segundo o Espiritismo.
A verdadeira eucaristia
evangélica não é a do pão e do vinho materiais, como pretende a igreja de Roma,
mas, a identificação legítima e total do discípulo com Jesus, de cujo ensino de
amor e sabedoria deve haurir a essência profunda, para iluminação dos seus
sentimentos e do seu raciocínio, através de todos os caminhos da vida.
A mensagem evangélica
demonstra claramente, ainda que sob o véu do símbolo, que Jesus não estava
fazendo referência ao pão, alimento material, nem ao vinho, “ mas de sua doutrina, que é o alimento do
Espírito, e precisa ser repartido com todos, para que todos os Espíritos não
sintam fome de conhecimentos religiosos; para que todos sejam saciados com esse
Pão que nos dá um corpo novo, incorruptível, imortal.”
Cairbar Schutel esclarece
assim:
As duas espécies: pão e
vinho, não são mais que alegorias, que dão ideia da letra e do espírito; assim
como a carne e o sangue especificam a mesma ideia: letra e espírito. Queria
Jesus mais uma vez lembrar a seus discípulos que o seu corpo — que é a sua
Doutrina — não pode ser assimilada unicamente à letra, mas precisa ser estudada
e compreendida em espírito e verdade.
Os registros existentes no plano
espiritual nos fornecem de- talhes a respeito dos fatos acontecidos naquele dia
inesquecível, de conformidade com as anotações do Espírito Humberto de Campos.
Reunidos os discípulos em companhia de Jesus, no primeiro dia das festas da Páscoa, como de outras vezes, o Mestre partiu o pão com a costumeira ternura. Seu olhar, contudo, embora sem trair a serenidade de todos os momentos, apresentava misterioso fulgor, como se sua alma, naquela instante, vibrasse ainda mais com os altos planos do Invisível.
Em dado instante, tendo-se
feito longa pausa entre os amigos palra- dores, o Messias acentuou com firmeza
impressionante:
— Amados, é chegada a hora em que se cumprirá a profecia da
Escritura. Humilhado e ferido, terei de ensinar em Jerusalém a necessidade do
sacrifício próprio, para que não triunfe apenas uma espécie de vitória, tão
passageira quanto as edificações do egoísmo ou do orgulho humanos. Os homens
têm aplaudido, em todos os tempos, as tribunas douradas, as marchas retumbantes
dos exércitos que se glorificaram com despojos sangrentos, os grandes
ambiciosos que dominaram à força o espírito inquieto das multidões; entretanto,
eu vim de meu Pai para ensinar como triunfam os que tombam no mundo, cumprindo
um sagrado dever de amor, como mensageiros de um mundo melhor, onde reinam o
bem e a verdade. Minha vitória é a dos que sabem ser derrotados entre os
homens, para triunfarem com Deus, na divina construção de suas obras,
imolando-se, com alegria, para a glória de uma vida maior.
Lucas afirma que, em seguida,
Jesus anuncia a traição que lhe aconteceria: “Mas eis que a mão do que me trai
está comigo à mesa. E, na verdade, o Filho do Homem vai segundo o que está
determinado; mas ai daquele homem por quem é traído! E começaram a perguntar
entre si qual deles seria o que havia de fazer isso” (Lucas, 22:21-23).
O impacto de tais palavras
provocou angústias e ansiedades nos apóstolos. O Mestre, porém, lhes
tranquiliza, dizendo:
— Não vos perturbeis com as minhas afirmativas, porque, em
verdade, um de vós outros me há de trair!... As mãos, que eu acariciei,
voltam-se agora contra mim. Todavia, minha alma está pronta para execução dos
desígnios de meu Pai.
A pequena assembleia fez-se
lívida. Com exceção de Judas, que entabulara negociações particulares com os
doutores do Templo, faltando apenas o ato do beijo, a fim de consumar-se a sua
defecção, ninguém poderia contar com as palavras amargas do Messias. Penosa
sensação de mal-estar se estabelecera entre todos. O filho de Iscariotes fazia
o possível por dissimular as suas dolorosas impressões, quando os companheiros
se dirigiam ao Cristo com perguntas angustiadas:
— Quem será o traidor? — disse Filipe, com estranho brilho nos
olhos.
— Serei eu? — indagou André ingenuamente.
— Mas, afinal — objetou Tiago, filho de Alfeu, em voz alta —,
onde está Deus que não conjura semelhante perigo?
Jesus, que se mantivera em
silêncio ante as primeiras interrogações, ergueu o olhar para o filho de
Cleofas e advertiu:
Tiago faz calar a voz de tua
pouca confiança na sabedoria que nos rege os destinos. Uma das maiores virtudes
do discípulo do Evangelho é a de estar sempre pronto ao chamado da Providência
divina. Não importa onde e como seja o testemunho de nossa fé. O essencial é revelarmos a nossa união com
Deus, em todas as circunstâncias. É indispensável não esquecer a nossa condição
de servos de Deus, para bem lhe atendermos ao chamado, nas horas de
tranquilidade ou de sofrimento.
A esse tempo, havendo-se
calado novamente o Messias, João interveio, perguntando:
— Senhor, compreendo a vossa
exortação e rogo ao Pai a necessária fortaleza de ânimo; mas, por que motivo
será justamente um dos vossos discípulos o traidor de vossa causa? Já nos
ensinastes que, para se eliminarem do mundo os escândalos, outros escândalos se
tornam necessários; contudo, ainda não pude atinar com a razão de um possível
traidor em nosso próprio colégio de edificação e de amizade.
Judas Iscariotes passou para
História como o traidor do Cristo. (João, 13:21-30). Entretanto, o apóstolo
amava profundamente Jesus, jamais imaginando que o Mestre seria aprisionado,
condenado e crucificado. Isso não lhe passara pela cabeça. Foi um discípulo que
se deixou levar pelas ilusões do mundo. Não conseguiu compreender a
profundidade da mensagem cristã. Entendia que o Evangelho somente poderia “ vencer com o amparo dos prepostos de César ou
das autoridades administrativas de Jerusalém”. Na sua concepção o Messias
deveria deter em suas mãos todos os poderes, não compreendendo que: “As ideias
do Mestre são do Céu e seria sacrilégio misturarmos a sua pureza com as
organizações viciadas do mundo!...”
O Espírito Irmão X também
explica:
Não obstante amoroso, Judas
era, muita vez, estouvado e inquieto. Apaixonara-se pelos ideais do Messias, e,
embora esposasse os novos princípios, em muitas ocasiões surpreendia em choque
contra Ele. Sentia-se dono da Boa Nova e, pelo desvairado apego a Jesus, quase
sempre lhe tomava a dianteira nas deliberações importantes.
Entretanto, conhecendo-lhe
as fraquezas, Jesus sempre permaneceu “em missão de auxílio a Judas.”
2. Ensinos e orientações de Jesus pronunciados
na última ceia
Advento de outro consolador
Jesus identifica a
sinceridade nos pronunciamentos dos apóstolos, relativa ao anúncio da traição.
Percebe, porém, que eles ainda não têm condições de compreenderem os
acontecimentos em toda a sua extensão. Prorroga essa compreensão para o futuro,
anunciando-lhes o advento de outro consolador, que lhes forneceria todos os
esclarecimentos: “Se me amardes guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei
ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o
Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o
conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós. Não vos
deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais,
mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia, conhecereis que
estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós. Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de
meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a Ele. Mas
aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos
ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”
(João, 14:14-21; 26).
Jesus promete outro
consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar
maduro para compreendê-lo, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as
coisas e para relembrar o que o Cristo há dito.
O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas. Advertiu o Cristo: “Ouçam os que têm ouvidos para ouvir”. O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados filhos da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.
Assim, o Espiritismo realiza
o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que
o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os
verdadeiros princípios da Lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.
O maior será menor no Reino dos céus
Concluídas as elucidações
sobre o pão e o vinho, e o anúncio da traição, os apóstolos começaram a
discutir quem, entre eles, seria o maior: “E houve entre eles contenda. E ele
lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade
sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes, o maior
entre vós seja como o menor; e quem governa, como quem serve. Pois qual é
maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Eu,
porém, entre vós, sou como aquele que serve” (Lucas, 22:24-27).
Altamente tocados pelas suas
exortações solenes, porém, maravilhados ainda mais com as promessas daquele
reinado venturoso e sem-fim, que ainda não podiam compreender claramente, a
maioria dos discípulos começou a discutir as aspirações e conquistas do futuro.
Enquanto Jesus se entretinha
com João, em observações afetuosas, os filhos de Alfeu examinavam com Tiago as
possíveis realizações dos tempos vindouros, antecipando opiniões sobre qual dos
companheiros poderia ser o maior de todos, quando chegasse o Reino com as suas
inauditas grandiosidades. Filipe afirmava a Simão Pedro que, depois do triunfo,
todos deviam entrar em Nazaré para revelar aos doutores e aos ricos da cidade a
sua superioridade espiritual. Levi dirigia-se a Tomé e lhe fazia sentir que,
verificada a vitória, se lhes constituía uma obrigação a marcha para o Templo
ilustre, em que exibiriam seus poderes supremos. Tadeu esclarecia que o seu
intento era dominar os mais fortes e impenitentes do mundo, para que
aceitassem, de qualquer modo, a lição de Jesus.
O Mestre interrompera a sua
palestra íntima com João, e os observava. As discussões iam acirradas. As
palavras “maior de todos” soavam insistentemente aos seus ouvidos. Parecia que
os componentes do sagrado colégio estavam na véspera da divisão de uma
conquista material e, como os triunfadores do mundo, cada qual desejava a maior
parte da presa. Com exceção de Judas, que se fechava num silêncio sombrio,
quase todos discutiam com veemência. Sentindo-lhes a incompreensão, o Mestre
pareceu contemplá-los com entristecida piedade.
Jesus exemplifica que o
maior discípulo é o que se torna servidor “Levantou-se da ceia, tirou as vestes
e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois, pôs água numa bacia e começou a lavar
os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a
mim?
Respondeu Jesus e disse-lhe:
O que eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois. Disse-lhe Pedro:
Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens
parte comigo. Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as
mãos e a cabeça. Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar
senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora, vós estais limpos, mas não
todos. Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso, disse: Nem todos
estais limpos. Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se
assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito? Vós me
chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e
Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque
eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade,
na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado,
maior do que aquele que o enviou. Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois
se as fizerdes” (João, 13: 4-17).
Entregando-se a esse ato
[lavar os pés dos apóstolos], queria o divino Mestre testemunhar às criaturas a
suprema lição da humildade, demonstrando, ainda uma vez, que, na coletividade
cristã, o maior para Deus seria sempre aquele que se fizesse o menor de todos.
Da mesma forma, ao cingir o
corpo com a toalha, reproduz Jesus a forma de agir dos escravos, em relação aos
seus senhores. Na verdade, “quis
proceder desse modo para revelar-se o escravo pelo amor à Humanidade, na abnegação e no sacrifício supremos”.
Jesus anuncia novo mandamento
Em dois momentos, na última
ceia, Jesus expressa que o amor deve ser o fundamento que deve guiar as
relações dos seus discípulos: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns
aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”
(João, 13:34-35).
“O meu mandamento é este:
que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor
do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (João, 15:12-13).
Jesus destaca o valor da
confiança no seu amor e na sua proteção Jesus esclarece que o amor deve estar
fundamentado na confiança, mesmo perante as adversidades: “Não se turbe o vosso
coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas
moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar.
E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo,
para que, onde eu estiver, estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou
e conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais e
como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e
a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também
conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis e o tendes visto.
Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. Disse-lhe Jesus:
Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a
mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no
Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim
mesmo, mas o Pai, que está em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas
obras. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as
obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. E
tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado
no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” (João, 14:1-14).
Jesus é o caminho, e a verdade e a vida
Cedo ou tarde iremos
compreender que somente por Jesus atingiremos o estágio de Espíritos
iluminados.
Jesus é o Caminho, a Verdade
e a Vida. Sua luz imperecível brilha sobre os milênios terrestres, como o Verbo
do princípio, penetrando o mundo, há quase vinte séculos. Lutas sanguinárias,
guerras de extermínio, calamidades sociais não lhe modificaram um til nas
palavras que se atualizam, cada vez mais, com a evolução multiforme da Terra. Tempestades
de sangue e lágrimas nada mais fizeram que avivar-lhes a grandeza. Entretanto,
sempre tardios no aproveitamento das oportunidades preciosas, muitas vezes, no
curso das existências renovadas, temos desprezado o Caminho, indiferentes ante
os patrimônios da Verdade e da Vida.
O Senhor, contudo, nunca nos
deixou desamparados. Cada dia reforma os títulos de tolerância para com as
nossas dívidas; todavia, é de nosso próprio interesse levantar o padrão da vontade,
estabelecer disciplinas para uso pessoal e reeducar a nós mesmos, ao contato do
Mestre divino. Ele é o amigo generoso, mas tantas vezes lhe olvidamos o
conselho que somos suscetíveis de atingir obscuras zonas de adiamento
indefinível de nossa iluminação interior para a vida eterna.
Jesus é a videira
“Eu sou a videira
verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda vara em mim que não dá fruto, a tira;
e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos
pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu, em vós; como a vara de
si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se
não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu
nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer. Se alguém não
estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam
no fogo, e ardem. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em
vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu
Pai: que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (João, 15:1-8).
Jesus é o bem e o amor do
princípio. Todas as noções generosas da Humanidade nasceram de sua divina
influenciação. Com justiça, asseverou aos discípulos, nesta passagem do Evangelho
de João, que seu espírito sublime representa a árvore da vida e seus seguidores
sinceros as frondes promissoras, acrescentando que, fora do tronco, os galhos
se secariam, caminhando para o fogo da purificação. Sem o Cristo, sem a
essência de sua grandeza, todas as obras humanas estão destinadas a perecer.
A ciência será frágil e
pobre sem os valores da consciência, as escolas religiosas estarão condenadas,
tão logo se afastem da verdade e do bem. Infinita é a misericórdia de Jesus nos
movimentos da vida planetária. No centro de toda expressão nobre da existência
pulsa seu coração amoroso, repleto da seiva do perdão e da bondade.
Os homens são varas verdes
da árvore gloriosa. Quando traem seus deveres, secam-se porque se afastam da
seiva, rolam ao chão dos desenganos, para que se purifiquem no fogo dos
sofrimentos repara- dores, a fim de serem novamente tomados por Jesus, à conta
de sua misericórdia, para a renovação. É razoável, portanto, positivemos nossa
fidelidade ao divino Mestre, refletindo no elevado número de vezes em que nos
ressecamos, no passado, apesar do imenso amor que nos sustenta em toda a vida.
O valor da prece
Concluídas as orientações
aos apóstolos, Jesus se retira para orar a Deus. Segue para o Horto das
Oliveiras (Getsêmani) acompanhado de Pedro, João e Tiago Maior. Mais tarde,
Judas os encontraria, vindo acompanhado dos oficiais e soldados dos principais
sacerdotes que iriam aprisioná-lo (João, 18:1-11).
Antes de se entregar à
elevadas vibrações da prece, Jesus pede aos três apóstolos para orarem em
conjunto.
— Esta é a minha derradeira hora convosco! Orai e vigiai comigo,
para que eu tenha a glorificação de Deus no supremo testemunho!
Assim dizendo, afastou-se, a
pequena distância, onde permaneceu em prece, cuja sublimidade os apóstolos não
podiam observar. Pedro, João e Tiago [Maior] estavam profundamente tocados pelo
que viam e ouviam. Nunca o Mestre lhes parecera tão solene, tão convicto, como
naquele instante de penosas recomendações. Rompendo o silêncio que se fizera,
João ponderou:
— Oremos e vigiemos, de acordo com a recomendação do Mestre,
pois, se Ele aqui nos trouxe, apenas nós três, em sua companhia, isso deve
significar para o nosso espírito a grandeza da sua confiança em nosso auxílio.
Puseram-se a meditar
silenciosamente. Entretanto, sem que lograssem explicar o motivo, adormeceram
no decurso da oração.
No momento em que Jesus vai
ser preso, ocorre o conhecido episódio de Pedro cortar a orelha direita de
Malco, servo do sumo sacerdote. Jesus aproveita o ensejo para nos legar mais
uma das suas preciosas lições quando, repreendendo o apóstolo, anuncia: “Mete a
tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu?” (João, 18:11).
Sustentando a contenda com o
próximo, destruidora tempestade de sentimentos nos desarvora o coração. Ideais
superiores e aspirações sublimes longamente acariciados por nosso espírito,
construções do presente para o futuro e plantações de luz e amor, no terreno de
nossas almas, sofrem desabamento e desintegração, porque o desequilíbrio e a violência
nos fazem tremer e cair nas vibrações do egoísmo absoluto que havíamos relegado
à retaguarda da evolução.
Depois disso, muitas vezes
devemos atravessar aflitivas existências de expiação para corrigir as brechas
que nos aviltam o barco do destino, em breves momentos de insânia... Em nosso
aprendizado cristão, lembremo-nos da palavra do Senhor: “Embainha tua
espada...”
Alimentando a guerra com os
outros, perdemo-nos nas trevas exteriores, esquecendo o bom combate que nos
cabe manter em nós mesmos.
Façamos a paz com os que nos
cercam, lutando contra as sombras que ainda nos perturbam a existência, para
que se faça em nós o reinado da luz. De lança em riste, jamais conquistaremos o
bem que desejamos. A cruz do Mestre tem a forma de uma espada com a lâmina
voltada para baixo. Recordemos, assim, que, em se sacrificando sobre uma espada
simbólica, devidamente ensarilhada, é que Jesus conferiu ao homem a bênção da
paz, com felicidade e renovação.
Fonte: Estudo aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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