O APOCALIPSE DE JOÃO
Introdução
Os textos apocalípticos, nos
dois séculos que precederam a vinda do Cristo, tiveram muito êxito em alguns
ambientes judaicos. Tendo sido anteriormente elaborados pelas visões dos profetas
como Ezequiel e Zacarias, esse gênero de escritura desenvolveu-se também no
livro de Daniel. Apenas um apocalipse ficou registrado no Novo Testamento. Seu
autor é o apóstolo João, autor do quarto Evangelho, escrevendo-o quando de seu
exílio na Ilha de Patmos.
No fim do Novo Testamento está a Revelação de João, que, assim como o Livro de Daniel, é um apocalipse, um tipo de literatura conhecido na época. O Apocalipse se compõe de uma série de visões que evocam imagens de uma dramática cena final. Distingue-se do Livro de Daniel, que é seu equivalente apocalíptico judaico, de duas maneiras importantes. Em primeiro lugar, é um livro cristão, no qual Cristo irá assumir definitivamente o controle e vencer o mal; em segundo lugar, no Apocalipse o fim do mundo [fim do mal] já começou. Não se trata de algo que ocorrerá num futuro distante. Depois da obra de Jesus pela salvação, já teve início a batalha decisiva entre o bem e o mal. O Apocalipse de João é, pois, mais que uma escritura profética. Redigido durante as perseguições contra os cristãos travadas no rei- nado do (81-96), do imperador Domiciano, descreve a situação dos cristãos da época, constantemente ameaçados de martírio. Acima de tudo, portanto, é uma escritura consoladora destinada aos cristãos que viviam naquele período atribulado. Nela, o Estado romano é chamado de a ‘‘besta’’, ‘‘o dragão’’ ou ‘‘a grande prostituta’’. Mas, no embate final Cristo, o Cordeiro, vencerá as forças da escuridão. O livro chega então ao final com uma visão de ‘‘um novo céu e uma nova terra’’. Com suas imagens nascidas de uma necessidade histórica, o Apocalipse é pouco familiar aos leitores modernos e já recebeu variadas interpretações através dos tempos. Pode-se dizer que nenhum outro livro da Bíblia tem sido tão mal empregado. Com sua fé em Deus claramente expressa, levando a uma vitória final do bem sobre o mal, ele é, mesmo assim, uma conclusão apropriada para a maneira como a Bíblia descreve a grave situação do mundo.
1. Orientações para o estudo do apocalipse
A linguagem simbólica do
Apocalipse de João desestimula, em geral, a sua leitura. É possível, porém,
torná-la compreensível, observando-se alguns pontos importantes: o entendimento
do significado de apocalipse, quanto à etimologia e ao conceito; a visualização
do contexto histórico da Igreja nascente, e a razão do advento do Apocalipse.
1.1 Significado
de apocalipse
O termo ‘‘apocalipse’’ é a
transcrição duma palavra grega que significa revelação; todo apocalipse supõe,
pois, uma revelação que Deus fez aos homens, revelação de coisas ocultas e só
por Ele conhecidas, especialmente de coisas referentes ao futuro. É difícil
definir exatamente a fronteira que separa o gênero apocalíptico do profético,
do qual, de certa forma, ele não é mais que prolongamento; mas enquanto os antigos
profetas ouviam as revelações divinas e as transmitiam, oralmente, o autor de
um apocalipse recebia suas revelações em forma de visões, que consignava em
livro. Por outro lado, tais visões não têm valor por si mesmas, mas pelo
simbolismo que encerram, pois em apocalipse tudo ou quase tudo tem valor
simbólico: os números, as coisas, as partes do corpo e até os personagens que
entram em cena. Ao descrever a visão, o vidente traduz em símbolos as ideias
que Deus lhe sugere, procedendo então por acumulação de coisas, cores, números
simbólicos, sem se preocupar com a incoerência dos efeitos obtidos. Para
entendê-lo, devemos, por isso, apreender a sua técnica e retraduzir em ideias
os símbolos que ele propõe, sob pena de falsificar o sentido de sua mensagem.
No livro Como ler o
apocalipse, o autor explica o estilo e a forma de escritura do apocalipse.
O apocalipse foi um modo de
escrever muito popular nos dois séculos antes de Cristo e nos dois séculos
depois dele. O mais importante escritor apocalíptico do
Antigo Testamento é o autor do Livro de Daniel. Ele viveu na época da dominação
selêucida na Palestina, mas especificamente no tempo de Antíoco Epifanes IV
(175-162 a.C.). Esse rei impôs, pela força, a cultura e a religião dos gregos.
Esse fato provocou a revolta dos Macabeus. A função do Livro de Daniel era
apoiar e incentivar a resistência dos Macabeus contra a dominação estrangeira. Ninguém
podia dizer as coisas às claras. Era necessário usar uma linguagem camuflada,
incentivando a resistência e driblando a marcação do poder opressor.
Foi assim que surgiu a
literatura apocalíptica.
1.2 O
contexto histórico da Igreja nascente
É indispensável inserir o
Apocalipse no seu ambiente histórico para compreendê-lo um pouco mais.
É indispensável reinseri-lo
no ambiente histórico que lhe deu origem: um período de perturbações e de
violentas perseguições contra a Igreja nascente. Pois, do mesmo modo que os
apocalipses que o precederam (especialmente o de Daniel) e nos quais
manifestamente se inspira, é escrito de circunstância, destinado a reerguer e a
robustecer o ânimo dos cristãos, escandalizados, sem dúvida, pelo fato de que
perseguição tão violenta se tenha desencadeado contra a Igreja daquele que
afirmara: ‘‘Não temais, eu venci o mundo’’ (João, 16:33).
No momento em que João
escreve o seu livro de visões, a igreja primitiva sofre terrível perseguição de
Roma e dos cidadãos do Império Romano (a ‘‘besta’’), por instigação de
‘‘satanás’’ (o adversário, por excelência, do Cristo — ou anticristo). O
próprio João se encontrava prisioneiro na Ilha de Patmos, quando escreveu o seu
Apocalipse, na época (81-96) do imperador Domiciano. Solidário com os
companheiros submetidos aos martírios das perseguições, o Apocalipse de João
nos apresenta três conteúdos básicos: o protesto contra as injustiças sociais,
o sofrimento que aguardam os perseguidores e a vitória do bem, manifestada no
amor do Cristo pela Humanidade.
1.3 A
razão do advento do Apocalipse de João
Alguns anos antes de
terminar o primeiro século, após o advento da nova doutrina, já as forças
espirituais operam uma análise da situação amargurosa do mundo, em face do
porvir. Sob a égide de Jesus, estabelecem novas linhas de progresso para a
civilização, assinalando os traços iniciais dos países europeus dos tempos
modernos. Roma já não representa, então, para o plano invisível, senão um foco
infeccioso que é preciso neutralizar ou remover. Todas as dádivas do Alto
haviam sido desprezadas pela cidade imperial, transformada num vesúvio de
paixões e de esgotamentos.
O divino Mestre chama aos
Espaços o Espírito João, que ainda se encontrava preso nos liames da Terra, e o
Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem simbólica do invisível. Recomenda-lhe
o Senhor que entregue os seus conhecimentos ao planeta como advertência a todas
as nações e a todos os povos da Terra, e o velho Apóstolo de Patmos transmite
aos seus discípulos as advertências extraordinárias do Apocalipse.
Todos os fatos posteriores à
existência de João estão ali previstos. É verdade que frequentemente a
descrição apostólica penetra o terreno mais obscuro; vê-se que a sua expressão
humana não pôde copiar fielmente a expressão divina das suas visões de
palpitante interesse para a história da Humanidade. As guerras, as nações
futuras, os tormentos porvindouros, o comercialismo, as lutas ideológicas da
civilização ocidental, estão ali pormenorizadamente entrevistos. E a figura
mais dolorosa, ali relacionada, que ainda hoje se oferece à visão do mundo
moderno, é bem aquela da igreja transviada de Roma, simbolizada na besta
vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos.
2. Plano geral da obra
O apocalipse de João é
constituído de um prólogo, de duas partes e de um epílogo:
2.1 Prólogo
No prólogo (1:1-3), João faz
a abertura do seu livro, apresentando-o como uma revelação de Jesus Cristo
sobre ‘‘as coisas que devem acontecer’’ (1:1, 3). Indica quem são os
destinatários: ‘‘os servos de Jesus Cristo’’ (1:1); a forma como a revelação
divina se deu: ‘‘Ele a manifestou com sinais por meio do seu anjo, ao seu servo
João’’ (1:1); fornece uma dimensão temporal — ainda que imprecisa — sobre a
concretização dos fatos revelados: ‘‘o tempo está próximo’’ (1:3).
2.2 Primeira
parte (capítulos: 1, 2 e 3)
A primeira parte do
Apocalipse está escrita na forma de diálogo. Apresenta três subdivisões: a)
saudação às comunidades (1:4-8); b) confiança na ressurreição do Cristo
(1:9-20) e c) cartas às sete igrejas da Ásia (2:1-22; 3:1-22). Revela uma ação
pastoral do apóstolo para com os cristãos — representados simbolicamente pelas
‘‘sete igrejas da Ásia’’ (1:4) —, e expressa uma mensagem de apoio aos que
sofrem perseguições em nome do Cristo.
O propósito da mensagem é
encorajar a comunidade cristã que passa por uma terrível provação: após o
magnífico desenvolvimento na época de sua fundação, agora a Igreja parece
seriamente ameaçada na unidade de sua fé (movimentos heréticos), na pureza dos
costumes (relaxamento da vida religiosa, diminuição da caridade). Devido as
perseguições, João pretende sustentar a coragem dos cristãos ‘‘até a morte’’
(2:14), garantindo-lhes a presença divina do Cristo, que vencerá o Dragão.
As palavras que ouviu ‘‘como
a voz de trombeta’’ (1:10), e a recomendação que teve de se dirigir às ‘‘sete
igrejas’’, representadas por ‘‘sete candeeiros’’, assistidas por ‘‘sete
espíritos’’ (1:10-20).
Cada carta é específica e
contém elogios e críticas, advertências e incentivos, como convinha. Mas o
plural ‘‘igrejas’’ no final de cada carta mostra que se pretendia que fosse
lida por todas as igrejas.
“Nessa visão salienta-se
‘‘espada de dois gumes’’ que sai da boca do excelso Espírito (Jesus).”
2.3 Segunda parte (capítulos: 4 a 21)
Representa a essência da
obra, tem um caráter profético-escatológico (previsões sobre o fim do mundo) e
abrange duas visões paralelas: a primeira (4,18; 11,1) diz respeito aos
destinos do mundo; a segunda (11: 9; 21:5) informa sobre o futuro da Igreja.
Podemos considerar cinco
subdivisões (ou seções) nessa parte:
a) introdutória (4:1-5; 14) — fala sobre o trono, o Cordeiro e
sobre o livro com sete selos;
b) seção dos selos (6:1-7, 17) — são pontos importantes sobre a
abertura dos quatro primeiros selos, sobre o clamor dos mártires (quinto selo)
e a resposta de Deus ao clamor (sexto selo);
c) seção das trombetas (8:1-11; 14) — o toque da trombeta anuncia o
julgamento de Deus;
d) seção dos três sinais (11; 15; 16:16) — são sinais que marcam
acontecimentos: o sinal da mulher, o sinal dos dragões e o sinal dos anjos com
pragas;
e) sessão conclusiva (16; 17; 2:5) — mostra que o Cristo julga e
vence o mal.
No capítulo IV, o autor
continua escrevendo sobre a sua visão, cheia de quadros que se desdobram às
suas vistas e que representam as letras com que se escrevem as ‘‘coisas
espirituais’’, que as palavras humanas não podem traduzir. A linguagem
espiritual se manifesta por meio de símbolos que ferem a imaginação e dão uma
ideia relativa das coisas que existem. Entretanto, não podem ser percebidas
pelos nossos sentidos materiais, grosseiros.
Revela a existência de uma
comunidade de Espíritos puros, representados por ‘‘vinte e quatro anciãos’’, os
‘‘Espíritos de Deus’’, indicados por ‘‘sete lâmpadas de fogo’’.
O seguinte resumo fornece
informações gerais sobre a segunda parte do Apocalipse:
A primeira visão começa com
a apresentação do trono de Deus (4:1-11) e do Cordeiro vitorioso (5:1-14) e
concentra-se em dois motivos: a abertura dos sete selos (61; 8:1), símbolo da
preparação no céu dos flagelos que recairão sobre o mundo (dos primeiros quatro
selos sairão os famosos quatro cavalos), e o som das sete trombetas (8:2;
11:18) que significam a execução daqueles flagelos na Terra. A segunda visão
começa com um duplo acontecimento: no céu, a luta do dragão (satanás) contra a
mulher (que representa o povo eleito) (12:1-18); na Terra, as duas bestas (que
simbolizam o Império Romano e os falsos profetas) (13:1-18). A esta dupla cena
contrapõe-se a aparição do Cordeiro no monte Sião* seguido da multidão de fiéis
(14:1-5). O juízo escatológico é expresso por meio de várias representações: os
sete flagelos e as sete taças (15-16), acompanhados da ‘‘condenação da grande
prostituta’’ (Roma também chamada Babilônia ou nova Babilônia) (17-18), depois
a vitória sobre as bestas (19:11-21) e sobre o Dragão com que se inaugura o
reinado ‘‘de mil anos’’ de Cristo (20:1-10) e por fim a vitória definitiva
sobre o mal (20:11-25).
2.4 O epílogo (22:16-21)
No epílogo há uma
recomendação severa, uma proibição categórica àqueles que lerem o livro, ou que
o reimprimirem, de alterar qualquer coisa do que nele se acha escrito. O
apóstolo previa as mistificações sectárias, os enxertos, as mutilações que
havia de sofrer a Árvore da Vida, pelos papas e pelos concílios, e ameaçou,
severamente, àqueles que modificassem o seu Apocalipse.
3. Análise espírita do apocalipse
3.1 As
sete igrejas
São as comunidades cristãs
cujas características indicam os diferentes tipos de cristãos: Éfeso, Esmirna,
Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodiceia.
A igreja de Éfeso, que fora
fundada por Paulo, e continuou sendo por muitos séculos um dos principais
centros da Igreja Oriental, era zelosa em guardar-se contra a heresia, mas
carecia de amor cristão. A igreja de Esmirna parece ter resistido bem à
importunação (perseguição) e, por vezes, prisão dos seus membros. Pérgamo era
um centro religioso importante, com um famoso santuário de Zeus, um templo de
Asclépio com uma renomada escola de medicina, e um templo de Augusto; ‘‘o trono
de Satã’’ pode designar qualquer um desses, mas provavelmente refere-se ao
culto do imperador. A igreja de Tiatira abundava em amor e fé,
serviço e resignação paciente, mas tolerava os ensinamento malignos de uma
profetisa, Jesabel. A igreja de Sardes estava florescendo externamente, mas não
sem sério dano para a sua vida espiritual. Filadélfia, por outro lado, era uma
cidade em que os cristãos estavam isolados do restante da comunidade, mas a
igreja permanecera fiel. Em Laodiceia a igreja parecia estar florescendo, mas
era espiritualmente pobre.
O conjunto formado pelas
sete igrejas, simbolicamente representadas pela luz dos sete candelabros,
revela a imagem da Igreja do Cristo, “com suas heresias, disputas, e fé débil,
mas também com sua fé, esperança e amor”.
3.2 A besta apocalíptica
Refere-se tanto ao Império
Romano (o poder constituído que fere, persegue e maltrata) quanto aos falsos
profetas — também chamados de ‘‘dragão’’ —, mistificadores que deturpam a
mensagem do Evangelho. Emmanuel nos esclarece a respeito do assunto:
a Besta
poderia dizer grandezas e blasfêmias por 42 meses, acrescentando que o seu
número era o 666 (Ap 13, 5-18). Examinando-se a importância dos símbolos
naquela época e seguindo o rumo certo das interpretações, podemos tomar cada
mês como de 30 anos, em vez de 30 dias, obtendo, desse modo, um período de
1.260 anos comuns, justa- mente o período compreendido entre 610 e 1870, da
nossa era, quando o Papado se consolidava, após o seu surgimento, com o
imperador Focas, em 607, e o decreto da infalibilidade papal com Pio IX, em
1870, que assinalou a decadência e a ausência de autoridade do Vaticano, em
face da evolução científica, filosófica e religiosa da Humanidade.
Quanto ao número 666, sem
nos referirmos às interpretações com os números gregos, em seus valores,
devemos recorrer aos algarismos romanos, em sua significação, por serem mais
divulgados e conhecidos, explicando que é o Sumo Pontífice da igreja romana
quem usa os títulos de Vicarivs generalis Dei in Terris, Vicarivs Filii Dei e
Dvx Cleri que significam “Vigário-geral de Deus na Terra, Vigário do Filho de
Deus e Príncipe do clero”. Bastará ao estudioso um pequeno jogo de paciência,
somando os algarismos romanos encontrados em cada titulo papal a fim de
encontrar a mesma equação de 666, em cada um deles. Vê-se, pois, que o
Apocalipse de João tem singular importância para os destinos da humanidade
terrestre.
3.3 A
espada de dois gumes
É o símbolo do poder e da
justiça. É a palavra divina, que no dizer de Paulo, é poderosa arma, com a qual
será restabelecida o reinado do Cristo na Terra. É, finalmente, o Evangelho, o
Verbo, essa espada que vibra golpes arrojados matando a hipocrisia, aniquilando
o erro e defendendo os espíritos de boa vontade na luta terrível das ‘‘trevas’’
contra a ‘‘luz’’.
3.4 A
obra divina
O céu está representado pelo
mar: ‘‘um mar de vidro semelhante ao cristal’’ (4:6). O poder, a criação, a
sabedoria e a eternidade são simbolizados, respectivamente, por quatro
criaturas viventes: ‘‘o leão, o novilho, o homem e a águia voando’’ (4:7-8).
3.5 O
livro dos selos
É entendido como:
O ‘‘livro do futuro’’, que,
fechado para todos, só podia ser aberto pelo ‘‘Cordeiro’’, Jesus, o Cristo, que
‘‘venceu ao romper os sete selos’’. (5:5) Então, aparece, a João, o ‘‘Cordeiro
com sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a
toda a Terra’’. O número sete simboliza a perfeição, é o número completo, dá
ideia do desenvolvimento integral do espírito. Vemos sete virtudes, que
encarnam a perfeição; as sete cores, os sete sons, as sete formas (cone,
triângulo, círculo, elipse, parábola, hipérbole, trapézio); os sete dias etc. O
chifre, na velha poesia hebraica, é o símbolo da força.
3.6 A abertura dos selos
Está escrito assim: ‘‘e vi
quando o Cordeiro abriu um dos sete selos, e ouvi uma das quatro criaturas
viventes dizendo, como em voz de trovão: Vem! Olhei, e eis um cavalo branco, e
o que estava montado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e ele
saiu vencendo e para vencer’’ (6:1-2). Existem inúmeras interpretações para
essas palavras de João: umas mais seguras, outras nem tanto. Não é fácil
encontrar um consenso. Podemos, no entanto, dizer que todo o sentido teológico
do Apocalipse fundamenta-se em três pilares: Deus, Cristo e a Igreja. Deus é
‘‘o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim’’ (1:8); é ‘‘Aquele que vive nos
séculos dos séculos’’ (10:5); é o ‘‘Senhor do Universo’’ (1:8). Jesus Cristo é
o tema central do Apocalipse, que é, verdadeiramente, a sua ‘‘revelação’’; Ele
é o Filho do homem, é o Cordeiro imolado que redimiu os homens ‘‘de todas as
tribos, línguas e povos’’ (5; 9), ao mesmo tempo é o vitorioso sobre os
inimigos debelados (19:11-16). Cristo é o ‘‘Logos de Deus’’ (19:13), que está
junto de Deus. Os animais citados nos textos, sobretudo os cavalos, ora são
interpretados como forças positivas atuando na sociedade, ora são forças
negativas, dependendo da interpretação que se lhes dê. Por exemplo: há quem
suponha que o cavalo branco e o cavaleiro, portando um arco, citados na
abertura do primeiro selo, sejam alusões à ganância — sempre presente na
história humana — e, também, aos partos, povo que usava o arco como arma de
guerra, criava cavalos brancos e era inimigo dos romanos. Por outro lado,
Cairbar Schutel afirma que a abertura do primeiro selo representa a vinda do
Espiritismo e que o cavaleiro com o arco teria sido Allan Kardec. Há, porém, um
consenso de que o cavalo vermelho do segundo selo simboliza a guerra (6:3); o
cavalo negro do terceiro selo representa a fome e a carestia que a guerra
acarreta (6:5); o quarto cavalo, o esverdeado, retrata a peste e a morte (6:7).
O quinto selo reapresenta os mártires pedindo a Deus justiça para a Terra, ou o
fim da desordem que campeia no mundo.
Reproduzem o clamor dos
justos de todos os tempos, ansiosos de que termine a inversão dos valores na
história da Humanidade.
3.7 A prostituta
Na segunda parte do apocalipse
aparece, em diferentes capítulos, a figura de duas mulheres, uma delas está
vestida de púrpura escarlate, usa pérolas, tem na mão um cálice cheio de
abominações, e em sua testa está escrito: ‘‘mistério’’, ‘‘a grande babilônia’’;
‘‘a prostituta’’; ‘‘a grande prostituta’’. Supõe-se que seja uma alusão à
Igreja Católica Romana, em razão de esta ter dado as costas à Lei de Deus e ter
incorporado, à mensagem cristã, práticas dos povos pagãos. A propósito,
esclarece Emmanuel.
A Igreja Católica , que
tomou a si o papel de zeladora das ideias e das realizações cristãs, pouco após
o regresso do divino Mestre às regiões da Luz, falhou lamentavelmente aos seus
compromissos sagrados. Desde o concílio ecumênico de Niceia, o Cristianismo vem
sendo deturpado pela influenciação dos sacerdotes dessa Igreja, deslumbrados
com a visão dos poderes temporais sobre o mundo. Não valeu a missão sacrossanta
do iluminado da Úmbria [Francisco de Assis], tentando restabelecer a verdade e
a doutrina de piedade e de amor do Crucificado para que se solucionasse o
problema milenar da felicidade humana.
As castas, as seitas, as
classes religiosas, a intolerância de clericalismo constituíram enormes
barreiras a abafarem a voz da realidades cristãs. A moral católica falhou aos
seus deveres e às suas finalidades.
3.8 O juízo final
A doutrina religiosa que
trata das ‘‘últimas coisas’’ é conhecida como escatologia. Todas as religiões
cristãs, à exceção do Espiritismo, acreditam, pregam e divulgam a ideia do
‘‘Juízo ou Julgamento Final’’, do ‘‘Fim do mundo ou dos Tempos”. São
interpretações literais do Velho e do Novo Testamentos. Neste último, a
parábola dos bodes e das ovelhas (Mateus, 25:31-46) é uma das mais citadas.
A doutrina de um juízo
final, único e universal, pondo fim para sempre à Humanidade, repugna à razão,
por implicar a inatividade de Deus, durante a eternidade que precedeu à criação
da Terra e durante a eternidade que se seguirá à sua destruição. Moralmente, um
juízo definitivo e sem apelação não se concilia com a bondade infinita do
Criador, que Jesus nos apresenta de contínuo como um bom Pai, que deixa sempre
aberta uma senda para o arrependimento, e que está pronto sempre a estender os
braços ao filho pródigo.
3.9 A humanidade nova
O capítulo 21 nos fala de
uma “Jerusalém celeste’’ ou ‘‘Jerusalém libertada’’, símbolo da Humanidade
regenerada. Durante milênios, a civilização humana amargou dolorosas provações
em razão dos erros cometidos contra a Lei de Deus. Uma geração nova surge,
afinal, na Terra. “Nestes tempos, porém, não se trata de uma mudança parcial,
de uma renovação limitada a certa região, ou a um povo, a uma raça. Trata-se de
um movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral”.
Fonte:
Estudo aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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