O cristianismo – Parte 20

ATOS DOS APÓSTOLOS – 2

1.     Pentecostes

Pentecostes é uma palavra grega que significa quinquagésimo dia. Os judeus depois que partiram do Egito, gastaram quarenta e nove dias até o monte Sinai; e no quinquagésimo dia, Moisés recebeu o Decálogo; em memória disto, instituiu-se a festa de Pentecostes, que no Cristianismo tomou um novo sentido: comemora a descida do Espírito Santo, ou seja, a recepção da mediunidade pelos Apóstolos no quinquagésimo dia após a ressurreição de Jesus, e também o início das lutas pela divulgação do Evangelho, as quais se prolongam até hoje e ainda estão longe de terminar.


O que vem a ser, efetivamente a descida do Espírito Santo?

As antigas Escrituras não continham o qualificativo santo quando se falava do Espírito.   Foi só com a tradução das antigas escrituras e constituição da Vulgata que esse qualificativo foi acrescentado, com certeza para fortificar o Mistério da Santíssima Trindade [da teologia católica], tirado de uma lenda hindu, aventado por comentadores das Escrituras, que desde logo após à morte de Jesus, viviam em querelas, em discussões sobre os modos de se interpretar as Escrituras. Essa mesma trindade é que foi proclamada como artigo de fé, pelo Concílio de Niceia, em 325, após ter sido rejeitado por três concílios.

Os fenômenos de pentecostes estão descritos em Atos dos Apóstolos, 2:1-11. Trata-se de um texto marcado por simbolismos: 50 dias depois da ascensão do Cristo acontece o fenômeno conhecido como a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, materializado na forma de línguas de fogo; explode a mediunidade de xenoglossia (poliglota) nos apóstolos; Pedro é envolvido pelas forças superiores e discursa sob forte inspiração; lança-se então a pedra fundamental da primeira igreja cristã do Planeta.

Após o impacto inicial, provocado pelos fenômenos de efeitos físicos (línguas de fogo e xenoglossia), o discurso de Pedro demonstra, de forma contundente, uma ação programada do plano espiritual superior, conseguindo transformar o ânimo dos apóstolos e dos demais discípulos de Jesus — antes inseguros e medrosos — em cartas vivas do Evangelho.

É por este motivo que o pentecostes cristão tem um significado especial para todos nós, os seguidores do Cristo: marca o início da pregação e da difusão do Evangelho, na Terra, pelos cristãos que, fazem surgir a primeira ekklesia (igreja) de Jerusalém, uma humilde comunidade formada de judeus convertidos ao Cristianismo.

Pedro foi, possivelmente, o primeiro chefe desta igreja, seguido de Tiago.

As palavras textuais dos Atos dos Apóstolos, sobre o pentecostes, são as seguintes:

“Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

E em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma multidão e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! Não são galileus todos esses homens que estão falando? Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judeia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia, e Frígia, e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como prosélitos), e cretenses, e árabes, todos os temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.

E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer? E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto” (Atos dos Apóstolos, 2:1-13).

Ouvindo tais comentários, o apóstolo Pedro tomou a palavra e falou eloquente, dominado por inspiração superior:

“Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo esta a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas, naqueles dias, e profetizarão; e farei aparecer prodígios em cima no céu e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça.

O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor; e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este que vos foi entregue pelo deter- minado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela.

Porque dele disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja comovido; por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e ainda a minha carne há de repousar em esperança. Pois não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção. Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; com a tua face me encherás de júbilo. Varões irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no Hades, nem a sua carne viu a corrupção.

Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.

Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.  Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar. E com muitas outras palavras isto testificava e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. (Atos dos Apóstolos, 2:14-40).

Os fenômenos mediúnicos ocorridos no dia de pentecostes foram notáveis. Os pontos luminosos que a multidão percebeu sobre a cabeça de cada apóstolo nos revelam o conhecido fenômeno mediúnico de efeitos físicos. Na verdade, tais pontos nada mais eram do que Espíritos “que não se mostraram visíveis de todo, mas apenas o suficiente para serem percebidos; e como brilhasse a parte que os discípulos puderam ver, interpretaram-na como línguas de fogo”.

A mediunidade poliglota (xenoglossia), permitiu que os representantes estrangeiros entendessem, na própria língua, “as maravilhas de Deus” (At 11). Um grupo de peregrinos, porém, ouvindo o mesmo ensinamento espiritual que os outros ouviram, preferiu acreditar que os apóstolos e os discípulos de Jesus estavam embriagados (At 12).

Estamos aqui diante de duas classes de pessoas: uma que, ao se defrontar com o fenômeno, pergunta o que é e põe-se seriamente a estudá-lo para compreendê-lo e descobrir-lhe as causas. Outra que se não dá nem mesmo ao trabalho de perguntar o que é: ante o fenômeno, tece considerações infantis, desairosas, e passa. Estas duas classes de pessoas acompanham o desenvolvimento dos trabalhos evangélicos até os nossos dias e vemo-las com a mesma atitude perante o Espiritismo: há os que o estudam para compreendê-lo e há os que, sem nunca tê-lo estudado ou mesmo lido algo sério a respeito, escarnecem dele.

O discurso de Pedro foi, portanto, de grande significância naquele momento. Inspirado, a venerável figura do apóstolo se ergue, exalta o nome de Jesus e explica o que estava, efetivamente, acontecendo. A preleção evangélica de Pedro, majestosa e bela, assinala o marco da difusão do Evangelho, após a partida do Mestre. No seu discurso, fala da importância da mediunidade, que caracteriza o nascimento de um novo ciclo na evolução espiritual humana.

A humanidade terrestre não mais seria a mesma, a partir daquele momento, pois o trabalho dos apóstolos e dos discípulos de Jesus iniciaria poderoso movimento revolucionário no Planeta: “o Evangelho é portador de gigantesca transformação do mundo. Destina-se à redenção das massas anônimas e sofredoras. Reformará o caminho dos povos.”

Emmanuel nos oferece uma belíssima interpretação do fenômeno de pentecostes.

A lição colhida pelos discípulos de Jesus, no Pentecostes, ainda é um símbolo vivo para todos os aprendizes do Evangelho, diante da multidão.

A revelação da vida eterna continua em todas as direções.

Aquele “som como de um vento veemente e impetuoso” e aquelas “línguas de fogo” a que se refere a descrição apostólica, descem até hoje sobre os continuadores do Cristo, entre os filhos de todas as nações. As expressões do Pentecostes dilatam-se, em todos os países, embora as vibrações antagônicas das trevas.

Todavia, para milhares de ouvintes e observadores, apenas funcionam alguns raros apóstolos, encarregados de preservarem a divina luz.

Realmente, são inumeráveis aqueles que, consciente ou inconsciente- mente, recebem os benefícios da celeste revelação; entretanto, não são poucos os zombadores de todos os tempos, dispostos à irreverência e à ironia, diante da verdade.

Para esses, os leais seguidores do Mestre estão embriagados e loucos. Não compreendem a humildade que se consagra ao bem, a fraternidade que dá sem exigências descabidas e a fé que confia sempre, não obstante as tempestades.

É indispensável não estranhar o assédio desses pobres inconscientes, se te dispões, efetivamente, a servir ao Senhor da Vida. Cercar-te-ão o trabalho, acusando-te de bêbado; criticar-te-ão as atitudes, chamando-te covarde; escutar-te-ão as palavras de amor, conservando a ironia na boca. Para eles, a tua abnegação será envilecimento, a tua renúncia significará incapacidade, a tua fé será interpretada à conta de loucura.

Não hesites, porém, no espírito de serviço. Permaneces, como os primeiros apóstolos, nas grandes praças, onde se acotovelam homens e mulheres, ignorantes e sábios, velhos e crianças...

Aperfeiçoa tuas qualidades de recepção, onde estiveres, porque o Senhor te chamou para intérprete de sua voz, ainda que os maus zombem de ti.

Referências:

1.   Estudo aprofundado da doutrina espírita. 1. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2013

2.   XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.

 


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