ATOS DOS
APÓSTOLOS – 2
1. Pentecostes
Pentecostes é uma palavra
grega que significa quinquagésimo dia. Os judeus depois que partiram do Egito,
gastaram quarenta e nove dias até o monte Sinai; e no quinquagésimo dia, Moisés
recebeu o Decálogo; em memória disto, instituiu-se a festa de Pentecostes, que no
Cristianismo tomou um novo sentido: comemora a descida do Espírito Santo, ou
seja, a recepção da mediunidade pelos Apóstolos no quinquagésimo dia após a
ressurreição de Jesus, e também o início das lutas pela divulgação do
Evangelho, as quais se prolongam até hoje e ainda estão longe de terminar.
O que vem a ser, efetivamente a descida do Espírito Santo?
As antigas Escrituras não
continham o qualificativo santo quando se falava do Espírito. Foi só
com a tradução das antigas escrituras e constituição da Vulgata que esse
qualificativo foi acrescentado, com certeza para fortificar o Mistério da
Santíssima Trindade [da teologia católica], tirado de uma lenda hindu, aventado
por comentadores das Escrituras, que desde logo após à morte de Jesus, viviam
em querelas, em discussões sobre os modos de se interpretar as Escrituras. Essa
mesma trindade é que foi proclamada como artigo de fé, pelo Concílio de Niceia,
em 325, após ter sido rejeitado por três concílios.
Os fenômenos de pentecostes estão descritos em Atos dos Apóstolos, 2:1-11. Trata-se de um texto marcado por simbolismos: 50 dias depois da ascensão do Cristo acontece o fenômeno conhecido como a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, materializado na forma de línguas de fogo; explode a mediunidade de xenoglossia (poliglota) nos apóstolos; Pedro é envolvido pelas forças superiores e discursa sob forte inspiração; lança-se então a pedra fundamental da primeira igreja cristã do Planeta.
Após o impacto inicial,
provocado pelos fenômenos de efeitos físicos (línguas de fogo e xenoglossia), o
discurso de Pedro demonstra, de forma contundente, uma ação programada do plano
espiritual superior, conseguindo transformar o ânimo dos apóstolos e dos demais
discípulos de Jesus — antes inseguros e medrosos — em cartas vivas do
Evangelho.
É por este motivo que o
pentecostes cristão tem um significado especial para todos nós, os seguidores
do Cristo: marca o início da pregação e da difusão do Evangelho, na Terra,
pelos cristãos que, fazem surgir a primeira ekklesia (igreja) de Jerusalém, uma
humilde comunidade formada de judeus convertidos ao Cristianismo.
Pedro foi, possivelmente, o
primeiro chefe desta igreja, seguido de Tiago.
As palavras textuais dos
Atos dos Apóstolos, sobre o pentecostes, são as seguintes:
“Cumprindo-se o dia de
Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e, de repente, veio do céu
um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que
estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de
fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem.
E em Jerusalém estavam
habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do
céu. E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma multidão e estava confusa, porque
cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se
maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! Não são galileus todos esses
homens que estão falando? Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria
língua em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na
Mesopotâmia, e Judeia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia, e Frígia, e Panfília,
Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus
como prosélitos), e cretenses, e árabes, todos os temos ouvido em nossas
próprias línguas falar das grandezas de Deus.
E todos se maravilhavam e
estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer? E outros,
zombando, diziam: Estão cheios de mosto” (Atos dos Apóstolos, 2:1-13).
Ouvindo tais comentários, o
apóstolo Pedro tomou a palavra e falou eloquente, dominado por inspiração
superior:
“Pedro, porém, pondo-se em
pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que
habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.
Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo esta a terceira
hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias
acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os
vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e
os vossos velhos sonharão sonhos; e também do meu Espírito derramarei sobre os
meus servos e minhas servas, naqueles dias, e profetizarão; e farei aparecer
prodígios em cima no céu e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de
fumaça.
O sol se converterá em
trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor;
e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Varões
israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus
entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de
vós, como vós mesmos bem sabeis; a este que vos foi entregue pelo deter- minado
conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas
mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não
era possível que fosse retido por ela.
Porque dele disse Davi:
Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não
seja comovido; por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e
ainda a minha carne há de repousar em esperança. Pois não deixarás a minha alma
no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção. Fizeste-me
conhecidos os caminhos da vida; com a tua face me encherás de júbilo. Varões
irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi que ele
morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois,
ele profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto
de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o
seu trono, nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não
foi deixada no Hades, nem a sua carne viu a corrupção.
Deus ressuscitou a este
Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra
de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que
vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz:
Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus
inimigos por escabelo de teus pés. Saiba, pois, com certeza, toda a casa de
Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.
Ouvindo eles isto,
compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que
faremos, varões irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós
seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o
dom do Espírito Santo. Porque a promessa
vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos
quantos Deus, nosso Senhor, chamar. E com muitas outras palavras isto
testificava e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. (Atos
dos Apóstolos, 2:14-40).
Os fenômenos mediúnicos
ocorridos no dia de pentecostes foram notáveis. Os pontos luminosos que a
multidão percebeu sobre a cabeça de cada apóstolo nos revelam o conhecido
fenômeno mediúnico de efeitos físicos. Na verdade, tais pontos nada mais eram
do que Espíritos “que não se mostraram visíveis de todo, mas apenas o
suficiente para serem percebidos; e como brilhasse a parte que os discípulos
puderam ver, interpretaram-na como línguas de fogo”.
A mediunidade poliglota
(xenoglossia), permitiu que os representantes estrangeiros entendessem, na
própria língua, “as maravilhas de Deus” (At 11). Um grupo de peregrinos, porém,
ouvindo o mesmo ensinamento espiritual que os outros ouviram, preferiu
acreditar que os apóstolos e os discípulos de Jesus estavam embriagados (At
12).
Estamos aqui diante de duas
classes de pessoas: uma que, ao se defrontar com o fenômeno, pergunta o que é e
põe-se seriamente a estudá-lo para compreendê-lo e descobrir-lhe as causas.
Outra que se não dá nem mesmo ao trabalho de perguntar o que é: ante o
fenômeno, tece considerações infantis, desairosas, e passa. Estas duas classes
de pessoas acompanham o desenvolvimento dos trabalhos evangélicos até os nossos
dias e vemo-las com a mesma atitude perante o Espiritismo: há os que o estudam
para compreendê-lo e há os que, sem nunca tê-lo estudado ou mesmo lido algo
sério a respeito, escarnecem dele.
O discurso de Pedro foi,
portanto, de grande significância naquele momento. Inspirado, a venerável
figura do apóstolo se ergue, exalta o nome de Jesus e explica o que estava,
efetivamente, acontecendo. A preleção evangélica de Pedro, majestosa e bela,
assinala o marco da difusão do Evangelho, após a partida do Mestre. No seu
discurso, fala da importância da mediunidade, que caracteriza o nascimento de
um novo ciclo na evolução espiritual humana.
A humanidade terrestre não
mais seria a mesma, a partir daquele momento, pois o trabalho dos apóstolos e
dos discípulos de Jesus iniciaria poderoso movimento revolucionário no Planeta:
“o Evangelho é portador de gigantesca transformação do mundo. Destina-se à
redenção das massas anônimas e sofredoras. Reformará o caminho dos povos.”
Emmanuel nos oferece uma
belíssima interpretação do fenômeno de pentecostes.
A lição colhida pelos
discípulos de Jesus, no Pentecostes, ainda é um símbolo vivo para todos os
aprendizes do Evangelho, diante da multidão.
A revelação da vida eterna
continua em todas as direções.
Aquele “som como de um vento
veemente e impetuoso” e aquelas “línguas de fogo” a que se refere a descrição
apostólica, descem até hoje sobre os continuadores do Cristo, entre os filhos
de todas as nações. As expressões do Pentecostes dilatam-se, em todos os
países, embora as vibrações antagônicas das trevas.
Todavia, para milhares de
ouvintes e observadores, apenas funcionam alguns raros apóstolos, encarregados
de preservarem a divina luz.
Realmente, são inumeráveis
aqueles que, consciente ou inconsciente- mente, recebem os benefícios da
celeste revelação; entretanto, não são poucos os zombadores de todos os tempos,
dispostos à irreverência e à ironia, diante da verdade.
Para esses, os leais
seguidores do Mestre estão embriagados e loucos. Não compreendem a humildade
que se consagra ao bem, a fraternidade que dá sem exigências descabidas e a fé
que confia sempre, não obstante as tempestades.
É indispensável não
estranhar o assédio desses pobres inconscientes, se te dispões, efetivamente, a
servir ao Senhor da Vida. Cercar-te-ão o trabalho, acusando-te de bêbado;
criticar-te-ão as atitudes, chamando-te covarde; escutar-te-ão as palavras de
amor, conservando a ironia na boca. Para eles, a tua abnegação será
envilecimento, a tua renúncia significará incapacidade, a tua fé será interpretada
à conta de loucura.
Não hesites, porém, no
espírito de serviço. Permaneces, como os primeiros apóstolos, nas grandes
praças, onde se acotovelam homens e mulheres, ignorantes e sábios, velhos e
crianças...
Aperfeiçoa tuas qualidades
de recepção, onde estiveres, porque o Senhor te chamou para intérprete de sua
voz, ainda que os maus zombem de ti.
Referências:
1. Estudo
aprofundado da doutrina espírita. 1. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2013
2. XAVIER,
Francisco Cândido. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2006.
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