O CALVÁRIO, A CRUCIFICAÇÃO
E A RESSURREIÇÃO DE JESUS
E os que prenderam Jesus o
conduziram à casa do sumo sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos
estavam reunidos (Mateus, 26:57).
E foi Jesus apresentado ao
governador, e o governador o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos judeus? E
disse-lhe Jesus: Tu o dizes. E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e
pelos anciãos, nada respondeu (Mateus, 27:11-12).
Disse-lhes Pilatos: Que
farei, então, de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos:
Seja crucificado! O
governador, porém, disse: Mas que mal fez ele? E eles mais clamavam, dizendo:
Seja crucificado! Então, Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto
crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou
inocente do sangue deste justo; considerai isso. E, respondendo todo o povo,
disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos (Mateus, 27:22-25).
·
E, despindo-o, o cobriram com uma capa
escarlate. E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e, em sua
mão direita, uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo:
Salve, Rei dos judeus! E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana e batiam-lhe com
ela na cabeça. E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa,
vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado. E, quando saíam,
encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quem constrangeram a levar a sua
cruz. E, chegando ao lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da Caveira,
deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber
(Mateus, 27:28-34).
·
E Jesus, clamando outra vez com grande voz,
entregou o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a
baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras (Mateus, 27:50-51).
·
Após a crucificação e sepultamento do corpo
de Jesus (Marcos, 15:27- 37, 42-47), o Senhor ressuscita, aparecendo a Maria de
Madalena, aos apóstolos e a alguns discípulos (João, 20:11-31; 21:1-20).
1. O calvário de Jesus
O calvário de Jesus começa
quando Ele é aprisionado, no Getsêmani (Horto das Oliveiras), no momento em que
orava na companhia de Pedro, João, e seu irmão Tiago (Lucas, 22:39; Mateus,
26:36-41; João, 18:1-11).
Nesse momento, os soldados e
oficiais romanos chegam acompanhados de sacerdotes, assim como do apóstolo
Judas Iscariotes. Este se aproxima do Mestre, beija-o na face para ser
identificado pelas autoridades presente (Lucas, 22:47-48).
Em seguida à prisão de Jesus, os apóstolos se revelam apreensivos, temendo que alguma coisa ruim poderia lhes acontecer. Pedro, inclusive, nega conhecer Jesus quando, por três vezes, é inquirido, conforme Jesus tinha previsto (Lucas, 22:54-62; João, 13:38).
A negação de Pedro serve
para significar a fragilidade das almas humanas, perdidas na invigilância e na
despreocupação da realidade espiritual, deixando-se conduzir, indiferentemente,
aos torvelinhos mais tenebrosos do sofrimento, sem cogitarem de um esforço
legítimo e sincero, na definitiva edificação de si mesmas.
A excelsitude do Espírito
Jesus é especialmente notada durante o seu calvário e crucificação. O amor e a
renúncia são expressivamente demonstrados, sobretudo após a traição, a
humilhação e o abandono a que foi submetido.
Poucos
sabem partir, por algum tempo, do lar tranquilo, ou dos braços adorados de uma
afeição, por amor ao Reino que é o tabernáculo da vida eterna! Quão poucos
saberão suportar a calúnia, o apodo, a indiferença, por desejarem permanecer
dentro de suas criações individuais, cerrando ouvidos à advertência do Céu para
que se afastem tranquilamente!... os discípulos necessitam aprender a partir e a
esperar aonde as determinações de Deus os conduzam, porque a edificação do
Reino do céu no coração dos homens deve constituir a preocupação primeira, a
aspiração mais nobre da alma, as esperanças centrais do Espírito!...
Aprisionado, Jesus foi
conduzido pelos mensageiros dos sacerdotes, manietando-lhe as mãos, como se ele
fosse um criminoso vulgar.
Depois das cenas descritas
com fidelidade nos Evangelhos, observamos as disposições psicológicas dos
discípulos, no momento doloroso. Pedro e João foram os últimos a se separarem
do Mestre bem-amado, depois de tentarem fracos esforços pela sua libertação.
No dia seguinte, os
movimentos criminosos da turba arrefeceram o entusiasmo e o devotamento dos
companheiros mais enérgicos e decididos na fé. As penas impostas a Jesus eram
excessivamente severas para que fossem tentados a segui-lo. Da Corte Provincial
ao palácio de Antipas, viu-se o condenado exposto ao insulto e à zombaria. Com
exceção do filho de Zebedeu, que se conservou ao lado de Maria até o instante
derradeiro, todos os que integravam o reduzido colégio do Senhor debandaram.
Receosos da perseguição, alguns se ocultaram nos sítios próximos, enquanto
outros, trocando as túnicas habituais, seguiam, de longe, o inesquecível
cortejo, vacilando entre a dedicação e o temor.
O Messias, no entanto,
coroando a sua obra com o sacrifício máximo, tomou a cruz sem uma queixa,
deixando-se imolar, sem qualquer reprovação aos que o haviam abandonado na hora
última. Conhecendo que cada criatura tem o seu instante de testemunho, no
caminho de redenção da existência, observou às piedosas mulheres que o
cercavam, banhadas em lágrimas:
— Filhas de Jerusalém, não
choreis por mim; chorai por vós mesmas e por vossos filhos!...
Exemplificando a sua
fidelidade a Deus, aceitou serenamente os desígnios do Céu, sem que uma
expressão menos branda contradissesse a sua tarefa purificadora.
Apesar da demonstração de
heroísmo e de inexcedível amor, que ofereceu do cimo do madeiro, os discípulos
continuaram subjugados pela dúvida e pelo temor, até que a ressurreição lhes
trouxesse incomparáveis hinos de alegria.
Na manhã seguinte, Jesus é
levado à presença de Pilatos, o governador romano da Galileia, para ser
interrogado.
E Pilatos lhe perguntou: Tu
és o Rei dos judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes. E os principais
dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas, porém ele nada respondia. E Pilatos
o interrogou outra vez, dizendo: Nada respondes? Vê quantas coisas testificam
contra ti. Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se
maravilhava. Ora, no dia da festa costumava soltar-lhes um preso qualquer que
eles pedissem. E havia um chamado Barrabás, que, preso com outros amotinadores,
tinha num motim cometido uma morte. E a multidão, dando gritos, começou a pedir
que fizesse como sempre lhes tinha feito. E Pilatos lhes respondeu, dizendo:
Quereis que vos solte o Rei dos judeus? Porque ele bem sabia que, por inveja,
os principais dos sacerdotes o tinham entregado. Mas os principais dos
sacerdotes incitaram a multidão para que fosse solto antes Barrabás. E Pilatos,
respondendo, lhes disse outra vez: Que quereis, pois, que faça daquele a quem
chamais Rei dos judeus? E eles tornaram a clamar: Crucifica-o. Mas Pilatos lhes
disse: Mas que mal fez? E eles cada vez clamavam mais: Crucifica-o. Então,
Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou-lhes Barrabás, e, açoitado
Jesus, o entregou para que fosse crucificado (Marcos, 15: 2-15).
Antes da crucificação, os
soldados conduziram Jesus ao Pretório, no interior do palácio governamental, e
convocaram toda a coorte. Em seguida, vestiram-no de púrpura e tecendo uma
coroa de espinhos, lha impuseram. E começaram a saudá-lo: Salve, rei dos
judeus! E batiam-lhe na cabeça com um caniço. Cuspiam nele e, de joelhos, o
adoravam. Depois de caçoarem dele, despiram-lhe a púrpura e tornaram a vesti-lo
com as suas próprias vestes (Marcos, 15: 16-20).
Os transeuntes
injuriavam-no, meneando a cabeça dizendo: Ah! Tu, que destróis o Templo e em
três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo, descendo da cruz! Do mesmo modo,
também os chefes dos sacerdotes, caçoando dele entre si e com os escribas
diziam: A outros salvou, a si mesmo não pode salvar! O Messias, o Rei de
Israel... que desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos! E até os que
haviam sido crucificados com ele o ultrajavam (Marcos, 15: 29-32).
Um dos malfeitores que
suspensos à cruz insultava, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo, e
a nós. Mas o outro, tomando a palavra, o repreendia: Nem sequer temes a Deus,
estando na mesma condenação? Quanto a nós, é de justiça, pagarmos por nossos
atos; mas ele não fez nenhum mal. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim,
quando vieres com teu reino. Ele respondeu: Em verdade, te digo, que hoje
estarás comigo no Paraíso (Lucas, 23: 39-43).
2. A crucificação de Jesus
Prosseguindo com os relatos
do Evangelho, vimos que Pilatos entregou Jesus para ser crucificado. Ele saiu,
carregando sua cruz e chegou ao chamado Lugar da Caveira — em hebraico, chamado
Gólgota —, onde o crucificaram; e, com Ele, dois outros: um de cada lado e
Jesus no meio. Pilatos redigiu também um letreiro e o fez colocar sobre a cruz;
nele estava escrito: “Jesus, Nazareno, rei dos judeus. E
estava escrito em hebraico, latim e grego” (João, 19:17-20).
Depois da crucificação os soldados repartiram entre eles, as vestes e a túnica de Jesus. Ora a túnica era inconsútil [peça inteira, sem costura]. Disseram entre si: não a rasguemos, mas, lancemos sorte sobre elas, para ver de quem será” (João, 19:23-24).
Perto da cruz permaneciam
Maria, a mãe de Jesus, sua irmã, mulher de Clopas e Maria Madalena. Vendo Jesus
a sua mãe e, próximo a ela, o apóstolo João, disse: “Mulher, eis aí o teu
filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o
discípulo a recebeu em sua casa” (João, 19:25-27).
Após a crucificação, alguns
judeus não querendo permanecer mais tempo ali porque era o dia da Preparação da
Páscoa, pediram a Pilatos para autorizar quebrassem as pernas dos crucificados
(Jesus e os dois ladrões). Os soldados, porém, transpassaram uma lança no corpo
de Jesus, de onde jorrou sangue e água (João, 19:31-34).
A ingratidão recebida por
Jesus, após os inúmeros benefícios que proporcionou, nos conduzem a profundas
reflexões. Percebemos, de imediato o sublime amor por todos nós.
o amor
verdadeiro e sincero nunca espera recompensas. A renúncia é o seu ponto de
apoio, como o ato de dar é a essência de vida. Todavia, quando a luz do entendimento tardar
no espírito daqueles a quem amamos, deveremos lembrar-nos de que temos a
sagrada compreensão de Deus, que nos conhece os propósitos mais puros.
Um pouco antes da sua morte,
conforme foi mencionado, Jesus entrega Maria aos cuidados de João, filho de
Zebedeu. Trata-se de outra valiosa lição, como todas as que o Mestre nos legou.
ensinava que o amor universal era o sublime
coroamento de sua obra. Entendeu que, no futuro, a claridade do Reino de Deus
revelaria aos homens a necessidade da cessação de todo egoísmo e que, no
santuário de cada coração, deveria existir a mais abundante cota de amor, não
só para o círculo familiar, senão também para todos os necessitados do mundo, e
que no templo de cada habitação permaneceria a fraternidade real, para que a
assistência recíproca se praticasse na Terra, sem serem precisos os edifícios
exteriores, consagrados a uma solidariedade claudicante.
No momento da morte de
Jesus, relata o Evangelho que, à hora sexta, surgiram trevas sobre a Terra, até
a hora nona. Jesus, então, dando um grande grito, expirou. E o véu do Santuário
(do Templo) se rasgou em duas partes, de cima a baixo. O centurião, que se
achava bem defronte dele, vendo que havia expirado deste modo, disse:
“Verdadeiramente, este homem era filho de Deus” (Marcos, 15:33,37-39).
Quanto ao fenômeno das
trevas, Kardec nos elucida:
É singular que tais
prodígios, operando-se no momento mesmo em que a atenção da cidade se fixava no
suplício de Jesus, que era o acontecimento do dia, não tenham sido notados,
pois que nenhum historiador os menciona. Parece impossível que um tremor de
terra e o ficar toda a Terra envolta em trevas durante três horas, num país
onde o céu é sempre de perfeita limpidez, hajam podido passar despercebidos. A
duração de tal obscuridade teria sido quase a de um eclipse do Sol, mas os
eclipses dessa espécie só se produzem na lua nova, e a morte de Jesus ocorreu
em fase de lua cheia, a de Nissan, dia da Páscoa dos judeus. O
obscurecimento do Sol também pode ser produzido pelas manchas que se lhe notam
na superfície. Em tal caso, o brilho da luz se enfraquece sensivelmente, porém,
nunca ao ponto de determinar obscuridade e trevas. Admitido que um fenômeno
desse gênero se houvesse dado, ele decorreria de uma causa perfeitamente
natural. Compungidos com a morte de seu Mestre, os discípulos
de Jesus sem dúvida ligaram a essa morte alguns fatos particulares, aos quais
noutra ocasião nenhuma atenção houveram prestado. Bastou, talvez, que um
fragmento de rochedo se haja destacado naquele momento, para que pessoas
inclinadas ao maravilhoso tenham visto nesse fato um prodígio e, ampliando-o,
tenham dito que as pedras se fenderam. Jesus é grande pelas suas obras e não
pelos quadros fantásticos de que um entusiasmo pouco ponderado entendeu de
cercá-lo.
Em relação aos sofrimentos
de Jesus, Emmanuel acrescenta:
A dor material é um fenômeno
como o dos fogos de artifício, em face dos legítimos valores espirituais.
Homens do mundo, que morreram por uma ideia, muitas vezes não chegaram a
experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu
ideal. Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e
chegareis a contemplá-lo na imensidão da sua dor espiritual, augusta e
indefinível para a nossa apreciação restrita e singela.
Ainda na tormenta dos seus
últimos instantes, seu ânimo era de paciência, de benignidade, de compaixão. Já
pregado na cruz, tendo o corpo e a alma lanceados, com os pregos a lhe
dilacerarem as carnes, e os acúleos da ingratidão a lhe ferirem o espírito,
vendo a seus pés, indiferentes ou raivosos, aqueles a quem abençoara,
protegera, ensinara e curara, pedia ao Pai que lhes perdoasse, porque eles não
sabiam o que estavam fazendo. E assim partiu o Salvador da Humanidade. Este
homem, este herói, este mártir, este santo, este Espírito excelso foi que regou
com suas lágrimas e seu sangue a árvore hoje bendita do Cristianismo.
3. A ressurreição de Jesus
Os exemplos de Jesus são roteiros que nos ensinam agir perante as provas. No sábado, Maria de Magdala e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas param irem ungir o corpo. De madrugada, no primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do Sol. E diziam entre si: “Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?” E erguendo os olhos, viram que a pedra fora removida. Ora, a pedra era muito grande. Tendo entrado no túmulo, elas viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram cheias de espanto. Ele, porém, lhes disse: “Não vos espanteis! Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram. Mas ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia. Lá o vereis, como vos tinha dito (Marcos, 16:1-7).
Estava, então, Maria junto
ao sepulcro, de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se para o interior
do sepulcro e viu dois anjos, vestidos de branco, sentados no lugar onde o
corpo de Jesus fora colocado, um à cabeceira e outro aos pés. Disseram-lhe
então: “Mulher, por que choras?”. Ela lhes diz: “Porque levaram meu Senhor e
não sei onde o puseram!”. Dizendo isso, voltou-se e viu Jesus de pé. Mas não
sabia que era Jesus. Jesus lhe diz: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”.
Pensando ser o jardineiro, ela lhe diz: “Senhor, se foste tu que o levaste,
dize-me onde o puseste e eu o irei buscar!”. Diz-lhe Jesus: “Maria!”.
Voltando-se, ela lhe diz em hebraico: “Rabboni!”, que quer dizer Mestre. Jesus
lhe diz: “Não me toques, pois ainda não subi ao Pai. Vai, porém, a meus irmãos
e dize-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai; a meu Deus e vosso Deus”. Maria
Madalena foi anunciar aos discípulos: “Vi o Senhor, e as coisas que ele lhe
disse” (João, 20: 11-18).
Todos os evangelistas narram
as aparições de Jesus, após sua morte, com circunstanciados pormenores que não
permitem se duvide da realidade do fato. Elas, aliás, se explicam perfeitamente
pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada de anômalo
apresentam em face dos fenômenos do mesmo gênero, cuja história, antiga e
contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a
tangibilidade. Se notarmos as circunstâncias em que se deram as suas diversas
aparições, nele reconheceremos, em tais ocasiões, todos os caracteres de um ser
fluídico.
A ressurreição do Cristo nos
oferece oportunas lições.
Jesus essa
alma poderosa, que em nenhum túmulo poderia ser aprisionada, aparece aos que na
Terra havia deixado tristes, desanimados e abatidos. Vem dizer-lhes que a morte
nada é. Com a sua presença lhes restitui a energia, a força moral necessária
para cumprirem a missão que lhes fora confiada.
As aparições do Cristo são
conhecidas e tiveram numerosos testemunhos. Apresentam flagrantes analogias com
as que em nossos dias são observadas em diversos graus, desde a forma etérea,
sem consistência, com que aparece à Maria Madalena e que não suportaria o mínimo
contato, até a completa materialização, tal como a pôde verificar Tomé, que
tocou com a própria mão as chagas do Cristo.
Após a aparição a Maria
Madalena, Jesus reencontra os discípulos: fechadas as portas onde se achavam os
discípulos, por medo dos judeus, Jesus veio e, pondo-se no meio deles, lhes
disse: “A paz esteja convosco!” Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos, então, ficaram cheios de alegria por verem o Senhor. Ele lhes
disse de novo: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou também eu vos
envio”. Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito
Santo”. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos
quais retiverdes ser-lhes-ão re- tidos. Um dos Doze, Tomé, chamado Dídimo, não
estava com eles, quando veio Jesus. Os outros discípulos, então, lhe disseram:
Vimos o Senhor! Mas ele lhes disse: Se eu não vir em suas mãos o lugar dos
cravos e se não puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não
crerei. Oito dias depois, achavam-se os discípulos, de novo, dentro da casa, e
Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e
disse: A paz esteja convosco! Disse depois a Tomé: Põe teu dedo aqui e vê
minhas mãos! Estende tua mão e põe na no meu lado e não sejas incrédulo, mas
crê! Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus! Jesus lhe disse: Porque viste,
creste. Felizes os que não viram e creram! (João, 20: 19-29).
Jesus aparece e desaparece
instantaneamente. Penetra numa casa a porta fechadas. Em Emaús conversa com
dois discípulos que o não reconhecem, e desaparece repentinamente. Acha-se de
posse desse corpo fluídico, etéreo, que há em todos nós, corpo sutil que é o
invólucro inseparável de toda alma e que um alto Espírito como o seu sabe
dirigir, modificar, condensar, rarefazer à vontade. E a tal ponto o condensa,
que se torna visível e tangível aos assistentes.
As provas da ressurreição de
Jesus são incontestáveis. Não há como ter dúvidas.
As aparições diárias de
Jesus àquela gente que deveria secundá-lo no ministério da divina Lei, haviam
abrasado seus corações; e seus suaves e edificantes ensinamentos, cheios de
mansidão e humildade, tinham exaltado aquelas almas, elevando-as às
culminâncias da espiritualidade, saneando-lhes o cérebro e preparando-os, vasos
sagrados, para receber os Espíritos santificados pela Palavra, como antes lhes
havia Ele prometido, conforme narra o evangelista João. Avizinhava-se o momento da partida. Ele iria,
mas com ampla liberdade de ação. Sempre que lhe aprouvesse viria observar o
movimento que se teria de operar entre as “ovelhas desgarradas de Israel”, as
quais Ele queria reconduzir ao “sagrado redil”. Deveriam os discípulos identificar-se com o
Espírito e conhecer o Espírito de Verdade, para, com justos motivos, anunciar
às gentes, a Nova da Salvação que libertá-las-ia do mal.
Todos esses acontecimentos,
relatados pelos evangelistas depois da crucificação de Jesus, servem de base
para o conhecimento histórico do Cristianismo, daí ter Paulo afirmado: “Se o
Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé.”
O Cristianismo não é uma
esperança, é um fato natural, um fato apoiado no testemunho dos sentidos. Os
apóstolos não acreditavam somente na ressurreição; estavam dela convencidos. O
Cristo, porém, lhes apareceu e a sua fé se tornou tão profunda que, para a
confessar, arrostaram todos os suplícios. As aparições do Cristo depois da
morte asseguraram a persistência da ideia cristã, oferecendo-lhe como base todo
um conjunto de fatos.
Fonte: Estudo aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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