MARIA, MÃE DE
JESUS
Maria, segundo informações
das fontes cristãs antigas, era filha de pais judeus, Joaquim e Ana. Há dúvidas
quanto ao local exato do seu nascimento — ocorrido entre 18 ou 20 a.C. —, em
Jerusalém ou em Séforis, na Galileia. Possivelmente, ela casou aos 14 anos,
como era comum à época.
Durante a sua infância viveu em Nazaré, onde ficou noiva do carpinteiro José, da tribo de Davi.
Algumas fontes históricas
indicam que Maria e José tiveram outros filhos, depois de Jesus. Não há, porém,
provas ou evidências concretas. O Evangelho segundo Lucas é a principal fonte
bíblica sobre Maria cuja referência é feita em momentos específicos: na
aparição do anjo para anunciar a vinda de Jesus; na visita de Maria à sua prima
Isabel; no nascimento de Jesus, em uma estrebaria da cidade de Belém; na
chegada dos magos, logo após o nascimento do Cristo; na fuga para o Egito, em
razão da perseguição de Herodes; no retorno à Galileia, após a morte de
Herodes; na visita ao templo, durante o período da purificação, quando encontra
Simeão e Ana, a profetiza; no diálogo de Jesus com os doutores; nas bodas de
Caná; na crucificação de Jesus e no dia de Pentecostes.
As tradições cristãs revelam
que Maria ficou sob o amparo do apóstolo e evangelista João, em Jerusalém e em
Éfeso, atendendo a orientação de Jesus. Acredita-se que ela tenha morrido em
Jerusalém.
Há quem afirme, porém, que sua “ascensão aos céus” ocorreu em Éfeso.
Esta questão deve ser
analisada com cuidado. A ascensão de Maria, em termos espíritas, deve ser vista
como num desdobramento seguido de materialização — à semelhança do que
acontecia com Antônio de Pádua —, ou materialização do seu Espírito, após a
desencarnação. Não se sabe ao certo quando ela morreu.
Maria (ou Miriam) é um nome
de origem hebraica, significando: Senhora da Luz. Sua figura no Novo Testamento
é discreta, o que não diminui seu valor e a sua importância.
Buscando alguém no mundo
para exercer a necessária tutela sobre a vida, preciosa do Embaixador divino, o
supremo poder do Universo não hesitou em recorrer à abnegada mulher, escondida
num lar apagado e simples...
Humilde, ocultava a
experiência dos sábios; frágil como o lírio, trazia consigo a resistência do
diamante; pobre entre os pobres, carreava na própria virtude os tesouros
incorruptíveis do coração, e, desvalida entre os homens, era grande e
prestigiosa perante Deus.
Vemos, também, que a sua
figura é reverenciada com carinho e profunda gratidão, como a sublime mãe de
Jesus ou, simplesmente, Maria de Nazaré.
No Espiritismo — doutrina
que se assenta em bases científicas, filosóficas e religiosas, nesta última,
como Cristianismo redivivo, caracteriza o Consolador prometido por Jesus —
também aprendemos a reconhecer em Maria uma Entidade evoluidíssima, que já
havia conquistado, há (mais de) 2000 anos, elevadas virtudes, tornando-a apta a
desempenhar na crosta terrestre tão elevada missão, recebendo em seus braços o
Emissário de Deus que se fez menino para se transformar “no modelo da perfeição
moral que a Humanidade pode pretender sobre a Terra”.
Além do que se conhece nas
antigas tradições religiosas, especialmente no Novo Testamento, encontramos
na literatura espírita outros importantes dados biográficos de Maria, que
vieram até nós por via mediúnica, naturalmente extraídos de arquivos fidedignos
do mundo espiritual, revelando-nos que ela continua até hoje zelando com muito
carinho pela humanidade terrestre, encarnada e desencarnada.
Maria de Nazaré simboliza “terras
de virtudes fartas, o mesmo não sucede aos apóstolos que, a cada passo,
necessitam recorrer à fonte das lágrimas que escorrem do monturo de remorsos e
fraquezas”.
Por ser um Espírito de
grandes conquistas evolutivas e virtudes, consciente de sua tarefa, curva-se,
humilde, diante do anjo que, em nome do Pai, lhe anuncia que será a mãe de
Jesus, o Salvador, dizendo: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim
segundo a tua palavra” (Lucas, 1:38).
Maria profere um dos mais
belos cânticos de louvor e agradecimento a Deus, após a visita do anjo que lhe
informou sobre a vinda do Cristo.
A minha alma engrandece ao
Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque atentou na
humildade de sua serva; pois eis que, desde agora, todas as gerações me chamarão
bem-aventurada. Porque me fez grandes coisas o Poderoso; e Santo é o seu nome.
E a sua misericórdia é de geração em geração sobre os que o temem. Com o seu
braço, agiu valorosamente, dissipou os soberbos no pensamento de seu coração,
depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes; encheu de bens os famintos,
des- pediu vazios os ricos, e auxiliou a Israel, seu servo, recordando-se da sua
misericórdia (como falou a nossos pais) para com Abraão e sua posteridade, para
sempre (Lucas, 1:46-55).
Muitas obras espíritas
enfocam a figura de Maria como de grande importância para os cristãos.
No artigo “Notícias de Maria, a mãe de Jesus”, publicado no Anuário espírita de 1986, encontramos informações a respeito dessa figura ímpar da história do Cristianismo. No livro Boa nova, o Espírito Humberto de Campos destaca: Maria foi cognominada de “bendita” ou “bem-aventurada” porque foi a escolhida para ser a mãe de Jesus. Esta informação está em Lucas, em dois momentos diferentes:
· Quando o anjo anuncia a vinda de Jesus: “Salve, agraciada; o Senhor é contido; bendita és tu entre as mulheres” (Lucas, 1:28).
· Quando da visita à prima Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres, e é bendito o fruto do teu ventre” (Lucas, 1:42).
Além dos relatos
evangélicos, Maria é também mencionada nos escritos de alguns pais da Igreja
Católica Romana, entre os quais, Justino Inácio, Tertuliano e Atanásio. Em
obras cristãs, não incluídas nos canônes da igreja de Roma, isto é, nas
escrituras apócrifas, encontramos referências sempre respeitosas a Maria. No
evangelho de Tiago e na deliberação do Concílio de Éfeso (431 d.C.), ela foi
proclamada Theotokos, isto é, “Portadora de Deus”. Importa considerar, como
referência histórica, a existência de uma escritura apócrifa denominada “O
evangelho gnóstico de Maria”, e outra produzida na Idade Média, intitulada
“Evangelho do nas- cimento de Maria.”
Essas e outras obras
serviram de base para o culto a Maria, existente, em especial, nas igrejas
católica romana e ortodoxa.
O autor de Boa nova nos
revela momentos pungentes da vida de Maria, como, por exemplo, durante a
crucificação de Jesus.
Humberto de Campos descreve
a dor profunda e silenciosa de Maria, que comove e causa admiração, nos fazendo
refletir a respeito da grandiosidade desse Espírito.
Junto da cruz, o vulto
agoniado de Maria produzia dolorosa e indelével impressão. Com o pensamento
ansioso e torturado, olhos fixos no madeiro das perfídias humanas, a ternura
materna regredia ao passado em amarguradas recordações. Ali estava, na hora
extrema, o filho bem-amado.
Maria deixava-se ir à
corrente infinda das lembranças. Eram as circunstâncias maravilhosas em que o
nascimento de Jesus lhe fora anunciado, a amizade de Izabel, as profecias do
velho Simeão, reconhecendo que a assistência de Deus se tornara incontestável
nos menores detalhes de sua vida. Naquele instante supremo revia, a manjedoura,
na sua beleza agreste, sentindo que a Natureza parecia desejar redizer aos seus
ouvidos o cântico de glória daquela noite inolvidável. Através do véu espesso
das lágrimas, repassou, uma por uma, as cenas da infância do filho estremecido,
observando o alarma interior das mais doces reminiscências.
Nas menores coisas,
reconhecia a intervenção da Providência celestial; entretanto, naquela hora,
seu pensamento vagava também pelo vasto mar das mais aflitivas interrogações.
Que profundos desígnios
haviam conduzido seu filho adorado à cruz do suplício?
Uma voz amiga lhe falava ao
espírito, dizendo das determinações in- sondáveis e justas de Deus, que
precisam ser aceitas para a redenção divina das criaturas. Seu coração
rebentava em tempestades de lágrimas irreprimíveis; contudo, no santuário da
consciência, repetia a sua afirmação de sincera humildade: “Faça-se na escrava
a vontade do Senhor!”
Resignada diante do maior
testemunho da sua missão, Maria sente uma mão amiga tocar o seu ombro. Era o
apóstolo João a lhe estender os braços amorosos e reconhecidos. Ambos,
compungidos por tanta dor, buscam o olhar de Jesus como a suplicar
entendimento. Fala, então, Maria a Jesus:
“Meu filho! Meu amado
filho!...”
O Cristo pareceu meditar no
auge de suas dores, mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradeiro, a
grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunhão com Deus, replicou com
significativo movimento dos olhos vigilantes:
“Mãe, eis aí teu filho!...”
— E dirigindo-se, de modo especial, com um leve aceno, ao apóstolo, disse:
Filho, eis aí tua mãe!
Tempos depois, relata o
Espírito amigo, que João, recordando-se das observações feitas pelo Mestre, vai
ao encontro de Maria e conta-lhe sobre sua nova vida entre almas devotadas e
sinceras no exercício dos ensinamentos cristãos. Num misto de reconhecimento e
ventura Maria se instala junto ao dedicado apóstolo, em Éfeso.
A casa de João ao cabo
de algumas semanas, se transformou num ponto de assembleias adoráveis, onde as
recordações do Messias eram cultuadas por espíritos humildes e sinceros.
Maria externava as suas
lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo
comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de
necessitados acorriam ao sítio singelo e generoso. A notícia que Maria
descansava, agora, entre eles, espalhara um clarão de esperança por todos os
sofredores. Ao passo que João pregava na cidade as verdades de Deus, ela
atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam exibindo-lhe suas
úlceras e necessidades.
Sua choupana era, então,
conhecida pelo nome de “Casa da Santíssima”.
Os anos passaram sem que
Maria deixasse, um dia, de amparar e transmitir ao coração do povo as mensagens
da Boa Nova. Ao chegar à velhice não sente cansaço nem amarguras. E num dia, durante
as suas orações, relata-nos, ainda, Humberto de Campos:
Enlevada nas suas
meditações, Maria viu aproximar-se o vulto de um pedinte.
— Minha mãe — exclamou o
recém-chegado, como tantos outros que recorriam ao seu carinho —, venho
fazer-te companhia e receber tua bênção.
Maternalmente, ela o
convidou a entrar, impressionada com aquela voz que lhe inspirava profunda
simpatia. O peregrino lhe falou do céu, confortando-a delicadamente. Comentou
as bem-aventuranças divinas que aguardam a todos os devotados e sinceros filhos
de Deus. Maria sentiu-se empolgada por
tocante surpresa. Que mendigo seria aquele que lhe acalmava as dores secretas
da alma saudosa, com bálsamos tão dulçorosos? Nenhum lhe surgira até então para
dar; era sempre para pedir alguma coisa. Seus
olhos se umedeceram de ventura, sem que conseguisse explicar a razão de sua
terna emotividade.
Foi quando o hóspede anônimo
lhe estendeu as mãos generosas e lhe falou com profundo acento de amor:
— Minha mãe, vem aos meus
braços!
Nesse instante, fitou as
mãos nobres que se lhe ofereciam, num gesto da mais bela ternura. Tomada de
comoção profunda, viu nelas duas chagas, como as que seu filho revelava na
cruz, e instintivamente, dirigindo o olhar ansioso para os pés do peregrino
amigo, divisou também aí as úlceras causadas pelos cravos do suplício. Não pôde
mais. Compreendendo a visita amorosa que Deus lhe enviava ao coração, bradou
com infinita alegria:
— Meu filho! Meu filho! As
úlceras que te fizeram!...
Num
ímpeto de amor, fez um movimento para se ajoelhar. Queria abraçar-se aos pés do
seu Jesus e osculá-los com ternura. Ele, porém, levantando-a, cercado de um
halo de luz celestial, se lhe ajoelhou aos pés e beijando-lhe as mãos, disse em
carinhoso transporte:
— Sim, minha mãe, sou eu!...
Venho buscar-te, pois meu Pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos anjos...
Maria sempre dedicou
assistência aos sofredores, como registrou Yvonne Pereira no livro Memórias de
um suicida. A obra descreve a assistência aos suicidas, em profundo sofrimento
no Além pela Legião dos servos, “chefiada pelo grande Espírito Maria de Nazaré,
ser angélico e sublime que na Terra mereceu a missão honrosa de seguir, com
solicitudes maternais, aquele que foi o redentor dos homens!”.
Muitas são as histórias que
envolvem a ação de Maria de Nazaré em benefício dos que sofrem. No livro Ação e
reação, André Luiz relata o caso de uma senhora que orava fervorosamente,
rogando a proteção de Maria de Nazaré pelos filhos transviados. O instrutor
Silas, citado na referida obra explica a André Luiz: “ Petições semelhantes a esta elevam-se a planos
superiores e ai são acolhidas pelos emissários da Virgem de Nazaré, a fim de
serem examinadas e atendidas, conforme o critério da verdadeira sabedoria.”
Em diversas obras os
Espíritos superiores fazem referência à dedicação de Maria aos sofredores. Lembramos,
a propósito, a reverência que o Espírito Bittencourt Sampaio faz à mãe de Jesus
em tocante oração:
Anjo dos bons e Mãe dos
pecadores, Enquanto ruge o mal, Senhora, enquanto Reina a sombra da angústia,
abre o teu manto, Que agasalha e consola as nossas dores.
Nos caminhos do mundo, há
treva e pranto. No infortúnio dos homens sofredores, Volve à Terra ferida de
amargores O teu olhar imaculado e santo!
Ó Rainha dos anjos, meiga e
pura, Estende tuas mãos à desventura E ajuda-nos, ainda, Mãe piedosa!
Conduze-nos às bênçãos do teu porto E salva o mundo em guerra e desconforto,
Clareando-lhe a noite tormentosa...
Fonte: Estudo aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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