A MISSÃO DE
JESUS – GUIA E MODELO DA HUMANIDADE
Tendo por missão transmitir
aos homens o pensamento de Deus, somente a sua doutrina (a do Cristo), em toda
a pureza, pode exprimir esse pensamento. Allan Kardec: A gênese. Cap. XVII, item 26.
Amarás o Senhor, teu Deus,
de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é
o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os
profetas (Mateus, 22:37-40)
Esse ensinamento de Jesus é a
expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem
para com o próximo. Não podemos encontrar guia mais seguro, a tal respeito, que
tomar para padrão, do que devemos fazer aos outros, aquilo que para nós
desejamos. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XI.
Qual o tipo mais perfeito
que Deus tem oferecido ao homem, para servir de guia e modelo? “Jesus”.
Para o homem, Jesus
constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Allan
Kardec: O livro dos espíritos, questão 625.
1. Jesus, guia e modelo da Humanidade
Rezam as tradições do mundo
espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma
Comunidade de Espíritos puros e eleitos pelo Senhor supremo do Universo, em
cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades
planetárias.
Essa Comunidade de seres
angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi
dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de
problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta, por duas
vezes no curso dos milênios conhecidos.
A primeira, verificou-se
quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosa solar, a fim de que se
lançassem, no Tempo e no Espaço, as balizas do nosso sistema cosmogônico e os
pródromos da vida na matéria em ignição, do planeta, e a segunda, quando se
decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição
imortal do seu Evangelho de amor e redenção.
Vemos, dessa forma, a excelsitude de Jesus, o construtor da nossa moradia, planeta destinado à nossa melhoria espiritual.
Jesus, com as suas legiões de trabalhadores
divinos, lançou o escopo da sua misericórdia sobre o bloco de matéria informe,
que a sabedoria do Pai deslocara do Sol para as suas mãos augustas e
compassivas. Operou a escultura geológica do orbe terreno, talhando a escola
abençoada e grandiosa, na qual o seu coração haveria de expandir-se em amor,
claridade e justiça. Com os seus exércitos de trabalhadores devotados, estatuiu
os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra, organizando-lhes o equilíbrio
futuro na base dos corpos simples de matéria, cuja unidade substancial os
espectroscópios terrenos puderam identificar por toda a parte no universo
galáctico. Organizou o cenário da vida, criando, sob as vistas de Deus, o
indispensável à existência dos seres do porvir. Fez a pressão atmosférica
adequada ao homem, antecipando-se ao seu nascimento no mundo. Definiu todas as linhas de progresso da
humanidade futura, engendrando a harmonia de todas as forças físicas que
presidem ao ciclo das atividades planetárias.
Por ignorar o amor de Jesus
e o trabalho que vem realizando ao longo dos milênios, em nosso benefício,
permanecemos imersos em sofrimentos atrozes.
A ciência do mundo não lhe
viu as mãos augustas e sábias na intimidade das energias que vitalizam o
organismo do Globo. Substituíram-lhe a providência com a palavra “natureza”, em
todos os seus estudos e análises da existência, mas o seu amor foi o Verbo da
criação do princípio, como é e será a coroa gloriosa dos seres terrestres na
imortalidade sem-fim. Daí a algum tempo, na crosta solidificada do
planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um
elemento viscoso que cobria toda a Terra. Estavam dados os primeiros passos no
caminho da vida organizada. Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o
protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos
primeiros homens.
Precisamos conhecer e sentir
mais Jesus, estudar com dedicação os seus ensinos, aceitar o seu jugo,
divulgando a sua mensagem de amor.
Jesus, cuja perfeição se
perde na noite imperscrutável das eras, personificando a sabedoria e o amor,
tem orientado todo o desenvolvimento da humanidade terrena, enviando os seus
iluminados mensageiros, em todos os tempos, aos agrupamentos humanos e desde
que o homem conquistou a racionalidade, vem-lhe fornecendo a ideia da sua
divina origem, o tesouro das concepções de Deus e da imortalidade do Espírito,
revelando-lhe, em cada época, aquilo que a sua compreensão pode abranger.
Entendemos, dessa forma, por
que os Espíritos superiores afirmam ser Jesus guia e modelo da Humanidade.
Para o homem, Jesus
constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra.
Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a
expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo Ele o mais puro de quantos
têm aparecido na Terra, o Espírito divino o animava.
2. A mensagem cristã
Jesus tem por missão
encaminhar a humanidade terrestre ao bem, disponibilizando condições para que o
ser humano evolua em conhecimento e em moralidade. “Tendo por missão transmitir
aos homens o pensamento de Deus, somente a sua doutrina, em toda a pureza, pode
exprimir esse pensamento. Por isso foi que Ele disse: Toda planta que meu Pai
celestial não plantou será arrancada.”
Avinda de Jesus foi
assinalada por uma época especial. Os historia- dores do Império Romano sempre
observaram com espanto os profundos contrastes da gloriosa época de Augusto
(Caio Júlio César Otávio), o primeiro imperador romano, com os períodos
anteriores e posteriores.
É que os historiadores ainda
não perceberam, na chamada época de Augusto, o século do Evangelho ou da Boa
Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era também homem e não conseguiram
saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se aproximava da Terra, numa
vibração profunda de amor e de beleza.
Jesus chegou ao Planeta no
reinado do sobrinho de Júlio César, Otávio, também conhecido como Augusto
César.
Acercavam-se de Roma e do
mundo não mais Espíritos belicosos ,
porém outros que se vestiriam dos andrajos dos pescadores, para servirem de
base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro. Imergiam nos fluidos do
planeta os que preparariam a vinda do Senhor e os que se transformariam em
seguidores humildes e imortais dos seus passos divinos. É por essa razão que o
ascendente místico da era de Augusto se traduzia na paz e no júbilo do povo
que, instintivamente, se sentia no limiar de uma transformação celestial. Ia
chegar à Terra o sublime Emissário. Sua lição de verdade e de luz ia
espalhar-se pelo mundo inteiro, como chuva de bênçãos magníficas e
confortadoras. A Humanidade vivia, então, o século da Boa Nova.
A vinda do Cristo mostra que
a Humanidade estava em condições de receber ensinamentos superiores. “Começava
a era definitiva da maioridade espiritual da humanidade terrestre, uma vez que
Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o código da fraternidade e
do amor a todos os corações.”
Jesus nasceu num momento em
que o mundo estava mergulhado numa miscelânea de ideias religiosas,
predominantemente politeístas. O “mundo
era um imenso rebanho desgarrado. Cada povo fazia da religião uma nova fonte de
vaidades, salientando-se que muitos cultos religiosos do Oriente caminhavam
para o terreno franco da dissolução e da imoralidade.”
O Cristo
vinha trazer ao mundo os fundamentos eternos da verdade e do amor. Sua palavra,
mansa e generosa, reunia todos os infortunados e todos os pecadores. Escolheu
os ambientes mais pobres e mais desataviados para viver a intensidade de suas
lições sublimes, mostrando aos homens que a verdade dispensava o cenário
suntuoso dos areópagos, dos fóruns e dos templos, para fazer-se ouvir na sua
misteriosa beleza. Suas pregações, na praça pública, verificam-se a propósito
dos seres mais desprotegidos e desclassificados, como a demonstrar que a sua
palavra vinha reunir todas as criaturas na mesma vibração de fraternidade e na
mesma estrada luminosa do amor. Combateu pacificamente todas as violências
oficiais do Judaísmo, renovando a Lei Antiga com a doutrina do esclarecimento,
da tolerância e do perdão. Espalhou as mais claras visões da vida imortal,
ensinando às criaturas terrestres que existe algo superior às pátrias, às
bandeiras, ao sangue e às leis humanas. Sua palavra profunda, enérgica e
misericordiosa, refundiu todas as filosofias, aclarou o caminho das ciências e
já teria irmanado todas as religiões da Terra, se a impiedade dos homens não
fizesse valer o peso da iniquidade na balança da redenção.
A mensagem cristã causa
impacto por ser límpida e cristalina, livre de fórmulas iniciáticas ou de
manifestações de culto externo.
Não se reveste o ensinamento
de Jesus de quaisquer fórmulas com- plicadas. Guardando embora o devido
respeito a todas as escolas de revelação da fé com os seus colégios
iniciáticos, notamos que o Senhor desce da Altura, a fim de libertar o templo
do coração humano para a sublimidade do amor e da luz, através da fraternidade,
do amor e do conhecimento. Para isso, o Mestre não exige que os homens se façam
heróis ou santos de um dia para outro. Não pede que os seguidores pratiquem
milagres, nem lhes reclama o impossível. Dirige-se a palavra dele à vida comum,
aos campos mais simples do sentimento, à luta vulgar e às experiências de cada
dia.
A despeito do caráter
reformador que Jesus imprimiu à Lei de Deus, recebida mediunicamente por Moisés
e conhecida como os Dez Mandamentos, na verdade o Cristo ensinou como
compreendê-la e demonstrou como praticá-la.
Jesus não veio destruir a
lei, isto é, a lei de Deus; veio cumpri-la, isto é, desenvolvê-la, dar-lhe o
verdadeiro sentido e adaptá-la ao grau de adiantamento dos homens. Por isso é
que se nos depara, nessa lei, os princípios dos deveres para com Deus e para
com o próximo, base da sua doutrina. Combatendo constantemente o abuso das práticas
exteriores e as falsas interpretações, por mais radical reforma não podia
fazê-las passar, do que as reduzindo a esta única prescrição: “Amar a Deus
acima de todas as coisas e o próximo como a si mesmo”, e acrescentando: aí
estão a lei toda e os profetas.
3. Ensinamentos da mensagem cristã
A mensagem cristã nos
esclarece que o “Velho Testamento é o
alicerce da Revelação divina. O Evangelho é o edifício da redenção das almas.
Como tal, devia ser procurada a lição de Jesus, não mais para qualquer
exposição teórica, mas visando cada discípulo o aperfeiçoamento de si mesmo,
desdobrando as edificações do divino Mestre no terreno definitivo do Espírito.”
Neste sentido, é importante
compreender que o Cristianismo é “a
síntese, em simplicidade e luz, de todos os sistemas religiosos mais antigos,
expressões fragmentárias das verdades sublimes trazidas ao mundo na palavra
imorredoura de Jesus.”
Sendo assim, o cristão
verdadeiro “deve buscar, antes de tudo,
o modelo nos exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com amor e humildade o
segredo da felicidade espiritual, sendo imprescindível que todos os discípulos
edifiquem no íntimo essas virtudes, com as quais saberão remontar ao calvário
de suas dores, no momento oportuno.”
Assinalamos, em seguida,
alguns ensinamentos que caracterizam a mensagem cristã, sem guardarmos a menor
pretensão de termos esgotado o assunto.
A humildade
“A manjedoura assinalava o
ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade
representa a chave de todas as virtudes.” Por essa razão, afirmou Jesus:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus (Mateus,
5: 3).
Dizendo que o reino dos céus
é dos simples, quis Jesus significar que a ninguém é concedida entrada nesse
reino, sem a simplicidade de coração e humildade de espírito; que o ignorante
possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si do que
em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das
virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que dele afastam a
criatura, e isso por uma razão muito natural: a de ser a humildade um ato de
submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra ele.
A lei de amor
O amor resume a doutrina de
Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os
sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. E o
ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo,
mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as
aspirações todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a
personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais. Ditoso aquele
que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em
sofrimento! Ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do
corpo. Tem ligeiro os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo.
Quando Jesus pronunciou a divina palavra — amor, os povos sobressaltaram-se e
os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
A mensagem cristã é um poema
sublime de amor que Jesus trouxe à Humanidade.
Descendo à esfera dos homens
por amor, humilhando-se por amor, ajudando e sofrendo por amor, passa no mundo,
de sentimento erguido no Pai excelso, refletindo-lhe a vontade sábia e
misericordiosa. E, para que a vida e o pensamento de todos nós lhe retratem as
pegadas de luz, legou-nos, em nome de Deus, a sua fórmula inesquecível:
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
Amor e justiça de
Deus
O amor puro é o reflexo do
Criador em todas as criaturas. Brilha em tudo e em tudo palpita na mesma
vibração de sabedoria e beleza. É fundamento da vida e justiça de toda a Lei. Surge,
sublime, no equilíbrio dos mundos erguidos à gloria da imensidade, quanto nas
flores anônimas esquecidas no campo. Nele fulgura, generosa, a alma de todas as
grandes religiões que aparecem, no curso das civilizações, por sistemas de fé à
procura da comunhão com a bondade celeste, e nele se enraíza todo impulso de
solidariedade entre os homens.
A mensagem cristã reflete o
amor e a justiça de Deus, daí ser importante compreender as suas lições.
O amor, repetimos, é o
reflexo de Deus, nosso Pai, que se compadece de todos e que a ninguém violenta,
embora, em razão do mesmo amor infinito com que nos ama, determine estejamos
sempre sob a lei da responsabilidade que se manifesta para cada consciência, de
acordo com as suas próprias obras. E, amando-nos, permite o Senhor per-
lustrarmos sem prazo o caminho de ascensão para Ele, concedendo- -nos, quando
impensadamente nos consagramos ao mal, a própria eternidade para
reconciliar-nos com o Bem, que é a sua regra imutável. Eis por
que Jesus, o Modelo divino, enviado por Ele à Terra para clarear-nos a senda,
em cada passo do seu Ministério tomou o amor ao Pai por inspiração de toda a
vida, amando sem a preocupação de ser amado e auxiliando sem qualquer ideia de
recompensa.
Fidelidade a Deus
Ensina-nos Jesus que a
primeira qualidade a ser cultivada no coração, acima de todas as coisas, é a
fidelidade a Deus.
Na causa de Deus, a
fidelidade deve ser uma das primeiras virtudes. Onde o filho e o pai que não
desejam estabelecer, como ideal de união, a confiança integral e recíproca? Nós
não podemos duvidar da fidelidade de nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos
cerca os espíritos, desde o primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já Ele nos
amava. E, acaso, poderemos desdenhar a possibilidade da retribuição? Não seria
repudiarmos o título de filhos amorosos, o fato de nos deixarmos absorver no
afastamento, favorecendo a negação?
Registra o livro Boa nova,
em relação ao assunto, que Jesus aconselhou o apóstolo André nestes termos:
André, se algum dia teus
olhos se fecharem para a luz da Terra, serve a Deus com a tua palavra e com os
ouvidos; se ficares mudo, toma, assim mesmo, a charrua, valendo-te das tuas
mãos. Ainda que ficasses privado dos olhos e da palavra, das mãos e dos pés,
poderias servir a Deus com a paciência e a coragem, porque a virtude é o verbo
dessa fidelidade que nos conduzirá ao amor dos amores!
A fidelidade a Deus é também
sinônimo de amor, prédica resumida por Jesus, segundo atesta o registro de
Mateus (Mateus, 22:37-39).
Amor ao próximo
O amor aos semelhantes é um
dos princípios basilares do Cristianismo, incessantemente exemplificado por
Jesus. Neste sentido, nos recorda o apóstolo João, citando Jesus,
respectivamente, em sua primeira epístola e no seu evangelho: “Amados,
amemo-nos uns aos outros” (1 João, 4:7). “Nisto todos conhecerão que sois meus
discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João, 13:35).
Nem um só monumento do
passado revela o espírito de fraternidade nas grandes civilizações que
precederam o Cristianismo. Os restos do Templo de Carnaque, em Tebas, se
referem à vaidade transitória. Os resíduos do Circo Máximo, em Roma, falam de
mentirosa dominação. As ruínas da Acrópole, em Atenas, se reportam ao elogio da
inteligência sem amor. Antes do Cristo, não vemos sinais de
instituições humanitárias de qualquer natureza, porque, antes dele, o órfão era
pasto à escravidão, as mulheres sem títulos, eram objeto de escárnio, os
doentes eram atirados aos despenhadeiros da imundície e os fracos e os velhos
eram condenados à morte sem comiseração. Aparece Jesus, porém, e a paisagem
social se modifica. O povo começa a envergonhar-se de encaminhar os enfermos ao
lixo, de decepar as mãos dos prisioneiros, de vender mães escravas, de cegar os
cativos utilizados nos trabalhos de rotina doméstica, de martirizar os anciãos
e zombar dos humildes e dos tristes. Sem palácio e sem trono, sem coroa e sem
títulos, o gênio da fraternidade penetrou o mundo pelas mãos do Cristo, e,
sublime e humilde, continua, entre nós, em silêncio, na divina construção do
Reino do Senhor.
É por essa razão que Jesus
indica quais são os mandamentos mais importantes da sua Doutrina: Amarás o
Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda tua alma, e de todo o teu
pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a
este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem
toda a lei e os profetas (Mateus, 22:37-40).
Entendemos, assim, que esse
ensino de Jesus representa “a expressão
mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o
próximo. Não podemos encontrar guia mais seguro, a tal respeito, que tomar para
padrão, do que devemos fazer aos outros, aquilo que para nós desejamos.”
O Reino de Deus
Afirma Jesus: “O Reino de
Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali!
Porque eis que o Reino de Deus está entre vós” (Lucas, 17:20-21).
Exegetas e teólogos,
historiadores e pensadores, estudiosos e simples leitores, em significativa
maioria, parecem concordar em que a pregação de Jesus gira em torno da noção
básica do Reino de Deus, que Ele estabelece como meta a atingir, objetivo pelo
qual devem convergir todos os esforços, sacrifícios, renúncias e anseios. O
caminho para o Reino de Deus não é largo, amplo e fácil, contudo: é estreito e
difícil. O instrumento para sua realização é o amor a Deus e ao próximo, tanto
quanto a si mesmo, um amor total, universal, paradoxalmente uma extensão
modificada do egoísmo, uma transcendência, uma sublimação do egoísmo, pois
amando aos outros tanto quanto amamos a nós mesmos, estaremos doando o máximo,
em termos humanos, tão poderosa é a força da autoestima em nós. Acima disso —
“de todas as coisas” — disse Ele — só o amor de Deus. Esse programa, o roteiro,
a metodologia que nos levam à conquista do Reino, que — outro paradoxo — está
em nós mesmos. Podemos, portanto, dizer que há duas tônicas, duas dominantes,
como objetivo da vida e a prática do amor como programa para essa busca, como
seu instrumento e veículo.
A necessidade do
perdão
Aproximando Pedro de Jesus,
perguntou-lhe: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe
perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas até setenta
vezes sete” (Mateus, 18: 21-22).
O ódio e
o rancor denotam alma sem elevação, nem grandeza. O esquecimento das ofensas é
próprio da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Uma
é sempre ansiosa, de sombria suscetibilidade e cheia de fel; a outra é calma,
toda mansidão e caridade. Há, porém, duas maneiras bem diferentes de
perdoar: uma, grande, nobre, verdadeiramente generosa, sem pensamento oculto,
que evita, com delicadeza, ferir o amor-próprio e a suscetibilidade do
adversário, ainda quando este último nenhuma justificativa possa ter; a segunda
é a em que o ofendido, ou aquele que tal se julga, impõe ao outro condições
humilhantes e lhe faz sentir o peso de um perdão que irrita, em vez de acalmar;
se estende a mão ao ofensor, não o faz com benevolência, mas com ostentação, a
fim de poder dizer a toda gente: vede como sou generoso! Nessas circunstâncias,
é impossível uma reconciliação sincera de parte a parte. Não, não há aí
generosidade; há apenas uma forma de satisfazer ao orgulho.
Vemos, assim que o perdão é,
uma necessidade humana, caminho seguro da felicidade.
Para a convenção do mundo, o
perdão significa renunciar à vingança, sem que o ofendido precise olvidar
plenamente a falta do seu irmão; entretanto, para o Espírito evangelizado,
perdão e esquecimento de- vem caminhar juntos, embora prevaleça para todos os
instantes da existência a necessidade de oração e vigilância.
O valor da oração
Lembra-nos Jesus: “Por isso,
vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis.
E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém,
para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas” (Marcos,
11: 24-25).
Orienta também Jesus: “E
quando orardes, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé
nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em
verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas tu, quando orares, entra
no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que esta
oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará. E orando, não
useis vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão
ouvidos” (Mateus, 6: 5-7).
Jesus nos ensina como orar,
dizendo: “Pai-nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o
teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na Terra, como no céu. O pão nosso
de cada dia dá-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos
aos nossos devedores. E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal”
(Mateus, 6: 9-13).
“A oração é divino movimento
do espelho de nossa alma no rumo da Esfera superior, para refletir-lhe a grandeza.”
Orar é identificar-se com a
maior fonte de poder de todo o Universo, absorvendo-lhe as reservas e
retratando as leis da renovação permanente que governam os fundamentos da vida.
A prece impulsiona as recônditas energias do coração, libertando-as com as
imagens de nosso desejo, por intermédio da força viva e plasticizante do pensa-
mento, imagens essas que, ascendendo às Esferas superiores, tocam as
inteligências visíveis ou invisíveis que nos rodeiam, pelas quais comumente
recebemos as respostas do plano divino, porquanto o Pai Todo-Bondoso se
manifesta igualmente pelos filhos que se fazem bons. A vontade que ora, tange o
coração que sente, produzindo reflexos iluminativos através dos quais o
Espírito recolhe em silêncio, sob a forma de inspiração e socorro íntimo, o
influxo dos mensageiros divinos que lhe presidem o território evolutivo, a lhe
renovarem a emoção e a ideia, com que se lhe aperfeiçoa a existência.
Os ensinamentos de Jesus
representam, pois, “a pedra angular,
isto é, a pedra de consolidação do novo edifício da fé, erguido sobre as ruínas
do antigo”.
Sendo assim, chegará o dia
em que estas palavras do Cristo se cumprirão: “Ainda tenho outras ovelhas que
não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha
voz, e haverá um rebanho e um Pastor” (João, 10:16).
Por essas palavras, Jesus
claramente anuncia que os homens um dia se unirão por uma crença única; mas
como poderá efetuar-se essa união? Difícil parecerá isso, tendo-se em vista as
diferenças que existem entre as religiões, o antagonismo que elas alimentam
entre seus adeptos, a obstinação que manifestam em se acreditarem na posse
exclusiva da verdade.
Entretanto, a unidade se
fará em religião, como já tende a fazer-se socialmente, politicamente,
comercialmente, pela queda das barreiras que separam os povos, pela assimilação
dos costumes, dos usos, da linguagem. Os povos do mundo inteiro já
confraternizam, como os das províncias de um mesmo império. Pressente-se essa
unidade e todos a desejam. Ela se fará pela força das coisas, porque há de
tornar-se uma necessidade, para que se estreitem os laços de fraternidade entre
as nações; far-se-á pelo desenvolvimento da razão humana, que se tornará apta a
compreender a puerilidade de todas as dissidências; pelo progresso das
ciências, a demonstrar cada dia mais os erros materiais sobre que tais
dissidências assentam e a destacar pouco a pouco das suas fiadas as pedras
estragadas. Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto de sua
ignorância das leis de Natureza, a Ciência não poderá destruir, malgrado à
opinião de alguns, o que é obra de Deus e eterna verdade. Afastando os
acessórios, ela prepara as vias para a unidade.
A fim de chegarem a esta, as religiões terão que encontrar-se num terreno neutro, se bem que comum a todas; para isso, todas terão que fazer concessões e sacrifícios mais ou menos importantes, conforme- mente à multiplicidade dos seus dogmas particulares.
No estado atual da opinião e
dos conhecimentos, a religião, que terá de congregar um dia todos os homens sob
o mesmo estandarte, será a que melhor satisfaça à razão e às legítimas
aspirações do coração e do espírito; que não seja em nenhum ponto desmentida
pela ciência positiva; que, em vez de se imobilizar, acompanhe a Humanidade em
sua marcha progressiva, sem nunca deixar que a ultrapassem; que não for nem
exclusivista, nem intolerante; que for a emancipadora da inteligência, com o
não admitir senão a fé racional; aquela cujo código de moral seja o mais puro,
o mais lógico, o mais de harmonia com as necessidades sociais, o mais
apropriado, enfim, a fundar na Terra o reinado do Bem, pela prática da caridade
e da fraternidade universais.
Fonte:
Estudo
aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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