Antecedentes do Cristianismo – Parte 4

O JUDAÍSMO

Segundo as tradições, o patriarca Abraão, considerado o pai do povo judeu, partiu de Ur, sua cidade natal, porque recebera de Deus as seguintes instruções: Ora, o Senhor disse a Abraão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gênesis, 12:1-3.)

A religião judaica tem como princípio a ideia de Deus único. Trata-se de sua pedra fundamental. A lei mosaica foi a precursora direta do Evangelho de Jesus. O protegido de Termutis (mãe adotiva de Moisés), foi inspirado a reunir todos os elementos úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando o monoteísmo e estabelecendo o Decálogo, sob a inspiração divina, cujas determinações são até hoje a edificação basilar da Religião da Justiça e do Direito. Emmanuel: Emmanuel. Cap. 2.

Na lei mosaica, há duas partes distintas: a Lei de Deus, promulga- da no monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés.

Uma é invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo. Cap. I, item 2.

1.     Informações históricas

É surpreendente a influência exercida pelos judeus na cultura ocidental, quando se considera a simplicidade de suas origens e o tamanho minúsculo do território onde se fixaram: cerca de 250 quilômetros de extensão e 80 quilômetros de largura na parte mais ampla.

A palavra judeu deriva de Judeia, nome de uma parte do antigo reino de Israel. A religião é também chamada de mosaica, já que considera Moisés um dos seus fundadores. O Estado de Israel define o judeu como alguém cuja mãe é judia, e que não pratica nenhuma outra fé. Aos poucos, porém, esta definição foi ampliada para incluir o cônjuge. O Judaísmo não é apenas uma comunidade religiosa, mas também étnica.

O povo de Israel acredita-se descendente dos patriarcas Abraão, Isaac (Isaque) e Jacob (ou Jacó), e das matriarcas Sarah (Sarai ou Sara), Rebeca, Raquel e Lia, os quais teriam moldado os caracteres da raça pela aliança que fizeram com Deus.

Segundo as tradições, Abraão, um habitante da alta Mesopotâmia, deixou a cidade de Ur, em Harã — atualmente situada no sul do Iraque —, partindo com sua esposa Sara e Ló, um sobrinho e demais pessoas do seu clã, em buscada terra habitada pelos cananeus, onde criaria os seus filhos. Abraão teria recebido de Deus a inspiração de estabelecer-se nesse país, fundando ali uma descendência, cumulada de favores por Deus e objeto de sua especial predileção. (Gênesis, 12) O local onde Abraão foi viver recebeu o nome de Canaã ou Terra Prometida. O poder patriarcal de Abraão foi, com a sua morte, trans- ferido ao seu filho Isaque e deste para Jacó, que, por sua vez, o passou para seus doze filhos. (Gênesis, 35)

Sabe-se, porém, que o primeiro filho de Abraão não foi Isaque, este era filho que teve com Sara, sua esposa (Gênesis, 21:1-8), gerado após o nascimento do primogênito Ismael com a escrava egípcia Hagar ou Agar (Gênesis, 16:1-16). Após a morte de Sara, Abraão casa com Quetura que lhe geraram seis filhos: Zinrã, Jocsã, Meda, Mídia, Isbaque e Suá (Gênesis, 25: 1-7). Abraão, entretanto, considerou o seu herdeiro legítimo apenas Isaque (Gênesis, 25: 5).

Os doze filhos de Jacó, considerados os legítimos descendentes de Abraão formam as doze tribos judaicas. Um dos filhos de Jacó com Raquel (Gênesis, 30:22-26), chamado José, foi vendido como escravo ao faraó egípcio, mas, em razão da fama e autoridade por ele conquistadas, tornou-se vice-rei do Egito.

Por volta de 1700 a.C., o povo judeu migra para o Egito em razão da fome, onde é escravizado por aproximadamente 400 anos (Êxodo, 1:1-14). A libertação do povo judeu ocorre por volta de 1300 a.C., seguida da fuga do Egito, comandada por Moisés — um judeu, criado por Termutis, irmã do faraó, após tê-lo recolhido das águas do rio Nilo. (Êxodo, 2:1-20) Saindo do Egito, os ex-cativos atravessam o Mar Vermelho, vivendo 40 anos no deserto e submetendo-se a todo tipo de dificuldades, próprias da vida nômade. O grande êxodo dos israelitas foi, segundo a Bíblia, de 603.550 homens (Números, 1:46).

Durante a peregrinação pelo deserto, Moisés recebe as Tábuas da Lei, também chamadas Decálogo ou Dez Mandamentos, no monte Sinai, cadeia montanhosa de Horebe, fundando, efetivamente, a religião judaica (Êxodo, 20:1-17; 34:1-4; Deuteronômio, 5:1-21).

As Tábuas da Lei foram guardadas em uma arca — Arca da Aliança —, especialmente construída para abrigá-las. (Êxodo, 25: 10-16; 37: 1-5); haveria ainda um tabernáculo para a arca (Êxodo, 25:1-9); um propiciatório de ouro que deveria ser colocado acima da Arca (Êxodo, 25: 17-22). E uma mesa de madeira de lei, coberta de ouro, contendo castiçais, também de ouro, e outros objetos necessários ao cerimonial religioso (Êxodo, 25: 23-40). A Arca e os Dez Mandamentos acompanharam os judeus durante o tempo em que permaneceram no deserto com Moisés. Antes de morrer, logo após ter localizado Canaã, Moisés nomeou Josué, filho de Num, seu sucessor, cumprindo, assim, a profecia de que encontraria a Terra Prometida antes de sua morte (Deuteronômio, 34:1-5).

Josué foi inspirado a atravessar o rio Jordão, levando consigo os filhos de Israel à terra que lhe foi prometida por Deus, segundo relatos de suas escrituras (I Samuel, 1:20-28; 2:18-26). Do deserto, rio Jordão até o Líbano, daí até o rio Eufrates, abrangendo o território dos heteus, estendendo-se até o mar, em direção ao poente (Josué, 1: 4). Acontece que essa terra já era habitada por diferentes povos (cananeus, heteus, heveus, ferezeus, girgaseus, amorreus e os jebuseus), que foram dominados pelos judeus (Josué, 3:10; 5:1). Tudo isso aconteceu no século XIII a.C., aproximadamente. As terras conquistadas são divididas em doze partes e entregues a cada uma das tribos judaicas. Os cananeus e outros povos continuaram em luta com os judeus conquistadores por algum tempo, até serem contidos pelo representante da tribo de Judá (Juízes, 1:1-36).

Após a morte de Josué, cada tribo é governada por juízes, como Samuel (I Samuel, 20-28; 2:18-26). Os juízes passaram a governar as tribos porque os judeus, abandonando o culto a Deus, passaram a adorar outros deuses, como Baal e Astarote (Juízes, 2:11-16). Posteriormente, os juízes foram substituídos por reis (I Samuel, 8: 1-6; 9-12) como Saul, da tribo de Benjamin (I Samuel, 10: 1-27), Davi (I Samuel, 16: 1; 10-13; II Samuel, 5: 1-4. I Reis, 2: 11) e Salomão (I Reis, 1:46-48), filho de Davi (II Samuel, 5:13-14; II Crônicas, 9: 30-31), que constrói o primeiro templo de Jerusalém, entre 970 e 931 a.C. Com a morte de Salomão, Roboão, seu filho, torna-se rei, mas no seu reinado acontece a revolta das tribos de Israel (II Crônicas, 10), separando-se a tribo de Davi (ou de Israel) das demais (II Crônicas, 10:18-19), definitivamente.

As tribos se organizam em dois reinos: o de Judá e o de Israel.

O reino de Judá manteve a antiga capital do rei Davi (Jerusalém) e com ela o templo histórico do rei Salomão, o que lhe acarretou ascendência religiosa, embora a cidade de Jerusalém viesse a ser conquistada pelo babilônio Nabucodonosor [em 586 a.C.] e mais tarde pelo romano Pompeu.

Nabucodonosor, então rei da Babilônia, destrói o templo de Salomão e deporta a maioria do povo de Judá. A partir desse exílio na Babilônia é que se pode falar de Judaísmo ou religião judaica, propriamente dita. O reino de Israel, na Samaria, é destruído em 721 a.C. No ano 586 a.C., mantendo-se a divisão das tribos judaicas em dois reinos, nascem a esperança e a fé no advento de um messias, o enviado de Deus, capaz de restaurar a unidade do povo, garantindo--lhe soberania divina sobre a humanidade.

Os judeus voltam à Palestina em 538 a.C. Reconstroem aí o templo de Salomão, vivendo breves períodos de independência, inter- rompidos pelas constantes invasões das potências estrangeiras. Entre os séculos II e IV a.C., migrações voluntárias difundem a religião e a cultura judaica por todo o Oriente Médio. Em 63 a.C., Jerusalém é conquistada pelos romanos, sob o comando de Pompeu.

Jerusalém figurou como capital do reino da Judeia, sob a dinastia de Herodes. Em consequência de sublevação dos judeus, foi [Jerusalém] novamente cercada e incendiada por tropas romanas, sob o comando do general e futuro imperador Tito. Reduzida à colônia no tempo do imperador Adriano (sob o nome de Élia Capitolina), restaurou-lhe a denominação tradicional (Jerusalém) o imperador Constantino.

No ano 6 d.C., a Judeia torna-se uma província de Roma. Em 70 d.C. os romanos destroem o templo e, em 135, Jerusalém é arrasada. Com a destruição do templo de Jerusalém pela segunda vez, e da própria cidade, inicia-se o período da grande dispersão do povo judeu, conhecida como Diáspora.

Espalhados por todos os continentes, os judeus mantêm sua unidade cultural e religiosa. A Diáspora termina em 1948, com a criação do Estado de Israel.9 Existem atualmente cerca de 13 milhões de judeus em todo o mundo; 4,5 milhões vivem no Estado de Israel.

2.     A religião judaica

O Judaísmo é a primeira religião monoteísta da Humanidade. Fundamenta-se na revelação dos Dez Mandamentos transmitidos por Deus (Yaweh) a Moisés. O Decálogo é considerado o evento fundador da religião de Israel. Religião que tem como princípio a ideia da existência de Deus único, Criador supremo.

Dos Espíritos degredados na Terra, foram os hebreus que constituíram a raça mais forte e mais homogênea, mantendo inalterados os seus caracteres através de todas as mutações. Examinando esse povo notável no seu passado longínquo, reconhecemos que, se grande era a sua certeza na existência de Deus, muito grande também era o seu orgulho, dentro de suas concepções da verdade e da vida. Conscientes da superioridade de seus valores, nunca perdeu a oportunidade de demonstrar a sua vaidosa aristocracia espiritual, mantendo-se pouco acessível à comunhão perfeita com as demais raças do orbe. Entretanto, antecipando-se às conquistas dos outros povos, ensinou de todos os tempos a fraternidade, a par de uma fé soberana e imorredoura.

Um dos maiores teólogos do Judaísmo, Moses Maimônides (1135–1204), desenvolveu treze artigos de fé, intrinsecamente fundamentados na crença em Deus único, e que são aceitos como o referencial da religião pelo Judaísmo tradicional.

O Judaísmo possui uma unidade doutrinária simbolizada: a) na Torá (ou Torah), ou lei judaica — revelação representada pelo Pentateuco de Moisés (não possuindo, durante séculos, um país considerado como próprio, os judeus mantiveram a coesão religiosa pelo estudo dos livros Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio); b) na conquista da liberdade, obtida pela retirada do Egito, travessia do Mar Vermelho e conquista de Canaã; c) libertação do cativeiro egípcio, conhecida como Páscoa judaica; d) no conceito de nação, constituído durante a peregrinação de quarenta anos no deserto, e na chegada à Terra Prometida (Canaã); e) na crença de serem os judeus o povo eleito por Deus (entendem que, ao serem escolhidos por Deus, eles assumiram o fardo de ser povo antes de experimentar os prazeres e a segurança da nacionalidade).

A noção de povo escolhido pela Divindade é uma tradição religiosa que passa, de geração a geração, como artigo de fé.

Era crença comum aos judeus de então (época do Cristo) que a nação deles tinha de alcançar supremacia sobre todas as outras. Deus, com efeito, não prometera a Abraão que a sua posteridade cobriria toda a Terra? Mas, como sempre, atendo-se à forma, sem atentarem ao fundo, eles acreditavam tratar-se de uma dominação efetiva e material. Entretanto, os judeus desprezaram a lei moral, para se aferrarem ao mais fácil: a prática do culto exterior. O mal chegara ao cúmulo; a nação, além de escravizada, era esfacelada pelas facções e dividida pelas seitas.

Um ponto doutrinário fundamental da religião judaica é que não é a fé nem a contemplação que solidificam a relação entre o homem e Deus, mas a ação: isto é, Deus determina, o homem cumpre a sua vontade. Sendo assim, o judeu deve conhecer Deus não por meio da especulação mística ou filosófica, mas pelo estudo de sua palavra escrita — a Torá —, pela prece, pela prática da caridade, e pelas ações que promovem a harmonia.

A lei mosaica foi a precursora direta do Evangelho de Jesus. O protegido de Termutis foi inspirado a reunir todos os elementos úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando o monoteísmo e estabelecendo o Decálogo, sob a inspiração divina, cujas determinações são até hoje a edificação basilar da Religião da Justiça e do Direito. Moisés foi o primeiro a tornar acessíveis às massas populares os ensinamentos somente conseguidos à custa de longa e penosa iniciação, com a síntese luminosa de grandes verdades.

Para a fé judaica, Deus é uma presença ativa no mundo, de forma abrangente, e na vida de cada pessoa, isoladamente. Deus não criou simplesmente a Humanidade e dela se afastou, deixando-a entregue a si mesma. Ao contrário, a Humanidade é totalmente dependente de Deus para evoluir e para ser feliz. Como Deus é também pessoal, está envolvido diretamente em todos os aspectos da vida de cada pessoa, podendo responder, em particular, às aspirações individuais durante a prece. Por este motivo, os judeus oram três vezes ao dia (manhã, tarde e noite), nas práticas do Shabat (sétimo dia da semana, reservado ao descanso) e nas festas religiosas.

Os judeus não aceitam o dogma do pecado original, defendido pelos católicos e protestantes. Analisam que esses religiosos fizeram interpretação literal do livro Gênesis. Os rabinos escreveram no Talmud, item 31: “O sentimento profundo de nossa liberdade moral se recusa a essa assimilação fatal, que tiraria a nossa iniciativa, que nos acorrentaria num pecado distante, misterioso, do qual não temos consciência. Se Adão e Eva pecaram, só a eles cabe a responsabilidade de seu erro.”

A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja crença era a de que tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso. As ideias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros não eram claramente definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo. Criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem saberem precisamente de que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo termo ressurreição o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação.

É importante assinalar que, a despeito de os judeus representarem uma raça de profetas e médiuns notáveis, em Deuteronômio, 18:9-12, existe a proibição mosaica de evocar os mortos.

“A proibição feita por Moisés tinha então a sua razão de ser, porque o legislador hebreu queria que o seu povo rompesse com todos os hábitos trazidos do Egito, e de entre os quais o de que tratamos era objeto de abusos.”

Haja vista que se “Moisés proibiu evocar os Espíritos dos mortos, é uma prova de que eles podem vir; do contrário, essa interdição seria inútil.”

É importante não confundir a lei civil, estabelecida por Moisés para administrar o povo judeu, nos distantes tempos da sua organização, com a Lei divina, inserida nos Dez Mandamentos, recebidos mediunicamente por ele. “Na lei mosaica, há duas partes distintas: a Lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés. Uma é invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo.”

Há, na atualidade, uma corrente do Judaísmo — denominada Judaísmo Messiânico — que procura unir o Judaísmo com o Cristianismo, conscientes de que Jesus é o Messias do povo judeu.

3.     Os livros sagrados do Judaísmo

Os ensinamentos religiosos do Judaísmo estão consolidados nas obras que se seguem, consideradas sagradas.

Torah – A palavra Torah significa a correta direção e, por extensão, “ensinamento”, “doutrina” ou “lei”. A base da Torah é o Pentateuco mosaico, existente no Velho Testamento, e que representa a Lei escrita de Deus, cujo núcleo central é o Decálogo. O primeiro livro é Gênesis (Bereshit), que trata da origem do mundo e do homem; o segundo é Êxodo (Shemot), que narra a fuga dos judeus do cativeiro do Egito; o terceiro é Levítico (Vayikra), que trata das práticas sacerdotais; o quarto é Números (Bamidbar), que traz o recenseamento do povo judeu; o quinto livro é Deuteronômio (Devarim), com discursos de Moisés e o código de leis familiares, civis e militares. Existe também a Torah oral (Lei oral ou Mishnah), que explica o Pentateuco mosaico. A Torah é um rolo de pele de animal Kosher (diz-se de animais ruminantes que possuem pata fendida, tais como: boi, cervo e ovelha/ carneiro), contendo os cinco primeiros livros bíblicos. As cópias da Torah, existentes em todas as sinagogas do mundo, têm exatamente o mesmo texto.

Os Profetas (Neviim)

Trata-se da mais antiga história escrita de que há registro no mundo. Esses livros surgiram muito antes de haver algo como a história comparada ou a análise de fontes. No entanto, o objetivo dos livros históricos do Antigo Testamento não era propriamente registrar a história, e sim dar a ela uma interpretação religiosa. Dois dos livros históricos receberam nomes de mulher. Os livros de Rute e de Ester são histórias curtas e belas, com mulheres no papel principal. Os livros proféticos são Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas Menores, assim chamados por causa da brevidade de suas obras: Oséas, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Segundo seu próprio testemunho, os profetas foram chamados para proclamar a vontade de Deus. Muitas vezes eles usam a fórmula: “Diz o Senhor”.

Escritos poéticos – Entre estes, há os 150 Salmos, que representam os escritos de maior significado histórico e religioso do Velho Testamento. Surgiram, possivelmente, em 587 a.C., antes da destruição de Jerusalém. Foram elaborados para os serviços do templo e para a comemoração das festas judaicas. Cerca de metade dos salmos é de Davi, significando isto que muitos foram escritos por este ou para este rei. Outro escrito poético, reconhecidamente de notável beleza, é o Livro de Jó, que aborda o significado do sofrimento e a justiça de Deus.

Talmud/Talmute ou “estudo”, é a principal obra do Judaísmo rabínico, porque, segundo a tradição, Moisés não recebeu apenas a Lei escrita de Deus (Torah), mas também a Lei falada, que deveria ser transmitida oralmente para complementar o entendimento do que está escrito. Essa é a forma que os rabinos orientam os seus fiéis e estudam os ensinamentos do Judaísmo. Do Talmute originam-se todas as normas haláquicas (fundamentos das leis judaicas) e as orientações não haláquicas (aggaadah): ensinos éticos e interpretação de textos bíblicos. O Talmute expressa a essência da cultura e da religião judaicas, assim como o caminho espiritual que o povo judeu deve seguir. Há dois tipos de Talmute: o da Babilônia e o de Jerusalém. O Talmud Babilônico consiste na compilação das leis, inclusive a Torah, tradições, preceitos morais, comentários, interpretações e debates registrados nas academias rabínicas da Babilônia e de Israel, por volta do século quinto, abrangendo um período de mil anos (do século V a.C. ao V d.C.), aproximadamente. O Talmud de Jerusalém foi publicado um século antes do Babilônico.

4.     A cabala judaica. O calendário religioso

A Cabala é uma das correntes místicas do Judaísmo. O termo significa literalmente recepção e, por extensão, tradição. Também pode ser traduzido como recebimento, e transmissão de ensinamentos, porque os judeus místicos afirmam que a Lei escrita só poderia ser explicada pela Lei oral, ensinada de acordo com as pessoas e circunstâncias, secretamente. Essa tradição oral é transmitida de geração a geração durante milênios. Trata-se de um tema tão misterioso que, durante séculos, só homens casados e com mais de quarenta anos eram autorizados a estudá-lo. Esta regra já não é totalmente aceita e, hoje, homens e mulheres estudam os princípios básicos da Cabala.

Exige-se certo grau de sabedoria e de maturidade espirituais para um judeu aprender “interpretá-lo fielmente, nas épocas remotas. Os livros dos profetas israelitas estão saturados de palavras enigmáticas e simbólicas, constituindo um monumento parcialmente decifrado da ciência secreta dos hebreus.”

Poucos judeus conhecem ou conheceram profundamente a Cabala. Moisés foi um deles. Para os místicos judeus, somente através da Cabala conseguiremos eliminar definitivamente a guerra, as destruições e as maldades existentes no mundo. O primeiro cabalista teria sido o patriarca Abraão. Ele teria visto as maravilhas da existência humana e dos mundos mais elevados. O conhecimento adquirido por Abraão teria sido transmitido oralmente aos seus descendentes. O primeiro trabalho sobre a Cabala, o Sefer Yetzirah, ou Livro da criação, é atribuído a Abraão. Esse texto básico da Cabala ensina que existem trinta e dois caminhos da sabedoria organizados, por sua vez, em dez itens denominados Sefirot ou Luzes divinas. Estas luzes divinas, representadas nas 22 letras do alfabeto hebraico, são canais que o Criador utilizou na obra da criação. As letras são consideradas os alicerces ou vasos da criação, e incluem todas as combinações e permutações através das quais Deus criou o mundo com palavras. A Cabala procura, essencialmente, descobrir a origem de tudo o que existe: o Universo e a Terra; o ser humano, sua vida e morte; o mal; a senda do bem; o poder da prece etc.

O Antigo Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do povo judeu, e somente os grandes mestres da raça poderiam. A grande contradição do Judaísmo é, sem dúvida, a não aceitação do Cristo como o seu Messias.

A verdade, porém, é que Jesus, chegando ao mundo, não foi absolutamente entendido pelo povo judeu. Os sacerdotes não esperavam que o Redentor procurasse a hora mais escura da noite para surgir na paisagem terrestre. Segundo a sua concepção, o Senhor deveria chegar no carro magnificente de suas glórias divinas, trazido do Céu à Terra pela legião dos seus tronos e anjos; deveria humilhar todos os reis do mundo, conferindo a Israel o cetro supremo da direção de todos os povos do planeta; deveria operar todos os prodígios, ofuscando a glórias dos Césares.

Para os judeus, a vinda do Messias à Terra, surgindo sobre nuvens, com grande majestade, cercado de seus anjos e ao som de trombetas, tinha um significado muito maior do que a simples vinda de uma entidade investida apenas de poder moral. Por isso mesmo, os judeus, que esperavam no Messias um rei terreno, mais poderoso do que todos os outros reis, destinado a colocar-lhes a nação à frente de todas as demais e a reerguer o trono de Davi e o de Salomão, não quiseram reconhecê-lo no humilde filho de um carpinteiro, sem autoridade material. No entanto, estejamos certos:

Jesus acompanha-lhe a marcha dolorosa através dos séculos de lutas expiatórias regeneradoras. Novos conhecimentos dimanam do Céu para o coração dos seus patriarcas e não tardará muito tempo para que vejamos os judeus compreendendo integralmente a missão sublime do verdadeiro Cristianismo e aliando-se a todos os povos da Terra para a caminhada salvadora, em busca da edificação de um mundo melhor.

O Judaísmo possui um calendário litúrgico ou religioso, conhecido como Círculo Sagrado, cujas festas principais são:

Rosh Hashaná: Ano-novo (mais ou menos em setembro). É o dia da comemoração do aniversário da criação do mundo e o dia em que o eterno abre o livro da vida e da morte, escrevendo nele os atos que todos os viventes realizaram durante o ano.

Yom Kippur: Dia da Expiação (também em setembro). Esse é o dia mais sagrado do ano. Os judeus adultos passam-no na Sinagoga, em orações e súplicas, observando um rigoroso jejum de 25 horas, buscando o perdão divino para os seus pecados. Reza a tradição que neste dia Deus fecha o livro da vida e da morte, selando o destino de cada indivíduo para o ano seguinte.

Pessach: Páscoa. É celebrada aproximadamente em 14 de abril, no início da primavera. Comemorando-se a libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. São oito dias de comemoração.

Shavuot: Festa das Semanas (mais ou menos em maio). É a festa máxima do Judaísmo, pois comemora a entrega da Torá (feita por Deus) a Moisés, no monte Sinai. Ela também é conhecida como Hag ha Bicurim (Festa das Primícias).

Fonte: Estudo aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013. 

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