O JUDAÍSMO
Segundo as tradições, o
patriarca Abraão, considerado o pai do povo judeu, partiu de Ur, sua cidade
natal, porque recebera de Deus as seguintes instruções: Ora, o Senhor disse a
Abraão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a
terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e
engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas
as famílias da terra. (Gênesis, 12:1-3.)
A religião judaica tem como
princípio a ideia de Deus único. Trata-se de sua pedra fundamental. A lei mosaica
foi a precursora direta do Evangelho de Jesus. O protegido de Termutis (mãe
adotiva de Moisés), foi inspirado a reunir todos os elementos úteis à sua
grandiosa missão, vulgarizando o monoteísmo e estabelecendo o Decálogo, sob a
inspiração divina, cujas determinações são até hoje a edificação basilar da
Religião da Justiça e do Direito. Emmanuel: Emmanuel. Cap. 2.
Na lei mosaica, há duas
partes distintas: a Lei de Deus, promulga- da no monte Sinai, e a lei civil ou
disciplinar, decretada por Moisés.
Uma é invariável; a outra,
apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo. Allan
Kardec: O evangelho segundo o espiritismo. Cap. I, item 2.
1. Informações históricas
É surpreendente a influência
exercida pelos judeus na cultura ocidental, quando se considera a simplicidade
de suas origens e o tamanho minúsculo do território onde se fixaram: cerca de
250 quilômetros de extensão e 80 quilômetros de largura na parte mais ampla.
A palavra judeu deriva de
Judeia, nome de uma parte do antigo reino de Israel. A religião é também
chamada de mosaica, já que considera Moisés um dos seus fundadores. O Estado de
Israel define o judeu como alguém cuja mãe é judia, e que não pratica nenhuma
outra fé. Aos poucos, porém, esta definição foi ampliada para incluir o
cônjuge. O Judaísmo não é apenas uma comunidade religiosa, mas também étnica.
O povo de Israel acredita-se descendente dos patriarcas Abraão, Isaac (Isaque) e Jacob (ou Jacó), e das matriarcas Sarah (Sarai ou Sara), Rebeca, Raquel e Lia, os quais teriam moldado os caracteres da raça pela aliança que fizeram com Deus.
Segundo as tradições,
Abraão, um habitante da alta Mesopotâmia, deixou a cidade de Ur, em Harã —
atualmente situada no sul do Iraque —, partindo com sua esposa Sara e Ló, um
sobrinho e demais pessoas do seu clã, em buscada terra habitada pelos cananeus,
onde criaria os seus filhos. Abraão teria recebido de Deus a inspiração de
estabelecer-se nesse país, fundando ali uma descendência, cumulada de favores
por Deus e objeto de sua especial predileção. (Gênesis, 12) O local onde Abraão
foi viver recebeu o nome de Canaã ou Terra Prometida. O poder patriarcal de
Abraão foi, com a sua morte, trans- ferido ao seu filho Isaque e deste para
Jacó, que, por sua vez, o passou para seus doze filhos. (Gênesis, 35)
Sabe-se, porém, que o
primeiro filho de Abraão não foi Isaque, este era filho que teve com Sara, sua
esposa (Gênesis, 21:1-8), gerado após o nascimento do primogênito Ismael com a
escrava egípcia Hagar ou Agar (Gênesis, 16:1-16). Após a morte de Sara, Abraão
casa com Quetura que lhe geraram seis filhos: Zinrã, Jocsã, Meda, Mídia, Isbaque
e Suá (Gênesis, 25: 1-7). Abraão, entretanto, considerou o seu herdeiro
legítimo apenas Isaque (Gênesis, 25: 5).
Os doze filhos de Jacó,
considerados os legítimos descendentes de Abraão formam as doze tribos
judaicas. Um dos filhos de Jacó com Raquel (Gênesis, 30:22-26), chamado José,
foi vendido como escravo ao faraó egípcio, mas, em razão da fama e autoridade
por ele conquistadas, tornou-se vice-rei do Egito.
Por volta de 1700 a.C., o
povo judeu migra para o Egito em razão da fome, onde é escravizado por aproximadamente
400 anos (Êxodo, 1:1-14). A libertação do povo judeu ocorre por volta de 1300
a.C., seguida da fuga do Egito, comandada por Moisés — um judeu, criado por
Termutis, irmã do faraó, após tê-lo recolhido das águas do rio Nilo. (Êxodo,
2:1-20) Saindo do Egito, os ex-cativos atravessam o Mar Vermelho, vivendo 40
anos no deserto e submetendo-se a todo tipo de dificuldades, próprias da vida
nômade. O grande êxodo dos israelitas foi, segundo a Bíblia, de 603.550 homens
(Números, 1:46).
Durante a peregrinação pelo
deserto, Moisés recebe as Tábuas da Lei, também chamadas Decálogo ou Dez
Mandamentos, no monte Sinai, cadeia montanhosa de Horebe, fundando,
efetivamente, a religião judaica (Êxodo, 20:1-17; 34:1-4; Deuteronômio,
5:1-21).
As Tábuas da Lei foram
guardadas em uma arca — Arca da Aliança —, especialmente construída para
abrigá-las. (Êxodo, 25: 10-16; 37: 1-5); haveria ainda um tabernáculo para a
arca (Êxodo, 25:1-9); um propiciatório de ouro que deveria ser colocado acima
da Arca (Êxodo, 25: 17-22). E uma mesa de madeira de lei, coberta de ouro,
contendo castiçais, também de ouro, e outros objetos necessários ao cerimonial
religioso (Êxodo, 25: 23-40). A Arca e os Dez Mandamentos acompanharam os
judeus durante o tempo em que permaneceram no deserto com Moisés. Antes de
morrer, logo após ter localizado Canaã, Moisés nomeou Josué, filho de Num, seu
sucessor, cumprindo, assim, a profecia de que encontraria a Terra Prometida
antes de sua morte (Deuteronômio, 34:1-5).
Josué foi inspirado a
atravessar o rio Jordão, levando consigo os filhos de Israel à terra que lhe
foi prometida por Deus, segundo relatos de suas escrituras (I Samuel, 1:20-28;
2:18-26). Do deserto, rio Jordão até o Líbano, daí até o rio Eufrates,
abrangendo o território dos heteus, estendendo-se até o mar, em direção ao
poente (Josué, 1: 4). Acontece que essa terra já era habitada por diferentes
povos (cananeus, heteus, heveus, ferezeus, girgaseus, amorreus e os jebuseus),
que foram dominados pelos judeus (Josué, 3:10; 5:1). Tudo isso aconteceu no
século XIII a.C., aproximadamente. As terras conquistadas são divididas em doze
partes e entregues a cada uma das tribos judaicas. Os cananeus e outros povos
continuaram em luta com os judeus conquistadores por algum tempo, até serem
contidos pelo representante da tribo de Judá (Juízes, 1:1-36).
Após a morte de Josué, cada
tribo é governada por juízes, como Samuel (I Samuel, 20-28; 2:18-26). Os juízes
passaram a governar as tribos porque os judeus, abandonando o culto a Deus,
passaram a adorar outros deuses, como Baal e Astarote (Juízes, 2:11-16).
Posteriormente, os juízes foram substituídos por reis (I Samuel, 8: 1-6; 9-12)
como Saul, da tribo de Benjamin (I Samuel, 10: 1-27), Davi (I Samuel, 16: 1;
10-13; II Samuel, 5: 1-4. I Reis, 2: 11) e Salomão (I Reis, 1:46-48), filho de
Davi (II Samuel, 5:13-14; II Crônicas, 9: 30-31), que constrói o primeiro
templo de Jerusalém, entre 970 e 931 a.C. Com a morte de Salomão, Roboão, seu
filho, torna-se rei, mas no seu reinado acontece a revolta das tribos de Israel
(II Crônicas, 10), separando-se a tribo de Davi (ou de Israel) das demais (II
Crônicas, 10:18-19), definitivamente.
As tribos se organizam em
dois reinos: o de Judá e o de Israel.
O reino de Judá manteve a
antiga capital do rei Davi (Jerusalém) e com ela o templo histórico do rei
Salomão, o que lhe acarretou ascendência religiosa, embora a cidade de
Jerusalém viesse a ser conquistada pelo babilônio Nabucodonosor [em 586 a.C.] e
mais tarde pelo romano Pompeu.
Nabucodonosor, então rei da
Babilônia, destrói o templo de Salomão e deporta a maioria do povo de Judá. A
partir desse exílio na Babilônia é que se pode falar de Judaísmo ou religião
judaica, propriamente dita. O reino de Israel, na Samaria, é destruído em 721 a.C.
No ano 586 a.C., mantendo-se a divisão das tribos judaicas em dois reinos,
nascem a esperança e a fé no advento de um messias, o enviado de Deus, capaz de
restaurar a unidade do povo, garantindo--lhe soberania divina sobre a
humanidade.
Os judeus voltam à Palestina
em 538 a.C. Reconstroem aí o templo de Salomão, vivendo breves períodos de
independência, inter- rompidos pelas constantes invasões das potências
estrangeiras. Entre os séculos II e IV a.C., migrações voluntárias difundem a
religião e a cultura judaica por todo o Oriente Médio. Em 63 a.C., Jerusalém é
conquistada pelos romanos, sob o comando de Pompeu.
Jerusalém figurou como
capital do reino da Judeia, sob a dinastia de Herodes. Em consequência de
sublevação dos judeus, foi [Jerusalém] novamente cercada e incendiada por tropas
romanas, sob o comando do general e futuro imperador Tito. Reduzida à colônia
no tempo do imperador Adriano (sob o nome de Élia Capitolina), restaurou-lhe a
denominação tradicional (Jerusalém) o imperador Constantino.
No ano 6 d.C., a Judeia
torna-se uma província de Roma. Em 70 d.C. os romanos destroem o templo e, em
135, Jerusalém é arrasada. Com a destruição do templo de Jerusalém pela segunda
vez, e da própria cidade, inicia-se o período da grande dispersão do povo
judeu, conhecida como Diáspora.
Espalhados por todos os
continentes, os judeus mantêm sua unidade cultural e religiosa. A Diáspora
termina em 1948, com a criação do Estado de Israel.9 Existem atualmente cerca
de 13 milhões de judeus em todo o mundo; 4,5 milhões vivem no Estado de Israel.
2. A religião judaica
O Judaísmo é a primeira
religião monoteísta da Humanidade. Fundamenta-se na revelação dos Dez
Mandamentos transmitidos por Deus (Yaweh) a Moisés. O Decálogo é considerado o
evento fundador da religião de Israel. Religião que tem como princípio a ideia
da existência de Deus único, Criador supremo.
Dos Espíritos degredados na
Terra, foram os hebreus que constituíram a raça mais forte e mais homogênea,
mantendo inalterados os seus caracteres através de todas as mutações. Examinando
esse povo notável no seu passado longínquo, reconhecemos que, se grande era a
sua certeza na existência de Deus, muito grande também era o seu orgulho,
dentro de suas concepções da verdade e da vida. Conscientes da superioridade de
seus valores, nunca perdeu a oportunidade de demonstrar a sua vaidosa
aristocracia espiritual, mantendo-se pouco acessível à comunhão perfeita com as
demais raças do orbe. Entretanto, antecipando-se às conquistas dos outros
povos, ensinou de todos os tempos a fraternidade, a par de uma fé soberana e
imorredoura.
Um dos maiores teólogos do
Judaísmo, Moses Maimônides (1135–1204), desenvolveu treze artigos de fé,
intrinsecamente fundamentados na crença em Deus único, e que são aceitos como o
referencial da religião pelo Judaísmo tradicional.
O Judaísmo possui uma
unidade doutrinária simbolizada: a) na Torá (ou Torah), ou lei judaica —
revelação representada pelo Pentateuco de Moisés (não possuindo, durante
séculos, um país considerado como próprio, os judeus mantiveram a coesão
religiosa pelo estudo dos livros Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio); b) na conquista da liberdade, obtida pela retirada do Egito,
travessia do Mar Vermelho e conquista de Canaã; c) libertação do cativeiro
egípcio, conhecida como Páscoa judaica; d) no conceito de nação, constituído
durante a peregrinação de quarenta anos no deserto, e na chegada à Terra
Prometida (Canaã); e) na crença de serem os judeus o povo eleito por Deus
(entendem que, ao serem escolhidos por Deus, eles assumiram o fardo de ser povo
antes de experimentar os prazeres e a segurança da nacionalidade).
A noção de povo escolhido
pela Divindade é uma tradição religiosa que passa, de geração a geração, como
artigo de fé.
Era crença comum aos judeus
de então (época do Cristo) que a nação deles tinha de alcançar supremacia sobre
todas as outras. Deus, com efeito, não prometera a Abraão que a sua posteridade
cobriria toda a Terra? Mas, como sempre, atendo-se à forma, sem atentarem ao
fundo, eles acreditavam tratar-se de uma dominação efetiva e material. Entretanto,
os judeus desprezaram a lei moral, para se aferrarem ao mais fácil: a prática
do culto exterior. O mal chegara ao cúmulo; a nação, além de escravizada, era
esfacelada pelas facções e dividida pelas seitas.
Um ponto doutrinário
fundamental da religião judaica é que não é a fé nem a contemplação que
solidificam a relação entre o homem e Deus, mas a ação: isto é, Deus determina,
o homem cumpre a sua vontade. Sendo assim, o judeu deve conhecer Deus não por
meio da especulação mística ou filosófica, mas pelo estudo de sua palavra
escrita — a Torá —, pela prece, pela prática da caridade, e pelas ações que
promovem a harmonia.
A lei mosaica foi a
precursora direta do Evangelho de Jesus. O protegido de Termutis foi inspirado
a reunir todos os elementos úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando o
monoteísmo e estabelecendo o Decálogo, sob a inspiração divina, cujas
determinações são até hoje a edificação basilar da Religião da Justiça e do
Direito. Moisés foi o primeiro a tornar acessíveis às massas populares os
ensinamentos somente conseguidos à custa de longa e penosa iniciação, com a
síntese luminosa de grandes verdades.
Para a fé judaica, Deus é
uma presença ativa no mundo, de forma abrangente, e na vida de cada pessoa,
isoladamente. Deus não criou simplesmente a Humanidade e dela se afastou,
deixando-a entregue a si mesma. Ao contrário, a Humanidade é totalmente
dependente de Deus para evoluir e para ser feliz. Como Deus é também pessoal,
está envolvido diretamente em todos os aspectos da vida de cada pessoa, podendo
responder, em particular, às aspirações individuais durante a prece. Por este
motivo, os judeus oram três vezes ao dia (manhã, tarde e noite), nas práticas
do Shabat (sétimo dia da semana, reservado ao descanso) e nas festas religiosas.
Os judeus não aceitam o
dogma do pecado original, defendido pelos católicos e protestantes. Analisam
que esses religiosos fizeram interpretação literal do livro Gênesis. Os rabinos
escreveram no Talmud, item 31: “O sentimento profundo de nossa liberdade moral
se recusa a essa assimilação fatal, que tiraria a nossa iniciativa, que nos
acorrentaria num pecado distante, misterioso, do qual não temos consciência. Se
Adão e Eva pecaram, só a eles cabe a responsabilidade de seu erro.”
A reencarnação fazia parte
dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja crença
era a de que tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso. As ideias dos
judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros não eram claramente
definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da
sua ligação com o corpo. Criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem
saberem precisamente de que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo
termo ressurreição o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama
reencarnação.
É importante assinalar que,
a despeito de os judeus representarem uma raça de profetas e médiuns notáveis,
em Deuteronômio, 18:9-12, existe a proibição mosaica de evocar os mortos.
“A proibição feita por Moisés tinha então a
sua razão de ser, porque o legislador hebreu queria que o seu povo rompesse com
todos os hábitos trazidos do Egito, e de entre os quais o de que tratamos era
objeto de abusos.”
Haja vista que se “Moisés
proibiu evocar os Espíritos dos mortos, é uma prova de que eles podem vir; do
contrário, essa interdição seria inútil.”
É importante não confundir a
lei civil, estabelecida por Moisés para administrar o povo judeu, nos distantes
tempos da sua organização, com a Lei divina, inserida nos Dez Mandamentos,
recebidos mediunicamente por ele. “Na lei mosaica, há duas partes distintas: a
Lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada
por Moisés. Uma é invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do
povo, se modifica com o tempo.”
Há, na atualidade, uma
corrente do Judaísmo — denominada Judaísmo Messiânico — que procura unir o
Judaísmo com o Cristianismo, conscientes de que Jesus é o Messias do povo
judeu.
3. Os livros sagrados do Judaísmo
Os ensinamentos religiosos
do Judaísmo estão consolidados nas obras que se seguem, consideradas sagradas.
Torah – A
palavra Torah significa a correta direção e, por extensão, “ensinamento”,
“doutrina” ou “lei”. A base da Torah é o Pentateuco mosaico, existente no Velho
Testamento, e que representa a Lei escrita de Deus, cujo núcleo central é o
Decálogo. O primeiro livro é Gênesis (Bereshit), que trata da origem do mundo e
do homem; o segundo é Êxodo (Shemot), que narra a fuga dos judeus do cativeiro
do Egito; o terceiro é Levítico (Vayikra), que trata das práticas sacerdotais;
o quarto é Números (Bamidbar), que traz o recenseamento do povo judeu; o quinto
livro é Deuteronômio (Devarim), com discursos de Moisés e o código de leis
familiares, civis e militares. Existe também a Torah oral (Lei oral ou
Mishnah), que explica o Pentateuco mosaico. A Torah é um rolo de pele de animal
Kosher (diz-se de animais ruminantes que possuem pata fendida, tais como: boi,
cervo e ovelha/ carneiro), contendo os cinco primeiros livros bíblicos. As
cópias da Torah, existentes em todas as sinagogas do mundo, têm exatamente o
mesmo texto.
Os Profetas (Neviim)
Trata-se da mais antiga
história escrita de que há registro no mundo. Esses livros surgiram muito antes
de haver algo como a história comparada ou a análise de fontes. No entanto, o
objetivo dos livros históricos do Antigo Testamento não era propriamente
registrar a história, e sim dar a ela uma interpretação religiosa. Dois dos
livros históricos receberam nomes de mulher. Os livros de Rute e de Ester são
histórias curtas e belas, com mulheres no papel principal. Os livros proféticos
são Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas Menores, assim chamados por
causa da brevidade de suas obras: Oséas, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias,
Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Segundo seu próprio
testemunho, os profetas foram chamados para proclamar a vontade de Deus. Muitas
vezes eles usam a fórmula: “Diz o Senhor”.
Escritos
poéticos – Entre estes, há os 150 Salmos, que representam os
escritos de maior significado histórico e religioso do Velho Testamento.
Surgiram, possivelmente, em 587 a.C., antes da destruição de Jerusalém. Foram
elaborados para os serviços do templo e para a comemoração das festas judaicas.
Cerca de metade dos salmos é de Davi, significando isto que muitos foram
escritos por este ou para este rei. Outro escrito poético, reconhecidamente de
notável beleza, é o Livro de Jó, que aborda o significado do sofrimento e a
justiça de Deus.
Talmud/Talmute ou
“estudo”, é a principal obra do Judaísmo rabínico, porque, segundo a tradição,
Moisés não recebeu apenas a Lei escrita de Deus (Torah), mas também a Lei
falada, que deveria ser transmitida oralmente para complementar o entendimento
do que está escrito. Essa é a forma que os rabinos orientam os seus fiéis e
estudam os ensinamentos do Judaísmo. Do Talmute originam-se todas as normas
haláquicas (fundamentos das leis judaicas) e as orientações não haláquicas
(aggaadah): ensinos éticos e interpretação de textos bíblicos. O Talmute
expressa a essência da cultura e da religião judaicas, assim como o caminho
espiritual que o povo judeu deve seguir. Há dois tipos de Talmute: o da
Babilônia e o de Jerusalém. O Talmud Babilônico consiste na compilação das
leis, inclusive a Torah, tradições, preceitos morais, comentários,
interpretações e debates registrados nas academias rabínicas da Babilônia e de
Israel, por volta do século quinto, abrangendo um período de mil anos (do
século V a.C. ao V d.C.), aproximadamente. O Talmud de Jerusalém foi publicado
um século antes do Babilônico.
4. A cabala judaica. O calendário religioso
A Cabala é uma das correntes
místicas do Judaísmo. O termo significa literalmente recepção e, por extensão,
tradição. Também pode ser traduzido como recebimento, e transmissão de
ensinamentos, porque os judeus místicos afirmam que a Lei escrita só poderia
ser explicada pela Lei oral, ensinada de acordo com as pessoas e
circunstâncias, secretamente. Essa tradição oral é transmitida de geração a
geração durante milênios. Trata-se de um tema tão misterioso que, durante
séculos, só homens casados e com mais de quarenta anos eram autorizados a
estudá-lo. Esta regra já não é totalmente aceita e, hoje, homens e mulheres
estudam os princípios básicos da Cabala.
Exige-se certo grau de
sabedoria e de maturidade espirituais para um judeu aprender “interpretá-lo
fielmente, nas épocas remotas. Os livros dos profetas israelitas estão
saturados de palavras enigmáticas e simbólicas, constituindo um monumento
parcialmente decifrado da ciência secreta dos hebreus.”
Poucos judeus conhecem ou
conheceram profundamente a Cabala. Moisés foi um deles. Para os místicos
judeus, somente através da Cabala conseguiremos eliminar definitivamente a
guerra, as destruições e as maldades existentes no mundo. O primeiro cabalista
teria sido o patriarca Abraão. Ele teria visto as maravilhas da existência
humana e dos mundos mais elevados. O conhecimento adquirido por Abraão teria
sido transmitido oralmente aos seus descendentes. O primeiro trabalho sobre a
Cabala, o Sefer Yetzirah, ou Livro da criação, é atribuído a Abraão. Esse texto
básico da Cabala ensina que existem trinta e dois caminhos da sabedoria
organizados, por sua vez, em dez itens denominados Sefirot ou Luzes divinas.
Estas luzes divinas, representadas nas 22 letras do alfabeto hebraico, são
canais que o Criador utilizou na obra da criação. As letras são consideradas os
alicerces ou vasos da criação, e incluem todas as combinações e permutações
através das quais Deus criou o mundo com palavras. A Cabala procura, essencialmente,
descobrir a origem de tudo o que existe: o Universo e a Terra; o ser humano,
sua vida e morte; o mal; a senda do bem; o poder da prece etc.
O Antigo Testamento é um
repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do povo judeu, e somente
os grandes mestres da raça poderiam. A grande contradição do Judaísmo é, sem
dúvida, a não aceitação do Cristo como o seu Messias.
A verdade, porém, é que
Jesus, chegando ao mundo, não foi absolutamente entendido pelo povo judeu. Os
sacerdotes não esperavam que o Redentor procurasse a hora mais escura da noite
para surgir na paisagem terrestre. Segundo a sua concepção, o Senhor deveria
chegar no carro magnificente de suas glórias divinas, trazido do Céu à Terra
pela legião dos seus tronos e anjos; deveria humilhar todos os reis do mundo,
conferindo a Israel o cetro supremo da direção de todos os povos do planeta;
deveria operar todos os prodígios, ofuscando a glórias dos Césares.
Para os judeus, a vinda do
Messias à Terra, surgindo sobre nuvens, com grande majestade, cercado de seus
anjos e ao som de trombetas, tinha um significado muito maior do que a simples
vinda de uma entidade investida apenas de poder moral. Por isso mesmo, os
judeus, que esperavam no Messias um rei terreno, mais poderoso do que todos os
outros reis, destinado a colocar-lhes a nação à frente de todas as demais e a
reerguer o trono de Davi e o de Salomão, não quiseram reconhecê-lo no humilde
filho de um carpinteiro, sem autoridade material. No entanto, estejamos certos:
Jesus acompanha-lhe a marcha
dolorosa através dos séculos de lutas expiatórias regeneradoras. Novos
conhecimentos dimanam do Céu para o coração dos seus patriarcas e não tardará
muito tempo para que vejamos os judeus compreendendo integralmente a missão
sublime do verdadeiro Cristianismo e aliando-se a todos os povos da Terra para
a caminhada salvadora, em busca da edificação de um mundo melhor.
O Judaísmo possui um
calendário litúrgico ou religioso, conhecido como Círculo Sagrado, cujas festas
principais são:
Rosh
Hashaná: Ano-novo (mais ou menos em setembro). É o dia da
comemoração do aniversário da criação do mundo e o dia em que o eterno abre o
livro da vida e da morte, escrevendo nele os atos que todos os viventes
realizaram durante o ano.
Yom
Kippur: Dia da Expiação (também em setembro). Esse é o dia mais
sagrado do ano. Os judeus adultos passam-no na Sinagoga, em orações e súplicas,
observando um rigoroso jejum de 25 horas, buscando o perdão divino para os seus
pecados. Reza a tradição que neste dia Deus fecha o livro da vida e da morte,
selando o destino de cada indivíduo para o ano seguinte.
Pessach:
Páscoa. É celebrada aproximadamente em 14 de abril, no início da primavera.
Comemorando-se a libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. São oito
dias de comemoração.
Shavuot:
Festa das Semanas (mais ou menos em maio). É a festa máxima do Judaísmo, pois
comemora a entrega da Torá (feita por Deus) a Moisés, no monte Sinai. Ela
também é conhecida como Hag ha Bicurim (Festa das Primícias).
Fonte: Estudo aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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