AS VIAGENS MISSIONÁRIAS
DO APÓSTOLO PAULO
Paulo estava convencido que
na estrada de Damasco o Senhor o encarregara de levar o Evangelho aos povos
gentílicos. Entretanto, compreendia que os judeus, seus irmãos de raça,
deveriam também conhecer a mensagem de Jesus. Segundo relata Atos dos
Apóstolos, “sua prática usual era ir
primeiro à sinagoga local. Gálatas, 2:7-9, no entanto, indica que sua atividade
era, de maneira manifesta, dirigida aos gentios”.
Nas suas viagens visitou a
maioria dos centros urbanos de destaque do mundo antigo, como os da Grécia,
da Ásia Menor, além de Roma e Espanha.
Passou por muitas atribulações, mas, de Espírito inquebrantável, conseguiu levar o Evangelho a inúmeros corações sequiosos de paz e de esclarecimento.
Por onde passava, fundou
igrejas ou núcleos de estudo do Evangelho.
Os convertidos ao
Cristianismo e seguidores de Paulo eram, em geral, escravos do Império Romano.
A sua oratória exuberante atraía, também, romanos cultos, pertencentes à classe
alta.
Alguns eram claramente
pessoas influentes, do tipo que levava litígios pessoais aos tribunais de
justiça, e que podia se permitir fazer doações para as boas causas. Os
companheiros de trabalho de Paulo desfrutavam também do estilo de vida
tipicamente móvel das classes mais altas; na ausência das igrejas instaladas em
prédios, a comunidade cristã dependia da generosidade de seus membros mais
ricos para fornecer instalações para o culto coletivo e hospitalidade para pregadores
ambulantes. Ao mesmo tempo, Paulo tinha a convicção de que o Evangelho
transcendia as barreiras de raça, sexo e classe, e insistia na igualdade de
todos os crentes.
1. As viagens missionárias do apóstolo Paulo
1.1 A
primeira viagem
A missão apostólica,
propriamente dita, tem início em Antioquia, entre os anos de 45 e 49. Paulo e
Barnabé — seguidos do jovem João Marcos, autor do segundo evangelho — partem
para propagar a Boa Nova, em terras distantes (Atos dos Apóstolos, 12:25).
De Antioquia vai a Chipre e
Salamina; daí seguem até Pafos, onde encontra um mago, falso profeta, chamado
Bar-Jesus (ou Elimas) que tudo fez para impedir o Procônsul Sérgio Paulo de
ouvir a pregação de Paulo e Barnabé. Paulo, entretanto, neutralizou a ação de
Elimas, de forma que o Procônsul ficou maravilhado pela Doutrina do Senhor
(Atos dos Apóstolos, 13:4-12).
De Pafos, alcançam Perge, da
Panfília. João Marcos se separa do grupo, retornando a Jerusalém.
Paulo e Barnabé saem de
Perge e chegam a Antioquia da Psídia (Atos dos Apóstolos, 13:13-14).
Nessa localidade, os
apóstolos atraíram grande multidão para ouvi-los. Entretanto, os judeus
encheram-se de inveja e promoveram acirrada perseguição, obrigando Paulo e
Barnabé seguirem viagem para Icônio (Atos dos Apóstolos, 13:44-52).
Em Icônio, os dois
mensageiros do Evangelho sofrem ultrajes e apedrejamentos por parte dos membros
da sinagoga, enciumados da boa receptividade dos judeus e gregos que se
maravilharam com os ensinos de Jesus. Paulo e Barnabé fogem então, para Listra
e Derbe, cidades da Licaônia (Atos dos Apóstolos, 14: 1-7).
Devido à boa recepção dos
povos pagãos, o apóstolo começa a usar o “seu nome grego Paulo, de preferência
ao nome judaico Saulo, e é também então que ele suplanta seu companheiro
Barnabé, em razão de sua preponderância na pregação.”1 (Atos dos Apóstolos,
14:12).
Retornando a Antioquia,
levanta-se ali a primeira controvérsia entre os cristãos, procedentes de
Jerusalém e ainda presos às tradições do Judaísmo, que pretendiam impor a
observância da lei mosaica aos cristãos convertidos, provenientes do paganismo.
Os cristãos de Antioquia decidem, então, enviar Paulo e Barnabé a Jerusalém,
para discutir o assunto com os apóstolos (Atos dos Apóstolos, 15:2). Assim,
14 anos após a sua conversão (Gálatas, 2:1), em 49, volta Paulo a Jerusalém
para participar de um concílio apostólico, onde seria aceito como apóstolo, com
missão junto aos gentios, oficialmente reconhecida (Gálatas, 2:2). Reuniram-se
Pedro, Tiago e seus colaboradores, constituindo o chamado “Assembleia ou
Concílio de Jerusalém”.
Nesse concílio ficou
determinado que os cristãos de origem gentílica ou judaica, teriam total
liberdade para seguir, ou não, os rituais disciplinares impostos pela lei
mosaica, evitando, porém, manifestações idólatras (Atos dos Apóstolos,
15:1-30).
1.2 A
segunda viagem de Paulo
Esta viagem ocorreu,
possivelmente, entre os anos 50 e 52. Paulo se encontrava em Antioquia (Atos
dos Apóstolos, 15:30-35) em companhia do apóstolo Barnabé, do evangelista João
Marcos e de mais dois amigos: Silas — cristão da igreja de Antioquia — e
Timóteo, discípulo da igreja de Listra (Licaônia), que seriam seus companheiros
de viagem, uma vez que Barnabé e Marcos foram pregar em Chipre.
Os três viajantes (Paulo,
Silas e Timóteo), por onde passavam fundavam igrejas “confirmadas na fé e
crescidas em número, de dia a dia” (Atos dos Apóstolos, 16:4-5). Mais tarde, os
três atravessaram a Frígia, indo até Listra e Icônio. Seguiram para o norte
passando pela região da Galácia: Trôade, Filipos, Anfípolis, Bereia chegando à
Ásia Menor (Atos dos Apóstolos, 16:6-10). Em Trôade Paulo teve uma visão de um
macedônio que pedia-lhe auxílio (Atos dos Apóstolos, 16:9-10). Ao acordar,
seguiu viagem para a Macedônia que até a sua principal cidade, Filipos, uma
colônia romana. Aí, Paulo libertou uma mulher, que praticava a arte da adivinhação,
subjugada por um Espírito malévolo. A libertação espiritual da médium, porém,
provocou ira nos que se beneficiam das consultas mediúnicas. Assim,
aprisionaram Paulo e Silas, levando-os à presença dos magistrados sob alegação
que eles estavam perturbando a ordem imposta pelos romanos, relacionada às
pregações religiosas. Os dois discípulos sofreram graves agressões físicas,
inclusive uma surra de vara, antes de serem jogados na prisão, com os pés
amarrados a um cepo (Atos dos Apóstolos, 16: 16-24). À noite, Paulo e Silas
puseram-se a orar dentro da prisão. De repente, sobreveio um terremoto de tal
intensidade que abalou os alicerces do cárcere. Imediatamente abriram-se todas
as portas e os grilhões se soltaram, libertando-os (Atos dos Apóstolos, 16:
25-40).
Saindo de Filipos, partiram
para Tessalônica, atravessando Anfípolis e Apolônia. Por três sábados seguidos
pregou na sinagoga tessalonicense, explicando que Jesus era o Messias aguardado
(Atos dos Apóstolos, 17:1-4). A opinião dos judeus ficou, então, dividida,
ocorrendo conflitos que obrigaram Paulo e Silas a partirem para Bereia, onde
foram bem recebidos. No entanto, os convertidos de Beréia providenciaram a
partida dos dois para Atenas, uma vez que os judeus enfurecidos da Tessalônica
haviam seguido Paulo e Silas para prendê-los (Atos dos Apóstolos, 17:10-14).
O sonho de Paulo era pregar
em Atenas, terra dos filósofos e de homens cultos. A sua pregação no areópago,
no entanto, a despeito de fervorosa e bela, não mereceu a devida atenção dos
intelectuais, vaidosos e superficiais, que zombaram das sinceras convicções do
pregador do Cristo, especialmente quando este abordou a questão da
ressurreição. Raros, como Dionísio, o areopagita (membro do tribunal, juiz), e
uma mulher por nome Dâmaris, ouviram e aceitaram as ideias expostas por Paulo
(Atos dos Apóstolos, 17:15-34).
O contato de Paulo com os
atenienses, no Areópago, apresenta lição interessante aos discípulos novos. É
possível que a assembleia o aclamasse com fervor, se sua palavra se detivesse
no quadro filosófico das primeiras exposições. Atenas reverenciá-lo-ia, então,
por sábio. Paulo, todavia, refere-se à ressurreição dos mortos, deixando
entrever a gloriosa continuação da vida, além das ninharias terrestres. Desde
esse instante, os ouvintes sentiram-se menos bem e chegaram a escarnecer-lhe a
palavra amorosa e sincera, deixando-o quase só.
O ensinamento enquadra-se
perfeitamente nos dias que correm. Numerosos trabalhadores do Cristo são
atenciosamente ouvidos e respeitados por autoridades nos assuntos em que se
especializaram; contudo, ao declararem sua crença na vida além do corpo, em
afirmando a lei de responsabilidade, para lá do sepulcro, recebem, de imediato,
o riso escarninho dos admiradores de minutos antes, que os deixam sozinhos, proporcionando-lhes
a impressão de verdadeiro deserto.
Saindo de Atenas, Paulo foi
para Corinto, onde conheceu o casal Áquila e Priscila, judeus recém-chegados da
Itália. Ficou quase dois anos em Corinto, pregando na sinagoga e dedicando-se à
fabricação de tendas. Muitos se converteram ao Cristianismo e aceitaram Jesus
como o Messias (Atos dos Apóstolos, 18:1-4). Em Corinto, ele escreveu as duas
cartas aos tessalonicenses. Sendo continuamente hostilizado por alguns judeus,
regressa a Antioquia, acompanhado, até Éfeso, por Áquila e Priscila (Atos dos
Apóstolos, 18:19-22), permanecendo algum tempo em Cesareia.
1.3 A
terceira viagem de Paulo
Esta viagem aconteceu no
período de 53 a 58 da nossa Era. Começa em Antioquia e termina em Jerusalém. De
Antioquia Paulo viaja para Éfeso. Por dois anos anda por toda a Ásia Menor,
anunciando o Evangelho, fundando inúmeras igrejas e promovendo a conversão de
inúmeros gentios. Os seus companheiros de viagem, apoio imprescindível na
difusão do Cristianismo, foram Timóteo (não um dos doze apóstolos) e Erasto
(Atos dos Apóstolos, 19:1-22). Nesse período escreve as cartas aos gálatas e a
primeira aos coríntios. Retorna a Éfeso onde fica algum tempo com João, o
evangelista.
O progresso do Cristianismo
em Éfeso produziu um decréscimo no movimento comercial e religioso, do célebre
santuário de Artemis (Artemisa ou Diana) ali existente. Tal situação provocou
um motim, encabeçado pelos ourives e negociantes devocionais, obrigando Paulo
abandonar a cidade (Atos dos Apóstolos, 19:23-41). Seguiu, então, para
Macedônia e Acaia, acompanhado por alguns discípulos: Sópratos, Aristarco,
Segundo, Gaio, Timóteo, Tíquico e Trófimo (Atos dos Apóstolos, 19:21-40;
20:1-6).
Embarcando em Filipos,
escreve a Segunda Epístola aos Coríntios, e empreende viagem para Jerusalém.
Fez escalas em Trôade,
Mileto, Tiro e outras cidades, chegando a Jerusalém, no ano 58. Paulo e seus
companheiros foram bem recebidos pelos irmãos cristãos, e por Tiago e Pedro
(Atos dos Apóstolos, 20:7-38; 21:1-26).
Antes de seguir viagem para
Jerusalém, Paulo sofreu perseguição de alguns judeus enfurecidos que o
mantiveram prisioneiro em Cesareia por dois anos. Nessa cidade, Paulo estreitou
os laços de amizade com Filipe, um dos doze apóstolos, que ali vivia com as
suas quatro filhas profetisas (Atos dos Apóstolos 21:8-10).
Chegando em Jerusalém Paulo
foi até a casa de Tiago (possivelmente, Tiago filho de Alfeu) e, indo ao
Templo, foi preso (Atos dos Apóstolos, 21:17- 34).
Percebendo que seria morto
se permanecesse prisioneiro em Jerusalém, Paulo apela ao Procurador da Galileia
(Festo) para ser submetido ao julgamento de César uma vez que era cidadão
romano (Atos dos Apóstolos, 21:34-40; 22:1-29).
Após os esclarecimentos que
Paulo prestou ao tribuno romano, foi, então, enviado a Roma para ser julgado
(Atos dos Apóstolos, 23:10-11).
1.4 A
última viagem de Paulo (viagem a Roma)
Lucas narra todas as
peripécias dessa viagem marítima: o naufrágio, o refúgio em Malta e chegada em
Roma (Atos dos Apóstolos, 27:3-28;15). Ali permaneceu em prisão domiciliar
durante dois anos, recebendo visitas e trabalhando na pregação do Evangelho
(Atos dos Apóstolos, 28:30-31). São deste período as cartas do cativeiro: a
Filemon, aos colossenses, aos efésios e aos filipenses.
Há indicações que Paulo foi
libertado no ano 63, situação que lhe permitiu executar antigo projeto de
pregar o Evangelho na Espanha, “nos confins do mundo”, como afirmou em sua
epístola aos Romanos, 15:24.
Alguns estudiosos têm
dúvidas se, efetivamente, Paulo pregou a Boa Nova na Espanha, até porque não é
fácil reconstruir o itinerário dessa última viagem. Sabemos que ele voltou a
Éfeso e dali partiu para Macedônia. Também esteve em Creta (I Timóteo, 1:5), em
Corinto e em Mileto (II Timóteo, 4:19-20). Nesse período escreveu duas cartas:
a primeira a Timóteo e a de Tito. Foi preso em 66 e levado de volta a Roma.
Emmanuel esclarece que Paulo
foi à Espanha onde difundiu o Evangelho, partindo para este país quando da
chegada de Pedro a Roma.
Alegando que Pedro o
substituíra com vantagem, deliberou embarcar no dia prefixado, num pequeno
navio que se destinava à costa gaulesa. Acompanhado de Lucas, Timóteo e Dimas, o velho
advogado dos gentios partiu ao amanhecer de um dia lindo, cheio de projetos
generosos. A missão visitou parte das Gálias, dirigindo-se ao território
espanhol, demorando-se mais na região de Tortosa.
Enquanto Paulo estava na
Espanha ocorreu a prisão do apóstolo João, que ficou mantido sob vigilância nos
cárceres imundos do Esquilino; Pedro envia mensagem a Paulo, suplicando-lhe
intercessão junto às autoridades romanas, seus conhecidos, em benefício do
filho de Zebedeu. Paulo interrompe, então, seu trabalho evangélico na Espanha e
retorna imediatamente a Roma. O ano 64 seguia o seu curso normal, indiferente
às aflições que se abatiam sobre numerosos cristãos.
Tempos depois, Paulo é outra
vez aprisionado em Roma.
Este segundo cativeiro foi
mais penoso do que o primeiro, pois o apóstolo ficou em prisão comum,
considerado malfeitor (desde o ano de 64, o nome cristão era sinônimo de
marginal por ordem do imperador Nero). Escreve a segunda epístola a Timóteo. O
texto existente em II Timóteo, 4:11, é considerado o testamento do apóstolo.
Supõe-se que escreveu a epístola aos hebreus entre os anos 64–66, em Roma, ou
talvez em Atenas. Segundo a tradição, foi decapitado no ano 67, em Roma.
São tocantes momentos finais
do apóstolo Paulo. Emocionadíssimo, escreve a sua última epístola (a segunda,
destinada a Timóteo), amparado pela presença amiga de Lucas. A firmeza de sua
fé, a convicção irredutível no amor do Cristo são grandiosas, envolvendo
Tigilino, seu carrasco, que, trêmulo, lastima ter que decapitá-lo.
Do outro lado, no plano
espiritual, amigos sinceros o aguardavam, sendo inicialmente abraçado por
Ananias, aquele que lhe restituiu a visão nos idos tempos, após os
acontecimentos na estrada de Damasco. Mais tarde, encontra Gamaliel que,
reunidos em caravana, viajam por todos os lugares onde peregrinou, chegando em
Jerusalém, no calvário, local onde Jesus foi crucificado. A luminosa caravana
espiritual ora fervorosamente, envolvidos em júbilos elevados. Paulo vê, então,
surgir à sua frente a radiante figura de Jesus que tem, ao seu lado, Estêvão e
Abigail. “Deslumbrado, arrebatado, o Apóstolo apenas pôde estender os braços,
porque a voz lhe fugia no auge da comoção.”
Fonte:
Estudo
aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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