AS EPÍSTOLAS DE
PAULO - 1
As epístolas que Paulo não
são tratados de teologia, mas respostas a situações concretas. Verdadeiras
cartas que se inspiram no formulário então em uso , não são nem “cartas”
meramente particulares, nem “epístolas” puramente literárias, mas explanações
que Paulo destina a leitores concretos e, para além deles, a todos os fiéis de
Cristo. Bíblia de Jerusalém. Item: Introdução às epístolas de Paulo, p. 1956.
Paulo iniciou o movimento
das cartas imortais, cuja essência espiritual provinha da esfera do Cristo, por
intermédio da contribuição [espiritual] amorosa de Estêvão. Emmanuel: Paulo e
Estêvão. Segunda parte, cap. 7.
Na epístola aos Romanos,
Paulo analisa as divergências existentes entre os judeus e gentílicos
convertidos ao Cristianismo. Representa, porém uma das mais belas sínteses da
doutrina paulina. Bíblia de Jerusalém. Item: Introdução às epístolas de Paulo,
p. 1959-1960.
1. As epístolas de Paulo
Através de suas epístolas,
Paulo transmitiu aos seus discípulos uma fervorosa fé em Jesus Cristo e na sua
ressurreição. As cartas ou epístolas de Paulo são denominadas pastorais porque
estão dirigidas a um destinatário específico. Trata-se de instruções,
conselhos, repreensões ou exortações do apóstolo aos seus discípulos. As demais
epístolas existentes no Evangelho (Pedro, João, Judas Tadeu), ao contrário, são
de caráter universal porque destinadas aos cristãos, em geral.
Quem pretenda conhecer Paulo
deve estudar as suas epístolas e os Atos dos Apóstolos “duas fontes
independentes que se confirmam e se completam, não obstante algumas
divergências em pormenores”.
As epístolas e os Atos [dos
Apóstolos] nos traçam também um retrato surpreendente da personalidade do
Apóstolo. Paulo é apaixonado, alma de fogo que se consagra sem limites a um
ideal. E esse ideal é essencialmente religioso. Para ele, Deus é tudo e ele o
serve com uma lealdade absoluta, primeiro perseguindo aqueles que ele tem na conta
de hereges (Gl 1:13; At 24: 5, 14), depois pregando o Cristo, após haver
entendido por revelação que só nele está a salvação. Esse zelo incondicional
traduz-se pela abnegação total ao serviço daquele que ama. Trabalhos, fadigas,
sofrimentos, privações, perigos de morte (1 Cor 4:8-13; 2 Cor 4:8; 6:4-10;
11:23-27), nada lhe importa, contando que cumpra a missão pela qual sente
responsável (1 Cor 9:16). O ardor do seu coração sensível se traduz bem
nos sentimentos que demonstra por seus fiéis.
Há historiadores que enxergam aspectos místicos no caráter de Paulo, outros o consideram, sob certas circunstâncias, exaltado e doentio.
Nada é menos fundamentado.
Ele nada tem do imaginativo, se julgarmos pelas imagens pouco numerosas e
corriqueiras que emprega. Paulo é, antes, cerebral. Nele se une a um coração
ardente inteligência lúcida, lógica, exigente, preocupada em expor a fé segundo
as necessidades dos ouvintes. Paulo argumenta muitas vezes como rabino, segundo
métodos exegéticos que recebeu do seu meio e da sua educação (por exemplo, Gl
3:16; 4:21-31). Além disso, esse semita tem boa cultura grega, recebida talvez
desde a infância em Tarso, enriquecida por repetidos contatos com o mundo
greco-romano, e esta influência se reflete na sua maneira de pensar, bem como
em sua linguagem e no estilo.
É possível que Paulo tenha
escrito muitas outras cartas, mas somente 14 chegaram até nós. As epístolas
paulinas são as seguintes, segundo a ordem existente no Novo Testamento:
1. Romanos
2. Coríntios (primeira e segunda)
3. Gálatas
4. Efésios
5. Filipenses
6. Colossenses
7. Tessalonicenses (primeira e segunda)
8. Timóteo (primeira e segunda)
9. Tito
10. Filemon
11. Hebreus
As epístolas paulinas não
são tratados de teologia, mas respostas a situações concretas. Verdadeiras
cartas que se inspiram no formulário então em uso , não são nem “cartas”
meramente particulares, nem “epístolas” puramente literárias, mas explanações
que Paulo destina a leitores concretos e, para além deles, a todos os fiéis de
Cristo. Não se deve, pois, buscar aí exposição sistemática e completa do
pensamento do Apóstolo; sempre se deve supor, por detrás delas, a palavra viva,
de que são o comentário em pontos particulares. Embora dirigidas em ocasiões e
a auditórios diferentes, descobre-se nelas uma mesma doutrina fundamental,
centrada em torno de Cristo morto e ressuscitado, mas que se adapta, se
desenvolve e se enriquece no decurso desta vida consagrada totalmente a todos (1 Cor 9:19-22).
Emmanuel esclarece como e
por que Paulo teve a ideia de escrever as suas cartas. Onde quer que o apóstolo
estivesse sempre chegavam emissários das igrejas por ele fundadas, portadores
de assuntos urgentes, que solicitavam a presença de Paulo, na localidade, para
resolver conflitos ali existentes. Evidentemente, ele não podia atender a
todos, pois os deslocamentos, de uma cidade para outra, eram demorados e nem
sempre os dedicados discípulos, Silas e Timóteo, estavam disponíveis para
substituí-lo. Preocupado com a situação e sem saber como atender às rogativas
dos fiéis, Paulo orou fervorosa- mente a Jesus, pedindo-lhe solução para o
problema. Após a prece, ouviu, sob inspiração, Jesus dizer-lhe:
Não te atormentes com as
necessidades de serviço. É natural que não possas assistir pessoalmente a
todos, ao mesmo tempo. Mas é possível a todos satisfazeres, simultaneamente,
pelos poderes do espírito. Poderás resolver o problema escrevendo a todos
os irmãos em meu nome; os de boa vontade saberão compreender, porque o valor da
tarefa não está na presença pessoal do missionário, mas do conteúdo espiritual
do seu verbo, da sua exemplificação e da sua vida. Doravante, Estevão
permanecerá mais conchegado a ti, transmitindo-te meus pensamentos, e o
trabalho de evangelização poderá ampliar-se em benefício dos sofrimentos e das
necessidades do mundo. Assim começou o movimento dessas cartas
imortais, cuja essência espiritual provinha da esfera do Cristo, através da
contribuição amo- rosa de Estêvão — companheiro abnegado e fiel daquele que se
havia arvorado, na mocidade, em primeiro perseguidor do Cristianismo.
Há escritores que contestam
a genuinidade de algumas epístolas de Paulo, tendo como base razões teológicas,
de estilo e literárias. É possível que algumas epístolas, por exemplo, aos
dirigidas aos efésios, aos colossenses e aos tessalonicenses, tenham sido
escritas por um discípulo que teria servido de secretário ao apóstolo dos
gentios. Entretanto, nada disso diminui o trabalho missionário de Paulo nem
ofusca a sua fenomenal missão.
2. Epístola aos romanos
Nessa epístola, encontramos
os seguintes assuntos: a) desejo de Paulo de viajar a Roma para encontrar com
os membros desta a igreja cristã; b) o homem justificado pela fé está a caminho
da salvação; c) combate a idolatria e vida dissoluta dos gentios e impenitência
dos judeus.
Paulo se encontrava em
Corinto, em vias de partir para Jerusalém, quando escreveu a sua epístola aos
romanos (no inverno de 55–56 d.C.). Por essa carta se percebe que Paulo não
esteve presente, nem fundou a igreja cristã de Roma, como já se pensou no
passado. Na verdade, parece que ele tinha escassas informações a respeito dessa
comunidade.
As raras alusões de sua
epístola deixam apenas vislumbrar uma comunidade em que os convertidos do
Judaísmo e do paganismo correm o perigo de se desentenderem. Assim, para
preparar sua chegada acha útil enviar por sua patrona Febe (Rm 16:1) uma carta
em que expõe sua solução do problema judaísmo-cristianismo, tal como acaba de
amadurecer devido à crise gálata.
Romanos “oferece explanação
continuada, em que algumas grandes seções se concatenam harmoniosamente com o
auxílio de temas que primeiro anunciam e depois são retomados.” Não existem
dúvidas relacionadas à autenticidade da epístola aos romanos. Apenas se tem
perguntado se os capítulos 15 e 16 não teriam sido acrescenta- dos
posteriormente. Supõe-se que o capítulo 16, repleto de saudações, teria sido,
originalmente, um bilhete que o apóstolo enviou à igreja cristã de Éfeso.
O desenvolvimento das ideias
sobre a fé é, nessa carta, mais elaborado e mais completo do que em qualquer
outra, escrita por Paulo. Neste sentido, começa por afirmar que não se
envergonha do Evangelho, porque ele é força de Deus para a salvação de todos os
que creem, independentemente se é judeu ou grego. “O justo viverá pela fé”, afirma
(Romanos, 1: 16-17) Em seguida, apresenta uma tese e ardorosa defesa sobre a
salvação do homem pela fé (Romanos, 1 a 5).
Os membros da igreja cristã
romana, formada de judeus e gentílicos convertidos ao Cristianismo, se
desentendiam continuamente. O motivo básico, que produzia intranquilidade a
Paulo, era o culto, idolatria e costumes que os romanos e demais gentios tinham
dificuldades de abandonar: “E, como eles se não importaram de ter conhecimento
de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas
que não convém; estando cheios de toda iniquidade, prostituição, malícia,
avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade;
sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos,
presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pai e à mãe; néscios,
infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia.
E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas
fazem. E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que,
fazendo-as tu, escaparás ao juízo e Deus? (Rm 1:28-31; 2:2-3).
2.1 Síntese dos
principais ensinamentos da epístola aos romanos
A Justiça de Deus
Para que ocorra a salvação,
Paulo esclarece que todos os seres humanos devem estar cientes de que, sendo
julgados por Deus, devem agir de acordo com os princípios da sua justiça (Rm
2:1-16). Os homens que se afastaram de Deus, ou que o desconhecem, que trazem o
coração impenitente, que pecam contra a Lei, serão submetidos à justiça divina
“a qual recompensará cada um segundo as suas obras” (Rm 2:7). A justiça de Deus
se fundamenta naquilo que o homem faz ou deixa de fazer: “Porque todos os que
sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela
lei serão julgados. Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus,
mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rm 2:12-13). Os que têm
conhecimento espiritual e não o colocam em prática, serão julgados com mais
rigor.
Eis que tu, que tens por
sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e sabes a sua
vontade, e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; e confias que
és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instruidor dos néscios, mestre
de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; tu, pois, que
ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve
furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que
abominas os ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que te glorias na lei, desonras a
Deus pela transgressão da lei? Porque, como está escrito, o nome de Deus é
blasfemado entre os gentios por causa de vós. Porque a circuncisão é, na
verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei,
a tua circuncisão se torna em incircuncisão. Se, pois, a incircuncisão guardar
os preceitos da lei, porventura, a incircuncisão não será reputada como
circuncisão? E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te
julgará, porventura, a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei?
Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é
exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que
é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas
de Deus (Romanos, 2:17-29).
A fé em Jesus como medida de salvação
Paulo reconhece que no atual
estágio evolutivo da Humanidade, todos somos pecadores, “como está escrito: não
há um justo, nenhum sequer” (Rm 3:10). Entretanto, analisa que podemos nos
salvar pela fé em Jesus: “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de
Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas, isto é, a justiça de Deus pela
fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há
diferença” (Rm 3:21-22).
A fé em Jesus e a paz com Deus
“Sendo, pois, justificados
pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também
temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na
esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas
tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a
experiência; e a experiência, a esperança” (Rm 5: 1-4).
O homem sem o Cristo vive em pecado
“Portanto, agora, nenhuma condenação
há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas
segundo o espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me
livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto, o que era impossível à lei,
visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança
da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne, para que a justiça
da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o
Espírito. Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da
carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. Porque a
inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. E, se
Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o
espírito vive por causa da justiça” (Rm 8: 1-6; 10).
3. Epístolas aos coríntios
Paulo escreveu duas
epístolas aos coríntios, destacando, em ambas, Jesus como a sabedoria de Deus.
Corinto, capital da
província de romana de Acaia, foi importante cidade fundada pelos gregos.
Situada no istmo que separa as duas cidades portuárias de Lecaion, no golfo de
Corinto, de Cencreia, no golfo Sarônico, foi centro de grande trânsito de
viajantes e imenso posto comercial da antiguidade. As duas epístolas aos coríntios
compõem-se, provavelmente, de várias pequenas cartas ou bilhetes escritos por
Paulo à igreja cristã de Corinto, no início da quinta década d.C. Por causa do
seu conteúdo, e extensão, essas epístolas se situam entre as mais importantes.
Revela preocupação com as
ideias e os costumes gregos, ampla- mente difundidos em Corinto. Um dos
problemas, era a imoralidade sexual, como o incesto, mantida pelos convertidos
ao Cristianismo. Outro problema era a prática, herdada dos costumes romanos, de
cobrir a cabeça quando se orava ou profetizava, como sinal de culto e devoção.
Uma terceira dificuldade era o hábito que existia em certos cristãos de fazer
refeições, na forma de banquetes, no templo de algum deus. Por último, havia o
uso e abuso dos poderes mediúnicos.
Existia, pois, na igreja de
Corinto, fortes disputas entre os cristãos: os de origem judaica abominavam as
práticas politeístas gentílicas, consideradas bárbaras e imorais. Foi uma
comunidade continuamente sacudida por escândalos, mas que recebeu muita atenção
e cuidados por parte do apóstolo dos gentios.
O ex-doutor da Lei procurou
enriquecer a igreja de Corinto de todas as experiências que trazia da
instituição antioquense. Os cristãos da cidade viviam num oceano de júbilos
indefiníveis. A igreja possuía seu departamento de assistência aos que
necessitavam de pão, de vestuário, de remédios. Venerandas velhinhas
revezavam-se na tarefa santa de atender os mais desfavorecidos. Diariamente, à
noite, havia reuniões para comentar a passagem da vida do Cristo; em seguida à
pregação central e ao movimento das manifestações de cada um, todos entravam em
silêncio, a fim de ponderar o que recebiam do Céu através do profetismo. Os não
habituados ao dom das profecias possuíam faculdades curadoras, que eram
aproveitadas a favor dos enfermos, em uma sala próxima. O mediunismo
evangelizado, dos tempos modernos, é o mesmo profetismo das igrejas
apostólicas.
A igreja cristã de Corinto,
à época de Paulo, foi muito protegida pela presença de certos romanos ricos,
como Tito Justo. “Os israelitas pobres encontravam na igreja um lar generoso,
onde Deus se manifestava em demonstrações de bondade, ao contrário das
sinagogas, em cujo recinto encontravam apenas a rispidez de preceitos
tirânicos, nos lábios de sacerdotes sem piedade.”
3.1 Síntese dos principais ensinamentos da
primeira epístola aos coríntios
Necessidade da concórdia e união no
Cristo
Paulo suplica aos cristãos
“Eu rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais
todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais
unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer. Porque Cristo enviou-me não
para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a
cruz de Cristo se não faça vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que
perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque os judeus
pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo
crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para
os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de
Deus e sabedoria de Deus” (1 Cor 1: 10-11;17-18; 22-24).
A missão dos pregadores
“Pois quem é Paulo e quem é
Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a
cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o
que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora,
o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão, segundo
o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus
e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio
arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como
edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já
está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Cor 3:5-11).
Necessidade de vida moral reta
“Geralmente, se ouve que há
entre vós fornicação e fornicação tal, qual nem ainda entre os gentios, como é
haver quem abuse da mulher de seu pai. Estais inchados e nem ao menos vos
entristecestes, por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação. Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que
sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa
páscoa, foi sacrificado por nós. Pelo que façamos festa, não com o fermento
velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da
sinceridade e da verdade. Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis
com os que se prostituem” (1 Cor 5:1-2; 7-9).
“Ora, quanto às coisas que
me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; mas, por causa da
prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu
próprio marido. O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte
a mulher, ao marido. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se
ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar
do que abrasar-se (1 Cor 7:1-3; 8-9).
O cristão não é idólatra, nem faz
sacrifícios aos ídolos
“Ora, no tocante às coisas
sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas
o amor edifica. E, se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como
convém saber. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele. Assim que,
quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é
no mundo e que não há outro Deus, senão um só. Porque, ainda que haja também
alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na Terra (como há muitos deuses e
muitos senhores), todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para
quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas,
e nós por ele. Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (1 Cor 8: 1-6; 10:14).
Os dons do Espírito ou carismas
“Acerca dos dons
espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis
gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero
fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é
anátema! E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.
Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de
ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o
mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a
cada um para o que for útil. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da
sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro,
pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e
a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o de
discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a
interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas
coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Cor 12: 1-11).
A necessidade da caridade
“Ainda que eu falasse as
línguas dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que
soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé,
de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada
disso me aproveitaria. A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é
invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta
com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta. A caridade nunca falha; mas, havendo profecias, serão
aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque,
em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Mas, quando vier o que é
perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino,
falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que
cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque, agora, vemos por
espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte,
mas, então, conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé,
a esperança e a caridade, estas três; mas a maior destas é a caridade” (1 Cor
13: 1-13).
3.2 Síntese dos principais ensinamentos da
segunda epístola aos coríntios
O caráter do ministério cristão
“E graças a Deus, que sempre
nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro
do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se
salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente, cheiro de morte para morte;
mas, para aqueles, cheiro de vida para vida. E, para essas coisas, quem é idôneo?
Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus; antes,
falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus. E é por
Cristo que temos tal confiança em Deus; não que sejamos capazes, por nós, de
pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o
qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da letra,
mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica. Como não será de
maior glória o ministério do Espírito? Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o
Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Cor 2:14-17; 3: 4-6, 8 e 17).
As tribulações decorrentes da divulgação
do Cristianismo
“Pelo que, tendo este
ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; antes,
rejeitamos as coisas que, por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo
homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Porque não nos pregamos
a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos,
por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz,
é quem resplandeceu em nossos co- rações, para iluminação do conhecimento da
glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, esse tesouro em vasos de
barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos
atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos,
mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda
parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
se manifeste também em nossos corpos. E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste
também em nossa carne mortal” (2 Cor 4:1-2, 5-11).
Necessidade do bom ânimo; deter nas
coisas espirituais
“Por isso, não desfalecemos;
mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se
renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para
nós um peso eterno de glória mui excelente, não atentando nós nas coisas que se
veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas. Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste
tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por
mãos, eterna, nos céus. E, por isso, também gememos, desejando ser revestidos
da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos
achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos
carregados, não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal
seja absorvido pela vida. Ora, quem para isso mesmo nos preparou foi Deus, o
qual nos deu também o penhor do Espírito. Pelo que estamos sempre de bom ânimo,
sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (2 Cor
4:16-18; 5: 1-6).
Cuidados com os falsos profetas
“Mas temo que, assim como a
serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte
corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo.
Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se
recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes,
com razão o sofrereis. Porque penso que em nada fui inferior aos mais
excelentes apóstolos. E, se sou rude na palavra, não o sou, contudo, na
ciência; mas já em tudo nos temos feito conhecer totalmente entre vós. Pequei,
porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque
de graça vos anunciei o evangelho de Deus? Mas o que eu faço o farei para
cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam,
sejam achados assim como nós. Porque tais falsos apóstolos são obreiros
fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha,
porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que
os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será
conforme as suas obras” (2 Cor 11: 3-7, 12-15).
A epístola aos romanos é uma
maravilhosa apologia à fé, defendida por Paulo, que afirma que o justo viverá
pela fé.
Não poucos aprendizes
interpretaram erradamente a assertiva. Supuseram que viver pela fé seria
executar rigorosamente as cerimônias exteriores dos cultos religiosos.
Frequentar os templos, harmonizar-se com os sacerdotes, respeitar a simbologia
sectária, indicariam a presença do homem justo. Mas nem sempre vemos o bom
ritualista aliado ao bom homem. E, antes de tudo, é necessário ser criatura de
Deus, em todas as circunstâncias da existência. Paulo de Tarso que- ria dizer
que o justo será sempre fiel, viverá de modo invariável, na verdadeira
fidelidade ao Pai que está nos céus. Os dias são ridentes e tranquilos?
Tenhamos boa memória e não desdenhemos a moderação. São escuros e tristes?
Confiemos em Deus, sem cuja permissão a tempestade não desabaria. Veio o
abandono do mundo? O Pai jamais nos abandona. Chegaram as enfermidades, os
desenganos, a ingratidão e a morte? Eles são todos bons amigos, por trazerem
até nós a oportunidade de sermos justos, de vivermos pela fé, segundo as
disposições sagradas do Cristianismo.
As epístolas aos coríntios
reflete o compromisso de Paulo de sempre confiar e esperar no Cristo, como
também nos aconselha Emmanuel.
É natural confiar no Cristo
e aguardar nele, mas que dizer da angústia da alma atormentada no círculo de
cuidados terrestres, esperando egoisticamente que Jesus lhe venha satisfazer os
caprichos imediatos? É imprescindível, portanto, esperar em Cristo
com a noção real da eternidade. A filosofia do imediatismo, na Terra,
transforma os homens em crianças. Não vos prendais à idade do corpo físico, às
circunstâncias e condições transitórias. Indagai da própria consciência se
permaneceis com Jesus. E aguardai o futuro, amando e realizando com o bem,
convicto de que a esperança legítima não é repouso e, sim, confiança no
trabalho incessante.
Fonte:
Estudo
aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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