IGREJA CATÓLICA
APOSTÓLICA ROMANA E ORTODOXA
1. Igreja Católica
Apostólica Romana
Os Anais de Tacitus nos informam que na noite de 18 para 19 de julho do ano de 64, três quartos da cidade de Roma foram devastados por um incêndio que só seria dominado seis dias depois. Acusado da autoria do incêndio, o imperador Nero não só nega como responsabiliza os cristãos pelo atentado. Assim, na noite de 15 de agosto de 64, vários cristãos são punidos no circo de Nero — situado no local onde hoje se ergue a basílica de São Pedro —, reduzidos a tochas vivas que serviram de iluminação à realização dos jogos e das diversões que se seguiram ao suplício.
A partir desse acontecimento, as perseguições se tornaram corriqueiras por mais de dois séculos consecutivos, nos governos de Domiciano (81–96) a Diocleciano (184–302). A despeito dos suplícios e toda a sorte de infelicidades, o número de cristãos aumentava, dia após dia, ao longo dos anos. Em meados do século III, mais de um funcionário do Império é convertido ao Cristianismo. “Nós enchemos os campos, as cidades, o Fórum, o Senado, o Palácio”, escrevia o orgulhoso Tertuliano.
É importante considerar que
nessa época começou a surgir a palavra católico associada aos cristãos. O cognitivo
católica (ou católico), significando universal, foi incorporado às ações e aos
escritos das igrejas do Ocidente (romana) e do Oriente (ortodoxa).
O termo “católico’’ foi utilizado antes da Era Cristã por alguns escritores (Aristóteles, Zanão, Políbio), com o sentido de universal, oposto a particular. Não aparece na Bíblia, nem no Antigo nem no Novo Testamento, embora nela se encontre, como conceito fundamental, a ideia de universalidade da salvação. Aplicado à Igreja [romana e ortodoxa], o termo aparece, pela primeira vez, por volta do ano 105 d.C., na carta de Inácio, bispo de Antioquia, aos erminenses.
Os escritores cristãos
posteriores passaram a empregar o substantivo catholica como sinônimo de igreja
cristã, associando a essa palavra as ideias de universalidade geográfica e de
unidade de fé. Entretanto, somente com o Concílio Ecumênico de Constantinopla
(no ano 381) foi, oficialmente, aplicada às igrejas romana e ortodoxa a
designação “católica”. Este qualificativo, considerado como artigo de fé, assim
deve ser entendido e aceito pelos fiéis: Creio na una, santa, católica e
apostólica Igreja. Com a reforma protestante, e pela determinação do Concílio
de Trento (em 1571), restringiu-se o significado à expressão “católica’’, que
passou a designar, especialmente, a igreja de Roma. À denominação “igreja
católica’’ acrescentou-se a palavra “romana’’.
As primeiras raízes do
catolicismo surgem, provavelmente, no governo do imperador Valeriano (253–260)
que promoveu impiedoso ataque contra as comunidades cristãs, buscando atingir,
em especial, os seus líderes religiosos — bispos, padres e diáconos —, com o
propósito de eliminar a fé cristã do império.
A doutrina cristã, todavia,
encontrara nas perseguições os seus melhores recursos de propaganda e de expansão.
Seus princípios generosos encontravam guarida em todos os corações, seduzindo a
consciência de todos os estudiosos de alma livre e sincera. Observa-se-lhe a
influência no segundo século, em quase todos os departamentos da atividade
intelectual, com largos reflexos na legislação e nos costumes. Tertuliano
apresenta a sua apologia do Cristianismo, provocando admiração e respeito
gerais. Clemente de Alexandria e Orígenes surgem com a sua palavra autorizada,
defendendo a filosofia cristã, e com eles levanta-se um verdadeiro exército de
vozes que advogam a causa da verdade e da justiça, da redenção e do amor.
O trauma resultante das
perseguições impeliu os cristãos a desenvolverem estratégias que, de certa
forma, pudessem neutralizar os constantes ataques de que eram vítimas.
Delineia-se, então, a partir desse período, uma organização institucional que
será conhecida como a monarquia papal. Importa considerar que a organização da
Igreja Católica nos conduz, necessariamente, à organização da igreja cristã primitiva,
em Roma, que, por sua vez, reflete a estrutura organizacional das sinagogas.
Originalmente, a igreja cristã consistia de uma constelação de igrejas
independentes cujos adeptos se “reuniam nas casas dos membros abastados da
comunidade. Cada uma dessas casas contava com seus próprios líderes, os anciãos
ou “presbíteros”.
Os membros da igreja eram,
na maioria, imigrantes, escravos e pessoas livres. Essa diversidade cultural
favorecia a existência de uma malha de rituais e de doutrinas confusas e conflitantes,
ortodoxas e heréticas (pagãs). Diante desse panorama — perseguições de um lado,
conflitos doutrinários de outro —, foi natural a aceitação, pelos cristãos de
Roma, do “episcopado monárquico”.
Esse episcopado, que
antecede a monarquia papal, determinou que a direção da igreja romana caberia a
um bispo, sistema oposto ao existente de administração da igreja por um colégio
de anciãos, comuns nas demais igrejas cristãs do Império. A administração por
parte dos anciãos estava fundamentada nos preceitos da assembleia (ecklesia),
herdados das tradições judaicas.
2. O Cristianismo como religião do Estado
No século III, o Império
Romano estava dilacerado pela guerra civil, pela epidemia da peste e pela
vertiginosa sucessão de impera- dores, todos apoiados num exército esgotado
pelos ataques inimigos. A instabilidade política chegou ao extremo de, em 47
anos, elevar ao poder 25 imperadores.
As forças espirituais que
acompanham todos os movimentos do orbe, sob a égide de Jesus, procuram dispor
os alicerces de novos acontecimentos, que devem preparar a sociedade romana
para resgates e para a provação. A invasão dos povos considerados bárbaros é
então entrevista. Uma forte anarquia militar dificulta a solução dos problemas
de ordem coletiva, elevando e abatendo imperadores de um dia para outro.
Sentindo a aproximação de grandes sucessos e antevendo a impossibilidade de
manter a unidade imperial, Diocleciano organiza a Tetrarquia, ou governo de
quatro soberanos, com quatro grandes capitais. Retirando-se para Salona,
exausto da tarefa governativa, ocorre a rebelião militar que aclama Augusto a
Constantino [285–337], filho de Constâncio Cloro, contrariando as disposições
dos dois Césares, sucessores de Diocleciano e Maximiano. A luta se estabelece e
Constantino vence Maxêncio às portas de Roma, penetrando a cidade, vitorioso,
para ser recebido em triunfo. Junto dele, o Cristianismo ascende à tarefa do
Estado, com o edito de Milão.
A história registra que
Constantino foi proclamado imperador na Bretanha, em 306, enquanto Maxêncio
conspirava em Roma.
Constantino prosseguiu com
suas campanhas na Gália e entrou em Roma com seu exército em 312, derrotando
Maxêncio às margens do rio Tibre. Em 324 fez-se imperador do Ocidente e do
Oriente. Em 330 converteu a cidade grega de Bizâncio em capital do império, com
o nome de Constantinopla (em 1453, sob o domínio turco, foi rebatizada de
Istambul).
Embora não fosse cristão,
pois só foi batizado em seu leito de morte, Constantino declarava-se protetor
da Igreja. O Cristianismo foi declarado religião oficial do império. O Concílio
de Niceia (o primeiro concílio ecumênico) foi convocado pelo imperador e
realizou-se, em 325, numa sala do palácio imperial de veraneio. As conclusões
do concílio, compendiadas no símbolo de fé, foram promulgadas como lei do
império.
Transformar o Cristianismo
em religião foi um ato político do imperador, amparado por suas percepções
psíquicas.
O imperador Constantino era
pessoalmente dotado de faculdades mediúnicas e sujeito à influência dos
Espíritos. Os principais sucessos de sua vida assinalam-se por intervenções
ocultas. Quando planejava apoderar-se de Roma, um
impulso interior o induziu a se recomendar a algum poder sobrenatural e invocar
a proteção divina, com apoio das forças humanas. Caiu,
então, em absorta meditação das vicissitudes políticas de que fora testemunha. Reconhece
que depositar confiança na “multidão dos deuses’’ traz infelicidade, ao passo
que seu pai Constâncio, secreto adorador do Deus único, terminara seus dias em
paz. Constantino decidiu-se a suplicar ao Deus de seu pai que prestasse mão
forte à sua empresa. A resposta a essa prece foi uma visão maravilhosa, que ele
próprio referia, muitos anos depois, ao historiador Eusébio, afirmando-a sob
juramento e com as seguintes particularidades: “Uma tarde, marchando à frente
das tropas, divisou no céu, acima do sol que já declinava para o ocaso, uma
cruz luminosa com esta inscrição: “Com este sinal vencerás’’. Todo o exército e
muitos espectadores, que o rodeavam viram com ele, estupefatos, esse prodígio.
Logo foram chamados ourives e o imperador lhes deu instruções para que a cruz
misteriosa fosse reproduzida em ouro e pedras preciosas.
Foi assim que Constantino,
em seu caminho de realizações, consegue proteger o Cristianismo e os cristãos
das perseguições.
Consegue levar a efeito a
nova organização administrativa do Império, começada no governo de Dioclesiano,
dividindo-o em quatro Prefeituras, que foram as do Oriente, da Ilíria, da
Itália e das Gálias, que, por sua vez, eram divididas em dioceses dirigidas
respectivamente por prefeitos e vigários. Findo o
reinado de Constantino, aparecem os seus filhos, que lhe não seguem as
tradições. Mas, por volta do ano 381, surge a figura de
Teodósio, que declara o Cristianismo religião oficial do Estado, decretando,
simultaneamente, a extinção dos derradeiros traços do politeísmo romano. É
então que todos os povos reconhecem a grande força moral da doutrina do
Crucificado, pelo advento da qual milhares de homens haviam dado a própria vida
no campo do martírio e do sacrifício.
3. A monarquia papal
Durante o governo de
Constantino os bispos de Roma alcançaram um prestigio jamais imaginado.
Eles se tornaram
celebridades comparáveis aos mais prestigiados senadores da cidade. Era de se
esperar que os bispos de todo o mundo romano assumissem, agora, o papel de
juízes, governadores, enfim, de grandes servidores do Estado. No caso
do bispo de Roma, tais funções se tornavam ainda mais complexas, pois se
tratava de liderar a Igreja numa capital pagã que era o centro simbólico do
mundo, o foco do próprio sentido de identidade do povo romano. Constantino
lavou as mãos com relação a Roma, em 324, e tratou de criar uma capital no
Leste. Caberia aos papas criar uma Roma cristã. Eles deram início a tal empreendimento
construindo igrejas, transformando os modestos tituli (centros eclesiásticos
comunitários) em algo mais grandioso e criando edifícios novos e mais públicos,
se bem que a princípio em nada rivalizassem com as grandes basílicas imperiais
de Latrão e de São Pedro [esta mandada construir por Constantino]. Nos cem anos
seguintes, as igrejas se espalharam pela cidade.
Emmanuel, na obra A caminho
da luz, nos esclarece o seguinte:
A indigência dos homens não
compreendeu a dádiva do plano espiritual, porque, logo depois da vitória, os
bispos romanos solicitavam prerrogativas injustas sobre os seus humildes
companheiros de episcopado. O mesmo espírito de ambição e de imperialismo, que
de longo tempo trabalhava o organismo Império, dominou igualmente a igreja de
Roma, que se arvorou em suserana e censora de todas as demais do planeta.
Cooperando com o Estado, faz sentir a força das suas determinações arbitrárias.
Trezentos anos lutaram os mensageiros do Cristo, procurando ampará-la no
caminho do amor e da humildade, até que a deixaram enveredar pelas estradas da
sombra, para o esforço de salvação e experiência, e, tão logo a abandonaram ao
penoso trabalho de aperfeiçoar-se a si mesma, eis que o imperador Focas
favorece a criação do Papado, no ano 607. A decisão imperial faculta aos bispos
de Roma prerrogativas e direitos até então jamais justificados. Entronizam-se,
mais uma vez, o orgulho e a ambição da cidade dos Césares. Em 610, Focas
[imperador romano que viveu entre 602 e 610] é chamado ao mundo dos invisíveis,
deixando no orbe a consolidação do Papado.
4. A tradução da
Bíblia para o latim
Aproveitando-se das
costumeiras disputas políticas existentes entre as igrejas do Ocidente e as do
Oriente, e desejoso de estabelecer a hegemonia do Cristianismo, segundo as
orientações da igreja de Roma, o papa Dâmaso determina ao seu secretário que
traduza para o latim a Bíblia, pois, no seu entender, ‘‘era necessário que a
Igreja do Ocidente se tornasse latina’’.
O secretário de Dâmaso era
Eusebius Hieronymus Sophronius, embora fosse mais conhecido na igreja por
Jerônimo. Ele foi treinado nos clássicos em latim e grego e repreendia
severamente a si mesmo por sua paixão pelos autores seculares. Jerônimo já
havia se tornado um dos maiores estudiosos na época em que começou a trabalhar
para Dâmaso. Desse modo, Damaso sugeriu que seu secretário produzisse uma
tradução latina da Bíblia, que eliminasse as imprecisões das traduções mais
antigas.
Em 382 Jerônimo inicia a sua
obra, terminando a tradução em 405, não sendo esta, porém, a única.
Durante aqueles 23 anos, ele
também produziu comentários e outros escritos. Jerônimo começou sua tradução trabalhando a
partir da Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento. Porém, logo
estabeleceu um precedente para todos os bons tradutores do Antigo Testamento:
passou a trabalhar a partir dos originais em hebraico.
Jerônimo consultou muitos
rabinos e procurava com isso atingir um alto grau de perfeição. Jerônimo ficou
surpreso com o fato de as Escrituras hebraicas não incluírem os livros que
chamamos hoje apócrifos. Por terem sido incluídos na Septuaginta, Jerônimo foi
compelido a incluí-los também em sua tradução, mas deixou sua opinião bastante
clara: eles eram liber ecclesiastici (livros da igreja), e não liber canonici
(livros canônicos). Embora os canônicos pudessem ser usados para a edificação,
não poderiam ser utilizados para estabelecer doutrina alguma.
A biblioteca divina, termo
pelo qual Jerônimo se referia à Bíblia, foi finalmente disponibilizada em uma
versão precisa e muito bem escrita, na linguagem usada comumente nas igrejas do
Ocidente. Ficou conhecida por Vulgata (do latim vulgus, comum). Ironicamente, a tradução da Bíblia no idioma
que toda a igreja ocidental pudesse usar, provavelmente, fez com que a igreja
tivesse um culto de adoração e uma Bíblia que nenhum leigo podia entender.
5. As Cruzadas
As Cruzadas,
tradicionalmente, são conhecidas como expedições de caráter militar, mas que
foram organizadas pela Igreja, com o objetivo de combaterem os inimigos do
Cristianismo. Esse movimento teve início no final do século XI e se estendeu
até meados do século XIII. Os Espíritos superiores relatam que esse processo
começou, na verdade, em séculos anteriores em que a vaidade e o orgulho conta-
minaram os responsáveis pelo Catolicismo.
Em todo o século VI, de
acordo com as deliberações efetuadas no plano invisível, aparecem grandes
vultos de sabedoria, contratando a vaidade orgulhosa dos bispos católicos, que
em vez de herdarem os tesouros da humildade e amor do Crucificado, reclamam
para si a vida suntuosa, as honrarias e prerrogativas dos imperadores. Os
chefes eclesiásticos, guindados à mais alta preponderância política, não se
lembravam da pobreza e da simplicidade apostólica, nem das palavras do Messias,
que afirmara não ser o seu reino ainda deste mundo.
O movimento cristão passa
então a contar com uma série de modificações, fundamentadas nas interpretações
pessoais dos padres que procuravam adequar a religião cristã aos seus
interesses.
O Cristianismo não aparecia
com aquela mesma humildade de outros tempos. Suas cruzes e cálices deixavam
entrever a cooperação do ouro e das pedrarias, mal lembrando a madeira tosca,
da época gloriosa das virtudes apostólicas. Seus concílios, como os de Niceia,
Constantinopla, Éfeso e Calcedônia, não eram assembleias que imitassem as
reuniões plácidas e humildes da Galileia. A união com o Estado era motivo para
grandes espetáculos de riqueza e de vaidade orgulhosa, em contraposição com os
ensinos daquele que não possuía uma pedra para repousar a cabeça dolorida. As
autoridades eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o povo,
impondo-lhe suas ideias e suas concepções, e, longe de educarem a alma das
massas na sublime lição do Nazareno, entram em acordo com a sua preferência
pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil do mundo externo, tão do gosto
dos antigos romanos pouco inclinados às indagações transcendentes.
Dessa forma, com a expansão
muçulmana, entre 622–1089, iniciam-se as Cruzadas, guerra religiosa
estabelecida para combater, inicialmente, os seguidores do Islã, mas que
atingiu todos os povos não cristãos, cognominados infiéis. As cruzadas foram em
número de oito.
A primeira, decidida no
Concílio de Clemont, sob a direção do papa Urano II, em abril de 1096, foi
comandada por Pedro, o Eremita, e Gautier Sans Avoir, produzindo o massacre dos
judeus na Renânia. A segunda, realizada em 14 de dezembro de 1145, por ordem do
papa Eugénio III, é coordenada pelo rei da França Luis VII e pelo imperador
alemão Conrado III. Surge a figura muçulmana de Saladino, que muito trabalho
deu aos cruzados. A terceira Cruzada foi organizada em 1188, por Frederico
Barba-Roxa, imperador alemão, Filipe Augusto, rei de França, e Ricardo Coração
de Leão, rei da Inglaterra, a pedido do papa Gregório VIII. A quarta Cruzada,
proclamada em 1198 pelo papa Inocêncio III, é dirigida por Bonifácio I de
Montferrat e Balduíno IX de Flandres. A quinta Cruzada inicia-se em 1215, após
apelo do papa Inocêncio III, no quarto concílio de Latrão. Foi dirigida por João
de Brienne, rei de Jerusalém e André II, rei da Hungria. A sexta Cruzada, sob o
domínio do papa Gregório IX, começa em novembro de 1225, tendo como comandante
o imperador Frederico II, de Hohenstaufen. A sétima Cruzada é decidida no
concílio de Lyon, em 1248, e tem o comando do rei francês Luís IX (São Luis). A
última Cruzada, iniciada em março de 1270, também é comandada por Luís IX, mas
o exército cruzado, em três meses, é arrasado pela peste, e o que sobrou, foi
dizimado por uma tempestade.
A igreja de Roma herdando os
costumes romanos e suas disposições multisseculares, procurou um acordo com as
doutrinas consideradas pagãs, pela posteridade, modificando as tradições
puramente cristãs, adaptando textos, improvisando novidades injustificáveis e
organizando, finalmente, o Catolicismo sobre os escombros da dou- trina
deturpada. É assim que aparecem novos dogmas, novas
modalidades doutrinárias, o culto dos ídolos nas igrejas, as espetaculosas
festas do culto externo, copiados quase todos os costumes da Roma anticristã.
6. Igreja Católica
Apostólica Ortodoxa
Nos começos do Cristianismo
havia cinco patriarcas. Cada um deles era o cabeça de um centro de expansão da
nova fé, e cada um deles tinha como função expandir o Cristianismo numa certa
direção geográfica. Primeiro o Patriarca de Jerusalém, no Centro, onde Jesus
morreu e ressuscitou. Ao norte, o Patriarca de Constantinopla. Ao sul, o
Patriarca de Alexandria, no Egito. Ao Oriente, o Patriarca de Antioquia. E a
Ocidente, o Patriarca de Roma.
O Patriarca de Roma, nos
séculos posteriores, passou a ser chamado de Papa. A Igreja Ortodoxa, uma das
três grandes divisões do Cristianismo, “também denominada Igreja do Oriente (ou
Igreja Ortodoxa do Oriente), designa o grupo de igrejas que se consideram
depositárias da doutrina e do ritual dos padres apostólicos [guardiões da moral
cristã].”10 Foram eles: Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo de
Esmirna, Hermes de Roma e Barnabé de Alexandria.
Representando a fé histórica
da cristandade oriental a Igreja Ortodoxa é mais limitativa do que as Igrejas
orientais, não somente por excluir os cristãos orientais que se reuniram à
Igreja Católica Apostólica Romana uniatas, como também por não compreender as
Igrejas que se separaram no século V por motivos doutrinários (nestorianismo,
monofisismo). Oficialmente chamada Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, ou
Igreja grega, em oposição à Igreja latina, católica e romana. A Igreja Ortodoxa
abrange os grupos que se originaram do grande cisma de 1054 e que dependem
historicamente de Bizâncio (Constantinopla).
As igrejas orientais se
subdividem, por sua vez, em três grupos: a Ortodoxa do Oriente, as igrejas
nestorianas e as dos monofisistas. As igrejas orientais, embora se aglutinem em
torno da igreja Romana, apresentam diferenças quanto aos ritos e às normas
disciplinares.
As igrejas orientais
nestorianas têm como base as interpretações de Nestor (ou Nestório), patriarca
de Constantinopla no ano de 428. Nestor afirmava que em Jesus havia dois “Eu”
ou duas pessoas: uma divina, com a sua natureza divina, e outra, humana, com a
sua natureza humana.
Ele rejeitava a utilização
do termo Theotokos, uma palavra muito usada para referir-se a Maria e que
significa literalmente Mãe de Deus. Nestor se opôs ao termo não porque
exaltasse a pessoa da Virgem Maria, mas porque abordava a divindade de Cristo
de tal maneira que poderia ofuscar sua natureza humana. Para solucionar o
problema Nestor sugeriu um novo termo — Cristotokos (Mãe de Cristo), querendo
com isso afirmar que Maria não era progenitora da divindade mas apenas da
humanidade de Cristo. A discussão promoveu intrigas e manobras políticas que
terminaram na convocação do terceiro concílio ecumênico, que ocorreu em Éfeso
no dia 7 de junho de 431. A polêmica ficou mais uma vez em torno dos
alexandrinos e antiocanos, estes apoiavam Nestor enquanto os primeiros se
opuseram fortemente. O concílio terminou em 433 com parecer favorável a
Alexandria, quando o patriarca de Constantinopla foi exilado e posteriormente
transferido para um oásis no deserto do Líbano onde ficou até o fim de sua
vida. O termo Theotokos, designado a Virgem Maria, se tornou dogma da igreja,
como sinal de ortodoxia, tanto para a igreja do Oriente quanto à do Ocidente.
Os monofisistas
representavam uma corrente — ainda relativa- mente numerosa nos dias atuais —
de teólogos cristãos, dirigida por Dióscoro de Alexandria, que propôs (século
quinto) uma doutrina contrária à de Nestor: que em Jesus haveria um só Eu
divino e uma só natureza divina. A sua tese foi rejeitada, em 451, pelo
Concílio de Calcedônia, que decretou: em Jesus há uma só pessoa divina, ou um
só Eu, mas duas naturezas (a divina e a humana).
Historicamente, essas
igrejas têm origem nas comunidades cristãs de Antioquia, Alexandria, Corinto e
Tessalônica. A cisão, ocorrida definitivamente no século XI, se deu pelo fato
de os cristãos orientais não aceitarem a supremacia dos bispos de Roma, quando
a sede do Império Romano foi transferida para Constantinopla, no ano 330.
As divergências se acentuam
doutrinária e politicamente, sobretudo nos séculos V e VI. Após o segundo
Concílio de Niceia (em 787), os orientais não aceitam mais o ecumenismo dos
concílios, o celibato dos padres nem a santíssima trindade.
A hierarquia sacerdotal é
composta de diáconos, padres, bispos, arcebispos, metropolitas e patriarcas. O
celibato é obrigatório apenas para os bispos, não para os padres, embora o
casamento deva ocorrer antes da ordenação. A Igreja Ortodoxa tem claustros e
monges. Costuma ser chamada de Igreja da Ressurreição, porque dá ênfase à
ressurreição do Cristo, em suas prédicas. Tem sete sacramentos e acredita no
Dia do Juízo Final. Os serviços religiosos atraem a curiosidades popular pela
beleza que oferecem. As igrejas são construídas como o Templo de Salomão, em
Jerusalém: há um vestíbulo com a pia batismal; a nave, onde a congregação
permanece durante o ofício religioso; o santuário, oculto atrás de um biombo, e
que corresponde ao “Santo dos santos” do templo judaico. Apenas o padre tem
permissão de entrar no santuário. Durante o serviço religioso a congregação
pode ver, à distância, o santuário. O biombo que oculta o santuário se chama
iconostas (parede de imagens), porque é coberto de pinturas religiosas, ou
ícones, típicos da Igreja Ortodoxa.
A
igreja católica romana
A igreja católica é, entre
as organizações cristãs, a que possui a mais rígida e organizada hierarquia
administrativa, formada pelo papa, pelos bispos e padres. Papa é uma palavra
latina, de afeto e respeito, que significa “papai’’. O papa é também denominado
“sumo pontífice”, título latino pagão (pontifix = construtor de pontes). A
igreja católica destaca a posição do papa porque, segundo a sua teologia, ele é
o sucessor de Pedro, o apóstolo. Em 1870, foi proclamado o dogma da
infabilidade papal em questões de fé.
O vocábulo bispo, do grego
episcopos, quer dizer “supervisor’’. O bispo, na hierarquia católica, é
considerado o principal pastor e centro da igreja cristã. O território sobre o
qual governa um bispo é chamado de “diocese’’. O papa é o bispo de Roma. Assim
como o papa é sucessor de Pedro, os bispos seguem as pegadas dos apóstolos. Uma
das funções mais importantes de um bispo é ordenar padres em sua diocese.
Pontífice é sinônimo de
sacerdote ou padre. Foi um termo amplamente empregado na igreja cristã
primitiva para designar os bispos. A principal tarefa de um padre é dirigir sua
paróquia ou comunidade pela pregação e pelo serviço divino, sobretudo pela
administração dos sacramentos (considerados as manifestações materiais da graça
de Deus). Os padres devem dedicar sua vida a Deus, à Igreja e à Humanidade,
razão por que permanecem no celibato e não podem constituir família.
A Igreja Católica se
considera uma expressão visível do reino de Deus no plano físico. A teologia
católica ensina que a Igreja tem as quatro características que distinguiram a
primeira igreja cristã: é única (existe apenas uma Igreja fiel à palavra de
Jesus); santa (é santa porque ensina uma doutrina santa e oferece todos os
meios para a santidade: os sacramentos); católica (quer dizer universal,
mundial, para todos) e apostólica (a Igreja é dirigida por pessoas que são
sucessoras dos apóstolos).
A Igreja Católica possui
sete sacramentos, a saber: batismo da criança (por meio dele a criança ingressa
na Igreja); confirmação (sacramento administrado por um bispo quando a criança
tem, mais ou menos, 12 anos. A criança é untada com óleo e, assim, confirma sua
fé católica. Trata-se de uma cerimônia realizada perto da festa de
Pentecostes); eucaristia (parte do serviço divino do sacerdote que entrega ao
crente o pão consagrado ou hóstia. A hóstia representa o corpo do Cristo. A
eucaristia é também chamada comunhão); penitência (consiste na confissão,
absolvição e atos de contrição); unção de enfermos (o padre unge a pessoa
enferma na testa e nas mãos, para curá-lo); ordem (é a ordenação sacerdotal,
realizada por um bispo, utilizando orações e imposição de mãos); matrimônio
(aqui o elemento crucial não é a bênção do sacerdote, mas os votos mútuos que
os noivos fazem na presença do sacerdote e das testemunhas).
Os católicos acreditam que o
“povo de Deus’’ é formado pela comunidade de crentes, que formam a “comunhão
dos santos’’, fazendo parte desta comunidade os vivos, os mortos que se
encontram no purgatório e os bem-aventurados do céu. Os católicos oram a Jesus,
a Maria santíssima e aos santos. Os santos são pessoas que dedicaram a vida a
honrar a Deus de maneira excepcional, por exemplo, morrendo como mártires ou
fazendo milagres. Até o ano 1172 os bispos podiam dizer quem podia ser
canonizado; a partir de então somente o papa tem autoridade para isso.
Desde 1960 a Igreja Católica
vem passando uma série de renovações, iniciadas pelo papa João XXIII, quando
realizou um encontro geral dos bispos (concílio) no Vaticano. Algumas dessas
mudanças são significativas: campanha de leitura da Bíblia, formando grupos de
estudo; relacionamento com outras igrejas cristãs; participação em atividades
ecumênicas, não necessariamente cristãs; participação do Conselho Mundial de
Igrejas, como observadora.
A Igreja Católica possui
vários dogmas de natureza teológica. Dogma (do latim dogma, e do grego dógma),
significa ato ou decisão. Trata-se de um ponto fundamental e indiscutível de
uma doutrina religiosa, e, por extensão, de qualquer doutrina ou sistema. O
dogma da santíssima trindade afirma que há um só Deus em três pessoas: o Pai, o
Filho e o Espírito Santo. O dogma do pecado original ensina que os males da
humanidade terrestre se reportam a Adão e Eva que comeram o fruto proibido da
árvore da vida, razão por que foram expulsos do Paraíso. O homem pecador foi
resgatado do erro pela imolação ou crucificação do Cristo. O dogma das penas
eternas liberta o homem do sofrimento eterno, em razão dos erros cometido, se
este aceitar as instruções do Catolicismo que determina: “Fora da igreja não há
salvação”.
Fonte:
Estudo aprofundado da doutrina espírita. 1. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2013
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