CONVERSÃO E
MISSÃO DE PAULO DE TARSO
A conversão de Saulo de
Tarso ao Cristianismo, que teve início numa viagem de perseguição aos cristãos,
representa a dádiva santa da visão gloriosa do Mestre, às portas de Damasco.
·
O Mestre chama-o da sua esfera de claridades
imortais. Paulo tateia na treva das experiências humanas e responde:
· — Senhor, que queres que eu faça? Emmanuel: Paulo e Estêvão. Breve Notícia.
A missão de Paulo pode ser resumida em três palavras: fé, esperança e caridade.
·
Coloca assim sem equívoco, a caridade acima
até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como
do sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crença particular.
Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XV, item 7.
1. Dados biográficos de Saulo de Tarso
Paulo é conhecido como o
Apóstolo dos Gentios (Atos dos Apóstolos, 9:15; Gálatas, 1:15-23; Efésios,
3:1-6), em razão do devotado trabalho evangélico que realizou junto aos povos
pagãos. Nasceu em Tarso, capital da Cilícia, no início do séc. I da nossa Era
(Atos dos Apóstolos, 9:11; 21:39; 22:3), recebendo o nome hebraico de Saulo.
Fazia parte de uma família judaica helenística, da tribo de Benjamim
(Filipenses, 3:5 e Romanos, 11:1), cujos integrantes eram judeus da diáspora.
Na infância, aprendeu sobre a sua herança judaica na sinagoga local de Tarso.
No entanto, obteve os estágios finais de sua educação religiosa em Jerusalém,
sob a orientação do rabino Gamaliel (Atos dos Apóstolos, 5:34 e 22:3). Era
também cidadão romano, por ter nascido numa província de Roma (Atos dos
Apóstolos, 22:25-28; 23:27). A Cilícia era um distrito da Ásia Menor, situado
próximo da Síria, pertencendo à província de Acaia.
O limite, ao norte, era o monte Tauro [ou Taurus]. Estava dividida em duas províncias: Cilícia Traquéa e Cilícia Pádias, a primeira muito montanhosa e agreste, e a segunda, embora também em parte coberta de rochedos, dispunha de algumas planícies férteis. Importante estrada cortava o país de este a oeste, passando pela cidade de Tarso. Nos tempos romanos a Cilícia exportava grande quantidade de lã caprina, chamada cilicium, da qual se faziam tendas. Esse foi, aliás, o ofício de Saulo, uma vez que era praxe entre os de sua raça, inclusive os mais ricos e ilustrados, aprender sempre um ofício manual.
Atualmente, a Cilícia
pertence à Turquia. Pelo Ocidente se liga a Europa, através do estreito de
Bosfóro; pelo Oriente, com o Irã e a Rússia; fazendo fronteira com o Iraque e a
Síria, ao sul. A terra natal do apóstolo contava com cerca de 500 mil
habitantes, na época do seu nascimento, possuindo um bom porto e um centro
comercial movimentado e importante. Era uma cidade cosmopolita que desempenhou
relevante papel nas guerras civis dos romanos e estava isenta de pagar impostos
a Roma. Tarso era formada de uma população heterogênea de marcada influência
grega.
A Cilícia era altamente
civilizada ao longo da costa, mas bárbara nos altiplanos do monte Taurus.
Tarso, a capital, era famosa pelos seus filósofos e por suas escolas. Os judeus
da diáspora estabeleceram ali importante colônia, como também em Antioquia,
Mileto, Éfeso, Esmirna.
Essas cidades fariam parte
do roteiro da pregação evangélica do apóstolo. Em Jerusalém, conquistou uma
posição de importância, como fariseu (Atos dos Apóstolos, 23: 6; 26:5 e
Filipenses, 3:5), tornando-se membro do Sinédrio. Paulo possuía poderosa
inteligência e considerável cultura, fatores que muito o favoreceram em suas
viagens missionárias. Falava fluentemente o grego, o latim, além do hebraico.
Elevado à posição de doutor da Lei, vivia em Jerusalém, desfrutando do
prestígio que a posição lhe impunha, junto ao sinédrio, e em razão das relações
de sua família.
2. A perseguição de Saulo de Tarso aos
cristãos
Com a morte de Estêvão, a
vida do impetuoso doutor da Lei sofre profunda e irreversível transformação.
Alucinado por descobrir que Estêvão é o mesmo Jeziel, irmão desaparecido da sua
amada noiva Abigail, vê desmoronar os seus sonhos matrimoniais.
Abigail, por outro lado,
afastada de Saulo, se converte ao Cristianismo, recebendo de Ananias as luzes
sagradas da nova revelação.
Não muito tempo depois da
sua conversão ao Cristianismo, Abigail cai irremediavelmente doente, vindo a
morrer nos braços de um Saulo enlouquecido de dor.
Durante três dias, Saulo
deixou-se ficar em companhia dos amigos generosos, recordando a noiva
inesquecível. Profundamente abatido, procurava remédio para as mágoas íntimas,
na contemplação da paisagem que Abigail tanto amara. Acusava
a si próprio de não haver chegado mais cedo para arrebatá-la à enfermidade
dolorosa.
Pensamentos amargos o
atormentavam, tomado de angustioso arrependimento. Afinal, com a rigidez das
suas paixões, aniquilara todas as possibilidades de ventura. Com o rigorismo de
sua perseguição implacável, Estêvão encontrara o suplício terrível; com o
orgulho inflexível do coração, atirara a noiva ao antro indevassável do túmulo.
Entretanto, não podia esquecer que devia todas as coincidências penosas àquele
Cristo crucificado, que não pudera compreender.
Ensandecido pela dor, o
orgulhoso fariseu transferiu sua mágoa e revolta para Jesus e para seus
seguidores.
Saulo
de Tarso galvanizara o ódio pessoal ao Messias escarnecido. Agora que se
encontrava só buscaria concentrar esforços na punição e corretivo de quantos
encontrasse transviados da Lei. Julgando-se prejudicado pela difusão do
Evangelho, renovaria processos da perseguição infamante. Sem outras esperanças,
sem novos ideais, já que lhe faltavam os fundamentos para constituir um lar,
entregar-se-ia de corpo e alma à defesa de Moisés, preservando a fé e a
tranquilidade dos compatrícios.
Elabora então um plano de
perseguição aos cristãos, especialmente dirigido a Ananias, responsável direto
pela conversão de Abigail.
Posteriormente, apresenta
esse plano ao Sinédrio, esclarecendo que, a despeito da paz reinante em
Jerusalém, obtida pelo encarceramento dos principais líderes da igreja do
“Caminho”, o mesmo não acontecia nas cidades de Jope e Cesareia onde eram
frequentes os distúrbios provocados pelos adeptos do Cristo. Concluindo a
exposição, afirma:
Não somente nesses núcleos
precisamos desenvolver a obra saneadora mas, ainda agora, chegam-se notícias
alarmantes de Damasco, a requerem providências imediatas. Localizam-se ali
perigosos elementos. Um velho, chamado Ananias, lá está perturbando a vida de
quantos necessitam de paz nas sinagogas. Não é justo que o mais alto tribunal
da raça se desinteresse das coletividades israelitas noutros setores. Proponho,
então, estendermos o benefício dessa campanha a outras cidades. Para esse fim,
ofereço todos os meus préstimos pessoais, sem ônus à causa que servimos.
Bastar-me-á, tão só, o necessário documento de habilitação, a fim de acionar
todos os recursos que me pareçam acertados, inclusive o da própria pena de
morte, quando se julgue necessária e oportuna.
3. A conversão de Saulo de Tarso ao
Cristianismo
O plano de Saulo foi
totalmente aceito pelo Sinédrio que lhe concedeu liberdade para agir
livremente.
De posse das cartas de
habilitação para agir convenientemente, em cooperação com as sinagogas de
Damasco, aceitou a companhia de três varões respeitáveis, que se ofereceram a
acompanhá-lo na qualidade de servidores muito amigos.
A fim de três dias, a
pequena caravana se deslocou de Jerusalém para a extensa planície da Síria.
As ações de Paulo antes da
sua conversão, iniciada, propriamente, na estrada de Damasco foram guiadas por
uma consciência mal informada. Assume a postura do inquisidor religioso que não
oferece espaço mental para as orientações superiores ou para ponderações justas
proferidas por amigos, por exemplo, as de Gamaliel. Não satisfeito com a
perseguição que promoveu em Jerusalém, pediu cartas ao príncipe dos sacerdotes
para aprisionar, nas sinagogas de Damasco, os cristãos que ali buscavam abrigo
(Atos dos Apóstolos, 9: 1-2).
Aproximando-se de Damasco,
subitamente uma luz vinda do céu o envolveu de claridade. Caindo por terra,
ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Ele
perguntou: “quem és, Senhor?”. E a resposta: “Eu sou Jesus, a quem tu estás
perseguindo. Mas levante-te, entra na cidade, e te dirão o que deves fazer”. Os
homens que com ele viajavam detiveram-se, emudecidos de espanto, ouvindo a voz,
mas não vendo ninguém. Saulo ergueu-se do chão. Mas, embora tivesse os olhos
abertos, não via nada. Conduzindo-o, então, pela mão, fizeram-no entrar em
Damasco. Esteve três dias sem ver, e nada comeu ou bebeu. Ora, vivia em Damasco
um discípulo chamado Ananias. O Senhor lhe disse em visão: “Ananias!”. Ele
respondeu: “Estou aqui Senhor!”. E o Senhor prosseguiu: “Levanta-te, vai pela
rua chamada Direita e procura, na casa de Judas, por alguém de nome Saulo, de
Tarso. Ele está orando e acaba de ver numa visão um homem chamado Ananias
entrar e lhe impor as mãos para que recobre a vista”. Ananias respondeu:
“Senhor, ouvi de muitos, a respeito deste homem, quantos males fez a teus
santos em Jerusalém. E está aqui com a autorização dos chefes dos sacerdotes
para prender a todos os que invocam o teu nome”. Mas o Senhor insistiu: “Vai,
porque este homem é para mim um instrumento de escol para levar o meu nome
diante das nações pagãs, dos reis, e dos filhos de Israel. Eu mesmo lhe
mostrarei quanto lhe é preciso sofrer em favor do meu nome”. Ananias partiu.
Entrou na casa, impôs sobre ele as mãos e disse:
“Saulo, meu irmão, o Senhor
me enviou, Jesus o mesmo que te apareceu no caminho por onde vinhas. É para que
recuperes a vista e fique repleto do Espírito Santo”. Logo caíram-lhe dos olhos
como que umas escamas, e recobrou a vista. Recebeu, então, o batismo e, tendo
tomado alimento, sentiu-se reconfortado. Saulo esteve alguns dias com os
discípulos em Damasco e, imediatamente, nas sinagogas, começou a proclamar
Jesus, afirmando que ele é o filho de Deus. To- dos os que o ouviam ficavam
estupefatos e diziam: “mas não é este o que devastava em Jerusalém os que
invocavam esse nome, e veio para cá expressamente com o fim de prendê-los e
conduzi-los aos chefes sacerdotes?”. Saulo, porém, crescia mais e mais em poder
e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo
(Atos dos Apóstolos, 9: 3-22).
Os acontecimentos relativos
à conversão de Saulo, merecem reflexões mais aprofundadas.
O socorro concedido a Paulo
de Tarso oferece, porém, ensina- mento profundo. Antes de recebê-lo, o
ex-perseguidor rende-se incondicionalmente ao Cristo; penetra a cidade, em obediência
à recomendação divina, derrotado e sozinho, revelando extrema renúncia, onde
fora aplaudido triunfador. Acolhido em hospedaria singela, abandonado de todos
os companheiros, confiou em Jesus e recebeu-lhe a sublime cooperação.
É importante notar, contudo,
que o Senhor, utilizando a instrumentalidade de Ananias, não lhe cura senão os
olhos, restituindo-lhe o dom de ver. Paulo sente que lhe caem escamas dos
órgãos visuais e, desde então, oferecendo-se ao trabalho do Cristo, entra no
caminho do sacrifício, a fim de extrair, por si mesmo, as demais escamas que
lhe obscureciam as outras zonas do ser.
É raro alguém transformar-se
tão rapidamente, como aconteceu com Saulo. Sob o influxo da presença e
chamamento do Mestre, na estrada de Damasco, o impetuoso fariseu muda
radicalmente a sua posição na vida: de perseguidor passa a ser protetor de
todos os cristãos.
Não é difícil imaginar os
sacrifícios e conflitos que o doutor de Tarso vivenciou para se transformar em
discípulo sincero do Evangelho. Deve ter experimentado enormes dificuldades nos
inevitáveis testemunhos. Importa considerar, porém, o significativo amparo
fraternal que recebeu de muitos, um bálsamo para aliviar as suas chagas morais.
Neste sentido, esclarece Emmanuel:
O Mestre, para estender a sublimidade do seu programa salvador, pede braços humanos que o realizem e intensifiquem. Começou o apostolado, buscando o concurso de Pedro e André, formando, em seguida, uma assembleia de doze companheiros para atacar o serviço da regeneração planetária.
Ainda mesmo quando surge,
pessoalmente, buscando alguém para a sua lavoura de luz, qual aconteceu na
conversão de Paulo, o Mestre não dispensa a cooperação dos servidores
encarnados. Depois de visitar o doutor de Tarso, diretamente, procura Ananias,
enviando-o a socorrer o novo discípulo.
4. A missão de Paulo
Todos os Apóstolos do Mestre
haviam saído do teatro humilde de seus gloriosos ensinamentos; mas, se esses
pescadores valorosos eram elevados Espíritos em missão, precisamos considerar
que eles estavam muito longe da situação de espiritualidade do Mestre, sofrendo
as influências do meio a que foram conduzidos. Tão logo se verificou o egresso
do Cordeiro às regiões da Luz, a comunidade cristã, de modo geral, começou a
sofrer a influência do Judaísmo, e quase todos os núcleos organizados, da
doutrina, pretenderam guardar feição aristocrática, em face das novas igrejas e
associações que se fundavam nos mais diversos pontos do mundo.
É então que Jesus resolve
chamar o Espírito luminoso e enérgico de Paulo de Tarso ao exercício do seu
ministério. Essa deliberação foi um acontecimento dos mais significativos na
história do Cristianismo. As ações e as epístolas de Paulo tornam-se poderoso
elemento de universalização da nova doutrina. De cidade em cidade, de igreja em
igreja, o convertido de Damasco, com o seu enorme prestígio, fala do Mestre,
inflamando os corações. A princípio, estabelece entre ele e os demais apóstolos
uma penosa situação de incompreensibilidade, mas sua influência providencial
teve por fim evitar uma aristocracia injustificável dentro da comunidade
cristã, nos seus tempos inesquecíveis de simplicidade e pureza.
Concluindo o seu período em
Damasco, em que recebeu o auxílio de Ananias e conheceu a mensagem de Jesus,
Saulo parte para o deserto, vivendo no oásis de Palmira como humilde tecelão de
tendas. Nessa localidade, prossegue no seu aprendizado, tendo oportunidade de
vir a conhecer o idoso Ezequias, irmão de Gamaliel, cristão valoroso, assim
como o casal Prisca (Priscila) e Áquila, judeus também convertidos ao
Cristianismo. (Veja, a propósito, maiores informações sobre esse período da
vida de Saulo, no livro de Emmanuel, Paulo e Estêvão, segunda parte, capítulos
1 e 2).
Retornando a Jerusalém, após
estágio no deserto, os cristãos fugiam dele, temerosos. Por influência de
Barnabé, Saulo foi conduzido aos apóstolos que, após ouvirem o relato dos
acontecimentos na estrada de Damasco, passaram a aceitá-lo como discípulo.
Sendo, porém, ameaçado de morte por alguns judeus, os apóstolos levaram-no a
Cesareia e, depois, a Tarso (Atos dos Apóstolos, 9: 2-30).
Os cristãos que se
dispersaram após a morte de Estêvão, em consequência da perseguição de Saulo,
espalharam-se pela Fenícia, Chipre e Antioquia, pregando, nessas localidades,
os ensinamentos de Jesus. A notícia desta pregação, porém, se espalhou,
chegando aos ouvidos de Barnabé, que se encontrava em Jerusalém. Entusiasmado,
este apóstolo partiu para Tarso em busca de Paulo e, durante um ano, pregaram
juntos o Evangelho na igreja recém-criada de Antioquia, para judeus e gentios.
Foi em Antioquia, que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados de
“cristãos” (Atos dos Apóstolos, 11: 25-26) A palavra cristão significa
“partidários ou sectários do Cristo (gr. Khristós, forma popular de Chrestós).
Ao criarem esta alcunha, os gentios de Antioquia tomaram o título de ‘Cristo’
(Ungido, Messias) por um nome próprio”.
A missão de Paulo não foi
fácil. Sofreu toda sorte de atribulações. No entanto, a partir da sua conversão
na estrada de Damasco, por volta do ano 36 da nossa Era, ele vai consagrar toda
a sua vida ao serviço de Cristo que o “conquistou” (Filipenses, 3:12). Depois
de uma temporada na Arábia e do regresso a Damasco (Gálatas, 1:17), onde ele já
prega (Atos dos Apóstolos, 9:20), sobe a Jerusalém pelo ano 39 (Gálatas, 1:18;
Atos dos Apóstolos, 9: 30), de onde é reconduzido a Antioquia por Barnabé, com
o qual ensina (Atos dos Apóstolos, 9:26-27 e 11: 25-26).
A missão de Paulo pode ser
resumida em três palavras: fé, esperança e caridade. “Agora, portanto,
permanecem fé, esperança e caridade, estas três coisas. A maior delas, porém, é
a caridade” (I Coríntios, 13:13).
A fé é uma posse antecipada
do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se veem. E para
demonstrá-lo, discorreu longamente sobre todas as coisas maravilhosas que os
hebreus ha- viam aceitado, no passado, pelo puro e singular testemunho da fé.
Ancorava-se a fé na retidão do homem, pois o justo vive pela sua fé,
sustentando-se nela, confiante nela. Não, contudo uma fé passiva, de braços
cruzados, nem uma fé apoiada simplesmente nos velhos preceitos da lei de
Moisés. A fé precisava ser ativa, construtiva, fraterna, atuante, fortalecida
na esperança, dinamizada na caridade.
A esperança, em Paulo, está
intimamente ligada à fé “que, por sua vez, vem do testemunho daqueles que viram
e falaram com um ser oficialmente morto.”
A ressurreição do Cristo é o
seu argumento decisivo em relação à esperança. Na estrada de Damasco, ele viu o
Cristo vivo e recoberto de luz, depois de estar oficialmente morto há vários
anos. Dessa forma, para Paulo, a descoberta mais retumbante foi que o ser não
morre para sempre; que existe a grandeza da imortalidade, a existência de outro
corpo leve e luminoso que permite a sobrevivência do Espírito; de que há um
reino de glórias e alegrias à espera de cada um de nós; de que é preciso
aceitar a leve tribulação do momento que passa, como Ele afirmava, em troca de
um enorme caudal de glória eterna.
A fé e esperança, porém,
embora pessoais, e, muitas vezes, incomunicáveis, intransferíveis por simples
tradição, não seriam conquistas inativas, estáticas e infrutíferas. Na dinâmica
do amor, convertido em caridade, elas poderiam expandir-se, acendendo em outros
corações o fogo sagrado. Da esperança primeiro, para, só mais tarde, chegar à
terceira irmã: a fé, como um retorno sobre si mesma. A fé e o amor devem
contemplar o futuro com o olhar da confiança e, portanto, da esperança. A fé,
unida à esperança, pode ser apenas egoísmo. A esperança e o amor podem não ser
suficientes para construir a fé e, nesse caso, a felicidade seria apenas uma
hipótese. É preciso as três, como acentuou Paulo, e todos aspirassem as três,
mas a maior delas é o amor...
Fica claro, assim, porque um
dos mais belos textos de sua autoria é o capítulo 13, da primeira epístola aos
coríntios, que versa sobre a caridade e o amor. Assim como o capítulo 11,
epístola aos hebreus, que trata da fé.
Não nos esqueçamos, contudo,
de que, balanceado as duas, em sua mente privilegiada, ele conclui que o amor
ainda é mais importante do que a própria fé, especialmente a dinâmica do amor
que se expressa na caridade, no serviço ao próximo, à tônica do pensamento de
Jesus.
A fé foi, sem dúvida, o
instrumento que garantiu a Paulo a força moral para vencer as vicissitudes da
vida. Todavia, soube compreender que somente o amor faz o homem elevar-se aos
píncaros da felicidade verdadeira.
Coloca assim, sem equívoco,
a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do
ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer
crença em particular.
Faz mais: define a
verdadeira caridade, mostra-a não só na beneficência, como no conjunto de todas
as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.
Referências:
Estudo aprofundado da
doutrina espírita. 1. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, Allan. O evangelho
segundo o espiritismo. FEB, 2004
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