JOÃO BATISTA – O
PRECURSOR
Então, um anjo do Senhor lhe
apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso.
E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe (Lucas, 1:11-15).
Em verdade vos digo que,
entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João
Batista; mas aquele que é o menor no Reino dos céus é maior do que ele (Mateus,
11:11).
1. O nascimento de João Batista
O nascimento de João Batista
foi revestido de um clima de expectativas e surpresas, uma vez que Isabel, sua
mãe, encontrava-se numa idade em que, usualmente, as mulheres não engravidam.
Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judeia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; o nome dela era Isabel. E eram ambos justos perante Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos do Senhor. E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade. E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma, segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso. E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso. Então, um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso. E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos e os rebeldes, à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem-disposto. Disse, então, Zacarias ao anjo: Como saberei isso? Pois eu já sou velho, e minha mulher, avançada em idade. E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas. Todavia, ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas aconteçam, porquanto não creste nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de cumprir. E o povo estava esperando a Zacarias e maravilhava-se de que tanto se demorasse no templo. E, saindo ele, não lhes podia falar; e entenderam que tivera alguma visão no templo. E falava por acenos e ficou mudo. E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa. E, depois daqueles dias, Isabel, sua mulher, concebeu e, por cinco meses, se ocultou, dizendo: Assim me fez o Senhor, nos dias em que atentou em mim, para destruir o meu opróbrio entre os homens (Lucas, 1:5-25).
Foi necessário que ocorresse
a mudez de Zacarias, não como um castigo, mas para que se cumprisse as
predições anunciadas pelo anjo. O povo deveria perceber que alguém especial
iria nascer, um Espírito consagrado a Deus; um profeta enviado para anunciar a
vinda do Messias, previsto nas escrituras e ardentemente aguardado pelos
judeus.
E completou-se para Isabel o
tempo de dar à luz, e teve um filho. E os seus vizinhos e parentes ouviram que
tinha Deus usado para com ela de grande misericórdia e alegraram-se com ela. E
aconteceu que, ao oitavo dia, vieram circuncidar o menino e lhe chamavam
Zacarias, o nome de seu pai. E, respondendo sua mãe, disse: Não, porém será
chamado João. E disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que se chame por este
nome. E perguntaram, por acenos, ao pai como queria que lhe chamassem. E,
pedindo ele uma tabuinha de escrever, escreveu, dizendo: O seu nome é João. E
todos se maravilharam. E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e
falava, louvando a Deus. E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas
as montanhas da Judeia foram divulgadas todas essas coisas. E todos os que as
ouviam as conservavam em seu coração, dizendo: Quem será, pois, este menino? E
a mão do Senhor estava com ele (Lucas, 1:57-66).
João Batista desenvolvia-se
plenamente, preparando-se para a sua missão. O menino crescia e se robustecia
em espírito, e esteve nos desertos até o dia em que havia de mostrar-se a Israel
(Lucas, 1:80).
As mãos de Deus,
indiscutivelmente, pousavam sobre o seu lar. Depois... Ao seguir para o
deserto, vestiu-se como o antigo profeta Elias: uma pele de camelo no corpo, em
volta dos rins um cinto de couro... Iniciara o ministério por volta do ano 15
do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos, governador da Judeia e
Herodes Antipas tetrarca da Galileia...
2. João Batista, o precursor
Apareceu João batizando no
deserto e pregando o batismo de arrependimento, para remissão de pecados. E toda
a província da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém iam ter com ele; e
todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
E João andava vestido de
pelos de camelo e com um cinto de couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos
e mel silvestre, e pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte do
que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das
sandálias. Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; Ele, porém, vos
batizará com o Espírito Santo (Marcos, 1:4-8).
João Batista veio de uma
linhagem sacerdotal, mas não seguiu o sacerdócio, pelo menos na forma como o
seu pai praticava. Adotou um modo de vida simples, ascético, alimentando-se com
frugalidade (de mel e gafanhotos) e vivendo, mais tempo, no deserto da Judeia.
Foi um profeta.
Pregador rude, homem de
viver austeríssimo, desprezou as comodidades da vida, a ponto de se alimentar
com o que achava no deserto e de se vestir com a pele de animais. Assim,
impressionou fortemente o povo, que acorria a ouvi-lo e a pedir-lhe conselhos.
Poderoso médium inspirado foi o transmissor das mensagens do Alto, pelas quais
se anunciava a chegada do Mestre e o começo dos trabalhos de regeneração da
Humanidade. A todos que queriam tornar-se dignos do reino dos céus, João
aconselhava que fizessem penitência. Qual seria essa penitência, primeiro passo
a ser dado em direção ao reino de Deus? Não eram as longas orações, nem os
donativos e esmolas; nem as peregrinações aos lugares santos; nem as
construções de capelas; nem jejuns; nem votos; nem as promessas; não era a
adoração de imagens nem a entronização delas. A penitência não consistia em
formalidades exteriores, mas sim na reforma do caráter e na retificação dos
atos errados que cada um tinha praticado.
Após o período passado no
deserto, João Batista inicia a sua pregação. Com zelo profético ele anuncia a
vinda do Reino dos céus.
Transcorridos alguns anos,
vamos encontrar o Batista na sua gloriosa tarefa de preparação do caminho à
Verdade, precedendo o trabalho divino do amor, que o mundo conheceria em Jesus
Cristo.
João, de fato, partiu
primeiro, a fim de executar as operações iniciais para a grandiosa conquista. esclarecendo com energia e deixando-se degolar
em testemunho à Verdade, ele precedeu a lição da misericórdia e da bondade. O
Mestre dos mestres quis colocar a figura franca e áspera do seu profeta no
limiar de seus gloriosos ensinos e, por isso, encontramos em João Batista um
dos mais belos de todos os símbolos imortais do Cristianismo. João
era a verdade, e a verdade, na sua tarefa de aperfeiçoamento, dilacera e magoa,
deixando-se levar aos sacrifícios extremos.
A pregação de João Batista,
todavia, era contundente, desagradando a muitos, em consequência. Revelava um
temperamento ardente, apaixonado.
Como a dor que precede as
poderosas manifestações da luz no íntimo dos corações, ela recebe o bloco de
mármore bruto e lhe trabalha as asperezas para que a obra do amor surja, em sua
pureza divina. João Batista foi a voz clamante do deserto. Operário da primeira
hora é ele o símbolo rude da verdade que arranca as mais fortes raízes do
mundo, para que o Reino de Deus prevaleça nos corações. Exprimindo a austera
disciplina que antecede a espontaneidade do amor, a luta para que se desfaçam
as sombras do caminho, João é o primeiro sinal do cristão ativo, em guerra com
as próprias imperfeições do seu mundo interior, a fim de estabelecer em si
mesmo o santuário de sua realização com o Cristo. Foi por essa razão que dele
disse Jesus: “Dos nascidos de mulher, João Batista é o maior de todos”.
A fama de João Batista
chega, então até os sacerdotes judeus e aos levitas que resolvem interrogá-lo.
Quem és tu? E confessou e
não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. E perguntaram-lhe: Então, quem és,
pois? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não.
Disseram-lhe, pois: Quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram?
Que dizes de ti mesmo? Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai
o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. E os que tinham sido enviados
eram dos fariseus, e perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se
tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? João respondeu-lhes, dizendo: Eu
batizo com água, mas, no meio de vós, está um a quem vós não conheceis. Este é
aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do qual eu não sou digno de
desatar as correias das sandálias. Essas coisas aconteceram em Betânia, do
outro lado do Jordão, onde João estava batizando. No dia seguinte, João viu a
Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo. Este é aquele do qual eu disse: após mim vem um homem que foi antes
de mim, porque já era primeiro do que eu (João, 1:19-30).
Posteriormente, vamos ver
que é o próprio Cristo quem testemunharia a respeito de João Batista,
enaltecendo a sua missão: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm
nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista” (Mateus, 11:11).
Enfim, João Batista arcaria
com a responsabilidade de abrir para a Humanidade a era evangélica. Por isso é
que Jesus diz que dos nascidos de mulher, nenhum foi maior do que João Batista;
isto é, não se encarnou ainda nenhum Espírito com missão maior do que a de João
Batista. Jesus, conquanto justifique o amor que o povo consagrava
a João Batista, adverte-o de que no mundo espiritual existiam Espíritos ainda
maiores, por serem mais evoluídos que João Batista.
O Espiritismo aceita a ideia
de ser João Batista a reencarnação do profeta Elias. Há muitas semelhanças na
personalidade de ambos, indicativas de que se tratava do mesmo Espírito. O
próprio Jesus afirma, segundo as anotações de Mateus: “Porque todos os profetas
e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que
havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça” (Mateus, 11:13-15). Em outro
momento, após o fenômeno da transfiguração, os apóstolos Pedro, Tiago e João,
ao descerem do monte, são orientados por Jesus a guardarem silêncio sobre o que
presenciaram (transfiguração).
E, descendo eles do monte,
Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão até que o Filho do Homem
seja ressuscitado dos mortos. E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por
que dizem, então, os escribas que é mister que Elias venha primeiro? E Jesus,
respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as
coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe
tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem. Então,
entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista (Mateus, 17:9-13).
As pregações de João
Batista, a despeito de agradarem o povo, eram criticadas pelos sacerdotes e
familiares do rei Herodes.
A mensagem de João Batista
caiu em Israel como fogo na palha. As multidões que o ouviam incluíam publicanos
e prostitutas. O Judaísmo nunca se deparara com nada
exatamente igual a isso.
João Batista desagradava os
sacerdotes porque introduziu modificações nas práticas religiosas do Judaísmo. Em
primeiro lugar estabelece, no batismo pela água, uma forma de renascimento ou
metáfora da redenção espiritual. Segundo as suas orientações, a pessoa nascia
judeu, mas para se redimir deveria passar por um processo simbólico de
renascimento. “O rito de João era tão singular que foi nomeado segundo ele
(“Batista”), e Jesus claramente o vê como dado a João por Deus mediante
revelação.”
Outro ponto, provocador de
sérias controvérsias religiosas entre o clero judaico, foi o fato de João não
fazer caso do templo judaico e dos seus ritos; talvez a rejeição dos sacerdotes
a João tenha relação primordial com a onda generalizada de repulsa à corrupção
do templo e dos seus sacerdotes no século I d.C., e que foi asperamente
criticada pelo precursor.
A família real também
detestava João Batista porque dele recebia, em público, constantes críticas a
respeito do modo indecoroso em que viviam.
Festejando-se, porém, o dia
natalício de Herodes, dançou a filha de Herodias diante dele e agradou a
Herodes, pelo que prometeu, com juramento, dar-lhe tudo o que pedisse. E ela,
instruída previamente por sua mãe, disse: Dá-me aqui num prato a cabeça de João
Batista. E o rei afligiu-se, mas, por causa do juramento e dos que estavam à
mesa com ele, ordenou que se lhe desse. E mandou degolar João no cárcere, e a
sua cabeça foi trazida num prato e dada à jovem, e ela a levou a sua mãe. E
chegaram os seus discípulos, e levaram o corpo, e o sepultaram, e foram
anunciá-lo a Jesus (Mateus, 14:6-12).
O nascimento e vida de João
Batista teve uma única finalidade, segundo o Espiritismo: anunciar a vinda do
Cristo, daí ser ele chamado — com justiça — o precursor.
João Batista é o símbolo do
cristão que se sacrifica pela Verdade. Todavia João Batista não sofreu
unicamente pela Verdade que pregava. Em virtude da lei de causa e efeito,
sabemos que não há efeito sem causa. Por conseguinte, para que João Batista
sofresse a pena de decapitação é porque ainda tinha dívidas de encarnações
anteriores a pagar. Apesar do alto grau de espiritualidade que tinha alcançado,
João teve de passar pela mesma pena que infligira aos outros. De fato, se João
Batista era Elias, poderemos ver nessa decapitação o saldo da dívida que tinha
contraído quando, como Elias, mandou decapitar os sacerdotes de Baal. É Justiça
divina que se cumpre, nada deixando sem pagamento.
Após João Batista, o povo
judeu não teve outro profeta. Foi o último de uma linhagem que se preparou para
trazer ao mundo a mensagem de Jesus.
João é o último profeta
enviado pelo Senhor para ensinar os homens a viverem de acordo com os
mandamentos divinos. De agora em diante Jesus legará o Evangelho ao mundo, como
um roteiro seguro que o conduzirá a Deus. E hoje temos o Espiritismo, um
profeta que está em toda parte, falando ao coração e à inteligência de todas as
criaturas: aos humildes e aos letrados, aos pobres e aos ricos, aos sãos e aos
doentes, espalhando ensinamentos espirituais de fácil compreensão.
Fonte:
Estudo
aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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