AS EPÍSTOLAS DE
PAULO - 2
1. Epístola aos gálatas
Os gálatas viveram na
Galácia, antiga província romana, região situada no centro da Ásia Menor
(atualmente, fica próxima de Ancara, na Turquia). A Galácia original era formada
de diversos povos e abrigava várias comunidades cristãs primitivas.
Os gálatas originais eram
celtas que, vindo da Europa central, tinham invadido a Ásia Menor e se
estabeleceram ali no século III a.C. Mas os soberanos da Galácia estenderam seu
poder sobre os territórios vizinhos, povoados por outros grupos étnicos; esses
grupos foram incluídos na província da Galácia e eram gálatas no sentido
político, embora não no sentido étnico. Alguns desses grupos pertenciam as
cidades de Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe, que foram evangelizadas
por Paulo e Barnabé por volta de 47d.C.
Nessa carta, escrita,
possivelmente, entre 48 e 55, foi enviada, em especial às igrejas de Antioquia
da Psídia, Icônio, Listra e Derbe e, talvez, à Galácia étnica. Paulo faz uma
apaixonada súplica aos cristãos das diferentes igrejas para que não se desviem
do Evangelho.
Eles estavam propensos a dar
ouvidos a certos mestres que os exortavam a acrescentar à sua fé em Cristo
alguns traços característicos do Judaísmo, em particular a circuncisão. Esses
mestres tentavam também diminuir a autoridade de Paulo, insistindo em que ele
estava em dívida para como os líderes eclesiais de Jerusalém por sua delegação
apostólica e não tinham nenhum direito de desviá-los da prática [judaica] de
Jerusalém. A epístola pode ser lida contra o pano de fundo do ressurgimento do
nacionalismo militante da Judeia nos anos após 44 d.C. Esses militantes (que
vieram a ser chamados de zelotes) tratavam os judeus que confraternizavam com
gentios como traidores.
1.1 Síntese dos principais ensinos da epístola aos gálatas
A análise dos ensinamentos
que se seguem deve considerar, sempre, a ação dos zelotes que desejavam, por um
lado, que os judeus convertidos voltassem ao Judaísmo, e, por outro,
desmoralizar a mensagem cristã e a Paulo, considerado traidor por ter-se
tornado cristão.
Constância na fé cristã
“Maravilho-me de que tão
depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro
evangelho, o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem
transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu
vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.
Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo: se alguém vos
anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Porque
persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse
ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Mas faço-vos saber,
irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens, porque
não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo. Nós
somos judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios. Sabendo que o
homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos
também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não
pelas obras da lei, porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será
justificada. Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós
mesmos também somos achados pecadores, é, porventura, Cristo ministro do
pecado? De maneira nenhuma. Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou para não
obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já
representado como crucificado? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito
pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo
começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 1:8-12; 2:15-17; 3:1-4).
Fidelidade ao Cristo
“É evidente que, pela lei,
ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé. Ora, a
lei não é da fé, mas o homem que fizer estas coisas por elas viverá. De maneira
que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé,
fôssemos justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de
aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; porque todos
quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há
judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos
vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então, sois descendência de
Abraão e herdeiros conforme a promessa” (Gl 3: 11-12, 22-29).
O homem com o Cristo é livre
“Estai, pois, firmes na
liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo
da servidão. Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar,
Cristo de nada vos aproveitará. Porque nós, pelo espírito da fé,
aguardamos a esperança da justiça.
Porque, em Jesus Cristo, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude
alguma, mas, sim, a fé que opera por caridade. Porque vós, irmãos, fostes
chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne,
mas servi-vos uns aos outros pela caridade. Porque toda a lei se cumpre numa só
palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Mas o fruto do Espírito
é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão,
temperança. Contra essas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram
a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos
também no Espírito (Gl 5: 1-2, 5-6, 13-14, 22-25).
A carta aos gálatas
sintetiza a necessidade de se manter fiel ao Cristo em benefício do próprio
progresso espiritual.
Um dos maiores desastres no
caminho dos discípulos é a falsa compreensão com que iniciam o esforço na
região superior, marchando em sentido inverso para os círculos da
inferioridade. Dão, assim, a ideia de homens que partissem à procura de ouro,
contentando-se, em seguida, com a lama do charco. Observamos enfermos que se dirigem à
espiritualidade elevada, alimentando nobres impulsos e tomados de preciosas
intenções; conseguida a cura, porém, refletem na melhor maneira de aplicarem as
vantagens obtidas na aquisição do dinheiro fácil. Numerosos aprendizes persistem nos trabalhos
do bem; contudo, eis que aparecem horas menos favoráveis e se entregam,
inertes, ao desalento, reclamando prêmio aos minguados anos terrestres em que
tentaram servir na lavoura do Mestre divino e plenamente despreocupados dos
períodos multimilenários em que temos sido servidos pelo Senhor. Tais anomalias
espirituais que perturbam consideravelmente o esforço dos discípulos procedem
dos filtros venenosos compostos pelos pruridos de recompensa. Trabalhemos,
pois, contra a expectativa de retribuição, a fim de que prossigamos na tarefa
começada, em companhia da humildade, portadora de luz imperecível.
2. Epístola aos
efésios
Os efésios eram os
habitantes de Éfeso, cidade situada na costa ocidental da Ásia Menor,
atualmente pertencente à Turquia. Era sede da comunidade cristã a que a
Epístola aos efésios é dirigida. Geralmente reconhecida como a primeira e a
mais notável metrópole da província romana da Ásia. Éfeso desempenhou um papel
histórico no movimento do Cristianismo desde a Palestina até Roma. Atos [dos
Apóstolos] descreve Éfeso como o ponto culminante da atividade missionária de
Paulo, e foi de Éfeso que Paulo escreveu as Epístolas aos coríntios. Do
período clássico ao bizantino, Éfeso exerceu hegemonia na região jônica. Era
famosa pelos seus filósofos, artistas, poetas, historiadores e retóricos. Não admira que Paulo seja visto ensinando
“todos os dias na escola de Tirano”, em Éfeso, durante dois anos (Atos, 19:9),
que João tenha, ao que se conta, escrito o Quarto Evangelho em Éfeso, e que
tenha sido o local da conversão de Justino Mártir, o primeiro filósofo cristão.
À época da instalação do
Cristianismo primitivo, Éfeso possuía cerca de 250 mil habitantes,
constituindo-se um dos centros urbanos e comerciais que mais rapidamente
cresceram nos domínios romanos do Oriente. Segundo Flávio Josefo, embora na
cidade existisse uma expressiva comunidade judaica, de onde saíram inúmeros
cristãos convertidos, a cidade também era famosa como centro de magia e
taumaturgia. Havia inúmeros exorcistas, judeus e gentílicos, como o famoso
pagão Apolônio de Tiana. Existiam também, ali, inúmeros templos e panteões,
objeto de cultos e rituais aos deuses, sendo o mais importante o templo
consagrado à deusa Artemisa, que foi considerado uma das sete maravilhas do
mundo antigo.
A epístola aos efésios foi
escrita entre os anos 61–63, quando Paulo estava preso, possivelmente em Roma,
e faz parte do grupo das cartas denominadas “epístolas do cativeiro”4 (Ef 1:1;
3:1-13; 4:1; 6: 19-22).
A autenticidade dessa
epístola é questionada. Em 1729, o teólogo inglês Edward Evanson colocou
publicamente, pela primeira vez, a questão. No século 19, estudiosos alemães
chegaram à mesma conclusão: a epístola não era de Paulo. Este é o pensamento
atual, mantido pela maioria dos pesquisadores.
A autoria da carta é
atribuída a Onésimo, “o escravo foragido mencionado na epístola de Paulo a
Filemon, que é depois identificado também com o bispo de Éfeso que usava o nome
Onésimo.”
2.1 Síntese dos
principais ensinos da epístola aos efésios
A salvação pela graça
Trata-se de pensamento,
existente no capítulo dois da epístola, que contraria a salvação pela fé,
defendido por Paulo na epístola aos romanos e na aos gálatas. Este deve ter
sido um dos pontos que suscitaram dúvidas nos estudiosos. O estilo e a
linguagem são também diferentes (são de natureza mais teológica). Analisemos a
seguinte ordem de ideias: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e
pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o
príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da
desobediência; entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da
nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por
natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em
misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em
nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e
nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais,
em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem
de vós; é dom de Deus” (Ef 2: 1-6, 8).
A unidade da fé no Cristo
“Portanto, lembrai-vos de
que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelos
que, na carne, se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; que, naquele
tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos
concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em
Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes
perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um Rogo-vos,
pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes
chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos
uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo
da paz: há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só
esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus
e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos. Mas a graça foi
dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo” (Ef 2: 11-14; 4: 1-7).
Santidade dos costumes
“E digo isto e testifico no
Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na
vaidade do seu senti- do, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de
Deus, pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração, os quais,
havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para, com
avidez, cometerem toda impureza. Pelo que deixai a mentira e falai a verdade
cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros. Irai-vos e não
pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo. Aquele
que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom,
para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade. Não saia da vossa
boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação,
para que dê graça aos que a ouvem” (Ef 4:17-19, 25-29).
A armadura de Deus
“No demais, irmãos meus,
fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a
armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do
diabo. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no
dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo
cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, e
calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo
da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai
também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”
(Ef 6:10-11, 13-17).
A epístola aos efésios indica
que os aprendizes do Evangelho devem procurar levar uma vida simples e
desprendida, vigiando os pensamentos e atos.
Cada criatura dá sempre
notícias da própria origem espiritual. Os atos, palavras e pensamentos
constituem informações vivas da zona mental de que procedemos. Os filhos da
inquietude costumam abafar quem os ouve, em mantos escuros de aflição. Os
rebentos da tristeza espalham o nevoeiro do desânimo. Os cultivadores da
irritação fulminam o espírito da gentileza com os raios da cólera.
Os portadores de interesses
mesquinhos ensombram a estrada em que transitam, estabelecendo escuro clima nas
mentes alheias. Os corações endurecidos geram nuvens de desconfiança, por onde
passam. Os afeiçoados à calúnia e à maledicência distribuem venenosos quinhões
de trevas com que se improvisam grandes males e grandes crimes.
Os cristãos, todavia, são
filhos da luz. E a missão da luz é uniforme e insofismável. Beneficia a todos
sem distinção. Não formula exigências para dar. Afasta as sombras sem alarde.
Espalha alegria e revelação crescentes. Semeia renovadas esperanças. Esclarece,
ensina, ampara e irradia-se.
3. Epístola aos
filipenses
Filipenses eram os
habitantes de Filipos.
Importante cidade da
Macedônia oriental, na Grécia, sede da comunidade cristã a que a Epístola de
Paulo aos filipenses é dirigida. Após a batalha decisiva de 42 a.C., nas
proximidades da cidade, o imperador Otaviano havia feito de Filipos uma colônia
romana e dado a seus cidadãos os direitos e privilégios dos que nasciam e
viviam em Roma. Segundo o relato de Atos, a igreja de Filipos começou assim:
Paulo, em sua segunda viagem missionária, deixou Ásia Menor pela Macedônia, foi
a Filipos, pregou o Evangelho; Lídia, uma mulher proeminente daquela região, e
alguns outros se tornaram cristãos. Ao que parece a igreja foi abrigada
inicialmente na casa de Lídia. Apesar dos seus começos modestos, cresceu e se
tornou uma ativa comunidade cristã, desempenhando importante papel no
evangelismo, partilhando prontamente suas próprias posses materiais, mesmo em
meio a extrema pobreza, e enviando generosamente um dos seus para ajudar Paulo
em seu trabalho para auxiliá-lo quando estava na prisão. Paulo visitou essa
igreja em pelo menos três ocasiões.
A epístola traz um apelo do
apóstolo aos cristãos, pedindo-lhes “que vivam de maneira condigna do
Evangelho, em unidade, harmonia e generosidade, sem lamúrias nem queixas,
mantendo sempre diante de si Jesus Cristo como modelo supremo de toda ação
moral.”
A epístola destaca as
qualidades de Timóteo e Epafrodito, exemplos de trabalhadores cristãos fiéis,
prometendo enviá-los a Filipos.
“Adverte-os contra
evangelistas judeus ou judaizantes cujos ensinamentos e práticas são contrários
ao Evangelho.”
A autenticidade da epístola
aos filipenses não é posta em dúvida. O que se supõe é que, originalmente,
existiu um conjunto de bilhetes ou três pequenas cartas, posteriormente
reunidos numa única epístola.
A comunidade de Filipos
devotava especial afeto ao apóstolo dos gentios, cumpriram fielmente as suas
orientações e o auxiliou, dentro das suas possibilidades, quando caiu prisioneiro
na Tessalônica e em Corinto. Paulo lhes escreve agradecendo o auxílio, recebido
por intermédio de Epafrodito (Fl 4, 10-20).
Filipenses faz parte do
grupo das “epístolas do cativeiro”. Paulo se encontrava prisioneiro quando a
escreveu, não se sabe exatamente onde: em Roma, em Cesareia da Palestina ou em
Éfeso.
A carta aos filipenses é de
natureza pouco doutrinária. “É uma efusão do coração, uma troca de notícias,
uma advertência contra os “maus operários” que destroem alhures os trabalhos do
Apóstolo e bem poderiam atacar também os seus caros filipenses.” A epístola
destaca também o valor da humildade.
3.1 Síntese dos
principais ensinos da epístola aos filipenses
Exemplo de vivência do Evangelho
Os filipenses cristãos
formavam uma comunidade pobre de bens materiais, mas sinceramente devotada ao
Evangelho. Os filipenses jamais esqueceram as lições que lhes foram ensinadas
por Paulo, auxiliando-o quando esteve preso e, recebendo deste, os sentimentos
de afeto e reconhecimento. Os filipenses foram cristãos que souberam colocar em
prática a vivência da caridade.
“Dou graças ao meu Deus
todas as vezes que me lembro de vós, fazendo, sempre com alegria, oração por
vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o
primeiro dia até agora. Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós
começou a boa obra a aperfeiçoará até o Dia de Jesus Cristo. Como tenho por
justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos
vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha
defesa e confirmação do evangelho. Porque Deus me é testemunha das saudades que
de todos vós tenho, em entranhável afeição de Jesus Cristo. E peço isto: que a
vossa caridade aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento” (Fl 1:
3-9).
Exortação à perseverança, ao amor
fraternal e à humildade
“Somente deveis portar-vos
dignamente conforme o Evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja
ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo
juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. Nada façais por contenda ou
por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si
mesmo. De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na
minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a
vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o
querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. Fazei todas as coisas sem
murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos
de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual
resplandeceis como astros no mundo; retendo a palavra da vida, para que, no Dia
de Cristo, possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão” (Fl 1:
27; 2: 3, 12-16).
Cuidados contra os maus obreiros.
Cultivo dos bens espirituais
“Resta, irmãos meus, que vos
regozijeis no Senhor. Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é
segurança para vós. Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros,
guardai-vos da circuncisão! Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja
alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo
prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Portanto, meus amados e mui
queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados. Regozijai-vos,
sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos. Seja a vossa equidade notória
a todos os homens. Perto está o Senhor. Não estejais inquietos por coisa
alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela
oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o
entendi- mento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo
Jesus. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fl 3:1-2,
13-14; 4:1, 4-8).
A carta de Paulo aos
filipenses atesta que estes representavam um exemplo de cristão que absorveu o
sentido espiritual do Evangelho: fora da caridade não há salvação.
A caridade é,
invariavelmente, sublime nas menores manifestações, todavia, inúmeras pessoas
muitas vezes procuram limitá-la, ocultando-lhe o espírito divino. Muitos
aprendizes creem que praticá-la é apenas oferecer dádivas materiais aos necessitados
de pão e teto. Caridade, porém, representa muito mais que isso para os
verdadeiros discípulos do Evangelho. Caridade essencial é intensificar o bem, sob
todas as formas respeitáveis, sem olvidarmos o imperativo de autossublimação
para que outros se renovem para a vida superior, compreendendo que é
indispensável conjugar, no mesmo ritmo, os verbos dar e saber. Bondade
e conhecimento, pão e luz, amparo e iluminação, sentimento e consciência são
arcos divinos que integram os círculos perfeitos da caridade. Não só receber e
dar, mas também ensinar e aprender.
Epístola aos
colossenses
Paulo enviou três cartas às
comunidades cristãs da província romana da Ásia. Colossos foi uma delas, cidade
localizada a aproximadamente 200 km de Éfeso.
Colossos localizava-se no
oeste da Ásia Menor, ao sul do rio Meandro (atual Menderes), 6,4 km a leste de
Denilzli na Turquia de hoje. Era uma cidade comercial até ser incorporada pela
vizinha Laodiceia, e abrigou a comunidade cristã a quem foi dirigida a epístola
aos colossenses.
Paulo teve contato com os
colossenses a partir do seu trabalho missionário em Éfeso (Atos dos Apóstolos,
19) e auxiliado por muitos companheiros, através dos quais diversas igrejas
cristãs foram erguidas na Ásia romana, como as do Vale do Lico, da Laodiceia e
de Hierápolis. As comunidades cristãs fundadas nessas localidades dependeram do
esforço de Epafras, dedicado discípulo de Paulo, que o via como “leal ministro
do Cristo.”
A epístola aos colossenses
faz parte do grupo das “epístolas do cativeiro”.
Paulo estava na prisão
(provavelmente em Roma). A epístola aos colossenses parece ter sido escrita
bastante cedo no período que Paulo estava na prisão, por volta de 60–61 a.C.
Epafras fizera uma visita a Paulo em Roma e o informara do estado das igrejas
no vale do Lico. Embora grande parte do relato fosse animador, uma
característica inquietante era o ensinamento atraente, mas falso recentemente
introduzido na congregação; se não fosse contido, subverteria o Evangelho e
poria os colossenses numa servidão espiritual.
A dificuldade relatada por
Epafras estava relacionada à idolatria e aos maus costumes pagãos (liberalidade
sexual), uma vez que as comunidades cristãs, da região, eram basicamente
constituídas de gentios convertidos.
Existem dúvidas se a carta
aos colossenses é de autoria de Paulo. Alguns estudiosos entendem que o estilo
pesado e repetitivo não é o usualmente utilizado pelo apóstolo. Há dúvidas
também relacionadas a certas ideias teológicas, principalmente as que fazem
alusão ao corpo do Cristo, ao Cristo como cabeça do corpo e à igreja universal.
São ideias semelhantes às divulgadas pelos gnósticos no século II d.C. Outras
ideias que são combatidas, pretensamente por Paulo, estão relacionadas a
conceitos essênicos, comuns entre os judeus que se- guiam os preceitos dos
essênios (poderes celestes e cósmicos), seita existente à época do Cristo.
4.1 Síntese dos
principais ensinos da epístola aos colossenses
Exortação
à espiritualidade e ao amor fraternal
“Portanto, se já
ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está
assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são
da terra. Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a Terra: a
prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a vil concupiscência e a
avareza, que é idolatria. Mas, agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da
cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. Não
mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus
feitos. Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas
de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade,
suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver
queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E,
sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição.
E a paz de Deus, para a qual
também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede
agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a
sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e
cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto
fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando
por ele graças a Deus Pai. (Cl 3: 1-2, 5, 8-9, 12-17).
A carta dirigida à
comunidade cristã de Colossos evidencia o amor fraternal, o espírito de
cooperação que deve reger as relações interpessoais.
É impossível qualquer ação
de conjunto, sem base na tolerância. Aprendamos com o Cristo. A queixa
desfigura a dignidade do trabalho, retardando-lhe a execução. Indispensável
cultivar a renúncia aos pequenos desejos que nos são peculiares, a fim de
conquistarmos a capacidade de sacrifício, que nos estruturará a sublimação em
mais altos níveis. Para que o trabalho nos eleve, precisamos elevá-lo. Para que
a tarefa nos ajude, é imprescindível nos disponhamos a ajudá-la. Recordemos que
o supremo orienta- dor das equipes de serviço cristão é sempre Jesus. Dentro
delas, a nossa oportunidade de algo fazer constitui só por si valioso prêmio.
Esqueçamo-nos, assim, de todo o mal, para construirmos todo o bem ao nosso
alcance. E, para que possamos agir nessas normas, é imperioso suportar-nos como
irmãos, aprendendo com o Senhor, que nos tem tolerado infinitamente.
Fonte:
Estudo
aprofundado da doutrina espírita. FEB, 2013.
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