Autor espiritual: André Luiz
Ano:
1948
Prefácio:
Na jornada evolutiva
Dos quatro cantos da Terra
diariamente partem viajores humanos, aos milhares, desmandando o país da Morte. Vão-se de ilustres centros da
cultura europeia, de tumultuárias cidades americanas, de velhos círculos asiáticos,
de ásperos climas africanos. Procedem das metrópoles, das vilas, dos campos...
Raros viveram nos montes da
sublimação, vinculados aos deveres nobilitantes. A maioria constitui-se de
menores de espírito, em luta pela outorga de títulos que lhes exaltem a
personalidade.
Não chegaram a ser homens completos. Atravessaram o “mare magnum” da humanidade em contínua experimentação. Muita vez, acomodaram-se com os vícios de toda a sorte, demorando voluntariamente nos trilhos da insensatez. Apesar disso, porém, quase sempre se atribuíam a indébita condição de “eleitos da Providência”; e, cristalizados em tal suposição, aplicavam a justiça ao próximo, sem se compenetrarem das próprias faltas, esperando um paraíso de graças para si um inferno de intérmino tormento para os outros. Quando perdidos nos intrincados meandros do materialismo cego, fiavam, sem justificativa, que no túmulo se lhes encerraria a memória; e, se filiados a escolas religiosas, raros excetuados, contavam, levianos e inconsequentes, com privilégios que jamais nada fizeram por merecer.
Onde albergar a estranha e
infinita caravana? como designar a mesma estação de destino a viajantes de
cultura, posição e bagagem tão diversas?
Perante a Suprema Justiça, o
malgache e o inglês fruem dos mesmos direitos. Provavelmente, porém, estarão distanciados
entre si, pela conduta individual, diante da Lei Divina, que distingue,
invariavelmente, a virtude e o crime, o trabalho e a ociosidade, a verdade e a
simulação, a boa vontade e a indiferença. Da contínua peregrinação do sepulcro,
participam, todavia, santos e malfeitores, homens diligentes e homens
preguiçosos.
Como avaliar por bitola
única recipientes heterogêneos? Considerando, porém, nossa origem comum, não
somos todos filhos do mesmo Pai? E por que motivo fulminar com inapelável
condenação os delinquentes, se o dicionário divino inscreve a letras de fogo as
palavras “regeneração”, “amor”, e “misericórdia”? Determinaria o Senhor o cultivo compulsório
da esperança entre as criaturas, ao passo que Ele mesmo, de Sua parte,
desesperaria? Glorificaria a boa vontade, entre os homens, e conservar-se-ia no
cárcere escuro da negação? O selvagem que haja eliminado, os semelhantes, a
flechadas, teria recebido no mundo as
mesmas oportunidades de aprender que felicitam o europeu supercivilizado, que
extermina o próximo à metralhadora? estariam ambos preparados ao ingresso
definitivo no paraíso de bem-aventurança infindável tão somente pelo batismo
simbólico ou graças a tardio arrependimento no leito de morte?
A lógica e o bom-senso nem
sempre se compadecem com argumentos teológicos imutáveis. A vida nunca
interrompe atividades naturais, por imposição de dogmas estatuídos de
artifício. E, se mera obra de arte humana, cujo termo é a bolorenta placidez
dos museus, exige a paciência de anos para
ser empreendida e realizada, que dizer da obra sublime do
aperfeiçoamento da alma, destinada a glórias imarcescíveis?
Vários companheiros de ideal
estranham a cooperação de André Luiz, que nos tece informações sobre alguns
setores das esferas mais próximas ao comum dos mortais.
Iludidos na teoria do menor
esforço, inexistente nos círculos elevados, contavam com preeminência pessoal,
sem nenhum testemunho de serviço e distantes do trabalho digno, em um céu de
gozos contemplativos, exuberante de conforto melifico. Preferiam a
despreocupação das galerias, em beatitude permanente onde a grandeza divina se
limitaria a prodigiosos espetáculos, cujos números mais surpreendentes estariam
a cargo dos Espíritos Superiores, convertidos em jograis de vestiduras
brilhante.
A missão de André Luiz é,
porém, a de revelar os tesouros de que somos herdeiros felizes na Eternidade,
riquezas imperecíveis; cujas posse jamais entraremos sem a indispensável
aquisição de Sabedoria e de Amor.
Para isto, não lidamos em
milagrosos laboratórios de felicidade improvisada, onde se adquirem dotes de
vil preço e ordinárias asas de cera. Somos filhos de Deus, em crescimento. Seja
nos campos de forças condensadas, quais os da luta física, seja nas esferas de
energias sutis, quais as do plano superior, os acedentes que nos presidem os
destinos são de ordem evolutiva, pura e
simples, com indefectível justiça a seguir-nos de perto, à claridade gloriosa e
compassiva do Divino Amor.
A morte a ninguém propiciará
passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca promoverá compulsoriamente
homens a anjos. Cada criatura transporá essa aduana da eternidade com a
exclusiva bagagem do que houver semeado, e aprenderá que a ordem e a
hierarquia, a paz do trabalho edificante, são característicos imutáveis da Lei,
em toda parte.
Ninguém, depois do sepulcro,
gozará de um descanso a que não tenha feito jus, porque “o Reino do Senhor não
vem com aparências externas”.
Os companheiros que
compreendem, na experiência humana, a escada sublime, cujos degraus há que
vencer a preço de suor, com o proveito das bênçãos celestiais, dentro da
prática incessante do bem, não se surpreenderão com as narrativas do mensageiro
interessado no servir por amor. Sabem eles que não teriam recebido o dom da
vida para matar o tempo, nem a dádiva da fé para confundir os semelhantes,
absorvidos que se acham, na execução dos Divinos Desígnios. Todavia, aos
crentes do favoritismo, presos à teia de velhas ilusões, ainda quando se
apresentem com os mais respeitáveis títulos, as afirmativas do emissário fraternal
provocarão descontentamento e perplexidade.
É natural, porém : cada
lavrador respira o ar do campo que escolheu.
Para todos, contudo,
exoramos a bênção do Eterno : tanto para eles, quanto para nós.
Emmanuel
(Pedro Leopoldo, 25 de março de 1947)
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