Autor espiritual: André Luiz
Ano:
1945
Prefácio:
Ante os Tempos Novos
Enquanto a história
relaciona a intervenção de fadas, referindo-se aos gênios tutelares, aos
palácios ocultos e às maravilhas da floresta desconhecida, as crianças escutam
atentas, estampando alegria e interesse no semblante feliz. Todavia, o narrador
modifica a palavra, fixando-a nas realidades educativas, retrai-se a mente
infantil, contrafeita, cansada... Não compreende a promessa da vida futura, com
os seus trabalhos e responsabilidades.
Os corações, ainda tenros, amam o sonho, aguardam heroísmo fácil, estimam o menor esforço, não entendem, de pronto, o labor divino da perfeição eterna e, por isso, afastam-se do ensinamento real, admirados, espantadiços. A vida, porém, espera-os com as suas leis imutáveis e revela-lhes a verdade, gradativamente, sem ruídos espetaculares, com serenidade de mãe.
As páginas de André Luiz
recordam essa imagem.
Enquanto os Espíritos Sábios
e Benevolentes trazem a visão celeste, alargando o campo das esperanças
humanas, todos os companheiros encarnados nos ouvem, extáticos, venturosos. É a
consolação sublime, o conforto desejado. Congregam-se os corações para receber
as mensagens do céu. Mas, se os emissários do plano superior revelam alguns
ângulos da vida espiritual, falando-lhes do trabalho, do esforço próprio, da
responsabilidade pessoal, da luta edificante, do estudo necessário, do autoaperfeiçoamento,
não ocultam a desagradável impressão. Contrariamente às suposições da primeira
hora, não enxergam o céu das facilidades, nem a região dos favores, não divisam
acontecimentos milagrosos nem observam a beatitude repousante. Ao invés do
paraíso próximo, sentem-se nas vizinhanças de uma oficina incansável, onde o
trabalhador não se elevará pela mão beijada protecionismo e sim à custa de si
mesmo, para que deva à própria consciência a
vitória ou a derrota. Percebem a lei imperecível que estabelece o
controle da vida, em nome do Eterno, sem falsos julgamentos. Compreendem que as
praias de beleza divina e os palácios encantados da paz aguardam o Espírito
noutros continentes vibratórios do Universo, reconhecendo, no entanto, que lhes
compete suar e lutar, esforçar-se e aprimorar-se por alcançá-los, bracejando no
imenso mar das experiências.
A maioria espanta-se e tenta
o recuo. Pretende um céu fácil, depois da morte do corpo, que seja conquistado
por meras afirmativas doutrinais.
Ninguém, contudo, perturbará
a lei divina; a verdade vencerá sempre e a vida eterna continuará ensinando, devagarzinho,
com paciência maternal.
Ao Espiritismo cristão cabe,
atualmente, no mundo, grandiosa e sublime tarefa.
Não basta definir-lhe as
características veneráveis de Consolador da Humanidade, é preciso também
revelar-lhe a feição de movimento libertador de consciências e corações.
A morte física não é o fim.
É pura mudança de capítulo no livro da evolução e do aperfeiçoamento. Ao seu influxo, ninguém deve
esperar soluções finais e definitivas, quando sabemos que cem anos de atividade
no mundo representam uma fração relativamente curta de tempo para qualquer
edificação na vida eterna.
Infinito campo de serviço
aguarda a dedicação dos trabalhadores da verdade e do bem. Problemas
gigantescos desafiam os Espíritos valorosos, encarnados na época presente, com
a gloriosa missão de preparar a nova era, contribuindo na restauração da fé
viva e na extensão do entendimento humano. Urge socorrer a Religião, sepultada
nos arquivos teológicos dos templos de pedra, e amparar a Ciência, transformada
em gênio satânico da destruição.
A espiritualidade vitoriosa
percorre o mundo, regenerando-lhe as fontes morais, despertando a criatura no
quadro realista de suas aquisições. Há chamamentos novos para o homem
descrente, do século XX, indicando-lhe horizontes mais vastos, a demonstrar-lhe
que o Espírito vive acima das civilizações que a guerra transforma ou consome
na sua voracidade de dragão multimilenário.
Ante os tempos novos e
considerando o esforço grandioso da renovação, requisita-se o concurso de todos
os servidores fiéis da verdade e do bem para que, antes de tudo, vivam a nova
fé, melhorando-se e elevando-se cada um, a caminho do mundo melhor, a fim de
que a edificação do Cristo prevaleça sobre as meras palavras das ideologias
brilhantes.
Na consecução da tarefa
superior, congregam-se encarnados e desencarnados de boa vontade, construindo a
ponte de luz, através da qual a Humanidade transportará o abismo da ignorância
e da morte.
É por este motivo, leitor
amigo, que André Luiz vem, uma vez mais, ao teu encontro, para dizer-te algo do
serviço divino dos "Missionários da Luz", esclarecendo, ainda que o
homem é um Espírito Eterno habitando temporariamente o templo vivo da carne
terrestre; que o perispírito não é um corpo de vaga neblina e sim organização
viva a que se amoldam as células mateirais; que a alma, em qualquer parte,
recebe segundo as suas criações individuais; que os laços do amor e do ódio nos
acompanham em qualquer círculo da vida; que outras atividades são desempenhadas
pela consciência encarnada, além da luta vulgar de cada dia; que a reencarnação
é orientada por sublimes ascendentes espirituais e que, além do sepulcro, a
alma continua lutando e aprendendo, aperfeiçoando-se e servindo aos desígnios
do Senhor, crescendo sempre para a glória imortal a que o Pai nos destinou.
Se a leitura te assombra, se
as afirmativas do Mensageiro te parecem revolucionárias, recorre à oração e
agradece ao Senhor o aprendizado, pedindo-lhe te esclareça e ilumine, para que
a ilusão não te retenha em suas malhas. Lembra-te de que a revelação da verdade
é progressiva e, rogando o socorro divino para o teu coração, atende aos
sagrados deveres que a Terra te designou para cada dia, consciente de que a
morte do corpo não te conduzirá à estagnação e sim a novos campos de
aperfeiçoamento e trabalho, de renovação e luta bendita, onde viverás muito
mais e mais intensamente.
Emmanuel
(Pedro Leopoldo, 13 de maio de 1945)
Nenhum comentário:
Postar um comentário