Autor espiritual: André Luiz
Ano:
1949
Prefácio:
Interpretação dos Textos
Sagrados
"Sabendo primeiramente
isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação." -
(II Pedro, 1:20)
Jesus é o caminho, a Verdade
e a Vida. Sua luz imperecível brilha sobre os milênios terrestres, como o Verbo
do princípio, penetrando o mundo, há quase vinte séculos.
Lutas sanguinárias, guerras
de extermínio, calamidades sociais não lhe modificaram um til nas palavras que
se atualizam, cada vez mais, com a evolução multiforme da Terra. Tempestades de
sangue e lágrimas nada mais fizeram que avivar-lhes a grandeza. Entretanto,
sempre tardios no aproveitamento das oportunidades preciosas, muitas vezes, no
curso das existências renovadas, temos desprezado o Caminho, indiferentes ante
os patrimônios da Verdade e da Vida.
O Senhor, contudo, nunca nos deixou desamparados.
Cada dia, reforma os títulos
de tolerância para com as nossas dívidas; todavia, é de nosso próprio interesse
levantar o padrão da vontade, estabelecer disciplinas para uso pessoal e
reeducar a nós mesmo, ao contacto do Mestre Divino. Ele é o Amigo Generoso, mas
tantas vezes lhe olvidamos o conselho que somos suscetíveis de atingir obscuras
zonas de adiamento indefinível de nossa iluminação interior para a vida eterna.
No propósito de valorizar o
ensejo de serviço, organizamos este humilde trabalho interpretativo (1), sem
qualquer pretensão a exegese.
Concatenamos apenas modesto
conjunto de páginas soltas destinadas a meditações comuns.
Muitos amigos
estranhar-nos-ão talvez a atitude, isolando versículos e conferindo-lhes cor
independente do capítulo evangélico a que pertencem. Em certas passagens,
extraímos daí somente frases pequeninas, proporcionando-lhes fisionomia
especial e, em determinadas circunstâncias, as nossas considerações desvaliosas
parecem contrariar as disposições do capítulo em que se inspiram.
Assim procedemos, porém,
ponderando que, num colar de pérolas, cada qual tem valor específico e que, no
imenso conjunto de ensinamentos da Boa Nova, cada conceito do Cristo ou dos
seus colaboradores diretos adapta-se a determinada situação do Espírito, nas
estradas da vida. A lição do Mestre, além disso, não constitui tão-somente um
impositivo para os misteres da adoração. O Evangelho não se reduz a breviário
para o genuflexório. É roteiro imprescindível para a legislação e
administração, para o serviço e para a obediência. O Cristo não estabelece
linhas divisórias entre o templo e a oficina. Toda Terra é seu altar de oração
e seu campo de trabalho, ao mesmo tempo. Por louvá-lo nas igrejas e
menoscabá-lo nas ruas é que temos naufragado mil vezes, por nossa própria
culpa. Todos os lugares, portanto, podem ser consagrados ao serviço divino.
Muitos discípulos, nas
várias escolas cristãs, entregaram-se a perquirições teológicas transformando
os ensinos do Senhor em relíquia morta dos altares de pedra; no entanto, espera
o Cristo venhamos todos a converte-lhe o evangelho de Amor e Sabedoria em
companheiro da prece, um livro escolar no aprendizado de cada dia, em fonte
inspiradoras de nossas mais humildes ações no trabalho comum e em código de
boas maneiras no intercâmbio fraternal.
Embora esclareça nossos
singelos objetivos, noto, antecipadamente, ampla perplexidade nesse ou naquele
grupo de crentes.
Que fazer? Temos imensas
distâncias a vencer no Caminho, para adquirir a Verdade e a Vida na
significação integral.
Compreendemos o respeito
devido ao Cristo, mas, pela própria exemplificação do Mestre, sabemos que o
labor do aprendiz fiel constitui-se de adoração e trabalho, de oração e esforço
próprio.
Quanto ao mais, consola-nos
reconhecer que os Textos Sagrados são dádivas do Pai a todos os seus filhos e,
por isso mesmo, aqui nos reportamos às palavras sábias de Simão Pedro:
"Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de
particular interpretação."
(1) Algumas destas páginas, já publicadas na
imprensa espiritista cristã, foram por nós revistas e simplificadas para maior
clareza de interpretação.
Emmanuel
(Pedro Leopoldo, 2 de setembro de 1948)
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