Autor espiritual: André Luiz
Ano:
1944
Prefácio:
Novo amigo
Os prefácios, em geral,
apresentam autores, exaltando-lhes o mérito e comentando-lhes a personalidade.
Aqui, porém, a situação é
diferente.
Embale os companheiros
encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da convenção.
Por vezes, o anonimato é
filho do legítimo entendimento e do verdadeiro amor. Para redimirmos o passo
escabroso, modificam-se tabelas da nomenclatura usual na reencarnação. Funciona
o esquecimento temporário como bênção da Divina Misericórdia.
André precisou, igualmente,
cerrar a cortina sobre si mesmo.
É por isso que não podemos apresentar o médico terrestre e autor humano, mas sim o novo amigo e irmão da eternidade.
Por trazer valiosas
impressões aos companheiros do mundo, necessitou despojar-se de todas as
convenções, inclusive a do próprio nome, para não ferir corações amados,
envolvidos ainda nos velhos mantos da ilusão. Os que colhem as espigas maduras,
não devem ofender os que plantam a distância, nem perturbar a lavoura verde,
ainda em flor.
Reconhecemos que este livro
não é único. Outras entidades já comentaram as condições de vida,
além-túmulo...
Entretanto, de há muito
desejamos trazer ao nosso círculo espiritual alguém que possa transmitir a
outrem o valor da experiência própria, com todos os detalhes possíveis à
legítima compreensão da ordem que preside o esforço dos desencarnados
laboriosos e bem-intencionados, nas esferas invisíveis ao olhar humano, embora
intimamente ligadas ao planeta.
Certamente que numerosos
amigos sorrirão ao contacto de determinadas passagens das narrativas. O
inabitual, entretanto, causa surpresa em todos os tempos. Quem não sorriria, na
Terra, anos atrás, quando se lhe falasse da aviação, da eletricidade, da
radiofonia?
A surpresa, a perplexidade e
a dúvida são de todos os aprendizes que ainda não passaram pela lição. É mais
que natural, é justíssimo. Não comentaríamos, desse modo, qualquer impressão
alheia. Todo leitor precisa analisar o que lê.
Reportamo-nos, pois,
tão-somente ao objetivo essencial do trabalho.
O Espiritismo ganha dilatada
expressão numérica. Milhares de criaturas interessavam-se pelos seus trabalhos,
modalidades, experiências. Nesse campo imenso de novidades, todavia, não deve o
homem descurar de si mesmo.
Não basta investigar
fenômenos, aderir verbalmente, melhorar a estatística, doutrinar consciências
alheias, fazer proselitismo e conquistar favores da opinião, por mais
respeitável que seja, no plano físico. É indispensável cogitar do conhecimento
de nossos infinitos potenciais, aplicando-os, por nossa vez, nossos serviços do
bem.
O homem terrestre não é um
deserdado. É filho de Deus, em trabalho construtivo, envergando a roupagem da
carne; aluno de escola benemérita, onde precisa aprender a elevar-se. A luta
humana é a sua oportunidade, a sua ferramenta, o seu livro.
O intercâmbio com o
invisível é um movimento sagrado, em função restauradora do Cristianismo puro;
que ninguém, todavia, se descuide das necessidades próprias, no lugar que ocupa
pela vontade do Senhor.
André Luiz vem contar a
você, leitor amigo, que a maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar
face a face com a própria consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no
purgatório ou nos precipitamos no abismo infernal; vem lembrar que a Terra é oficina
sagrada, e que ninguém a menosprezará, sem conhecer o preço do terrível engano
a que submeteu o próprio coração.
Guarde a experiência dele no
livro da'lma. Ela diz bem alto não basta à criatura apegar-se à existência
humana, mas precisa saber aproveitá-la dignamente; que os passos do cristão, em
qualquer escola religiosa, devem dirigir-se verdadeiramente ao Cristo, e que,
em nosso campo doutrinário precisamos, em verdade, do Espiritismo e do
Espiritualismo, mas, muito mais, de Espiritualidade.
Emmanuel
(Pedro Leopoldo, 3 de outubro de 1943)
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