Autor espiritual: Espíritos diversos
Ano:
1951
Prefácio:
No campo da vida, os
escritores guardam alguma semelhança com as árvores.
Não raro, defrontamos com
troncos vigorosos e erectos, que agradam à visão pelo conjunto, não oferecendo,
porém, qualquer vantagem ao viajor. Ora são altos, mas não possuem ramaria
agasalhante. Ora se mostram belos; todavia, não alimentam. Ora exibem flores de
vário colorido, que, no entanto, não frutificam.
São os artistas que escrevem
para si mesmos, perdidos nos solilóquios transcendentes ou nas interpretações
pessoais, inacessíveis ao interesse comum.
De quando em quando, topamos espinheiros. São verdes e atraentes de longe; contudo, apontam acúleos pungentes contra quantos lhes comungam da intimidade enganadora.
Temos aí os intelectuais que
convertem os raios da inteligência nos venenos ideológicos das teorias sociais
de crueldade ou nos tóxicos da literatura fescenina, com que favorecem o crime
passional e a mentira aviltante.
Por fim, encontramos os
benfeitores do mundo vegetal, consagrados à produção de benefícios para a ordem
coletiva. São sempre admiráveis pelos braços com que acolhem os ninhos, pela
sombra com que protegem as fontes, e pelos frutos com que nutrem o solo, os
vermes, os animais e os homens.
São os escritores que
trabalham realmente para os outros, esquecidos do próprio "eu",
integrados no processo geral. Sustentam as almas, transformam-nas, vestem-nas
de sentimentos novos, improvisam recursos mentais salvadores e formam ideais de
santificação e aprimoramento, que melhoram a Humanidade e aperfeiçoam o
Planeta.
Este livro é constituído de
galhos espirituais dessas árvores frutíferas. Os autores que o compõem, falando
à Terra, estimulam o coração humano à sementeira de vida nova.
É a voz amiga de almas irmãs
que voltam dos cumes resplandecentes da imortalidade, despertando companheiros
que adormeceram no vale sombrio.
Almas, que ajudam e
consolam, animam e esclarecem.
Não temos, todavia, qualquer
dúvida. Não obstante o mérito do que exprimem, muita gente prosseguirá
sonâmbula e entorpecida.
É que o despertar varia ao
infinito...
A galeza abre os olhos ao
canto do pássaro. A pedra, entretanto, somente acorda a explosões de dinamite.
Resta-nos, porém, a
confortadora certeza de que, se há milhões de almas anestesiadas nos enganos da
carne, já contamos, no mundo, com milhares de companheiros que possuem
"ouvidos de ouvir".
Emmanuel
(Pedro Leopoldo, 18 de abril de 1951)
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