Autor espiritual: Emmanuel
Ano:
1942
Prefácio:
Na Escola do Evangelho
Oferecendo esse esforço modesto ao amigo leitor, julgo prudente endereçar-lhe uma explicação, quanto à gênese destas páginas.
Dentro delas, sou o primeiro
a reconhecer que os meus temas não são os mesmos. Os que se preocupam com a
expressão fenomênica da forma não encontrarão, talvez, o mesmo estilo. Em
período algum, faço referências de sabor mitológico. E naqueles velhos amigos
que, como eu próprio aí no mundo, não conseguem atinar com as realidades da
sobrevivência, surpreendo, por antecipação, as considerações mais estranhas.
Alguns perguntarão, com certeza, se fui promovido a ministro evangélico.
Semelhante administração
pode ser natural, mas não será muito justa. O gosto literário sempre refletiu
as condições da vida do Espírito. Não precisamos muitos exemplos para
justificar a afirmação.. Minha própria atividade literária, na Terra, divide-se
em duas fases essencialmente distintas. A página do Conselheiro XX é muito
diversa das em que vazei as emoções novas a dor, como lâmpada maravilhosa, me
fazia descobrir, no país da minh’alma.
Meu problema atual não é o
de escrever para agradar, mas o de escrever com proveito.
Sei quão singelo é o esforço
presente; entretanto, desejo que ele reflita o meu testemunho de admiração por
todos os que trabalham pelo Evangelho no Brasil.
Nas esferas mais próximas da
Terra, os nossos labores por afeiçoar sentimentos, a exemplo do Cristo, são
também minuciosos e intensos. Escolas numerosas se multiplicam, para os
espíritos desencarnados. E eu, que sou agora um discípulo humilde desse
educandário de Jesus, reconheci que os planos espirituais têm também o seu
folclore. Os feitos heroicos e abençoados, muitas vezes anônimos no mundo,
praticados por seres desconhecidos, encerram aqui profundas lições, em que
encontramos forças novas. Todas as expressões evangélicas têm, entre nós, a sua
história viva. Nenhuma delas é símbolo superficial. Inumeráveis observações
sobre o Mestre e seus continuadores palpitam nos corações estudiosos e
sinceros.
Dos milhares de episódios
desse folclore do céu, consegui reunir trinta e trazer ao conhecimento do amigo
generoso que me concede a sua atenção. Concordo em que é pouco: mas isso deve
valer como tentativa útil, pois estou certo de que não me faltou o auxílio
indispensável.
Hoje, não mais cogito de
crer, porque sei. E aquele Mestre de Nazaré polariza igualmente as minhas
esperanças. Lembro-me de que, um dia palestrando com alguns amigos
protestantes, notei que classificavam a Jesus como “rocha dos séculos”. Sorri e
passei, como os pretensos espíritos fortes de nossa época, aí no mundo. Hoje,
porém, já não posso sorrir, nem passar. Sinto a “rocha” milenária, luminosa e
sublime, que nos sustenta o coração atolado no pântano de miséria seculares. E
aqui estou para lhe prestar o meu preito de reconhecimento com estas páginas
simples, cooperando com os que trabalham devotadamente na sua causa divina, de
luz e redenção.
Jesus vê que no vaso imundo
de meu espírito penetrou uma gota de seu amor desvelado e compassivo. O homem
perverso, que chegava da Terra, encontrou o raio de luz destinado à purificação
de seu santuário. Ele ampara os meus pensamentos com a sua bondade sem limites.
A ganga terrena ainda abafa, em meu coração, o ouro que me deu da sua
misericórdia; mas, como Bartolomeu, já possuo o bom ânimo para enfrentar os
inimigos de minha paz, que se abrigam em mim mesmo. Tenho a alegria do
Evangelho, porque reconheço que o seu amor não me desampara. Confiado nessa
proteção amiga e generosa, meu Espírito trabalha e descansa.
Agora, para consolidar a
estranheza dos que me leem, com o sabor de crítica, tão ao gosto do nosso
tempo, justificando a substância real das narrativas deste livro, citarei o
apóstolo Marcos, quando diz (4:34): “E sem parábola nunca lhes falava; porém,
tudo declarava em particular aos seus discípulos”, e o apóstolo João, quando
afirmava (21:25): “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez e que,
se cada uma de per si fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia
conter os livros que se escrevessem”.
E é só. Como se vê, não faço
referência aos clássicos da literatura antiga ou contemporânea. Cito Marcos e
João. É que existem Espíritos esclarecidos e Espíritos evangelizados, e eu,
agora, peço a Deus que abençoe a minha esperança de pertencer ao número destes
últimos.
Humberto de Campos
(Pedro Leopoldo, 9 de novembro de 1940)
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