Autor espiritual: André Luiz
Ano: 1960
Prefácio:
Mediunidade
Acena-nos a antiguidade
terrestre com brilhantes manifestações mediúnicas, a reportarem da História.
Discípulos de Sócrates
referem-se, com admiração e respeito, ao amigo invisível que o acompanhava
constantemente.
Reporta-se Plutarco ao
encontro de Bruto, certa noite, com um dos seus perseguidores desencarnados, a
visitá-lo, em pleno campo.
Em Roma, no templo de
Minerva, Pausânias, ali condenado a morrer de fome, passou a viver, em
Espírito, monodeizado na revolta em que se alucinava, aparecendo e desaparecendo
aos olhos de circunstantes assombrados, durante largo tempo.
Sabe-se que Nero, nos últimos dias de seu reinado, viu-se fora do corpo carnal, junto de Agripina e de Otávia, sua genitora e sua esposa, ambas assassinadas por sua ordem, a lhe pressagiarem a queda no abismo.
Os Espíritos vingativos em
torno de Calígula eram tantos nos jardins de Lâmia, eram ali vistos,
frequentemente, até que se lhe exumaram os despojos para a incineração.
Todavia, onde a mediunidade
atinge culminância é justamente no
Cristianismo nascituro.
Toda a passagem do Mestre
inesquecível, entre os homens, é um cântico de luz e amor, externando-lhe a
condição de Medianeiro da Sabedoria Divina.
E, continuando-lhe o
ministério, os apóstolos que se lhe mantiveram leais converteram-se em médiuns
notáveis, no dia de Pentecostes, quando, associadas as suas forças, por se
acharem "todos reunidos", os emissários espirituais do Senhor,
através deles, produziram fenômenos físicos em grande cópia, como sinais
luminosos e vozes diretas, inclusive fatos de psicofonia e xenoglossia, em que
os ensinamentos do Evangelho foram ditados em várias línguas, simultaneamente,
para os israelitas de procedências diversas.
Desde então, os eventos
mediúnicos para eles se tornaram habituais.
Espíritos materializados
libertavam-nos da prisão injusta.
O magnetismo curativo era
vastamente praticado pelo olhar e pela
imposição das mãos.
Espíritos sofredores eram
retirados de pobres obsessos, aos quais vampirizavam.
Um homem objetivo e teimoso,
quanto Saulo de Tarso, desenvolve a clarividência de um momento para outro, vê
o próprio Cristo, às portas de Damasco, e lhe recolhe as instruções. E porque
Saulo, embora corajoso, experimente enorme abalo moral, Jesus, condoído,
procura Ananias, médium clarividente na aludida cidade, e pede-lhe socorro para
o companheiro que encetava a tarefa.
Não somente na casa dos
apóstolos em Jerusalém mensageiros espirituais prestam contínua assistência aos
semeadores do Evangelho; igualmente no
lar dos cristãos, em
Antioquia, a mediunidade opera serviços valiosos e incessantes. Dentre os
médiuns aí reunidos, um deles, de nome Agabo, incorpora um Espírito benfeitor
que realiza importante premonição. E nessa mesma igreja, vários instrumentos
medianímicos aglutinados favorecem a produção da voz direta, consignando
expressiva incumbência a Paulo e Barnabé.
Em Trôade, o apóstolo da
gentilidade recebe a visita de um varão, em Espírito, a pedir-lhe concurso
fraterno.
E, tanto quanto acontece
hoje, os médiuns de ontem, apesar de guardarem consigo a Bênção Divina,
experimentavam injustiça e perseguição. Quase por toda a parte, padeciam
inquéritos e sarcasmos, vilipêndios e tentações.
Logo no início das
atividades mediúnicas que lhes dizem respeito, veem-se Pedro e João segregados
no cárcere. Estêvão é lapidado. Tiago, o filho de Zebedeu, é morto a golpes de
espada. Paulo de Tarso é preso e açoitado várias vezes.
A mediunidade, que prossegue
fulgindo entre os mártires cristãos, sacrificados nas festas circenses, não se
eclipsa, ainda mesmo quando o ensinamento de Jesus passa a sofrer estagnação
por impositivos de ordem política. Apenas há alguns séculos, vimos Francisco de
Assis exalçando-a em luminosos acontecimentos; Lutero transitando entre visões;
Teresa d'Ávila em admiráveis desdobramentos; José de Copertino levitando ante a
espantada observação do papa Urbano VIII, e Swedenborg recolhendo, afastado do
corpo físico, anotações de vários planos espirituais que ele próprio filtra
para o conhecimento humano, segundo as concepções de sua época.
Compreendemos, assim, a
validade permanente do esforço de André Luiz, que, servindo-se de estudos e
conclusões de conceituados cientistas terrenos, tenta, também aqui, colaborar
na elucidação dos problemas da mediunidade, cada vez mais inquietantes na vida
conturbada do mundo moderno.
Sem recomendar, de modo
algum, a prática do hipnotismo em nossos templos espíritas, a ele recorre, de
escantilhão, para fazer mais amplamente compreendidos os múltiplos fenômenos da
conjugação de ondas mentais, além de com isso demonstrar que a força magnética
é simples agente, sem ser a causa das ocorrências medianímicas, nascidas,
invariavelmente, de espírito para espírito.
Em nosso campo de ação,
temos livros que consolam e restauram, medicam e alimentam, tanto quanto
aqueles que propõem e concluem, argumentam e esclarecem.
Nesse critério,
surpreendemos aqui um livro que estuda.
Meditemos, pois, sobre suas
páginas.
Emmanuel
(Uberaba, 6 de agosto de 1959)
Nenhum comentário:
Postar um comentário