Autor espiritual: Espíritos Diversos
Ano: 1956
Prefácio:
Explicação Necessária
Segundo a praxe, um livro
diferente no muno das letras pede a apresentação de alguém que lhe abrace o
conteúdo.
Mesmo nas letras espíritas,
isso é norma corrente, com a movimentação dos literatos de renome ou dos
instrutores desencarnados.
Neste livro, porém, o caso
foge à regra.
Não dispomos de qualquer
galardão para adquirir o favor da publicidade.
Nossos Amigos Espirituais, contudo, são de parecer que notícias e ideias, para que se definam, reclamam o selo do testemunho pessoal de quem lhes opera o lançamento e, por isso, não porque a nossa manifestação deva reportar-se ao esforço do beletrista, mas sim à responsabilidade moral do servidor, aqui estamos, por fidelidade à própria consciência, esposando nosso dever com alegria.
Passemos, pois, aos assuntos
e aos fatos.
Corria o ano de 1951 e
frequentes se faziam nossas excursões de Belo Horizonte, onde residimos, a
Pedro Leopoldo, hoje região suburbana da Capital mineira.
Em conversações fraternas e
amigas com nosso companheiro de ideal Francisco Cândido Xavier, muitas vezes
observávamos o volume crescente dos casos de obsessão que procuravam
incessantemente as reuniões públicas do Centro Espírita Luiz Gonzaga, nas
noites de segundas e sextas-feiras.
Impressionava-nos a
multiplicidade dos problemas tristes.
As moléstias mentais, como
ainda hoje acontece, compareciam, uma trás outra. Possessão, fascinação,
histeria, desequilíbrio, loucura...
E o Chico, por várias vezes,
falou-nos do desejo expresso pelos mentores espirituais, no sentido de se criar
um grupo de irmãos conscientes e responsáveis para a assistência especializada
aos problemas difíceis.
Inegavelmente, o Luiz
Gonzaga, hoje como há quase trinta anos, vem prestando aos enfermos que lhe
batem às portas todo auxílio de que dispõe, através da oração, do socorro
magnético e da genuína elucidação evangélica.
Ainda assim, acumulavam-se
os obsessos marginais, numerosos e complexos.
E de quando em quando nos
perguntava o Chico se não nos decidiríamos a aceitar a direção de um núcleo
doutrinário independente, para atender às tarefas da desobsessão.
Antigamente, em conexão com
Luiz Gonzaga, funcionara em Pedro Leopoldo um círculo dessa natureza.
Mas, em fevereiro de 1939,
desencarnava o confrade José Xavier, que o dirigia, e a partida do companheiro
encerrara-lhe a existência.
Não seria justo reatar o
serviço especializado de assistência aos alienados mentais, então interrompido?
Ante as perguntas do médium,
começamos a meditar.
Não foi possível
considerar-lhe, de pronto, os apelos.
Relutamos, conhecendo nossas
próprias deficiências.
Além disso, obrigações
múltiplas nos tomavam o tempo e a providência exigiria estudo e reflexão na
esfera teórica de nossa Doutrina, para que não nos falhasse a segurança na
prática.
Hesitávamos, temendo acolher
responsabilidades em que não pudéssemos persistir.
Os dias, porém, sucediam-se
uns aos outros e, com a romaria constante dos enfermos mentais, repetiam-se as
indagações do amigo.
Por que motivo não organizar
um posto de socorro mediúnico para a prestação de serviço aos necessitados?
Em meados de 1952, aderimos
finalmente.
Convidamos alguns irmãos
conscientes da gravidade que o assunto envolve em si e, na noite de 31 de julho
do ano mencionado, realizamos nossa primeira reunião.
Grupo reduzido. Vinte
companheiros que perseveram unidos até agora, dos quais dez médiuns com
faculdades psicofônicas apreciáveis.
O programa traçado pelos
Instrutores Espirituais prossegue dentro de normas rígidas.
Reuniões semanais, nas
noites de quintas-feiras. Atividades mediúnicas em atmosfera de intimidade.
Ausência total de público. Além do quadro habitual da equipe, somente a
presença dos enfermos, assim mesmo quando absolutamente necessária. Horário
rigoroso.
E, por imposição dos amigos
que conosco trabalham, a agremiação recebeu o nome de Grupo Meimei, em
recordação da irmã e companheira dedicada que, de imediato, recebeu do Mundo
Espiritual a incumbência de assistir-nos as tarefas e amparar-nos os serviços.
Esse o nosso início,
recomeçando a obra especializada de desobsessão em Pedro Leopoldo, interrompida
por treze anos consecutivos.
A princípio, reuníamo-nos na
antiga dependência que o Centro Espírita Luiz Gonzaga ocupou, de 1927 a 1950,
mas, em 1954, no segundo aniversário de nossa instituição, por mercê de Deus e
com a colaboração espontânea e desinteressada dos nossos companheiros,
transferimo-nos para a nossa sede própria
e definitiva que, embora singela, se levanta acolhedora à rua Benedito
Valadares, nesta Cidade.
Falemos agora de nossas
sessões propriamente ditas.
Iniciamos nossas atividades
impreterivelmente às vinte horas, na noites de quintas-feiras.
Sempre o mesmo quadro
inalterado de irmãos em lide.
Destinamos os primeiros
quinze minutos à leitura de trechos doutrinários, à prece de abertura e à
palavra rápida do amigo espiritual que nos fornece instruções.
Às vinte horas e quinze
minutos, aproximadamente, encetamos o socorro aos desencarnados, constando de
esclarecimento e consolo, enfermagem moral e edificação evangélica, a benefício
das entidades conturbadas e sofredoras, no que despendemos noventa minutos,
valendo-nos da cooperação de todos os médiuns presentes.
Às vinte e uma horas e
quarenta e cinco minutos, o ambiente é modificado.
È a parte final que
dedicamos à prece, em favor de enfermos distantes. É, nesses quinze minutos que
precedem o encerramento, sempre recebemos, pela psicofonia sonambúlica de
Francisco Cândido Xavier, a palavra direta de nossos instrutores e benfeitores
desencarnados.
Explicada a existência de
nosso grupo e aclarado o nosso programa de serviço, reportemo-nos agora à
formação deste livro.
Desde 1952, lamentávamos a
perda dos ensinamentos recolhidos na fase terminal de nossas reuniões.
Eram lições primorosas dos
orientadores, palestras edificantes de amigos, relatos comoventes de irmãos
recuperados e preleções de caráter científico, filosófico e religioso,
proferidas por devotados e cultos mentores, de passagem por nosso recinto.
Para reter-lhes a palavra
construtiva e consoladora, muita vez suspiramos pela colaboração de um
taquígrafo.
Nos primeiros dias de 1954,
numa das sessões públicas do Centro Espírita Luiz Gonzaga, comentávamos o
problema com o nosso distinto confrade Professor Carlos Torres Pastorino, do
Rio de Janeiro, e esse nosso amigo, com cativante gentileza, ofereceu-nos
gravadora de sua propriedade. Poderíamos utilizá-la em Pedro Leopoldo e,
encantados, guardamo-la por valioso empréstimo.
Foi assim que, desde a noite
de 11 de março de 1954, graças a bondade de Deus e à generosidade de um amigo,
nos foi possível fixar as alocuções dos instrutores e irmãos desencarnados que
nos visitam.
É preciso dizer que o médium
Chico Xavier sempre as recebeu psicofonicamente, no último quarto de hora das
nossas seções, muita vez depois de exaustivo labor na recepção de entidades
perturbadas, em socorro de obsessos e doentes, serviço esse no qual coopera,
igualmente, junto com os demais médiuns de nossa agremiação.
Alguém sugeriu a
conveniência de organizarmos um livro com as presentes comunicações faladas, o
primeiro obtido através das faculdades psicofônicas do médium Xavier, e aqui o
temos, apresentado, não pela competência literária de que não dispomos, mas
pelo nosso amor às responsabilidades assumidas.
Devemos informar que
infelizmente não podemos, por impossível, registrar no papel a beleza das
recepções, as variações do tom de voz, as paradas mais ou menos largas, o
entrecortamento de palavras ou de frases por lágrimas de comoções ou gestos de
alegria, a mudança, mesmo, do tipo de vos, além de outros característicos que
valorizariam sobremaneira, o nosso humilde pensar, as páginas de que os
leitores tomarão conhecimento a seguir.
Fizemos preceder cada
mensagem por anotações informativas que julgamos indispensáveis à apreciação do
leitor, e à guisa de posfácio, colocamos no presente volume os apontamentos
estatísticos de dois anos sucessivos de ação espiritual do Grupo Meimei, para
estudo dos nossos irmãos de ideal interessados no assunto.
Finalizando, consignamos
aqui o nosso profundo reconhecimento à bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo,
suplicando a Ele abençoe os orientadores e amigos espirituais que amorosamente
nos assistem. E, agradecendo a todos os nossos companheiros de tarefa pelo
concurso decisivo e fraternal de sempre, rogamos a Deus, Nosso Pai Celestial,
nos ampare e fortaleça, em nossos desejos de progresso e renovação.
Arnaldo Rocha
(Pedro Leopoldo, 10 de junho de 1955)
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