O livro dos espíritos. Questão 483

MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS

CAPÍTULO IX – INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPORAL

Convulsionários

483. Qual a causa da insensibilidade física que se observa em alguns convulsionários, assim como em outros indivíduos submetidos às mais atrozes torturas?

“Em alguns é, exclusivamente, efeito do magnetismo que atua sobre o sistema nervoso, do mesmo modo que certas substâncias. Em outros, a exaltação do pensamento embota a sensibilidade. Dir-se-ia que nestes a vida se retirou do corpo, para se concentrar toda no Espírito. Não sabeis que, quando o Espírito está vivamente preocupado com uma coisa, o corpo nada sente, nada vê e nada ouve?”

A.K.: A exaltação fanática e o entusiasmo hão proporcionado, em casos de suplícios, múltiplos exemplos de uma calma e de um sangue frio que não seriam capazes de triunfar de uma dor aguda, senão admitindo-se que a sensibilidade se acha neutralizada, como por efeito de um anestésico. Sabe-se que, no ardor da batalha, combatentes há que não se apercebem de que estão gravemente feridos, ao passo que, em circunstâncias ordinárias, uma simples arranhadura os poria trêmulos.

Visto que esses fenômenos dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos, lícito se torna perguntar como há podido uma autoridade pública fazê-los cessar em alguns casos. Simples a razão. Meramente secundária é aqui a ação dos Espíritos, que nada mais fazem do que aproveitar-se de uma disposição natural. A autoridade não suprimiu essa disposição, mas a causa que a entretinha e exaltava. De ativa que era, passou esta a ser latente. E a autoridade teve razão para assim proceder, porque do fato resultava abuso e escândalo. Sabe-se, demais, que semelhante intervenção nenhum poder absolutamente tem, quando a ação dos Espíritos é direta e espontânea.

A causa da insensibilidade

A causa da insensibilidade física mais profunda, observada em certos convulsionários, é a fé. Ela isola perfeitamente toda a dor, todo o constrangimento, todo o estado deprimente que nos faz consumir as oportunidades de vida na carne. A fé abre caminhos para as grandes esperanças na pátria espiritual. A fé, verdadeiramente, é mãe da esperança e filha da caridade.

Existem muitos meios pelos quais poderemos isolar a dor, tirando completamente a atenção do lugar enfermo. Os soldados em batalha, por exemplo, somente vão sentir a dor, quando feridos, depois de algum tempo, porque, no momento, no front, a sua atenção está voltada para o combate e a defesa. Nos circos romanos, na época de Jesus, a fé isolava totalmente a dor dos cristãos torturados. O importante é, pois, o ponto de apoio e força onde a criatura busca a serenidade no sacrifício.

Quando a fé faz parte da nossa vida, podemos canalizá-la para outrem, projetando e alimentando no seu íntimo a esperança e a alegria em qualquer estado em que se encontre sua alma. O próprio Jesus chegou a dizer muitas vezes: “A tua fé te curou”. Isso é grandioso para os que têm confiança em Deus e em si mesmo. Com a fé, são incontáveis os caminhos pelos quais podemos penetrar na insensibilidade perante a dor que nos castigue, nos momentos mais difíceis.

O magnetizador provoca a insensibilidade no sensitivo, mas só quando há sintonia, afinidade entre eles. Porém, tudo isso nasce da fé, porque o magnetizado tem fé no magnetizador e nas correntes da fé passa uma força que obedece ao que comanda, em conexão com o comandado, e o resultado, se esse for o caso, é a insensibilidade que se mostra em várias funções ou graus que o magnetizador queira levar.

Poderemos desenvolver esse assunto de muitos modos, para maior compreensão. As palavras que chegam aos nossos ouvidos são forças que passam a nos magnetizar e, conforme a fonte, pode mais ou menos nos influenciar. Primeiramente, influenciam-nos as palavras dos pais, dos professores e dos nossos amigos, dos que nós obedecemos, e dos próprios filhos, dos que nos tratam das enfermidades e, principalmente, dos Espíritos. As influências se estendem ao infinito, e as pessoas de maior autoridade moral nos sugestionam mais profundamente, como também aos nossos inimigos, encarnados e desencarnados. Vivemos em um mundo de influências, como também influenciamos em todos os rumos.

O próprio fanatismo exerce uma influência muito grande, mas perigosa. O fanático entrega a vida ao sacrifício pelas ideias que alimenta. Isto é comprovado em todos os setores da vida. O fanatismo nasce de onde? Da fé cega, que foge à razão em Jesus.

Há, ainda, a insensibilidade provocada pelos Espíritos, tanto superiores quanto inferiores; tudo depende da sintonia, das almas às quais estamos ligados por semelhança de ideias. Quando as criaturas conhecerem mais a verdade e ela passar a comandar a sua vida, dar-se-á o nascimento da libertação, de modo que a fé cega cederá lugar à fé raciocinada. Com a evolução espiritual, a própria fé raciocinada entregará o bastão à fé intuitiva, que nunca deixará errar o caminho para a felicidade da alma, porque essa se encontrará na pureza da vida que desconhece mácula.

Deves ser insensível ao mal de todos os tipos, mas ser muito sensível ao bem que tem vida eterna, na eternidade de Deus. Estamos em um período de muito estudo, por nos faltarem conhecimentos espirituais sobre a ciência da vida. Ainda nos debatemos nas trevas da ignorância e a nossa sensibilidade está como radar espiritual que somente capta ondas negativas. Se fizermos uma soma de pensamentos e ideias que guardamos na consciência, certificar-nos-emos de que quase todas elas são de ordem inferior, mas com o poder de Deus, nas linhas de Jesus, canal divino do mesmo Senhor, começamos a mudar o nosso modo de pensar e sentir a vida, encontrando o céu mais perto do que julgávamos, na cidade do coração.

Fonte:

O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.

Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes. 

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