Autor espiritual: Emmanuel
Ano:
1940
Prefácio:
Carta ao Leitor:
Meu amigo, Deus te conceda paz.
Se leste as páginas singelas
do “Há Dois Mil Anos...”, é possível que procures aqui a continuação das lutas
intensas, vividas pelas suas personagens reais, na arena de lutas redentoras da
Terra. É por esse motivo que me sinto obrigado a explicar-te alguma coisa, com
respeito ao desdobramento desta nova história.
Cinquenta anos depois das
ruínas fumegantes de Pompéia, nas quais o impiedoso senador Públio Lentulus se
desprendia novamente do mundo, para aferir o valor de suas dolorosas
experiências terrestres, vamos encontrá-lo, nestas páginas, sob a veste humilde
dos escravos, que o seu orgulhoso coração havia espezinhado outrora. A
misericórdia do Senhor permitia-lhe reparar, na personalidade de Nestório, os
desmandos e arbitrariedades cometidos no pretérito, quando, como homem público,
supunha guardar nas mãos vaidosas, por injustificável direito divino, todos os
poderes. Observando um homem cativo, reconhecerás, em cada traço de seus
sofrimentos, o venturoso resgate de um passado de faltas clamorosas.
Todavia, sinto-me no dever
de esclarecer-te a curiosidade, com referência aos seus companheiros mais
diretos, na nova romagem terrena, de que este livro é um testemunho real.
Não obstante estarem na
Terra, pela mesma época, os membros da família Severos, Flávia e Marcus
Lentulus, Saul e André de Gioras, Aurélia, Supício, Flávia e demais comparsas
do mesmo drama, devo esclarecer-te que todos esses companheiros de luta
mourejavam, na ocasião, em outros setores de sofrimentos abençoados, não
comparecendo aqui, onde o senador Públio Lentulus aparece, aos teus olhos, na
indumenta de escravo, já na idade madura, como elemento integrante de um quadro
novo.
De todas as personagens do
“Há Dois Mil Anos...’’, um contudo aqui se encontra, junto de outras figuras do
mesmo tempo, como Policarpo, embora não relacionado nominalmente no livro
anterior, companheiro esse que, pelos laços afetivos, se lhe tornara um irmão
devotado e carinhoso, pelas mesmas lutas políticas e sociais na Roma de Nero e
de Vespasiano. Quero referir-me a Pompílio Crasso, aquele mesmo irmão de
destino na destruição de Jerusalém, cujo coração palpitante lhe fora retirado
do peito por Nicandro, às ordens severas de um chefe cruel e vingativo.
Pompílio Crasso é o mesmo
Helvídio Lucius destas páginas, ressurgindo no mundo para o trabalho renovador
e, aludindo a um amigo dedicado e generoso, quero dizer-te que este livro não
foi escrito de nós e por nós, no pressuposto de descrever as nossas lutas
transitórias no mundo terrestre. Este livro é o repositório da verdade sobre um
coração sublime de mulher, transformada em santa, cujo heroísmo divino foi uma
luz acesa na estrada de numerosos Espíritos amargurados e
sofredores.
No “Há Dois Mil Anos...”
buscávamos encarecer uma época de luzes e sombras, onde a
materialidade romana e o Cristianismo disputavam a posse das almas, num cenário
de misérias e esplendores, entre as extremas exaltações de César e as
maravilhosas edificações em Jesus-Cristo. Ali, Públio Lentulus se movimenta num
acervo de farraparias morais e deslumbramentos transitórios; aqui, entretanto,
como o escravo Nestório, observa ele uma alma. Refiro-me a Célia, figura
central das páginas desta história, cujo coração, amoroso e sábio, entendeu e
aplicou todas as lições do Divino Mestre, no transcurso doloroso de sua vida.
Na sequencia dos fatos, dentro da narrativa, seguirás os seus passos de menina
e de moça, como se observasses um anjo pairando acima de todas as contingências
da Terra. Santa pelas virtudes e pelos atos de sua existência edificante, seu
Espírito era bem o lírio nascido do lado das paixões do mundo, para perfumar a
noite da vida terrestre, com os odores suaves das mais divinas esperanças do
Céu.
Podemos afirmar, portanto,
leitor amigo, que este volume não relaciona, de modo integral, a continuação
das experiências purificadoras do antigo senador Lentulus, nos círculos de
resgate dos trabalhos terrestres. É a história de um sublime coração feminino
que se divinizou no sacrifício e na abnegação, confiando em Jesus, nas lágrimas
da sua noite de dor e de trabalho, de reparação e de esperança. A Igreja Romana
lhe guarda, até hoje, as generosas tradições, nos seus arquivos envelhecidos,
se bem que as datas e as denominações, as descrições e apontamentos se
encontrem confusos e obscuros pelo dedo viciado dos narradores humanos.
Mas, meu irmão e meu amigo,
abre estas páginas refletindo no turbilhão de lágrimas que se represa no
coração humano e pensa no quinhão de experiência amargas que os dias
transitórios da vida te trouxerem. E’ possível que também tenhas amado e
sofrido muito. Algumas vezes experimentaste o sopro frio da adversidade
enregelando o teu coração. De outras, feriram-te a alma bem intencionada e
sensível a calúnia ou o desengano. Em certas circunstância, olhaste também o
céu e perguntaste, em silêncio, onde se encontrariam a Verdade e a Justiça,
invocando a misericórdia de Deus, em preces dolorosas. Conhecendo, porém, que
todas as dores têm uma finalidade gloriosa na redenção do teu Espírito, lê esta
história real e medita. Os exemplos de uma alma santificada no sofrimento e na
humildade, ensinar-te-ão a amar o trabalho e as penas de cada dia;
observando-lhe os martírios morais e sentindo, de perto, a sua profunda fé,
experimentarás um consolo brando, renovando as tuas esperanças em Jesus-Cristo.
Busca entender a essência
deste repositório de verdades confortadoras e, do plano espiritual, o Espírito
purificado de nossa heroína derramará em teu coração o bálsamo consolador das
esperanças sublimes.
Que aproveites do exemplo,
como nós outros, nos tempos recuados das lutas e das experiências que passaram,
é o que te deseja um irmão e servo humilde.
Emmanuel
(Pedro Leopoldo, 19 de dezembro de 1939)
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