Autor espiritual: Emmanuel
Ano:
1939
Prefácio:
Na Intimidade de Emmanuel
Ao Leitor:
Leitor, antes de penetrares
o limiar desta história, é justo apresentemos à tua curiosidade algumas
observações de Emmanuel, o ex-senador Públio Lentulus, descendente da orgulhosa
“gens Cornelia”, recebidas desse generoso Espírito, na intimidade do grupo de
estudos espiritualistas de Pedro Leopoldo, Estado de Minas Gerais.
Através destas observações
ficarás conhecendo as primeiras palavras do Autor, a respeito desta obra, e
suas impressões mais profundas, no curso do trabalho, que foi levado a efeito
de 24 de outubro de 1938 a 9 de fevereiro de 1939, segundo as possibilidades de
tempo do seu médium e sem perturbar outras atividades do próprio Emmanuel,
junto aos sofredores que frequentemente o procuram, e junto ao esforço de
propaganda do Espiritismo cristão na Pátria do Cruzeiro.
Em 7 de setembro de 1938,
afirmava ele em pequena mensagem endereçada aos seus amigos encarnados:
“Algum dia, se Deus mo
permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Públio Lentulus, a fim de algo
aprenderdes nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata.
Esperemos o tempo e a
permissão de Jesus.”
Emmanuel não esqueceu a
promessa. Com efeito, em 21 de outubro do mesmo ano, voltava a recordar, noutro
comunicado familiar:
“Se a bondade de Jesus nos
permitir, iniciaremos o nosso esforço, dentro de alguns dias, esperando eu a
possibilidade de grafarmos as nossas lembranças do tempo em que se verificou a
passagem do Divino Mestre sobre a face da Terra.”
Não sei se conseguiremos
realizar tão bem, quanto desejamos, semelhante intento. De antemão , todavia,
quero assinalar minha confiança na misericórdia do Nosso Pai de Infinita
Bondade”.
De fato, em 24 de Outubro
referido, recebida o médium Xavier a primeira página deste livro e, no dia
seguinte, Emmanuel voltava a dizer:
“Iniciamos, com o amparo de Jesus,
mais um despretensioso trabalho. Permita Deus que possamos levá-lo a bom termo.
Agora verificareis a
extensão de minhas fraquezas no passado, sentindo-me, porém, confortado em
aparecer com toda a sinceridade do meu coração, ante o plenário de vossas
consciências. Orai comigo, pedindo a Jesus para que eu possa completar esse
esforço, de modo que o plenário se dilate, além do vosso meio, a fim de que a
minha confissão seja um roteiro para todos.”
Durante todo o esforço de
psicografia, o Autor deste livro não perdeu ensejo de ensinar a humildade e a
fé a quantos o acompanham. Em 30 de dezembro de 1938, comentava, em nova
mensagem afetuosa:
“Agradeço, meus filhos, o
precioso concurso que me vindes prestando. Tenho-me esforçado, quanto possível,
para adaptar uma história tão antiga ao sabor das expressões do mundo moderno,
mas, em relatando a verdade, somos levados a penetrar, antes de tudo, na
essência das coisas, dos fatos e dos ensinamentos.
Para mim essas recordações
têm sido muito suaves, mas também muito amargas. Suaves pela rememoração das
lembranças amigas, mas profundamente dolorosas, considerando o meu coração
empedernido, que não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio da
minha vida de Espírito, há dois mil anos.
Permita Jesus que eu possa
atingir os fins a que me propus, apresentando, nesse trabalho, não uma
lembrança interessante acerca de minha pobre personalidade, mas, tão somente,
uma experiência para os que hoje trabalham na semeadura e na seara do Nosso
Divino Mestre.”
De outras vezes, Emmanuel
ensinava aos seus companheiros encarnados a necessidade de nossa ligação
espiritual com Jesus, no desempenho de todos os trabalhos. No dia 4 de Janeiro
de 1939, grafava ele esta prece, ainda com respeito às suas memórias do passado
remoto:
“Jesus, Cordeiro
Misericordioso do Pai de todas as graças, são passados dois mil anos e minha
pobre alma ainda revive os seus dias amargurados e tristes!...
Que são dois milênios,
Senhor, no relógio da Eternidade?
Sinto que a tua misericórdia
nos responde em suas ignota profundezas... Sim, o tempo é o grande tesouro do
homem e vinte séculos, como vinte existências diversas, podem ser vinte dias de
provas, de experiências e de lutas redentoras.
Só a tua bondade é infinita!
Somente tua misericórdia pode abranger todos os séculos e todos os seres,
porque em Ti vive a gloriosa síntese de toda a evolução terrestre, fermento
divino de todas as culturas, alma sublime de todos os pensamentos.
Diante de meus pobres,
olhos, desenha-se a velha Roma dos meus pesares e das minhas quedas
dolorosas... Sinto-me ainda envolto na miséria de minhas fraquezas e contemplo
os monumentos das vaidades humanas... Expressões políticas, variando nas suas
características de liberdade e de força, detentores da autoridade e do poder, senhores
da fortuna e da inteligência, grandezas efêmeras que perduram apenas por um dia
fugaz!... Tronos e púrpuras, mantos preciosos das honrarias terrestres, togas
da falha justiça humana, parlamentos e decretos supostos irrevogáveis!... Em
silêncio, Senhor, viste a confusão que se estabelecera entre os homens
inquietos e, com o mesmo desvelado amor, salvaste sempre as criaturas no
instante doloroso das ruínas supremas... Deste a mão misericordiosa e imaculada
aos povos mais humildes e mais frágeis, confundiste a ciência mentirosa de
todos os tempos, humilhaste os que se consideravam grandes e poderosos!...
Sob o teu olhar compassivo,
a morte abriu suas portas de sombra e as falsas glórias do mundo foram
derruídas no torvelinho das ambições, reduzindo-se todas as vaidades a um
acervo de cinzas!...
Ante minha alma surgem as
reminiscências das construções elegantes das colinas célebres; vejo o Tibre que
passa, recolhendo os detritos da grande Babilônia imperial, os aquedutos, os
mármores preciosos, as termas que pareciam indestrutíveis... Vejo ainda as ruas
movimentadas, onde uma plebe miserável espera as graças dos grandes senhores,
as esmolas de trigo, os fragmentos de pano para resguardarem do frio a nudez da
carne.
Regurgitam os circos... Há
uma aristocracia do patriciado observando as provas elegantes do Campo de Marte
e, e tudo, das vias mais humildes até os palácios mais suntuosos, fala-se de
César, o Augusto!...
Dentro dessas recordações,
eu passo, Senhor, entre farraparias e esplendores, com o meu orgulho miserável!
Dos véus espessos de minhas sombras, também eu não te podia ver, no Alto, onde
guardas o teu sólido de graças inesgotáveis .
Enquanto o grande Império se
desfazia em suas lutas inquietantes, trazias o teu coração no silêncio e, como
os outros, eu não percebia que vigiavas!
Permitiste que a Babel
romana se levantasse muito alto, mas, quando viste que se ameaçava a própria
estabilidade da vida no planeta, disseste: - “Basta! São vindos os tempos de
operar-se na seara da Verdade!” E os grandes monumentos, com as
estátuas dos deuses antigos, rolaram de seus pedestais maravilhosos! Um sopro
de morte varreu as regiões infestadas pelo vírus da ambição e do egoísmo
desenfreado, despovoando-se, então, a grande metrópole do pecado. Ruíram os
circos formidandos, caíram os palácios, enegreceram-se os mármores luxuosos...
Bastou uma palavra tua,
Senhor, para que os grandes senhores voltassem às margens do Tibre, como
escravos misérrimos!... Perambulamos, assim, dentro da nossa noite, até o dia
em que nova luz brotara em nossa consciência. Foi preciso que os séculos
passassem, para aprendermos as primeiras letras de tua ciência infinita, de
perdão e de amor!
E aqui estamos, Jesus, para
louvar-te a grandeza! Dá que possamos recordar-te em cada passo, ouvir-te a voz
em cada som distraído do caminho, para fugirmos da sombra dolorosa!...
Estende-nos tuas mãos e fala-nos ainda do teu Reino!... Temos sede imensa
daquela água eterna da vida, que figuraste no ensinamento à Samaritana . . .
Exército de operários do teu
Evangelho, nós nos movemos sob as tuas determinações suaves e sacrossantas!
Ampara-nos, Senhor, e não nos retires dos ombros a cruz luminosa e redentora,
mas ajuda-nos a sentir, nos trabalhos de cada dia, a luz eterna e imensa do teu
Reino de paz, de concórdia e de sabedoria, em nossa estrada de luta, de
solidariedade e de esperança!...
Em 8 de fevereiro último,
véspera do término da recepção deste livro, agradecia Emmanuel o concurso de
seus companheiros encarnados, em comunicado familiar, do qual destacamos
algumas frases:
“Meus amigos, Deus vos
auxilie e recompense. Nosso modesto trabalho está a terminar. Poucas páginas
lhe restam e eu vos agradeço de coração.
- Reencontrando os Espíritos
amigos das épocas mortas, sinto o coração satisfeito e confortado ao verificar
a dedicação de todos ao firme pensamento de evolução, para a frente e para o
alto, pois não é sem razão de ser que hoje laboramos na mesma oficina de
esforço e boa vontade.
Jesus há de recompensar a
cota de esforço amigo e sincero que me prestastes e que a sua infinita
misericórdia vos abençoe é a minha oração de sempre.”
Aqui ficam algumas das
anotações íntimas de Emmanuel, fornecidas na recepção deste livro. A humildade
desse generoso Espírito vem demonstrar que no plano invisível há, também,
necessidade de esforço próprio, de paciência e de fé para as realizações.
As notas familiares do Autor
são um convite para que todos nós saibamos orar, trabalhar e esperar em
Jesus Cristo, sem desfalecimentos na luta que a bondade divina nos oferece para
o nosso resgate, no caminho da redenção.
(Pedro Leopoldo, 2 de março de 1939)
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