Autor espiritual: Humberto de Campos
Ano:
1943
Prefácio:
Do noticiarista desencarnado
A sepultura não é a porta do
céu, nem a passagem para o inferno. É o bangalô subterrâneo das células
cansadas – silencioso depósito do vestuário apodrecido.
O homem não encontrará na
morte mais do que vida e, no misterioso umbral, a grande surpresa é o encontro
de si mesmo.
Falar, pois, de homens e de
espíritos, como se fossem expoentes de duas raças antagônicas, vale por falsa
concepção das realidades eternas. As criaturas terrenas são, igualmente,
Espíritos revestidos de expressões peculiares ao planeta. Eis a verdade que o
Cristianismo restaurado difundirá nos círculos da cultura religiosa.
Quanta gente aguarda a grande transição para regenerar costumes e renovar pensamentos? Entretanto, adiar a realização do bem é, sempre, menosprezar patrimônios divinos, agravando dificuldades futuras.
Deslumbramento que invadiu
as zonas de intercâmbio, entre as esferas visível e invisível, operou
singulares atitudes nos aprendizes novos.
Em círculos diversos,
companheiros nossos, pelo simples fato de haverem transposto os umbrais do
sepulcro, são convertidos, pelos que ficaram na Terra, em oráculos supostamente
infalíveis; alguns amigos, porque encontraram benfeitores na zona espiritual,
esquecem os serviços que lhes competem no esforço comum; médiuns necessitados
de esclarecimentos são transformados em semideuses.
A alegria da imortalidade
embriagou a muitos estudiosos imprevidentes.
Dorme-se ao longo de
trabalhos valiosos e urgentes, à espera de mundos celestiais, como se o orbe
terrestre não integrasse a paisagem do Infinito.
É necessário, portanto,
recordar que a existência humana é oportunidade preciosa no aprendizado para a
vida eterna. Ensina-se-nos, aqui, que Espíritos protetores e perturbados,
nobres e mesquinhos, podem ser encontrados nos planos visíveis e invisíveis.
Cada criatura humana tem a sua cota de deveres e direitos, de compromissos e
possibilidades. Zonas felizes e desventuradas permanecem nas consciências, na
multiplicidade de posições mentais dos Espíritos eternos. Tanto na Terra como
no Céu, a responsabilidade é lei.
Neste quadro de observações,
o Consolador é a escola divina destinada ao levantamento das almas. Urge, pois,
que os discípulos se despreocupem do Espiritismo dos mortos, para colocar acima
de todas as demonstrações verbalista o Espiritismo dos vivos na eternidade.
Dentro de cada aprendiz há
um mundo a desbravar.
A Terra é também a grande
universidade. Ninguém despreze a luta, o sofrimento, a dificuldade, o
testemunho próprio. A luz e o bem, a sabedoria e o amor, a compreensão e a
fraternidade, o cérebro esclarecido e as mãos generosas dependem do esforço
pessoal, antes de tudo.
O Sol ilumina o mundo, a
chuva fecunda a terra, a árvore frutifica, as águas suavizam a aridez do
deserto; mas o homem deve caminhar por si mesmo. As maravilhas e dádivas da
Natureza superior não eximem a criatura da obrigação de seguir com o Cristo,
para Deus.
Quando tantos companheiros
dormem esquecendo o serviço, ou contendem por ninharias copiando impulsos
infantis, trago-te, leitor amigo, estas reportagens despretensiosas – lembrança
humilde de humilde noticiarista desencarnado.
As experiências
relacionadas, nestas páginas singelas, falam eloquentemente de nossas necessidades
individuais. Não devemos continuar na condição de meros beneficiários da Casa
de Deus, reincidentes nas dívidas e falhas criminosas. A Providência nos
oferece tesouros imperecíveis. O Pai repartiu a herança com magnanimidade e
justiça. Não há filhos esquecidos e todos somos seus filhos.
Trazendo-te, pois, meu
esforço desvalioso, feito de coração para corações, termino afirmando que todas
estas reportagens são reais e que, se os nomes das personagens obedecem à
convenção da caridade, fraternal, aqui não há ficções nem coincidências. Cada
história representa um caso individual, no imenso arquivo das experiências
humanas, para compreensão da vida eterna.
Humberto de Campos
(Pedro Leopoldo, 8 de dezembro de 1942)
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