A Humanidade regenerada

Segundo a Doutrina Espírita, passado o Período de Transição, anunciado por Jesus em seu Sermão Profético, a humanidade terrestre inicia vigoroso processo de crescimento moral, caracterizando a Era da Regeneração.

A Humanidade, tornada adulta, tem novas necessidades, aspirações mais vastas e mais elevadas [...]. Da adolescência ela passa à idade viril. O passado já não pode bastar às suas novas aspirações, às suas novas necessidades; ela já não pode ser conduzida pelos mesmos métodos; não mais se deixa levar por ilusões nem por sortilégios; sua razão amadurecida reclama alimentos mais substanciais. O presente é demasiado efêmero; ela sente que o seu destino é mais vasto e que a vida corpórea é restrita demais para encerrá-lo inteiramente. Por isso, mergulha o olhar no passado e no futuro, a fim de descobrir o mistério da sua existência e de adquirir uma consoladora certeza.

E é no momento em que ela se encontra muito apertada na esfera material, em que transborda a vida intelectual, em que o sentimento da espiritualidade lhe desabrocha no seio. [...]1

A reencarnação de Espíritos superiores em todos os quadrantes do Planeta fornecerá o necessário apoio moral e intelectual para o estabelecimento da Regeneração, propriamente dita. Um movimento renovador de grande magnitude, que acontecerá em nível mundial, como asseveram os Espíritos orientadores:

Nestes tempos, porém, não se trata de uma mudança parcial, de uma renovação limitada a certa região, ou a um povo, a uma raça. Trata-se de um movimento universal, que se opera no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se, e os homens, que lhe são mais opostos, para ela trabalham, mesmo sem o saberem. A geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, se achará possuída de ideias e de sentimentos muito diversos dos da geração presente, que se vai a passo de gigante. O velho mundo estará morto e apenas viverá na História, como o estão hoje os tempos da Idade Média, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas. Aliás, todos sabem quanto ainda deixa a desejar a atual ordem de coisas. Depois de se haver, de certo modo, esgotado todo o bem-estar material que a inteligência é capaz de produzir, chega-se a compreender que o complemento desse bem-estar somente pode achar-se no desenvolvimento moral.2

As mudanças não ocorrerão de forma abrupta, da noite para o dia. A transformação será gradual, concedendo ao ser humano tempo e oportunidade para aprender e pôr em prática os novos aprendizados, a fim de se adaptar à nova realidade:

Certamente o número de retardatários ainda é grande; mas, que podem eles contra a onda que se levanta, senão atirar-lhe algumas pedras? Essa onda é a geração que surge, ao passo que eles somem com a geração que vai desaparecendo todos os dias a passos largos. [...]3

A humanidade da Regeneração, denominada por Allan Kardec geração nova, será constituída por indivíduos portadores de significativo desenvolvimento da inteligência e da moral que, desde os tempos da Transição, foram renascendo, pouco a pouco, no Planeta.

No final desse período, e nas fases iniciais da Regeneração, acontecerá intenso trânsito migratório de Espíritos entre os dois planos de vida: a reencarnação de Espíritos mais esclarecidos e a partida dos que, “[...] ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, visto que, se assim não fosse, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso. [...]”.4

Tais Espíritos serão encaminhados a outros mundos, onde prosseguirão na sua escalada evolutiva, até que adquiram as condições necessárias para fazerem parte de uma sociedade regenerada.

Não se deve entender que por meio dessa migração de Espíritos sejam expulsos da Terra e relegados para mundos inferiores todos os Espíritos retardatários. Muitos, ao contrário, a ela voltarão, pois se atrasaram porque cederam ao arrastamento das circunstâncias e do exemplo. Nesses, a casca é pior do que o miolo. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos prejuízos do mundo corpóreo, a maioria deles verá as coisas de maneira diversa do que viam quando em vida [encarnados], conforme os numerosos exemplos que conhecemos. Para isso, são auxiliados por Espíritos benévolos que por eles se interessam e se dão pressa em esclarecê-los e em lhes mostrar o falso caminho em que seguiam. [...]5

Cabendo à geração nova, ou humanidade regenerada, “[...] fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, aliadas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. [...]”.6  Essa geração não será composta exclusivamente de “[...] Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e estejam aptos a secundar o movimento de regeneração”.6

A regeneração da Humanidade, portanto, não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Essa modificação se opera em todos quantos lhes estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo. [...]7

Com a Humanidade mais esclarecida e iluminada pelo senso moral, a prática do bem passa a ser denominador comum, condição que garante o estado de felicidade tão almejado por indivíduos e povos. As amargas expiações do passado, sobretudo as vividas durante a Transição, foram consideradas lições preciosas que modificaram a criatura humana para melhor. Segundo Emmanuel,

[...] essa pesada bagagem de sofrimentos constitui os alicerces de uma vida superior, repleta de paz e alegria. Essas dores representam auxílio de Deus à terra estéril dos corações humanos. Chegam como adubo divino aos sentimentos das criaturas terrestres, para que de pântanos desprezados nasçam lírios de esperança. [...] Cristo, porém, evidenciando suprema sabedoria, ensinou a ordem natural para a aquisição das alegrias eternas, demonstrando que fornecer caprichos satisfeitos, sem advertência e medida, às criaturas do mundo, no presente estado evolutivo, é depor substâncias perigosas em mãos infantis. Por esse motivo, reservou trabalhos e sacrifícios aos companheiros amados, para que se não perdessem na ilusão e chegassem à vida real com valioso patrimônio de estáveis edificações.8

É dessa forma que a Humanidade encontrará o caminho da paz, pois, como Jesus nos lembra, segundo o registro do apóstolo João, citado em epígrafe: a vossa tristeza se converterá em alegria.

Referências:

1 KARDEC, Allan. A gênese: os milagres e as predições segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 18, it. 14, p. 525-526.

2 _____. ______. It. 6, p. 517.

3 _____. ______. It. 26, p. 533.

4 _____. ______. It. 27, p. 534.

5 _____. ______. It. 29, p. 536.

6 _____. ______. It. 28, p. 535.

7 _____. ______. It. 33, p. 538.

8 XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 93, p. 201-202.


Fonte: Reformador, ano 130, nº 2.198, maio 2012, por Marta Antunes Moura (e-book).

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