Discípulos de João mandados por este a
Jesus
(Lucas,
7:18-23)
1.
Logo que acabou de dar essas instruções a seus doze discípulos, Jesus partiu a
ensinar e pregar nas cidades vizinhas. 2. Tendo, na prisão, sabido das obras do
Cristo, João mandou que dois de seus discípulos fossem ter com Ele 3, e lhe
dissessem: És aquele que tem de vir ou esperamos outro? 4. Jesus lhes
respondeu: Ide contar a João o que vistes e ouvistes. 5. Os cegos veem, os
coxos caminham, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos
ressuscitam; o Evangelho é pregado aos pobres. 6. Bem-aventurado o que não se
houver escandalizado de mim.
A fama levara a João o rumor
dos atos de Jesus, João, porém, não tinha certeza de que Jesus fosse quem devia
ser. Enviou-lhe pôr isso dois de seus discípulos, para verificarem se se não
tratava de algum hábil impostor. Foi, portanto, para lhe comprovar a
identidade, que João mandou seus emissários ao Cristo. O Precursor queria
certificar-se de que Jesus era realmente aquele cuja vinda ele anunciara.
Quanto aos chamados
“milagres” que Jesus praticou em presença dos discípulos de João, já sabemos
como Ele os operava.
Os pobres, a quem o divino
Mestre se referia, falando mais para aquela época do que para o futuro, eram os
que se viam abandonados, desprezados, eram os que de ninguém mereciam atenção
alguma. De modo geral, pobres são todos os que, sentindo a necessidade de
enriquecer-se com a palavra evangélica, se dispõem a ouvi-la.
Todo aquele que não aceita a
moral do Cristo, o repele. Feliz, pois, do que lhe acolhe os preceitos e os põe
em prática, porque progride e não tem que temer uma repulsa.
João, precursor, e Jesus. Pedra
fundamental do edifício da regeneração. Missão nova e futura de João
(Lucas,
7:24-30; 16:16)
7. Logo que eles se foram embora, começou Jesus a falar de João ao povo nestes termos: Que é o que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8. Que é, pergunto, o que fostes ver? Um homem vestido de finas roupas? Sabeis que na casa dos reis é que vivem os que se vestem assim. 9. Que é então o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vo-lo digo, e mais que profeta; 10, porquanto dele é que está escrito: “Eis que envio, na tua frente, o meu anjo, que te preparará o caminho”. 11. Em verdade vos digo: Nenhum dentre quantos hão nascido de mulher foi maior do que João Batista, mas aquele que for o menor no reino dos céus é maior do que ele. 12. Desde os dias de João Batista até o presente o reino dos céus sofre violência e os violentos o arrebatam; 13, pois, até João, todos os profetas e a lei profetizaram; 14, e, se quiserdes, compreendei: ele é o Elias que há de vir. 15. Ouçam os que têm ouvidos de ouvir
Falando de João nesses termos,
Jesus dava testemunho da missão que o Precursor viera desempenhar, assim como
anunciava a nova e futura missão que ele desempenhará, e lançava a pedra
fundamental em que assentaria o edifício da regeneração, edifício que se vai
erguendo, embora lentamente.
A época do aparecimento de
Jesus na Terra, sob a forma corporal humana, nos é indicada como básica do
progresso que nas ideias se havia de produzir. Elas, de fato, se elevaram,
fracamente é certo, mas o bastante para se despojarem do envoltório material
que as constrangia e tendem, cada vez mais, a se elevar para as regiões
espirituais. Pois bem, para o acabamento dessa empresa, para a continuação da
obra de Jesus, é que trabalham os Espíritos elevados, sob as vistas e a direção
do Mestre.
Versículos 9 e 10. Exprimindo-se
dessa forma, Jesus testificava que o Espírito de João já atingira um grau de
elevação muito mais alto do que os dos profetas. Comparava estes últimos, nas
diversas épocas em que apareceram, com Elias reencarnado como Precursor, para,
apontando a extensa linha de progresso que fora percorrida, mostrar que o Elias
de então já era muito mais do que o Elias dos Hebreus. Podemos, em consequência,
imaginar qual será a grandeza desse Espírito, do ponto de vista do poder e da
ciência, quando desempenhar a sua missão espírita, assinalando com essa missão
a sua nova passagem pela Terra.
Referimo-nos ao seu
progresso em ciência universal, que é, conforme se sabe, indefinido e não
limitado, como o progresso moral, cujo limite o Espírito atinge no seio de
Deus, alcançando a perfeição moral.
Versículo 11. O pensamento
de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao declarar que, dentre os varões nascidos de
mulher, João era o que mais alto se achava colocado, espiritualmente falando,
foi, em primeiro lugar, fazer sentir, embora deixando velada pela letra essa
verdade, que Ele, Jesus, não nascera de mulher. Em segundo lugar, quis revelar
a existência de outros Cristos, isto é, de outros Espíritos que, havendo
percorrido sempre, sem desvios, a linha reta do progresso, chegaram à suprema
pureza, sem terem necessidade de descer ao ventre da mulher, a fim de passarem
por provações, a fim de provarem a morte, segundo a sua própria linguagem.
A esses Espíritos é que o
divino Mestre comparava o de João, para afirmar que, mau grado à extraordinária
elevação deste, ele era menor do que o mais pequenino no reino dos céus. Vê-se
assim que do fato de se achar encarnado o seu Espírito é que Jesus tirava
fundamento para a afirmativa que fez, porquanto esse fato constituía a prova
formal de que aquele Espírito ainda não galgara os cumes supremos da pureza,
visto que os que a tais altitudes chegam ficam, em absoluto, excluídos da ação
da lei das encarnações e reencarnações, que é o que já se verificara com Jesus,
antes mesmo que o nosso mundo se formasse.
Sofrendo, como estava, os
efeitos dessa lei, a João se lhe velara o passado. Tal qual sucede a todos os
encarnados, ele esquecera suas anteriores existências, como era necessário,
pois, a não ser assim, nenhum mérito lhe adviria do desempenho da missão de
Precursor, se sempre tivesse diante dos olhos tudo quanto fizera como Elias, o
profeta; se a todos os momentos pudesse apreciar os feitos do venerando
legislador, de cujas mãos recebera o povo hebreu as tábuas da lei, o Decálogo.
O Elias que tinha de vir
veio, de fato, na pessoa de João que, concluída na Terra a sua missão de
Precursor, continuou e continua a desempenhá-la na espiritualidade, trabalhando
para que progridam o planeta terreno e a sua Humanidade, preparando o novo
advento de Jesus, como Espírito da Verdade, como complemento e sanção da
verdade. E, ao abrir-se, como agora se abre, a era nunciativa desse advento, a
era espírita, ele novamente clama ao povo, a todo o povo da Terra, aos
publicanos, aos escribas, aos fariseus e aos doutores da lei em nossos dias:
Fazei penitência, arrependei-vos, arrependei-vos, que se aproxima a hora do
julgamento, pois que a morte, de um instante para outro, vos pode surpreender e
entregar os vossos Espíritos culpados à expiação na erraticidade e, depois, às
aflições e angústias das reencarnações.
Purifiquemo-nos, para sermos
recebidos na morada celeste, onde só têm entrada os eleitos, isto é, os puros,
condição a que todos havemos de chegar, visto que para o Senhor não há eleitos,
nem réprobos, segundo as falsas interpretações humanas. Só, porém, os que se
tornam puros podem acercar-se do centro da Onipotência. Notemos que,
confirmando ser João a reencarnação do Espírito Elias, o divino Mestre não
disse: “João é o Elias que havia de vir”, mas: João é o Elias que há de vir”.
Assim, além de confirmar a presença de Elias entre os homens na pessoa de João,
anunciou o seu futuro reaparecimento na Terra, sempre como Precursor. Trará
então, por missão especial, o alargamento do círculo das ideias e conhecimentos
humanos, o fortalecimento do amor universal e, portanto, da caridade e da
fraternidade que lhe são consequentes.
A partir de João, o reino de
Deus é pregado aos homens e cada um lhe faz violência. É figurada esta
linguagem, significando que ninguém se aplica a fazer o que deve, para alcançar
o reino de Deus, para realizá-lo em sua alma, que é o meio de chegar a ele,
conforme ensinou Jesus. Cada um procura criar para si um reino da Terra,
caracterizado por honras extraordinárias e imenso poderio, e tenta violentar a
entrada do reino de Deus, por meio da hipocrisia, ou do anátema.
João e Jesus incompreendidos pelos hebreus,
João e Jesus compreendidos hoje pelos que são os filhos do Senhor
(Lucas,
7:31-35)
16.
Com que compararei esta geração? Ela se assemelha a crianças que, assentadas na
praça pública e aos gritos, 17, dizem aos seus companheiros: Tocamos flauta
para vós outros e não dançastes; lamentamo-nos e não chorastes. 18. Veio João
e, porque não come, nem bebe, dizem: Está possesso do demônio. 19. O filho do
homem veio e, porque come e bebe, dizem: “Aí está um comilão e bebedor de
vinho, amigo dos publicanos e dos pecadores”. Mas a sabedoria é justificada
pelos seus filhos.
Usando, mais uma vez, de
linguagem apropriada à capacidade intelectual dos que o ouviam, Jesus, por
essas palavras, mostrava aos homens que suas inteligências rebeldes recusavam
todos os testemunhos da verdade, quaisquer que fossem, propensos sempre a
procurarem, no que observavam, uma razão de ser estranha à bondade de Deus, não
se rendendo nem mesmo à evidência.
Mas,
a sabedoria é justificada por todos os seus filhos. Quer
isto dizer que um dia os homens haviam de compreender tudo aquilo a cuja
compreensão obstava o atraso deles na senda do desenvolvimento e do progresso.
É assim que, de fato, hoje compreendemos.
São filhos de Jesus os que
se tornaram capazes de apreender as verdades que, quando cegos, negaram e que
ainda são negadas pelos que continuam cegos.
Para bem cumprir a missão
que lhe fora confiada, João adotara uma vida de austeridade extrema, de
abstinência e insulamento, com o que dava, como Precursor, o ensino e o exemplo
da penitência que viera pregar e que tinha por emblema, por símbolo, o batismo
às margens do Jordão, sendo a sua palavra o meio de os homens se prepararem
para entrar no caminho que leva ao Senhor. Surpreendidos com aquela existência
excepcional e não a podendo compreender, seus contemporâneos o tinham por
vítima de uma obsessão.
Jesus, contrariamente, vivia
entre os homens, a fim de lhes mostrar o que é praticar o amor e a caridade, a
fim de vulgarizar, por assim dizer, todas as virtudes que pregava e de que era
modelo, tornando-as compreensíveis. Para esse efeito, comia à mesa do pobre,
passava a noite sob o teto do publicano, embarcava com os pescadores,
oferecendo desse modo edificantes exemplos aos orgulhosos, que, entretanto, por
isso mesmo que o eram, o acusavam de se comprazer nos centros abjetos da
sociedade de então.
Jesus, em suma, veio, como
bem já o compreendemos, curar os enfermos, da alma principalmente, salvar os
que se achavam perdidos, encorajar os desesperados. Mas, sabendo que assim foi
e é, já teremos aproveitado dos seus exemplos, já estaremos dispostos a pô-los
em prática, a nos engrandecermos vencendo pela caridade, pelo amor, pela
humildade, o oceano de lama que a todo momento ameaça tragar-nos?
Sigamos todos nós, homens da
Terra, e, principalmente, os que somos espíritas, o exemplo de Jesus, sem nos
preocuparmos com as opiniões e os conceitos dos escribas e fariseus de hoje, os
orgulhosos da nossa época. Entremos desassombrados na choupana do pobre e vamos
comer com os desgraçados, com os réprobos do mundo; levemos-lhes o que pudermos
desse alimento que os sustentará pelos séculos em fora: o pão da vida, que nutre
a alma, clareia a inteligência e purifica o coração!
Cidades impenitentes
20.
Começou ele então a exprobrar as cidades onde realizara tantos milagres o não
terem feito penitência. 21. Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! pois que,
se os prodígios operados dentro de vós o tivessem sido em Tiro e em Sidônia,
elas teriam feito penitência em cilícios e em cinza. 22. Eis por que vos digo
que, no dia do juízo, Tiro e Sidônia serão tratadas com menos rigor do que vós.
23. E tu, Cafarnaum, porventura te elevarás até ao céu? Serás abatida até ao
inferno, porquanto, se os milagres operados dentro dos teus muros o tivessem
sido em Sodoma, talvez que esta ainda hoje subsistisse. 24. Eis por que te digo
que no dia do juízo a Terra de Sodoma será tratada com menos rigor do que tu.
Estas palavras de Jesus se
referem ao estado dos Espíritos encarnados naquela época. No que Ele diz de
Tiro e Sidônia, há imagens materiais apropriadas aos homens de então.
Penitência significa
arrependimento. A penitência do Espírito consiste no pungente remorso de suas
faltas e na expiação que se lhe segue; tudo, porém, do ponto de vista moral e
não como o entendia a gente daqueles tempos, que só admitia a reparação
material.
Quanto ao deverem ser
tratados com menor rigor os de Tiro e Sidônia, do que os de Corozaim e
Betsaida, e os de Sodoma menos rigorosamente do que os de Cafarnaum, é porque
estes, como os de Corozaim e Betsaida, foram testemunhas dos milagres e, por
orgulho, tudo haviam rejeitado, tinham fechado os olhos à luz, tornando-se,
portanto, mais criminosos do que os de Sodoma que, atacados, pela sua
materialidade, no lodaçal das paixões vis, talvez destas se houvessem
libertado, se ouvissem a palavra do Mestre e presenciassem os “milagres” por
Ele operados. Fazendo essa distinção, queria Jesus que os homens compreendessem
que, de todos os crimes passíveis de castigo, os mais graves são os que a
inteligência comete, que os mais rigorosamente puníveis, dentre os que resultam
dos arrasamentos da matéria, são aqueles de que o Espírito conscientemente
participa.
O inferno é a consciência do
culpado e o lugar onde ele sofre a expiação de seus crimes, qualquer que seja
esse lugar. Onde quer que o Espírito se acha presa de contínuas torturas, quer
encarnado, quer desencarnado, é o seu Inferno, termo de que Jesus usava
alegoricamente.
Igualmente alegóricas,
figuradas, são as palavras dia do juízo. Não significam que haja, como o
entende a Igreja, um “juízo final”, a que todos os defuntos comparecerão. Os
Espíritos que encarnados habitaram Tiro e Sidônia, Corozaim e Betsaida,
Cafarnaum e Sodoma, bem como todos os Espíritos culpados que têm vivido na
Terra, desde que o homem aí apareceu, hão passado, sucessivamente, depois da
morte, ao termo de cada existência planetária, pelo julgamento, que é o da
própria consciência, sofrendo, consequentemente, na erraticidade, mediante
torturas morais, a expiação correspondente às faltas cometidas e, em seguida,
mediante nova encarnação.
Um termo, entretanto,
haverá, para esses sucessivos julgamentos e condenações a que se encontram
sujeitos os Espíritos que na Terra encarnam. Com efeito, chegados que sejam os
últimos dias da era material para a Humanidade terrena, os que se conservarem
rebeldes serão degredados para mundos inferiores, só permanecendo na Terra os
que houverem alcançado um grau de aperfeiçoamento que lhes permita continuar
aí, avançando pela senda do progresso. Porém, esse afastamento dos rebeldes se
efetuará gradualmente, à medida que eles se forem tornando incompatíveis com o
aperfeiçoamento físico do planeta e o aperfeiçoamento moral da maioria dos que
o habitem. Assim é que a Humanidade se irá depurando também de modo gradual,
até que só a componham Espíritos que, voluntariamente submissos à lei do
progresso, se achem aptos a entrar numa fase de contínua e cada vez mais rápida
evolução moral, a culminar na pureza perfeita. Esse, em espírito e verdade, o
juízo final, que os homens, influenciados pelas falsas interpretações próprias
do reinado da letra, ainda não puderam compreender.
Deduz-se, do que fica dito
sobre a maneira por que a Humanidade se depurará, que a renovação ou
transformação do planeta em que habitamos não, resultará de nenhum abalo
violento, mas de um progresso contínuo, o que Significa que será quase
imperceptível para nós. Todos esses fenômenos, a que chamamos calamidades e que
cada vez mais frequentes e multiplicados se vão tornando, constituem os meios
de operar-se a transformação física do nosso mundo. Em chegando a época em que
os que se tenham mantido rebeldes devam ser dele afastados definitivamente,
cada uma de tais calamidades abrirá nas fileiras desses Espíritos grandes
claros, a fim de que mais depressa elas se renovem e a obra de purificação se
ultime.
No período final dessa
transformação, isto é, quando a Terra estiver prestes a passar ao estado
fluídico puro e ao de puros Espíritos os que componham a Humanidade terrena, é
que Jesus aparecerá, como Ele próprio o predisse, na plenitude do seu poder, da
sua glória, da sua pureza perfeita e imaculada, para mostrar a verdade sem véu
aos que, então, serão todos membros da sua Igreja, da única Igreja existente, a
universal Igreja Cristã, e para os conduzir ao foco da onipotência e dar-lhes a
conhecer o Pai.
Cegos, tidos entre os homens por sábios
e prudentes. Esclarecidos, que os homens consideram como obscuros
25.
Proferiu então Jesus estas palavras: Graças te dou, meu Pai, Senhor do céu e da
Terra, por haveres ocultado estas coisas aos sábios e aos prudentes e por as
teres revelado aos pequenos. 26. Assim é, meu Pai, porque te aprouve que fosse
assim. 27. Todas as coisas me são dadas por meu pai e ninguém, senão o pai,
conhece o filho; e ninguém conhece o pai senão o filho e aquele a quem o filho
o queira revelar.
Jesus, desse modo,
felicitava e animava seus discípulos, a fim de que se não amedrontassem com a
tarefa que lhes era confiada. A obra do Senhor é entregue aos simples e aos
inocentes, aos fracos e aos obscuros, não como o entendemos, mas como devêramos
compreender. Quer dizer que é confiada aos que se entregam ao Senhor, aos que
têm confiança e fé e não aos que são tidos por grandes, poderosos e sábios. É
que estes só admitem o que julgam haver descoberto e ensinam, pois que o
orgulho não lhes permite compreendam a influência e o auxilio espíritas, tudo
atribuindo unicamente à força de suas inteligências e de suas vontades.
Assemelham-se a essas terras gordas onde nascem abundantemente ervas
imprestáveis, que estiolam a boa semente espalhada nelas pelo vento. Com
efeito, desgraçadamente, nas sociedades humanas, ainda constitui fenômeno
extraordinário a existência de um homem inteligente e ilustrado, que não seja
orgulhoso e incrédulo. Daí o desprezo, a ironia, o sarcasmo com que se referem
ao Espiritismo, ciência sobre a qual se pronunciam, sem nunca a terem estudado
e apenas porque lhes põe diante dos olhos coisas que eles consideram novidades
inadmissíveis, pela razão única de serem desconhecidas da sapiência de que se
jactam.
Os sábios, os prudentes e os
pequenos de que falava Jesus são os que como tais os homens consideram. O juízo
de Deus, porém, não é idêntico ao dos homens.
Versículo 27. Pelas palavras
constantes neste versículo, aludia Jesus à sua elevação e à sua missão de
Espírito protetor e governador do nosso planeta, a cuja formação presidiu, com
o encargo de levar à perfeição a Humanidade terrena; mostrava ser, entre os
homens, o único que não sofrera a encarnação humana, como a sofrem os outros
Espíritos que descem a habitar a Terra; mostrou que, conservando a sua condição
de Espírito, de Espírito puro, estava sempre em relação direta com Deus; que os
homens nada poderiam saber das coisas celestes, extra-humanas, de além-túmulo,
senão por meio da revelação que de futuro lhes fariam os Espíritos do Senhor,
dando-lhes a conhecer quem é o Filho e preparando-os para conhecer quem é o
Pai.
Hoje, com efeito,
verificamos que, graças a essa revelação, é que os Evangelhos se nos tornam
claros ao entendimento. É ela que nos faz ver donde viemos e para onde vamos, o
nosso passado e o nosso futuro; que nos demonstra que, por termos falido, é que
fomos humanizados, a fim de expiarmos as nossas culpas, resgatarmos as nossas
faltas e saldarmos as nossas dívidas para com a justiça divina; que nos mostra
só podermos reabilitar-nos pelo trabalho, pela humildade, pelo desinteresse,
pelo amor e pela caridade, praticados tanto do ponto de vista material, como do
ponto de vista intelectual e moral.
Foi essa revelação que nos
fez saber que a matéria nos tira a lembrança das nossas anteriores existências
corporais, se bem possamos, pela luz que ela nos fornece para o estudo e o
exame das nossas más tendências, dos nossos maus instintos e pendores,
esclarecer-nos sobre aquelas existências e verificarmos o que aqui viemos
expiar e reparar, o que temos de, aqui, modificar e adquirir.
Finalmente, é essa revelação
que, confirmando as esperanças que todos trazemos n’alma, nos dá a certeza de
que um dia, depois de havermos passado por todos os trâmites da depuração
espiritual, chegaremos à perfeição moral, que nos integrará em Deus,
fazendo-nos entrar na posse da herança que Ele a todos os seus filhos reserva.
É o que Paulo exprime na sua
Epístola aos Romanos, capítulo 8, versículo 17, dizendo: “E, se somos filhos,
também somos herdeiros verdadeiramente de Deus e co-herdeiros do Cristo, se é,
todavia, que padecemos com Ele, para que também sejamos com Ele glorificados”.
Jugo suave e fardo leve
28.
Vinde a mim vós todos que vos achais fatigados e sobrecarregados e eu vos
aliviarei. 29. Tomai sobre vós o meu jugo, aprendei de mim que sou manso e
humilde de coração e encontrareis descanso para vossas almas. 30. Porque, o meu
jugo é suave e o meu fardo leve.
Em Jesus encontramos o
exemplo da coragem e da resignação, o caminho único que nos pode conduzir à
felicidade eterna, a que chegaremos desde que lhe sigamos os ensinos. Que exige
Ele de nós? Nem mesmo o nosso amor nos pede. Quer apenas que trabalhemos, sob a
sua direção, pela nossa própria glória. Não emprega, como o homem, a violência,
para nos obrigar a lhe seguirmos as pegadas. Não nos diz: crê, ou morre; mas,
simplesmente: em mim está a vida.
Onde, senão nele,
encontramos graça, alívio para as nossas aflições, cura para as nossas
enfermidades, bálsamo para as feridas de nossa alma? Onde encontraremos
dedicação igual à sua, que não hesitou em ir até ao sacrifício do Gólgota para
nos salvar?
Praticando-lhe a moral é que
nos depuraremos e praticar-lhe a moral é segui-lo. Ora, seguindo-o, de todo o
nosso coração, não carregaremos pesado jugo, porquanto a sua moral é de fácil prática,
para quem quer que se forre aos mesquinhos objetivos humanos.
Encontrareis descanso para
vossas almas. Observando a moral de Jesus, despojar-nos-emos de todas as
impurezas e chegaremos, pelo progresso, à perfeição, que nos levará aos mundos
superiores, aos mundos fluídicos, onde habitam os Espíritos puros. Alcançar o
repouso para a alma é nada mais ter que expiar. Ela então entra na paz do
Senhor, paz ativa, rica de boas obras e de grandes coisas.
Atendamos aos conselhos do
nosso bom e amoroso Jesus; caminhemos-lhe nas pegadas e, como quer que nos
apelidemos cristãos, judeus, ou muçulmanos —sejam quais forem o culto exterior
que pratiquemos e a nação a que pertençamos na Terra dirijamo-nos para Ele que,
como bom pastor, leva suas ovelhas aos campos de ricas pastagens, onde o lobo
voraz nunca aparece: os mundos superiores e fluídicos a que atrás nos
referimos.
Elucidações evangélicas. FEB
(e-book).
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