Parábola das virgens loucas e das
virgens prudentes
1.
Então, o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando de suas
lâmpadas, saíram a receber o esposo e a esposa. 2. Mas, cinco dentre elas eram
loucas e cinco prudentes. 3. As primeiras, tomando de suas lâmpadas, não
levaram consigo azeite. 4. As prudentes, porém, levaram azeite em seus vasos,
juntamente com as lâmpadas. 5. Como o esposo tardasse em chegar, começaram
todas a toscanejar e por fim adormeceram. 6. A meia-noite se ouviu este brado:
Eis aí vem o esposo! Saí ao seu encontro. 7. Todas aquelas virgens se
levantaram e prepararam suas lâmpadas. 8. Disseram então as loucas ás
prudentes: Dai-nos do vosso azeite, pois que as nossas lâmpadas se estão
apagando. 9. Ao que as prudentes responderam: Para que não suceda faltar-nos
ele a nós e a vós. ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós. 10. Mas,
enquanto elas o foram comprar, chegou o esposo. As que estavam preparadas
entraram com ele para as bodas e a porta se fechou. 11. Por fim, chegaram as
outras virgens e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta. 12. Ele, porém,
respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço. 13. Portanto, vigiai, pois
não sabeis o dia nem a hora.
Uns não compreenderam esta
parábola e outros lhe falsearam o sentido e o objetivo.
Dizendo-a, teve Jesus em
mente obrigar os homens a estarem sempre alertas, fazer-lhes compreender que
não devem deixar para o último momento o cuidado de sua reforma, do seu
progresso, porquanto talvez seja tarde.
Quis mostrar-lhes que as
virtudes de uns em nada podem servir para resgatar os vícios de outros: aos
nossos irmãos podemos dar o amparo dos nossos conselhos e exemplos, mas não
podemos repartir com eles o nosso óleo, isto é: o mérito das nossas obras,
mérito que só reverte em benefício daquele que as pratica.
Trabalhai, pois, cada um pela sua própria reforma, pelo seu próprio adiantamento, O indiferente ou o leviano verá que quando supuser ser chegado o momento de se entregar a este trabalho, quando se estiver dispondo a começá-lo, bem pode acontecer soe a hora do seu comparecimento perante o juiz e ele então será colhido de surpresa.
Não é o egoísmo o que nesta
parábola se aconselha, como insensatamente alguns hão pretendido. O que nela se
nos aconselha é tão-somente que nos resguardemos da indolência, que nos leva a
deferir para o dia seguinte o ato que Ele, o Mestre, nos concita a executar no
mesmo instante; da negligência, que a muitos induz a descansar no mérito dos
“santos”, das intercessões monásticas, das absolvições clericais, como
assecuratórias da salvação, quando é certo que só as nossas obras pessoais no-la
podem garantir.
Os
que vendem o óleo próprio a encher as lâmpadas vazias são
os bons Espíritos, os Espíritos do Senhor.
Vendem-no, fazendo-nos
progredir e progredindo a seu turno. Assim, tudo é comutativo entre eles e nós.
Portanto, vigiemos, pois não
sabemos o dia, nem a hora da regeneração, o dia em que o Senhor virá; nem o
dia, nem a hora em que chegará o esposo. Veja-se o Apocalipse, capítulo 19,
versículos 6 e 7, e capítulo 21, versículo 22, Jesus é o esposo; a esposa é a
sua Igreja, a sua doutrina. Em linguagem simbólica, trata-se da fusão de dois
corações, numa união conjugal.
Parábola dos talentos. Servo inútil.
Parábola dos dez marcos
14.
Porque, é assim como um homem que, tendo de partir para longe, chamou seus
servos e lhes entregou os bens que possuía. 15. A um deu cinco talentos, a
outro dois e a outro um, de acordo com a capacidade de cada um, e partiu sem
mais demora. 16. Foi-se o que recebera cinco talentos, entrou a negociar com
eles e ganhou outros cinco. 17. O mesmo fez o que recebera dois e ganhou outros
dois. 18. Mas o que apenas um havia recebido, lá se foi com ele, cavou um
buraco no chão e aí escondeu o dinheiro do seu Senhor. 19. Depois de muito
tempo, voltou o Senhor daqueles servos e os chamou a contas. 20. Veio o que
recebera cinco talentos e, apresentando-lhe outros cinco, disse: Senhor, tu me
entregaste cinco talentos; aqui estão mais cinco que ganhei. 21. DIsse-lhe o
seu Senhor: Muito bem, servo bom e fiel, pois que foste fiel em poucas coisas,
estabelecer-te-ei sobre muitas; entra na alegria do teu Senhor. 22. Veio em
seguida o que recebera dois talentos e disse: Senhor, tu me entregaste dois
talentos: aqui estão mais dois que com eles ganhei. 23. Disse-lhe o seu Senhor:
Muito bem, servo bom e fiel, pois que foste fiel em poucas coisas,
estabelecer-te-ei em muitas; entra na alegria do teu Senhor. 24. Veio por fim o
que só um talento recebera e disse: Senhor, sei que és um homem severo, que
ceifas onde não semeaste e colhes onde não espalhaste. 25. Temendo-te, fui-me e
escondi na terra o teu talento; aqui tens o que te pertence. 26. Seu Senhor
respondeu: Servo mau e preguiçoso, pois que sabias que ceifo onde não semeei,
que colho onde não espalhei, 27, devias ter entregado o meu dinheiro aos
banqueiros e assim, à minha volta, eu receberia o que é meu com juros. 28.
Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez. 29. Porque, a todo o que tem
se dará e terá em abundância; e àquele que não tem será tirado até o que pareça
ter. 30. E o servo inútil lançai-o nas trevas exteriores; aí haverá prantos e
ranger de dentes.
Não sendo possível que a
todos os homens se fale na mesma linguagem, as parábolas de Jesus, repetidas
muitas vezes, com pequenas variantes, são, quanto ao fundo, as mesmas, porém,
sempre apropriadas ao entendimentos daqueles a quem eram ditas. Ë o que se
verifica com a dos talentos, do servo inútil e dos dez marcos.
Nesta última, alude Ele à
lei que viera trazer ao mundo, à ingratidão dos que a repeliram e às consequências
dolorosas que experimentarão os endurecidos, se perseverarem no egoísmo e no
orgulho.
Quanto à ordem que o rei dá
para que lhe tragam os súditos revoltados, a fim de que sejam executados na sua
presença, é uma alusão à sentença de banimento dos que permanecerem
endurecidos, alusão idêntica à que se nos depara em MATEUS, capítulo 25
versículo 30, com relação ao servo inútil, que será degredado para planeta
inferior à Terra, quando se concluir nesta a separação do joio e do trigo.
O Senhor não reclama de nós
o impossível, senão apenas o que é justo, atentas as nossas capacidades e
fraquezas humanas. O que exige é que empreguemos todos os esforços por
progredir e fazer se desenvolva o gérmen que Ele colocou em todos nós; e que,
pela nossa diligência e perseverança, mereçamos que maior número de “talentos”
nos seja confiado.
Falando do terceiro servo, o
Mestre alude a esses Espíritos malévolos que, para encobrirem suas próprias
faltas, procuram atribuir faltas aos outros. Se o Senhor nos faculta todos os
meios para progredirmos e só quer o nosso progresso, desde que Ele nos pareça
ríspido e severo, razão de mais, devemos encontrar para não permanecemos na
inércia, para, ao contrário, tudo envidarmos por corresponder aos seus
desígnios, por agradá-lo.
Os “banqueiros”, segundo o
espírito, são ou que podem desenvolver em nós o amor do progresso e,
conseguintemente, segundo a letra, conseguir os juros que o Senhor exige do seu
servo. Por “banqueiros”, em suma, de acordo com o sentido oculto da parábola,
devemos entender os que podem auxiliar o progresso de seus irmãos, na Terra e
no Espaço: encarnados e errantes.
Quanto às palavras do
versículos 29, são idênticas às de que Jesus anteriormente usara na parábola do
Semeador (MATEUS, capítulo 13, versículos 1 ao 23) já explicada. Aquele que
deseja progredir, esforça-se e progride; aquele que não tem esse desejo,
negligencia e perde o pouco que já adquirira.
Depuração pela separação do joio e do
trigo, apresentada sob a figura emblemática de um juízo final
31.
Quando o Filho do homem vier na sua majestade acompanhado de todos os anjos,
assentar-se-á no trono da sua glória. 32. E, reunidas todas as gentes na sua
presença, separará uns dos Outros, como o pastor aparta dos cabritos as
ovelhas. 33. Porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34.
Dirá então o rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu pai,
entrai na posse do reino que vos está preparado desde o princípio do mundo; 35,
pois, tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era
forasteiro e me recolhestes; 36, estive nu e me vestistes, estive enfermo e me
visitastes, estive encarcerado e me fostes ver. 37. Dir-lhe-ão então os justos:
Senhor, quando foi que te vimos faminto e te demos de comer; ou com sede e te
demos de beber? 38. Quando foi que te vimos sem teto e te recolhemos, ou nu e
te vestimos? 39. Quando foi que te vimos enfermo, ou preso, e te fomos visitar?
40. O Rei responderá: Em verdade vos digo que, todas as vezes que o fizestes a
um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes. 41. Aos que estiverem
à sua esquerda dirá em seguida: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo
eterno, que está preparado para o diabo e seus anjos; 42, pois, tive fome e não
me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; 43, era forasteiro e
não me recolhestes; estive nu e não me vestistes; enfermo e preso e não me
visitastes. 44. Também esses perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos
faminto, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou encarcerado e não te assistimos? 45.
Ele lhes responderá: Em verdade vos digo que, quantas vezes o deixastes de
fazer a um destes mais pequeninos, tantas o deixastes de me fazer a mim. 46. E
irão estes para o suplício eterno e os justos para a vida eterna.
Estas palavras de Jesus
serviram de base a todas as crenças e a todas as interpretações humanas.
Apropriadas aos tempos e às inteligências, tinham elas que servir, atento o
passado de todos os povos, para aquele momento e tinham que preparar o futuro.
Tomadas ao pé da letra, foram mal compreendidas e falsamente interpretadas.
Mas, tudo tem a sua razão de ser na marcha do progresso, para a depuração e
transformação, assim dos mundos, como das humanidades.
Precisam ser entendidas em
espírito e verdade.
Traçando para os seus
discípulos um quadro imponente do juízo final, quis o Mestre deixar nas
inteligências uma impressão inapagável.
Quando o Filho do homem vier
na sua majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua
glória e, reunidas todas as gentes na sua presença, separará uns dos outros,
como o pastor aparta dos cabritos as ovelhas.
São palavras simbólicas.
Jesus falava das épocas que se hão de suceder até ao momento em que a luz suave
e verdadeira virá iluminar o mundo.
O trono da sua glória é a
época em que todos os povos estarão sob o jugo da sua lei. Esse trono terá
então o embasamento no fundo do coração de todas as criaturas e os anjos do
Senhor o cercarão e descerão ao meio destas.
Não começou já esse período?
O trono do Salvador não está sendo preparado para recebê-lo? Os anjos do
Altíssimo não descem já até nós, para nos ensinar a cantar a glória do
Onipotente, preparando-nos, por meio da prática da justiça, da caridade e do
amor, para o advento do espírito; abrindo-nos, pelo progresso moral, todas as fontes
do progresso intelectual; ensinando-nos a ser brandos e humildes de coração,
desinteressados e dedicados aos nossos irmãos?
As gentes não se encontram
todas reunidas sob as vistas do Salvador e não vemos que se há materializado
uma palavra simbólica, como o são todas as dos Evangelhos?
Não se procede, desde a
origem dos tempos, à separação a que aludia Jesus? Sem dúvida. Desde o
princípio do mundo, os Espíritos têm sido colocados, segundo o grau de
adiantamento, em mundos superiores e inferiores e, chegada a época de
fluidificação do nosso planeta, estará inteiramente concluída a separação, que
é a de que Jesus falava.
Quanto à determinação da
época dessa separação, que se interpretou falsamente como sendo um fato único,
súbito e instantâneo, não passou de uma figura. Para a realização de semelhante
obra, que é progressiva e sucessiva, não pode haver época predeterminada,
segundo a maneira humana de calcular. Ela corresponde ao período que precederá
a depuração completa da Terra.
Jesus voltará ao mundo,
quando a Humanidade estiver prestes a atingir a perfeição moral e ela aclamará
a sua vinda, entoando este cântico de júbilo, de alegria, imenso e unânime: Bendito o rei que vem em nome do Senhor.
A
direita e a esquerda são expressões figuradas, indicativas dos
lugares reservados aos bons e aos maus.
Por suplício eterno se devem
entender os lugares, ou as condições, em que o Espírito sofre, durante tempo
mais ou menos longo, durante uma eternidade relativa, no espaço, ou encarnado
em mundos de expiação e de prova, até se regenerar.
Assim, o dogma humano da
eternidade das penas teve a sua razão de ser, como fruto do reinado da letra,
necessário por um certo tempo, até que a Humanidade se houvesse adiantado
bastante na senda do progresso, moral e intelectual. Chegados, porém, que são
os tempos preditos, em que o Espírito viria esclarecer a letra e dar-lhe o
verdadeiro sentido, o Espírito da Verdade, por meio da nova revelação, nos
ensina o que é essa eternidade de penas, como explica que o fogo de que falava
Jesus é o dos remorsos, etc., etc.
Enfim, o que resulta, nítida
e formalmente, de todos os ensinamentos do Mestre, é que devemos procurar
constantemente ser caridosos, tornar-nos por todos os meios possíveis úteis aos
nossos irmãos, porque fora da caridade e do amor não há salvação.
Elucidações evangélicas. FEB
(e-book).
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