PRINCÍPIOS NORTEADORES
Inúmeras vezes já fomos
lembrados do apelo contido no Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espíritas! Amai-vos,
esse o primeiro ensinamento; instruí-vos, esse o segundo.” (Kardec, Allan. O
Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VI, item 5).
Neste sentido, a Doutrina
Espírita apresenta-nos um conteúdo educacional grandioso visando a nossa
evolução moral e, nas obras fundamentais, Kardec adverte-nos constantemente que
“a explicação dos fatos admitidos pelo Espiritismo, suas causas e consequências
morais constituem toda uma ciência e toda uma filosofia, que requer um estudo
sério, perseverante e aprofundado” (Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, parte
1ª, capítulo II, item 14).
Kardec aponta ainda:
O estudo de uma doutrina,
tal como a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão
nova e tão grande, não pode ser realizado com proveito senão por homens sérios,
perseverantes, isentos de prevenções e animados de firme e sincera vontade de
chegar a um resultado. (...). O que caracteriza um estudo sério é a
continuidade que se lhe dá. Devemos admirar-nos de não obter, com frequência,
nenhuma resposta sensata a questões de si mesmas graves, quando as fazemos ao
acaso e à queima-roupa, em meio a uma enxurrada de perguntas extravagantes?
Além disso, acontece muitas vezes que uma questão complexa, para ser
esclarecida, exige outras preliminares ou complementares. Quem quer adquirir
uma ciência deve fazer um estudo metódico dela, começar pelo princípio e seguir
o encadeamento e o desenvolvimento das ideias. (...) (Kardec, Allan. O Livro
dos Espíritos, Introdução, item VIII).
Estes estudos requerem atenção demorada, observação profunda e, sobretudo, como aliás o exigem todas as ciências humanas, continuidade e perseverança. Anos são precisos para formar-se um médico medíocre e três quartas partes da vida para chegar-se a ser um sábio. Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito? Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. Será de admirar que efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo? (Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Introdução, item XIII).
ESTUDO DO ESPIRITISMO
Como
estudar o Espiritismo?
O esplendor da Doutrina
Espírita está na transformação moral da humanidade, que seu estudo proporciona.
Ela traz o consolo necessário ao homem que queira encontrar respostas claras e
objetivas aos seus principais anseios.
Para que haja essa
transformação e a compreensão das demandas a respeito de temáticas espíritas, o
estudo faz-se necessário. Mas a grande questão é: Por onde começar? Quais
leituras realizar?
Conforme Kardec afirma, o
meio de evitar inconvenientes é começar pela teoria:
O estudo prévio da teoria
tem ainda a vantagem de mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e o
alcance desta Ciência (Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, capítulo III, item
32).
Assim, para estudarmos o
Espiritismo nada melhor que começarmos pela base, pelo ponto de partida da
doutrina, pelas obras codificadas por Allan Kardec.
Como orienta Kardec, todos
que querem conhecer uma ciência devem estudar tudo sobre ela. A quem quiser, de
início, uma ideia mais sintética sobre a doutrina, ele aconselha a começar
lendo O que é o Espiritismo.
Nos dizeres do próprio
Kardec:
As pessoas que só têm
conhecimento superficial do Espiritismo são, naturalmente, inclinadas a
formular certas questões, cuja solução podiam, sem dúvida, encontrar em um
estudo mais aprofundado dele; porém, o tempo e, muitas vezes, a vontade lhes
faltam para se entregarem a observações seguidas. Antes de empreenderem essa
tarefa, muitos desejam saber, pelo menos, do que se trata e se vale a pena
ocupar-se com tal coisa.
Por isso, achamos útil
apresentar resumidamente as respostas a algumas das principais perguntas que
nos são diariamente dirigidas; isto será, para o leitor, uma primeira
iniciação, e, para nós, tempo ganho sobre o que tínhamos de gastar a repetir
constantemente a mesma coisa. (Kardec, Allan. O que é o Espiritismo, Preâmbulo).
Para o conhecimento
aprofundado dos ensinos dos Espíritos, pela codificação de Kardec, faz-se necessário
o estudo das obras fundamentais da Doutrina:
1.
O Livro dos Espíritos (1857): Dentre as cinco obras que compõe a
codificação do Espiritismo, este é o primeiro. Vemos nele os princípios da
Doutrina Espírita “[...] a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e
suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o
porvir da Humanidade, segundo os ensinos dados por Espíritos superiores com o
concurso de diversos médiuns. Recebidos e coordenados por Allan Kardec.” (Folha
de rosto de O Livro dos Espíritos)
2.
O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores (1861):
contém o ensino “[…] especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros
de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento
da mediunidade, as dificuldades e os tropeços que se podem encontrar na prática
do Espiritismo.” (Folha de rosto de O Livro dos Médiuns)
3.
O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864): oferece a “[…]
explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e
suas aplicações às diversas circunstâncias da vida.” (Folha de rosto de O
Evangelho segundo o Espiritismo)
4.
O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo
(1865): apresenta um “[…] exame comparado das doutrinas sobre a passagem da
vida corporal à vida espiritual sobre as penalidades e recompensas futuras,
sobre os anjos e demônios, sobre as penas etc.; seguido de numerosos exemplos
acerca da situação real da alma durante e depois da morte.” (Folha de rosto de
O Céu e o Inferno)
5.
A Gênese Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868):
a “[…] Doutrina Espírita é resultado do ensino coletivo e concordante dos
Espíritos. A Ciência é chamada a constituir a Gênese de acordo com as leis da
Natureza. Deus prova a sua grandeza e seu poder pela imutabilidade das suas
leis e não pela ab-rogação delas. Para Deus, o passado e o futuro são o
presente.” (Folha de rosto de A Gênese)
Há ainda outras obras de
Kardec. Destaca-se a relevância da Revista Espírita, uma publicação mensal de
1858 a 1869, que acompanhou o surgimento das mais variadas questões
doutrinárias da época, refutações, instruções dos Espíritos, questionamentos,
mostrando o processo do desenvolvimento do Espiritismo. “Nela se desenham as
diferentes fases do progresso da ciência espírita” (Revista Espírita, novembro,
1864).
Existe na atualidade uma infinidade
de outros livros, de autores encarnados e desencarnados, que podem ser boas
fontes de estudos, desde que coerentes com as obras da codificação. Por isso a
importância de se começar o estudo pelas obras de Kardec, pois isso dará
criticidade ao leitor e guiará com segurança suas outras leituras no caminho do
aprendizado da Doutrina Espírita.
A construção do
conhecimento, em qualquer campo, é de responsabilidade individual. Nesse
sentido, a pesquisa, a leitura, o estudo e o debruçar-se com afinco sobre o
objeto a ser conhecido, são imprescindíveis.
A verdadeira Doutrina
Espírita está no ensino que os Espíritos deram, e os conhecimentos que esse
ensino comporta são por demais profundos e extensos para serem adquiridos de
qualquer modo, que não por um estudo perseverante, feito no silêncio e no
recolhimento. (Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Introdução, item XVII)
Isso posto, a instituição
espírita tem um importante papel na orientação dos estudos da Doutrina, tanto
incentivando a leitura individual como propondo atividades de estudo no centro
espírita.
Atividades
de estudo no Centro Espírita
Os centros espíritas, com o
objetivo de acolher as pessoas que buscam esclarecimento, orientação e amparo
para seus problemas espirituais e morais, têm dentre suas principais atividades
as reuniões públicas com explanações à luz da Doutrina Espírita e as reuniões
de estudo da Doutrina Espírita.
Reuniões
públicas: Essa importante atividade do centro espírita, que em
geral recebe um bom número de participantes, pode atender pessoas em busca de
acolhimento, consolo, esclarecimentos, oferecendo informações que possibilitam
entender algum aspecto de si mesma como um ser espiritual.
Então, o dirigente espírita
e os expositores devem considerar que este também é um momento de aprendizado,
que pede, portanto, planejamento.
Algumas instituições optam
por seguir uma sequência de temas evangélicos, outras programam temas da
atualidade à luz da Doutrina Espírita. Deixar sempre os palestrantes livres
para escolherem os temas que mais lhe inspirem pode propiciar uma repetição ou
desencontro de temáticas, denotando improviso ou falta de organização. Daí a
importância de um plano, de forma que todos os frequentadores sejam atendidos
em suas diferentes necessidades. É muito importante que a qualidade do conteúdo
de cada reunião seja garantida, mantendo a coerência com os ensinos da
codificação espírita.
Reuniões
de estudo da Doutrina Espírita: Geralmente, são atividades
desenvolvidas de forma programada, metódica e sistematizada, destinadas às
pessoas de todas as idades e todos os níveis culturais e sociais,
possibilitando um conhecimento abrangente e aprofundado do Espiritismo em todos
os seus aspectos. Para que essas atividades tenham êxito, devem ser planejadas,
com objetivos bem definidos, com conteúdo sistematicamente organizado e
recursos adequados.
Nesses grupos incluem-se a
Evangelização Infanto-juvenil, a Mocidade e Grupos de estudos doutrinários.
Tais grupos visam o Ensino da Doutrina Espírita.
ENSINO DO ESPIRITISMO
Podemos
falar de ensino do Espiritismo?
Não se espantem os adeptos
com esta palavra — ensino. Não constitui ensino unicamente o que é dado do
púlpito ou da tribuna. Há também o da simples conversação. Ensina todo aquele
que procura persuadir a outro, seja pelo processo das explicações, seja pelo
das experiências [...]. (Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. Do método. Parte
1ª, Cap. III, Item 18)
O objetivo do ensino da
Doutrina Espírita é dar subsídios aos interessados para que conheçam os
princípios espíritas, aprofundem seus estudos de forma segura, com análise
crítica. Assim, cria-se condições para a educação moral e integral dos
indivíduos.
Busca-se avançar no
conhecimento intelectual para, a partir dele, desenvolver, no seu dia a dia, os
caracteres e hábitos salutares do verdadeiro homem de bem, que lhes
proporcionarão felicidade duradoura alicerçada no exercício da fraternidade
legítima.
No ensino do Espiritismo não
há mestres nem doutores, todos os espíritas são aprendizes, uns ensinando aos
outros, dentro de suas possibilidades e experiências vivenciadas.
Embora o ensino, nesse
contexto, não obedeça a processos formais de instrução, para que possamos
pensar em elaborar um projeto de ensino para os centros espíritas, necessário
se faz certa compreensão sobre o processo de ensino-aprendizagem.
Ensinar
e aprender
Para evidenciar o processo
de ensinar e aprender nesse contexto, buscamos uma passagem do Novo Testamento:
Filipe ouviu que o etíope
lia o profeta Isaías, e disse: Entendes, porventura, o que estás lendo? Ele
respondeu: Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a
Filipe que subisse e com ele se sentasse. Ora, a passagem da Escritura que
estava lendo era esta: Foi levado como a ovelha ao matadouro (...). Respondendo
o eunuco a Filipe, disse: Rogote, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou
de algum outro? Então Filipe tomou a palavra e, começando por esta escritura,
anunciou-lhe a Jesus (Atos dos Apóstolos, 8:30-31).
Essa passagem permite a
reflexão de que precisamos do outro para avançar. O etíope mostra claramente
essa necessidade: “Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar?” E
pediu a Filipe que subisse na carruagem e se sentasse com ele, para lhe
explicar as escrituras, aproximar-se, diminuir as distâncias e possibilitar o
maior entendimento.
Na sequência o etíope leu o
trecho da escritura de Isaías – que fazia referência ao Messias que viria – e
perguntou a Filipe: “Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de
algum outro?” Observemos que o homem está pensando sobre o que leu, levantando
hipóteses, buscando respostas. Filipe começa, então, a partir do trecho lido, a
falar de Jesus.
Destaca-se o respeito de
Filipe pelo saber que o homem já demonstrava ter, e pela participação ativa no
processo de aprendizagem – pois não só ouvia, mas discutia, perguntava e
levantava possibilidades. E Filipe apresenta elementos novos a ele, falando da
vinda de Jesus.
A resposta dos Espíritos à
pergunta 768 de O Livro dos Espíritos, vem iluminar essa questão, destacando a
importância do outro para o aprendizado. Os Espíritos dizem que “O homem deve
progredir. Sozinho, isto não lhe é possível, por não dispor de todas as
faculdades; falta-lhe o contato com os outros homens. No isolamento, ele se
embrutece e definha.”
Mais ainda, Kardec, no
comentário da pergunta 789 de O Livro dos Espíritos, afirma: “A Humanidade
progride por meio de indivíduos que, pouco a pouco, se melhoram e se
esclarecem. Quando estes prevalecem pelo número, tomam a dianteira e arrastam
os outros”.
A pessoa que aprende
apropria-se de um conhecimento novo, isso exige dedicação e um intenso
trabalho. E quem ensina precisa estar atento e participar também desse
processo. O aprender e o ensinar andam juntos, mas são processos distintos,
interdependentes e um não acontece sem o outro. Quem aprende precisa se empenhar
e se esforçar diante do novo a ser aprendido, e quem ensina precisa dar
condições e indicar caminhos para que esse conhecimento possa ser apropriado
pelo que aprende.
Nesse sentido, no centro
espírita, temos que estar atentos ao momento de cada participante, ou seja: o
que estão buscando? O que já conhecem? Compreendendo que cada um tem sua
particularidade, está em um diferente estágio de sua trajetória.
Portanto, se ensinar é criar
condições para o aprendizado, como fazer isso? Mostrando alguns caminhos,
compartilhando construções e descobertas, incentivando a análise e reflexão
para consolidar as informações. E isso deve ser feito de forma intencional e
deliberada. Não pode ser na base do improviso.
Ensinar envolve, então,
planejamento, e planejar é estabelecer objetivos, propor atividades, organizar
ações, disponibilizar recursos, coordenar, acompanhar e avaliar com amorosidade
e, sobretudo, acolher.
Portanto, o primeiro passo
para implantar ou expandir os estudos no centro espírita, é determinar objetivos
bem definidos. Feito isso, podemos definir o método, os conteúdos, as
estratégias e a avaliação.
Por
que estudos em grupo?
Estudar em grupo viabiliza o
processo de aprendizagem: um ajuda o outro nessa tarefa. Kardec incentivou esse
modo de estudar:
Recentemente formaram-se
alguns grupos especiais, cuja multiplicação jamais deixaríamos de encorajar:
sãos os denominados grupos de ensino. Neles, ocupam-se pouco ou quase nada das
manifestações, mas, sim, da leitura e da explicação de O Livro dos Espíritos,
de O Livro dos Médiuns e de artigos da Revista Espírita. Algumas pessoas
devotadas reúnem com esse objetivo certo número de ouvintes, suprindo para eles
as dificuldades de ler e estudar por si mesmos. Aplaudimos de todo o coração
essa iniciativa que, esperamos, terá imitadores e não poderá, em se
desenvolvendo, deixar de produzir os mais felizes resultados. (Viagem Espírita
em 1862 - Instruções Particulares – Item X)
Nenhum homem dispõe de
faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos
outros, para assegurarem seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo
necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados.
(Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 768, comentário).
Os homens progridem
incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas,
entregues às próprias forças, só muito lentamente progrediriam, se não fossem
auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é pelos professores.
(Kardec, Allan. A Gênese, cap. 1, item 5).
Estudar em grupo facilita a
apropriação do conhecimento porque estimula os participantes a socializarem
informações e experiências, propiciando-lhes não apenas a construção do seu
próprio entendimento do Espiritismo, mas também o aprendizado da convivência
social pelas reiteradas oportunidades de interação grupal. Relacionar-se é uma
condição que permite ao ser humano evoluir, conhecer a si mesmo e ao próximo, desenvolvendo
suas qualidades morais.
Destaca-se que as propostas
de estudos em grupo não excluem a necessidade do estudo individual prévio e
complementar. Assim, o estudo individual deve ser também sempre incentivado nos
centros espíritas.
Estratégias
ou técnicas de estudo em grupo
Estratégias de ensino são
procedimentos didáticos que facilitam a aprendizagem, tais como leitura
compartilhada, debates, estudo de casos, pesquisas interativas, arte, música, apresentação
e análise de vídeos, debate sobre filmes, entre outros. Tornam o estudo mais
fácil, agradável, dinâmico, interessante e produtivo no decorrer do percurso,
facilitando que todos os participantes tenham oportunidade de aprender, na
medida em que criam situações para que as pessoas se envolvam e participem
ativamente do processo.
Jesus, o Mestre por
excelência, utilizava diferentes técnicas, como histórias, sermões, parábolas
etc., para que todos pudessem compreender sua mensagem.
Recomenda-se que sejam
evitadas longas falas ou exposições do monitor nas reuniões de estudos.
Importante ainda prestar sempre muita atenção às peculiaridades de cada grupo.
As técnicas mobilizam a
atenção, valorizam e partem da contribuição trazida pelos participantes, propiciando
assim a participação de todos. Mas, técnicas não são mais importantes que os
objetivos do estudo. Precisa haver coerência. Os resultados positivos,
dependerão de como e por que as técnicas foram usadas.
Avaliação
do processo
A avaliação possibilita
saber se os objetivos foram alcançados e pode ser feita observando a
participação dos membros do grupo, os resultados das atividades propostas, ou
formulando perguntas no decorrer da reunião. O que se avalia é a aprendizagem e
as interações no grupo, devendo-se dar retorno contínuo aos participantes,
valorizando os resultados alcançados.
É imprescindível compreender
que o aprendizado de cada participante ocorre dentro das suas possibilidades
intelectuais e morais.
O MONITOR DO GRUPO DE ESTUDOS
O monitor é o condutor do
grupo no processo de aprendizagem, propiciando a ação construtiva de novos
conhecimentos dos participantes.
A tarefa do monitor é,
portanto, criar condições para tal construção, por meio de estratégias que
considerem as pessoas como sujeitos ativos de sua aprendizagem, críticos e
reflexivos, visando ao autoconhecimento e à autonomia, com ênfase na
responsabilidade pelas decisões tomadas.
O
que é necessário para ser monitor?
São condições desejáveis ao
perfil do monitor de grupos de estudo, para o desempenho de suas atribuições:
Condições
Doutrinárias - Ter domínio seguro dos ensinamentos
espíritas; compreensão da missão do Espiritismo; demonstrar coerência e firmeza
doutrinária; pesquisa bibliográfica bem direcionada.
Condições
Pedagógicas - Ter conhecimento pedagógico, dominando
estratégias, condições e recursos didáticos e de multimídia; conhecer
instrumentos programáticos, metodológicos, avaliativos; conhecer o seu grupo
(potenciais e possibilidades); valorizar a convivência; atualizar-se
permanentemente.
Condições
Psicológicas - Ser acolhedor, carismático, disciplinado e
sereno com os participantes dos grupos; ser alegre e criativo; respeitar e
saber lidar com opiniões contrárias e as diferenças; respeitar a liberdade de
cada um; saber ouvir, dialogar, administrar, mediar conflitos, valorizar e
aproveitar ideias dos participantes.
Condições
Espirituais - Vivenciar a fraternidade, o perdão e a
paciência; cultivar o equilíbrio emocional e mental; ser reflexivo e humilde;
evangelizar-se sempre; concentrar-se na postura íntima de vivenciar os
ensinamentos espíritas; manter coerência entre a fala e o exemplo; permanecer
vigilante e confiante na tarefa que desempenha.
Condições
Administrativas - Ter liderança e capacidade de gestão/
coordenação de pessoas e atividades; saber conduzir os debates; ser sensível às
reações do grupo; ser acessível; compreender o papel do centro e do movimento
espírita; afinar-se com o trabalho de unificação, atento à diversidade cultural
e às diferenças regionais.
As condições acima
relacionadas podem causar espanto ou receio em algumas pessoas, que podem se
sentir não preparadas para a tarefa. Mas o monitor, atuando nessas diferentes
frentes, ora como gestor, ora mediador do aprendizado, também está aprendendo.
Atuar como monitor possibilita o contínuo aperfeiçoamento de suas condições
doutrinárias, pedagógicas, psicológicas, espirituais e administrativas,
necessárias para o desenvolvimento de sua tarefa.
Formação
continuada
Ao nos colocarmos na
condição de colaboradores, é necessário refletir sobre a boa vontade.
Esclarecendo essa questão, Cecília Rocha ensina que “A boa vontade se manifesta
exatamente no esforço que o candidato faz para adquirir os conhecimentos que
são indispensáveis ao seu ministério. Boa vontade de aprender, de se aprimorar,
de enriquecer seus recursos pessoais, intelectuais e afetivos, esta sim, seria
uma qualidade básica para outras aquisições complementares que venha a
conquistar” (Rocha, Cecília – Pelos Caminhos da Evangelização.).
Como aprendizes de boa
vontade, devemos ler, reler, estudar, reestudar, buscar velhos e novos autores
que nos capacitem sempre e mais na nossa tarefa diária como monitores de grupo
de estudo espírita ou acabaremos por nos tornar cegos conduzindo outros cegos,
como nos diz Jesus no evangelho.
Assim, para melhor
desenvolver suas atribuições de monitor, destacamos a necessidade de sua
formação continuada. Estudar, participar de seminários, cursos de formação e de
atualização promovidos pelo movimento espírita, capacitando-se para exercer a
sua função com segurança no processo ensino-aprendizagem.
Os cursos de formação estão
voltados para diferentes competências dentro do movimento espírita. Há os que
formam multiplicadores, preparando-os para formarem as equipes que, por sua
vez, serão responsáveis pelos cursos de formação e atualização dos monitores
que, nos centros espíritas, serão os responsáveis pelos grupos de estudo.
AOS QUE DESEJAM APRENDER E ENSINAR O
ESPIRITISMO
Aquelas obras [O Livro dos
Espíritos e O Livro dos Médiuns] contêm o que aprendi, e não o que criei. Ora,
o que aprendi, outros podem aprender, mas, como eu, devem trabalhar. Apenas
lhes poupei o esforço dos primeiros trabalhos e das primeiras pesquisas.
(Kardec, Allan. Revista Espírita novembro de 1862 – O Espiritismo em
Rochefort).
Na frase acima, proferida a
uma assembleia composta em sua maioria por curiosos e alguns poucos adeptos do
Espiritismo, Allan Kardec expressa a condição para aprender: o trabalho. Em
outras palavras, é necessário colocar o desejo de aprender sob o impulso da
vontade, direcionado pelos comandos da disciplina e da persistência, é preciso
ainda o estabelecimento de um plano de estudo, para que não se perca em um
labirinto.
Na mesma reunião, realizada
em 1862 na cidade de Rochefort, ele disse: “O Espiritismo é toda uma ciência
que reclama estudos sérios, como as outras ciências, e requer numerosas
observações. Para expô-la minuciosamente seria necessário dar um curso regular,
e um curso de Espiritismo não pode ser dado em uma ou duas aulas, como não o
poderia um curso de Física ou de Astronomia.”
No projeto 1868, inserido em
Obras Póstumas o codificador também fala que o objetivos de um curso regular de
Espiritismo seria “desenvolver os princípios da Ciência e de difundir o gosto
pelos estudos sérios (...) teria a vantagem de fundar a unidade de princípios,
de fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as ideias espíritas e de
desenvolver grande número de médiuns”. E conclui afirmando que tal curso
exerceria “capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas
consequências”.
Se para estudar uma ciência
é preciso um plano de estudos, igualmente para implantação de um curso de
Espiritismo é necessário planejamento: definição dos objetivos, conteúdo a
serem ensinados, método, avaliar periodicamente o que se alcançou e replanejar
continuamente.
O Espírito Batuíra, por
intermédio de Francisco C. Xavier, no livro Mais Luz, tem uma frase
inspiradora: “Trabalhemos pela distribuição organizada e metódica do
conhecimento espírita-cristão com o mesmo devotamento com que procura
estabelecer um serviço de água e luz”. Tem-se aí uma diretriz a ser seguida
pelo movimento espírita: não se trabalhar com improvisos. É imperioso planejar
para agir com efetividade.
Quando Batuíra utiliza a
expressão “distribuição organizada e metódica do conhecimento
espírita-cristão”, está se referindo a um leque de atividades desenvolvidas
pelos centros espíritas. Focando especificamente na questão do ensino do
Espiritismo, vemos que normalmente repetimos nas instituições espíritas o
modelo educacional por nós experimentado ao longo da nossa vida escolar. Ou
seja: centralizado no conteúdo e apoiado em poucos companheiros, que se
desdobram na tarefa de transmitir e difundir os princípios espíritas.
Há outras formas eficientes
de se estudar. Existem métodos de estudo em grupo que têm como premissa
valorizar o conhecimento, a vivência e as experiências de todos os
participantes. Esta troca potencializa o crescimento de cada um e do grupo como
um todo.
No Espiritismo não há
mestres. Ensinar e aprender são tarefas de todos, na busca do melhoramento do
grupo em que participamos. Ora, esta premissa traz como consequência natural a
necessidade do estudo contínuo.
USE, Departamento de estudos
sistematizados. Estudo do Espiritismo. Edição 1, agosto 2020.
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