Estudo do espiritismo

PRINCÍPIOS NORTEADORES

Inúmeras vezes já fomos lembrados do apelo contido no Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espíritas! Amai-vos, esse o primeiro ensinamento; instruí-vos, esse o segundo.” (Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VI, item 5).

Neste sentido, a Doutrina Espírita apresenta-nos um conteúdo educacional grandioso visando a nossa evolução moral e, nas obras fundamentais, Kardec adverte-nos constantemente que “a explicação dos fatos admitidos pelo Espiritismo, suas causas e consequências morais constituem toda uma ciência e toda uma filosofia, que requer um estudo sério, perseverante e aprofundado” (Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, parte 1ª, capítulo II, item 14).

Kardec aponta ainda:

O estudo de uma doutrina, tal como a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova e tão grande, não pode ser realizado com proveito senão por homens sérios, perseverantes, isentos de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. (...). O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá. Devemos admirar-nos de não obter, com frequência, nenhuma resposta sensata a questões de si mesmas graves, quando as fazemos ao acaso e à queima-roupa, em meio a uma enxurrada de perguntas extravagantes? Além disso, acontece muitas vezes que uma questão complexa, para ser esclarecida, exige outras preliminares ou complementares. Quem quer adquirir uma ciência deve fazer um estudo metódico dela, começar pelo princípio e seguir o encadeamento e o desenvolvimento das ideias. (...) (Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Introdução, item VIII).

Estes estudos requerem atenção demorada, observação profunda e, sobretudo, como aliás o exigem todas as ciências humanas, continuidade e perseverança. Anos são precisos para formar-se um médico medíocre e três quartas partes da vida para chegar-se a ser um sábio. Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito? Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. Será de admirar que efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo? (Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Introdução, item XIII). 

ESTUDO DO ESPIRITISMO

Como estudar o Espiritismo?

O esplendor da Doutrina Espírita está na transformação moral da humanidade, que seu estudo proporciona. Ela traz o consolo necessário ao homem que queira encontrar respostas claras e objetivas aos seus principais anseios.

Para que haja essa transformação e a compreensão das demandas a respeito de temáticas espíritas, o estudo faz-se necessário. Mas a grande questão é: Por onde começar? Quais leituras realizar?

Conforme Kardec afirma, o meio de evitar inconvenientes é começar pela teoria:

O estudo prévio da teoria tem ainda a vantagem de mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e o alcance desta Ciência (Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, capítulo III, item 32).

Assim, para estudarmos o Espiritismo nada melhor que começarmos pela base, pelo ponto de partida da doutrina, pelas obras codificadas por Allan Kardec.

Como orienta Kardec, todos que querem conhecer uma ciência devem estudar tudo sobre ela. A quem quiser, de início, uma ideia mais sintética sobre a doutrina, ele aconselha a começar lendo O que é o Espiritismo.

Nos dizeres do próprio Kardec:

As pessoas que só têm conhecimento superficial do Espiritismo são, naturalmente, inclinadas a formular certas questões, cuja solução podiam, sem dúvida, encontrar em um estudo mais aprofundado dele; porém, o tempo e, muitas vezes, a vontade lhes faltam para se entregarem a observações seguidas. Antes de empreenderem essa tarefa, muitos desejam saber, pelo menos, do que se trata e se vale a pena ocupar-se com tal coisa.

Por isso, achamos útil apresentar resumidamente as respostas a algumas das principais perguntas que nos são diariamente dirigidas; isto será, para o leitor, uma primeira iniciação, e, para nós, tempo ganho sobre o que tínhamos de gastar a repetir constantemente a mesma coisa. (Kardec, Allan. O que é o Espiritismo, Preâmbulo).

Para o conhecimento aprofundado dos ensinos dos Espíritos, pela codificação de Kardec, faz-se necessário o estudo das obras fundamentais da Doutrina:

1. O Livro dos Espíritos (1857): Dentre as cinco obras que compõe a codificação do Espiritismo, este é o primeiro. Vemos nele os princípios da Doutrina Espírita “[...] a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade, segundo os ensinos dados por Espíritos superiores com o concurso de diversos médiuns. Recebidos e coordenados por Allan Kardec.” (Folha de rosto de O Livro dos Espíritos)

2. O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores (1861): contém o ensino “[…] especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os tropeços que se podem encontrar na prática do Espiritismo.” (Folha de rosto de O Livro dos Médiuns)

3. O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864): oferece a “[…] explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida.” (Folha de rosto de O Evangelho segundo o Espiritismo)

4. O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865): apresenta um “[…] exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual sobre as penalidades e recompensas futuras, sobre os anjos e demônios, sobre as penas etc.; seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da alma durante e depois da morte.” (Folha de rosto de O Céu e o Inferno)

5. A Gênese Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868): a “[…] Doutrina Espírita é resultado do ensino coletivo e concordante dos Espíritos. A Ciência é chamada a constituir a Gênese de acordo com as leis da Natureza. Deus prova a sua grandeza e seu poder pela imutabilidade das suas leis e não pela ab-rogação delas. Para Deus, o passado e o futuro são o presente.” (Folha de rosto de A Gênese)

Há ainda outras obras de Kardec. Destaca-se a relevância da Revista Espírita, uma publicação mensal de 1858 a 1869, que acompanhou o surgimento das mais variadas questões doutrinárias da época, refutações, instruções dos Espíritos, questionamentos, mostrando o processo do desenvolvimento do Espiritismo. “Nela se desenham as diferentes fases do progresso da ciência espírita” (Revista Espírita, novembro, 1864).

Existe na atualidade uma infinidade de outros livros, de autores encarnados e desencarnados, que podem ser boas fontes de estudos, desde que coerentes com as obras da codificação. Por isso a importância de se começar o estudo pelas obras de Kardec, pois isso dará criticidade ao leitor e guiará com segurança suas outras leituras no caminho do aprendizado da Doutrina Espírita.

A construção do conhecimento, em qualquer campo, é de responsabilidade individual. Nesse sentido, a pesquisa, a leitura, o estudo e o debruçar-se com afinco sobre o objeto a ser conhecido, são imprescindíveis.

A verdadeira Doutrina Espírita está no ensino que os Espíritos deram, e os conhecimentos que esse ensino comporta são por demais profundos e extensos para serem adquiridos de qualquer modo, que não por um estudo perseverante, feito no silêncio e no recolhimento. (Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Introdução, item XVII)

Isso posto, a instituição espírita tem um importante papel na orientação dos estudos da Doutrina, tanto incentivando a leitura individual como propondo atividades de estudo no centro espírita.

Atividades de estudo no Centro Espírita

Os centros espíritas, com o objetivo de acolher as pessoas que buscam esclarecimento, orientação e amparo para seus problemas espirituais e morais, têm dentre suas principais atividades as reuniões públicas com explanações à luz da Doutrina Espírita e as reuniões de estudo da Doutrina Espírita.

Reuniões públicas: Essa importante atividade do centro espírita, que em geral recebe um bom número de participantes, pode atender pessoas em busca de acolhimento, consolo, esclarecimentos, oferecendo informações que possibilitam entender algum aspecto de si mesma como um ser espiritual.

Então, o dirigente espírita e os expositores devem considerar que este também é um momento de aprendizado, que pede, portanto, planejamento.

Algumas instituições optam por seguir uma sequência de temas evangélicos, outras programam temas da atualidade à luz da Doutrina Espírita. Deixar sempre os palestrantes livres para escolherem os temas que mais lhe inspirem pode propiciar uma repetição ou desencontro de temáticas, denotando improviso ou falta de organização. Daí a importância de um plano, de forma que todos os frequentadores sejam atendidos em suas diferentes necessidades. É muito importante que a qualidade do conteúdo de cada reunião seja garantida, mantendo a coerência com os ensinos da codificação espírita.

Reuniões de estudo da Doutrina Espírita: Geralmente, são atividades desenvolvidas de forma programada, metódica e sistematizada, destinadas às pessoas de todas as idades e todos os níveis culturais e sociais, possibilitando um conhecimento abrangente e aprofundado do Espiritismo em todos os seus aspectos. Para que essas atividades tenham êxito, devem ser planejadas, com objetivos bem definidos, com conteúdo sistematicamente organizado e recursos adequados.

Nesses grupos incluem-se a Evangelização Infanto-juvenil, a Mocidade e Grupos de estudos doutrinários. Tais grupos visam o Ensino da Doutrina Espírita.

ENSINO DO ESPIRITISMO

Podemos falar de ensino do Espiritismo?

Não se espantem os adeptos com esta palavra — ensino. Não constitui ensino unicamente o que é dado do púlpito ou da tribuna. Há também o da simples conversação. Ensina todo aquele que procura persuadir a outro, seja pelo processo das explicações, seja pelo das experiências [...]. (Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. Do método. Parte 1ª, Cap. III, Item 18)

O objetivo do ensino da Doutrina Espírita é dar subsídios aos interessados para que conheçam os princípios espíritas, aprofundem seus estudos de forma segura, com análise crítica. Assim, cria-se condições para a educação moral e integral dos indivíduos.

Busca-se avançar no conhecimento intelectual para, a partir dele, desenvolver, no seu dia a dia, os caracteres e hábitos salutares do verdadeiro homem de bem, que lhes proporcionarão felicidade duradoura alicerçada no exercício da fraternidade legítima.

No ensino do Espiritismo não há mestres nem doutores, todos os espíritas são aprendizes, uns ensinando aos outros, dentro de suas possibilidades e experiências vivenciadas.

Embora o ensino, nesse contexto, não obedeça a processos formais de instrução, para que possamos pensar em elaborar um projeto de ensino para os centros espíritas, necessário se faz certa compreensão sobre o processo de ensino-aprendizagem.

Ensinar e aprender

Para evidenciar o processo de ensinar e aprender nesse contexto, buscamos uma passagem do Novo Testamento:

Filipe ouviu que o etíope lia o profeta Isaías, e disse: Entendes, porventura, o que estás lendo? Ele respondeu: Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se sentasse. Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como a ovelha ao matadouro (...). Respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogote, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe tomou a palavra e, começando por esta escritura, anunciou-lhe a Jesus (Atos dos Apóstolos, 8:30-31).

Essa passagem permite a reflexão de que precisamos do outro para avançar. O etíope mostra claramente essa necessidade: “Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar?” E pediu a Filipe que subisse na carruagem e se sentasse com ele, para lhe explicar as escrituras, aproximar-se, diminuir as distâncias e possibilitar o maior entendimento.

Na sequência o etíope leu o trecho da escritura de Isaías – que fazia referência ao Messias que viria – e perguntou a Filipe: “Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro?” Observemos que o homem está pensando sobre o que leu, levantando hipóteses, buscando respostas. Filipe começa, então, a partir do trecho lido, a falar de Jesus.

Destaca-se o respeito de Filipe pelo saber que o homem já demonstrava ter, e pela participação ativa no processo de aprendizagem – pois não só ouvia, mas discutia, perguntava e levantava possibilidades. E Filipe apresenta elementos novos a ele, falando da vinda de Jesus.

A resposta dos Espíritos à pergunta 768 de O Livro dos Espíritos, vem iluminar essa questão, destacando a importância do outro para o aprendizado. Os Espíritos dizem que “O homem deve progredir. Sozinho, isto não lhe é possível, por não dispor de todas as faculdades; falta-lhe o contato com os outros homens. No isolamento, ele se embrutece e definha.”

Mais ainda, Kardec, no comentário da pergunta 789 de O Livro dos Espíritos, afirma: “A Humanidade progride por meio de indivíduos que, pouco a pouco, se melhoram e se esclarecem. Quando estes prevalecem pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros”.

A pessoa que aprende apropria-se de um conhecimento novo, isso exige dedicação e um intenso trabalho. E quem ensina precisa estar atento e participar também desse processo. O aprender e o ensinar andam juntos, mas são processos distintos, interdependentes e um não acontece sem o outro. Quem aprende precisa se empenhar e se esforçar diante do novo a ser aprendido, e quem ensina precisa dar condições e indicar caminhos para que esse conhecimento possa ser apropriado pelo que aprende.

Nesse sentido, no centro espírita, temos que estar atentos ao momento de cada participante, ou seja: o que estão buscando? O que já conhecem? Compreendendo que cada um tem sua particularidade, está em um diferente estágio de sua trajetória.

Portanto, se ensinar é criar condições para o aprendizado, como fazer isso? Mostrando alguns caminhos, compartilhando construções e descobertas, incentivando a análise e reflexão para consolidar as informações. E isso deve ser feito de forma intencional e deliberada. Não pode ser na base do improviso.

Ensinar envolve, então, planejamento, e planejar é estabelecer objetivos, propor atividades, organizar ações, disponibilizar recursos, coordenar, acompanhar e avaliar com amorosidade e, sobretudo, acolher.

Portanto, o primeiro passo para implantar ou expandir os estudos no centro espírita, é determinar objetivos bem definidos. Feito isso, podemos definir o método, os conteúdos, as estratégias e a avaliação.

Por que estudos em grupo?

Estudar em grupo viabiliza o processo de aprendizagem: um ajuda o outro nessa tarefa. Kardec incentivou esse modo de estudar:

Recentemente formaram-se alguns grupos especiais, cuja multiplicação jamais deixaríamos de encorajar: sãos os denominados grupos de ensino. Neles, ocupam-se pouco ou quase nada das manifestações, mas, sim, da leitura e da explicação de O Livro dos Espíritos, de O Livro dos Médiuns e de artigos da Revista Espírita. Algumas pessoas devotadas reúnem com esse objetivo certo número de ouvintes, suprindo para eles as dificuldades de ler e estudar por si mesmos. Aplaudimos de todo o coração essa iniciativa que, esperamos, terá imitadores e não poderá, em se desenvolvendo, deixar de produzir os mais felizes resultados. (Viagem Espírita em 1862 - Instruções Particulares – Item X)

Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurarem seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados. (Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 768, comentário).

Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas, entregues às próprias forças, só muito lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é pelos professores. (Kardec, Allan. A Gênese, cap. 1, item 5).

Estudar em grupo facilita a apropriação do conhecimento porque estimula os participantes a socializarem informações e experiências, propiciando-lhes não apenas a construção do seu próprio entendimento do Espiritismo, mas também o aprendizado da convivência social pelas reiteradas oportunidades de interação grupal. Relacionar-se é uma condição que permite ao ser humano evoluir, conhecer a si mesmo e ao próximo, desenvolvendo suas qualidades morais.

Destaca-se que as propostas de estudos em grupo não excluem a necessidade do estudo individual prévio e complementar. Assim, o estudo individual deve ser também sempre incentivado nos centros espíritas.

Estratégias ou técnicas de estudo em grupo

Estratégias de ensino são procedimentos didáticos que facilitam a aprendizagem, tais como leitura compartilhada, debates, estudo de casos, pesquisas interativas, arte, música, apresentação e análise de vídeos, debate sobre filmes, entre outros. Tornam o estudo mais fácil, agradável, dinâmico, interessante e produtivo no decorrer do percurso, facilitando que todos os participantes tenham oportunidade de aprender, na medida em que criam situações para que as pessoas se envolvam e participem ativamente do processo.

Jesus, o Mestre por excelência, utilizava diferentes técnicas, como histórias, sermões, parábolas etc., para que todos pudessem compreender sua mensagem.

Recomenda-se que sejam evitadas longas falas ou exposições do monitor nas reuniões de estudos. Importante ainda prestar sempre muita atenção às peculiaridades de cada grupo.

As técnicas mobilizam a atenção, valorizam e partem da contribuição trazida pelos participantes, propiciando assim a participação de todos. Mas, técnicas não são mais importantes que os objetivos do estudo. Precisa haver coerência. Os resultados positivos, dependerão de como e por que as técnicas foram usadas.

Avaliação do processo

A avaliação possibilita saber se os objetivos foram alcançados e pode ser feita observando a participação dos membros do grupo, os resultados das atividades propostas, ou formulando perguntas no decorrer da reunião. O que se avalia é a aprendizagem e as interações no grupo, devendo-se dar retorno contínuo aos participantes, valorizando os resultados alcançados.

É imprescindível compreender que o aprendizado de cada participante ocorre dentro das suas possibilidades intelectuais e morais.

O MONITOR DO GRUPO DE ESTUDOS

O monitor é o condutor do grupo no processo de aprendizagem, propiciando a ação construtiva de novos conhecimentos dos participantes.

A tarefa do monitor é, portanto, criar condições para tal construção, por meio de estratégias que considerem as pessoas como sujeitos ativos de sua aprendizagem, críticos e reflexivos, visando ao autoconhecimento e à autonomia, com ênfase na responsabilidade pelas decisões tomadas.

O que é necessário para ser monitor?

São condições desejáveis ao perfil do monitor de grupos de estudo, para o desempenho de suas atribuições:

Condições Doutrinárias - Ter domínio seguro dos ensinamentos espíritas; compreensão da missão do Espiritismo; demonstrar coerência e firmeza doutrinária; pesquisa bibliográfica bem direcionada.

Condições Pedagógicas - Ter conhecimento pedagógico, dominando estratégias, condições e recursos didáticos e de multimídia; conhecer instrumentos programáticos, metodológicos, avaliativos; conhecer o seu grupo (potenciais e possibilidades); valorizar a convivência; atualizar-se permanentemente.

Condições Psicológicas - Ser acolhedor, carismático, disciplinado e sereno com os participantes dos grupos; ser alegre e criativo; respeitar e saber lidar com opiniões contrárias e as diferenças; respeitar a liberdade de cada um; saber ouvir, dialogar, administrar, mediar conflitos, valorizar e aproveitar ideias dos participantes.

Condições Espirituais - Vivenciar a fraternidade, o perdão e a paciência; cultivar o equilíbrio emocional e mental; ser reflexivo e humilde; evangelizar-se sempre; concentrar-se na postura íntima de vivenciar os ensinamentos espíritas; manter coerência entre a fala e o exemplo; permanecer vigilante e confiante na tarefa que desempenha.

Condições Administrativas - Ter liderança e capacidade de gestão/ coordenação de pessoas e atividades; saber conduzir os debates; ser sensível às reações do grupo; ser acessível; compreender o papel do centro e do movimento espírita; afinar-se com o trabalho de unificação, atento à diversidade cultural e às diferenças regionais.

As condições acima relacionadas podem causar espanto ou receio em algumas pessoas, que podem se sentir não preparadas para a tarefa. Mas o monitor, atuando nessas diferentes frentes, ora como gestor, ora mediador do aprendizado, também está aprendendo. Atuar como monitor possibilita o contínuo aperfeiçoamento de suas condições doutrinárias, pedagógicas, psicológicas, espirituais e administrativas, necessárias para o desenvolvimento de sua tarefa.

Formação continuada

Ao nos colocarmos na condição de colaboradores, é necessário refletir sobre a boa vontade. Esclarecendo essa questão, Cecília Rocha ensina que “A boa vontade se manifesta exatamente no esforço que o candidato faz para adquirir os conhecimentos que são indispensáveis ao seu ministério. Boa vontade de aprender, de se aprimorar, de enriquecer seus recursos pessoais, intelectuais e afetivos, esta sim, seria uma qualidade básica para outras aquisições complementares que venha a conquistar” (Rocha, Cecília – Pelos Caminhos da Evangelização.).

Como aprendizes de boa vontade, devemos ler, reler, estudar, reestudar, buscar velhos e novos autores que nos capacitem sempre e mais na nossa tarefa diária como monitores de grupo de estudo espírita ou acabaremos por nos tornar cegos conduzindo outros cegos, como nos diz Jesus no evangelho.

Assim, para melhor desenvolver suas atribuições de monitor, destacamos a necessidade de sua formação continuada. Estudar, participar de seminários, cursos de formação e de atualização promovidos pelo movimento espírita, capacitando-se para exercer a sua função com segurança no processo ensino-aprendizagem.

Os cursos de formação estão voltados para diferentes competências dentro do movimento espírita. Há os que formam multiplicadores, preparando-os para formarem as equipes que, por sua vez, serão responsáveis pelos cursos de formação e atualização dos monitores que, nos centros espíritas, serão os responsáveis pelos grupos de estudo.

AOS QUE DESEJAM APRENDER E ENSINAR O ESPIRITISMO

Aquelas obras [O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns] contêm o que aprendi, e não o que criei. Ora, o que aprendi, outros podem aprender, mas, como eu, devem trabalhar. Apenas lhes poupei o esforço dos primeiros trabalhos e das primeiras pesquisas. (Kardec, Allan. Revista Espírita novembro de 1862 – O Espiritismo em Rochefort).

Na frase acima, proferida a uma assembleia composta em sua maioria por curiosos e alguns poucos adeptos do Espiritismo, Allan Kardec expressa a condição para aprender: o trabalho. Em outras palavras, é necessário colocar o desejo de aprender sob o impulso da vontade, direcionado pelos comandos da disciplina e da persistência, é preciso ainda o estabelecimento de um plano de estudo, para que não se perca em um labirinto.

Na mesma reunião, realizada em 1862 na cidade de Rochefort, ele disse: “O Espiritismo é toda uma ciência que reclama estudos sérios, como as outras ciências, e requer numerosas observações. Para expô-la minuciosamente seria necessário dar um curso regular, e um curso de Espiritismo não pode ser dado em uma ou duas aulas, como não o poderia um curso de Física ou de Astronomia.”

No projeto 1868, inserido em Obras Póstumas o codificador também fala que o objetivos de um curso regular de Espiritismo seria “desenvolver os princípios da Ciência e de difundir o gosto pelos estudos sérios (...) teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as ideias espíritas e de desenvolver grande número de médiuns”. E conclui afirmando que tal curso exerceria “capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências”.

Se para estudar uma ciência é preciso um plano de estudos, igualmente para implantação de um curso de Espiritismo é necessário planejamento: definição dos objetivos, conteúdo a serem ensinados, método, avaliar periodicamente o que se alcançou e replanejar continuamente.

O Espírito Batuíra, por intermédio de Francisco C. Xavier, no livro Mais Luz, tem uma frase inspiradora: “Trabalhemos pela distribuição organizada e metódica do conhecimento espírita-cristão com o mesmo devotamento com que procura estabelecer um serviço de água e luz”. Tem-se aí uma diretriz a ser seguida pelo movimento espírita: não se trabalhar com improvisos. É imperioso planejar para agir com efetividade.

Quando Batuíra utiliza a expressão “distribuição organizada e metódica do conhecimento espírita-cristão”, está se referindo a um leque de atividades desenvolvidas pelos centros espíritas. Focando especificamente na questão do ensino do Espiritismo, vemos que normalmente repetimos nas instituições espíritas o modelo educacional por nós experimentado ao longo da nossa vida escolar. Ou seja: centralizado no conteúdo e apoiado em poucos companheiros, que se desdobram na tarefa de transmitir e difundir os princípios espíritas.

Há outras formas eficientes de se estudar. Existem métodos de estudo em grupo que têm como premissa valorizar o conhecimento, a vivência e as experiências de todos os participantes. Esta troca potencializa o crescimento de cada um e do grupo como um todo.

No Espiritismo não há mestres. Ensinar e aprender são tarefas de todos, na busca do melhoramento do grupo em que participamos. Ora, esta premissa traz como consequência natural a necessidade do estudo contínuo.

 

USE, Departamento de estudos sistematizados. Estudo do Espiritismo. Edição 1, agosto 2020.

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