Prédica de João Batista. Batismo.
Espírito Santo. Anjos da guarda. Batismo de Jesus
(Marcos,
1:1-11; Lucas, 3:1-18; 21,22;João, 1:32-34)
1. A
esse tempo, veio João Batista pregando pelo deserto da Judéia. 2. Dizia: “Fazei
penitência, pois que o reino dos céus está próximo.” 3. Porquanto, eis aqui
aquele de quem falou o profeta Isaías, dizendo: “Voz do que clama no deserto:
preparai o caminho do Senhor; tornai retas suas sendas.” 4. João trazia uma
veste de peles de camelo e um cinto de couro à volta da cintura; alimentava-se
de gafanhotos e mel silvestre. 5. Os habitantes de Jerusalém, de toda a Judéia
e de toda a região circunvizinha do Jordão vinham ter com ele; 6, e,
confessando seus pecados, eram por ele batizados no Jordão. 7. Mas, vendo
muitos fariseus e saduceus que vinham para o batismo, disse-lhes: “Raça de
víboras, quem vos impeliu a fugir da cólera do que há de vir? 8. Tratai de
produzir dignos frutos de penitência, 9. e não procureis intimamente dizer:
“Temos Abraão por pai”; porquanto eu vos declaro que destas pedras pode Deus
fazer que nasçam filhos a Abraão. 10. O machado já está posto, raiz das
árvores: toda Arvore que não dá bons frutos será cortada e lançada ao fogo. 11.
Eu, por mim, vos batizo na água para vos induzir à penitência; mas aquele que
há de vir depois de mim é mais poderoso do que eu, que não sou digno de lhe
calçar os sapatos; ele vos batizará em Espírito Santo e no fogo. 12. Traz na
mão a joeira e limpará completamente o seu eirado; empilhará o trigo no celeiro
e Queimará a palha num fogo que jamais se extingue. 13. Então, Jesus veio da
Galiléia ao Jordão ter com João, a fim de ser por este batizado. 14. Mas João
obstava a isso, dizendo: Eu é que devo ser batizado por ti e tu vens a mim? 15.
Jesus lhe respondeu: “Deixa-me fazer assim por esta vez; porquanto é necessário
que cumpramos toda a justiça.” João consentiu. 16. Uma vez batizado, Jesus logo
saiu da água e eis que os céus se abriram e ele viu descer sobre si o Espírito
de Deus em forma de uma pomba. 17. Imediatamente uma voz ecoou no céu, dizendo:
Este é o meu filho bem-amado, em quem hei posto todas as minhas complacências.
João, filho de Zacarias e de
Isabel, o Precursor de Jesus, nasceu seis meses antes do aparecimento deste e
desencarnou com 31 anos de idade. Cheio de um Espírito Santo desde o ventre
materno, como diz o Evangelista, ele foi, conforme o declarou o divino Mestre,
o maior dentre os nascidos de mulher.
Jovem ainda, retirou-se para
o deserto, a fim de se entregar a uma vida de rigorosa austeridade, donde só
regressou para dar início ao desempenho da sua missão, no ano 15 do império
romano, aos 29 de sua idade, sob o reinado de Herodes Antipas. Entrou a pregar
e a administrar o batismo de penitência, todos os profetas, recebeu no deserto
a inspiração de que soara a hora de ter começo a missão, que trouxera, de
Precursor do Cristo e que consistia em preparar os caminhos que este teria de
percorrer, em abrir brechas nas consciências, por onde penetrasse a luz de que
Jesus era portador. Foi o que fez, pregando, ensinando, aconselhando aos homens
que lavassem de toda impureza suas almas, que se arrependessem de suas culpas e
praticassem a penitência, para se tornarem dignos de receber aquela luz,
consubstanciação da moral divina. Quer isto dizer que João aparelhava o terreno
para a obra que o Cristo descera a realizar.
O batismo, que ele administrava, era precedido da confissão, feita de público e em altas vozes pelo batizando, de suas faltas e pecados, para lhe despertar no íntimo o sentimento da humildade e para o constranger a evitá-las pela vergonha de as ter que confessar publicamente. A prática dessa confissão durou longo tempo. Depois, os que se arvoraram em representantes do Cristo dela se apossaram e a fizeram cair no desprestígio e na desmoralização que conhecemos, imposta como mandamento pelos que pregam o que não praticam.
João, cuja elevação
espiritual as citadas palavras de Jesus patentearam, era, no entanto, menor do
que o menor no reino dos céus, do que, por exemplo, Melquisedec, rei de justiça
e rei de paz, que foi sem pai, sem mãe e sem genealogia, que não teve
princípio, nem fim de vida, que fez o seu aparecimento na Terra à semelhança do
Filho de Deus, Jesus Cristo, cuja natureza puramente espiritual, sob as vestes
de um corpo celeste e não terrestre, aquelas palavras comprovam, comprovando,
portanto, que ele não nasceu , nem “morreu”, que a sua vida humana foi apenas
aparente. (1)
Não obstante tratar-se de um
Espírito superior em missão, como Maria e José, João, por estar encarnado, se
achava olvidado da sua existência anterior, dela perdera a consciência.. Assim
é que não se lembrava de que fora Elias.
Para abater o orgulho dos
hebreus, que só consideravam. filhos do Senhor os que suportavam o jugo de
Moisés, tal qual a Igreja Romana, que assim só considera os que cegamente lhe
aceitam os dogmas, João, missionário celeste, disse que poderoso é Deus para
fazer das pedras filhos de Abraão, que estes, portanto, não são somente os que
dizem: Senhor! Senhor! e vivem preocupados com fórmulas exteriores, ritos,
cerimônias, etc., mas os que trazem puros os corações; que a árvore que não dá
bons frutos será arrancada e lançada ao fogo, isto é, que o Espírito encarnado,
que não progride, mediante as expiações, as provas e as reparações a que o
sujeitam seus erros e transviamentos, que não apresenta frutos de regeneração,
será, depois da desencarnação, a que comumente chama “morte”, lançado no fogo
dos remorsos das torturas morais, correspondentes ao grau da sua culpabilidade.
O batismo, que João
ministrava e a que Jesus se submeteu para exemplo, consistia na ablução, ou
lavagem do corpo, fato material destinado a simbolizar a purificação da alma,
pela humildade, pelo arrependimento, de que era prova a confissão pública das
faltas e crimes cometidos. Era um meio material de impressionar homens
materiais, mas ao mesmo tempo um ato emblemático, como um selo posto ao
compromisso assumido de regeneração moral, a efetuar-se pelo batismo em fogo e
em Espírito Santo, que tem sua expressão nos sofrimentos purificadores e na
assistência dos Espíritos purificados, assistência que faculta ao culpado os
meios e as forças de levar a cabo a sua purificação integral.
O batismo em Espírito Santo,
ou seja a assistência dos Espíritos do Senhor compreendidos nessa denominação,
as criaturas humanas o recebem mediunicamente, pela intuição e pela inspiração,
quando não de maneira ostensiva, pelas comunicações do além. Concede-a o
Cristo, enviado de Deus e seu preposto ao governo do mundo terreno, aos homens
de boa-vontade, a fim de que sejam sustentados em suas provas, guiados nas suas
missões e ajudados na obra de purificação de seus Espíritos e na de seu
progresso pela senda do aperfeiçoamento moral e intelectual.
Esse batismo Ele o
administrou, clara e exemplificativamente, fazendo que descessem até seus discípulos
aqueles Espíritos, que os iam amparar e auxiliar no desempenho da missão de que
se achavam incumbidos, e que se manifestassem sob a aparência de línguas de
fogo, formadas pela luminosidade dos seus perispíritos. Essa também uma das
razões por que ao batismo em Espírito Santo é dado o nome de “batismo de fogo”.
É que por ele desce sobre a criatura o fogo da inspiração divina, a abrasá-la
dos sentimentos puros e elevados, que geram os heroísmos da fé.
Hoje, como sempre, esse
batismo, ou influência, podemos obtê-lo todos, pelo trabalho, pelo amor, pela
humildade e, sobretudo, pela caridade, e a temos, constante, animadora e
eficaz, fazendo-se mister unicamente, para que aproveitemos de todos os seus
inestimáveis benefícios, que dela tenhamos consciência, que a prezemos e
guardemos como preciosíssimo tesouro, de que nos podemos valer em todas as
circunstâncias da vida. Temo-la, com efeito, continuamente, porque temos de
contínuo, a velarem por nós, os nossos Anjos da Guarda, Espíritos elevados,
caridosos, santos, que tomaram a si o encargo de nos proteger e conduzir pela
estrada do progresso, com o que também eles avançam nessa mesma estrada.
Era, pois, o batismo um ato
material e simbólico, mas a que só se submetiam criaturas conscientes de seus
atos, possuídas do arrependimento de seus erros e faltas, desejosos de fazer
penitência e de alistar-se sob o estandarte de uma fé conducente à regeneração,
para a conquista do “reino dos céus”. Isto perfeitamente se compreende. Que
fez, porém, a Igreja Romana? Fez do batismo material, da água derramada, não
mais sobre a cabeça de homens em condições de reconhecerem e confessarem suas
culpas, mas sobre a cabeça das crianças recém-nascidas, um meio de apagar nelas
a mancha do pecado original, de remissão desse pecado de que se deve considerar
onerado todo aquele que nasce na Terra, apesar de nenhum pecado ainda haver
cometido, erro que provêm de ensinar a Igreja, por não admitir a lei das
reencarnações, que quem nasce no mundo traz uma alma expressamente criada para
o corpo com que se apresenta.
Vê-se assim que, como
outras, a instituição do batismo da água foi completamente desvirtuada em sua
natureza, em seu objetivo, em as condições precisas para ser administrado e nos
fins a que visava, tudo por efeito de inovações e mandamentos humanos.
Ora, como é possível que,
nunca tendo nascido antes, o Espírito do que nasce precise lavar-se de
impurezas quaisquer? Será que já tenha saído impuro das mãos do seu Criador.
Em segundo lugar, se o
prêmio, ou o castigo, decorrem das obras de cada um, como tantas vezes se
encontra repetido nas Escrituras santas “a cada um segundo suas obras” não se
compreende que a Humanidade seja responsável pela falta ou faltas que haja
cometido o chamado primeiro homem, que não passa, como já mostramos, de um
símbolo. E não se compreende, quer se deem aos batizandos as lições que lhes
dava João, quer sejam eles dispensados dessas lições, bem como do exercício da
vontade e do uso do livre-arbítrio, da manifestação do arrependimento e do desejo
da penitência, condições então necessárias à administração do batismo.
É evidente que a Igreja
Romana não entendeu, ou revogou a palavra do Senhor, transmitida por Moisés aos
homens. Veja-se: Deuteronômio, capítulo 24, versículo 16 íbi Não se farão morrer os pais pelos filhos,
nem os filhos pelos pais; mas cada um morrerá pelo seu pecado.
Ela não entendeu, ou não
aceitou as palavras do apóstolo Paulo, na sua “Epístola aos Romanos”, capítulo
14, versículo 12: “E, assim, cada um de
nós dará contas a Deus de si mesmo.”
Manifesto é, portanto, o
absurdo do ensino da Igreja, ante os termos expressos da lei, ante os
ensinamentos dos profetas e dos apóstolos. Essa a razão por que o clero romano
foge a toda discussão, não admitindo que os leigos falem nos Evangelhos, e a
razão também por que a Humanidade não dá às Escrituras sagradas a importância
que lhes devia dar. Entretanto, assim não continuará a ser. Acreditamos e
esperamos que o remédio não tardará, para extirpar o mal pela raiz, mal que
lavra há muitos séculos, desde que os fariseus, ensinando que da aliança do
Sinai viera a lei oral e não a lei escrita, reduziram o Código Sagrado a mero
acervo de tradições e monopolizaram, por vaidade e interesse de seita, a
inteligência e a interpretação dos livros santos, fazendo que a corrupção
chegasse ao ponto de levar Jesus a declarar que os judeus haviam aniquilado a
palavra do Senhor.
Sob o aspecto material, o
batismo correspondia a uma necessidade daqueles tempos; destinava-se, como já
dissemos, a fazer impressão em homens materiais. Se ainda hoje precisa ser
mantido com esse aspecto, batizemos os nossos filhos; mas, desde que se tornem
conscientes, mostremos-lhes que, ante a razão, somente a parte simbólica é de
utilidade e proveito.
Jesus não tinha necessidade
de ser batizado por João. A prova encontramo-la na circunstância de que recebeu
um batismo, que era de penitência, que, por isso, exigia prévia confissão
pública de pecados, sem ter confessado culpa alguma, sem de nenhum pecado se
haver penitenciado. Quer isso dizer, evidentemente, que Ele era puro e
perfeito, porquanto só os que alcançam a perfeição na pureza se acham livres de
ter a mais leve culpa, a mais ligeira falta de que se acusar em consciência. E
essa circunstância, por si só, indica e demonstra que Ele não podia estar
encarnado, ser um homem como os demais, porquanto, conforme se lê em “O Livro
dos Espíritos”, aqueles, dentre estes, que compõem a primeira classe, classe
única, da primeira ordem, na escala espírita, já percorreram todos os graus do aperfeiçoamento
e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma de
perfeição de que é suscetível a criatura, não têm mais que sofrer provas, nem
expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis,
realizam a vida eterna, no seio de Deus.
Trazia ele, portanto, um
corpo celeste, que não precisava ser lavado, como os nossos corpos de lodo, por
motivo algum e ainda menos como expressão material da necessidade de
purificação espiritual.
Jesus, conseguintemente, e só
Jesus, segundo proclamou João que Ele o faria, estava capacitado para
administrar o batismo em Espírito Santo e em fogo e para, investir a outros de
o ministrarem, como investiu os apóstolos que, depois de terem recebido esse
batismo, foram incumbidos de pregar e exemplificar a moral que Ele trouxera ao
mundo e de o conferirem a quantos, escutando-lhes as palavras, praticassem a
lei do amor e, a seu turno, a propagassem pela palavra e pelo exemplo.
Segue-se, então, que apenas
para dar um exemplo, para confirmar a missão de que o Precursor se achava
encarregado, e ainda para receber pública e ostensivamente a confirmação da
sua, foi que Jesus se fez batizar por João. Essa confirmação Ele a teve, de
fato, mediante aquelas palavras que se ouviram, vindas do alto, e que
continham, em seu sentido profundo, a afirmação de que à Terra descera o
Espírito excelso, cujo advento os profetas anunciaram, e mediante o
aparecimento de uma pomba a lhe pairar sobre a cabeça.
Foi esta uma manifestação
espírita, que se produziu pela faculdade que tem o Espírito de dar ao próprio
perispírito as formas e aparências que queira. Um dos que secundavam a Jesus no
desempenho de sua missão, tomou, obedecendo aos desígnios de Deus, a forma de
uma pomba que, considerada pelos antigos como emblema da pureza, veio atestar,
naquele momento, a do Messias prometido.
Segundo a narração
evangélica, aconteceu que, batizado Jesus, quando estava em oração (LUCAS,
capítulo 3, versículo 22), o céu se abriu e uma voz ressoou no espaço, dizendo:
Este é o meu filho bem-amado, em quem hei
posto toda a minha complacência. Disse essas palavras um dos Espíritos
Superiores, órgãos das inspirações divinas e executores das vontades de Deus. E
as disse quando Jesus orava, para demonstrar aos homens que a prece do coração
atrai as bênçãos do Senhor e os testemunhos do seu amor infinito; que
determina, por intermédio dos Espíritos protetores, a influência divina; e
também como sanção expressa da legítima autoridade de Jesus, da sua identidade
na condição de enviado direto de Deus.
(1) Com esta palavra muito
jogo costumam fazer os que combatem a revelação da corporeidade fluídica do
Cristo, pretendendo que, se houveram sido aparentes, essa corporeidade e a vida
humana de Jesus nenhuma realidade teriam tido. Convêm, pois, precisar o
significado verdadeiro de tal palavra, ou, pelo menos, o sentido em que é
empregada, quando se trata daquela vida. Para esse efeito, de nenhuma
autoridade maior, nem melhor, nos podemos socorrer, do que do Mestre Allan
Kardec. Citemos, conseguintemente, o passo em que ele nos dê esse significado.
Encontramo-lo no capítulo 8
da segunda parte de O Livro dos Médiuns, capitulo que se intitula “Do
laboratório do mundo invisível”, numa nota por ele aditada a uma das respostas
do Espírito que o instruía, em o n 128 do volume. Vamos reproduzir, para boa
Inteligência da explicação, as perguntas e respostas que deram lugar a essa
nota.
2. Aquela caixa de rapé
(tratava-se da aparição de um Espírito encarnado, que trazia na mão esse
objeto) tinha a forma da de que ele se servia habitualmente e que estava em sua
casa. Que era então a que foi vista com a aparição?
“Uma aparência. Era para que
a circunstância fosse notada, como o foi, e para que não tomassem a aparição
como uma alucinação produzida pelo estado de saúde da vidente, O Espírito
querendo que aquela senhora acreditasse na realidade da sua presença, tomou
todas as aparências da realidade.”
3. Dizes que foi uma
aparência; mas uma aparência nada tem de real, é uma como ilusão de ótica.
Desejáramos saber se a caixa de rapé era apenas uma imagem sem realidade, ou se
havia nela alguma coisa de material?
“Certamente; é com o auxílio
desse princípio material que o perispírito toma a aparência de vestes
semelhantes às que o Espírito trazia quando vivo.”
NOTA. É verdade que se deve
entender aqui a palavra “aparência” no sentido de aspecto, imitação. A caixa de
rapé, real, não estava lá: a que o Espírito trazia era apenas a representação
da outra: era, pois, uma aparência, comparada ao original, se bem que formada
de um princípio material.
A experiência nos ensina que
nem sempre devemos tomar ao pé da letra certas expressões empregadas pelos
Espíritos. Interpretando-as segundo as nossas ideias, expomo-nos a grandes
equívocos. Cumpre, por isso, aprofundar o sentido de suas palavras, todas as
vezes que apresente a menor ambiguidade. É uma recomendação que os próprios
Espíritos repetidamente nos fazem. Sem a explicação que provocamos, a palavra
aparência, constantemente reproduzida em casos análogos, podia dar azo a uma
falsa interpretação.
Elucidações evangélicas. FEB
(e-book).
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