Evangelho segundo Mateus - cap. 18

Lição de caridade e de amor, de amparo ao fraco, de fé, confiança, humildade e simplicidade

1. Naquela hora os discípulos se acercaram de Jesus e lhe perguntaram: Quem julgas que é o maior no reino dos céus? 2. Jesus, chamando um menino, o colocou de pé no meio deles, 3, e lhes disse: Em verdade vos digo: se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus. 4. Aquele, pois, que se fizer humilde e pequeno como este menino, esse será o maior no reino dos céus. 5. Aquele que receber em meu nome um tal menino, a mim me recebe.

Nestas palavras de Jesus, temos mais uma lição de caridade, de amor, de amparo ao fraco, de fé, humildade e simplicidade. “Aquele que quiser ser o primeiro seja o último, o servo de todos”, disse Ele.

Sejamos crianças que o Divino Mestre tome em seus braços. Fracos, como somos e nos reconhecemos, confiemos nele e, se nos tornarmos simples de coração, nele encontraremos a chave de toda a ciência. Sejamos caridosos com os nossos irmãos e nele teremos o mais admirável tipo da caridade.

Aquelas palavras suas significam: Não procureis elevar-vos pelas vossas próprias forças, porque elas vos trairão; não acrediteis valer mais do que os vossos irmãos, aos olhos de vosso pai; nem desejeis sobrepor-vos a eles; procurai, ao contrário, ajudá-los a se elevarem, dando-lhes o melhor dos conselhos: o do exemplo.

Supunham os discípulos que o Senhor tinha preferência por um deles, que João era o mais amado. Daí o ciúme que lhes nasceu no intimo, tal a miserabilidade da carne, mesmo entre os bons, ciúme, entretanto, desculpável, até certo ponto, por provir do grande amor que consagravam ao Mestre. Esse o sentimento que lhes trouxe ao espírito a ideia de saberem qual era o maior e motivou a discussão em que se empenharam.

João, porém, não era o mais amado, era, antes, o que mais amava, o que o impelia a aproximar-se mais de Jesus, dando isso lugar a que os outros pensassem que lhe coubera a melhor parte.

“Se não vos converterdes e não vos tornardes quais crianças, não entrareis no reino do céu, advertiu o Divino Mestre. Quer dizer, se não abandonardes as ideias e tendências humanas, não chegareis à perfeição. A criança é o símbolo da inocência. O pensamento de Jesus, ao servir-se de tal símbolo, era este: Se não vos fizerdes simples e inocentes, o orgulho vos impedirá a entrada no reino dos céus, ou: não sereis moralmente perfeitos.

Quando disse que aquele que, em seu nome, recebe a uma criança, recebe-o a Ele, quis significar que, pondo-nos ao alcance do fraco e do simples, de partilharmos com este o que possuirmos em inteligência, em força, em saber, tê-lo-emos a Ele ao nosso lado.

Evitar o escândalo. É necessário que se deem escândalos, é impossível que não se deem. Mas, ai do homem que cause o escândalo

6. Aquele que escandalizar a um destes pequeninos que em mim creem, melhor fora lhe pendurassem ao pescoço uma mó de moinho e o lançassem ao fundo do mar. 7. Ai do mundo por causa dos escândalos, pois é necessário que venham escândalos; ai, entretanto, do homem por quem vem o escândalo. 8. Se vossa mão ou vosso pé vos for motivo de escândalo, cortai-os e lançai-os longe de vós. Mais vos vale entrar na vida coxo ou estropiado do que com duas mãos e dois pés e ser lançado no fogo eterno. 9. Se vosso olho vos for motivo de escândalo, arrancai-o e atirai-o longe de vós; mais vale entreis na vida com um só olho do que com dois e ser lançado na geena do fogo. 10. Tende muito cuidado em não desprezar a um destes pequeninos, pois vos digo que seus anjos, no céu, veem sempre a face de meu pai que está nos céus. 11. Porque, o filho do homem veio salvar o que estava perdido.

No planeta atrasado em que habitamos, as encarnações, em geral, são concedidas aos Espíritos que as pedem, para expiação e reparação de faltas que anteriormente cometeram. Consistem as expiações em sofrimentos físicos e morais, sofrimentos esses que, muitas vezes, são causados pelos maus atos, maus conselhos, maus exemplos de outros que, obstinados no mal, se tornam assim causas ou instrumentos de escândalo. Constitui este, para o que lhe experimenta as consequências, uma como punição de suas culpas e, portanto, um fator do seu progresso.

Necessário é, pois, que haja escândalo no mundo, visto que só mediante eles muitas consciências despertam para o reconhecimento dos erros praticados e para o arrependimento, e que, pelo contacto com os vícios, e que as virtudes se fortalecem e deles triunfam. Ai, porém, dos que ocasionem o escândalo, e ai também, ainda que menor lhes seja a culpa, dos que se deixem levar até ao escândalo. Mais valera não houvessem encarnado, antes de estarem bastante amadurecidos para uma vida melhor.

Qualquer que seja o sacrifício que nos custe a destruição, em nossas almas, de todas as causas do mal, preferível é que o façamos, a que nos tornemos causa de escândalo, com o que nos condenaremos a sofrer, durante séculos talvez, na vida errante do Espírito culpado, uma tortura de todos os momentos, sem que nos sorria a esperança de ver-lhe o fim, enquanto o arrependimento não nos abrir o coração para aninhá-la, induzindo-nos ao desejo de baixarmos de novo ao mundo, para, numa outra vida, expiar e reparar o mal praticado.

O fogo exprime emblematicamente a expiação, como meio de purificação e, assim, de progresso, para o Espírito culpado.

O sal, entre os hebreus, era o emblema da purificação de toda vítima oferecida em oblata ao Senhor. Recorrendo sempre aos costumes, preconceitos e tradições hebraicas, para compor a linguagem figurada de que necessitava usar, Jesus ainda aqui apresentou a infância como emblema da pureza e da virtude.

O filho do homem veio salvar o que estava perdido. Estavam perdidos os que se haviam desencaminhado, por não mais obedecerem aos mandamentos, por os terem falseado, fazendo das tradições o fundamento de seus dogmas. Esses os que o filho do homem viera salvar, abrindo-lhes uma estrada nova, em seguimento da de que se tinham afastado. Com o correr dos tempos, entretanto, também essa nova estrada ficou atravancada de dogmas, de tradições, de interpretações grosseiras, escombros confusos do edifício que Ele erguera a tão grande altura, com extrema simplicidade e clareza, proclamando entre os homens e para a Humanidade inteira que toda a lei e os profetas se contêm nestes dois mandamentos: amar a Deus acima de todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo, abstração feita de todos os diversos cultos exteriores, e prescrevendo que não adorassem o Pai nem de cima do monte, nem em Jerusalém; que o adorassem, como Ele quer ser adorado, em espírito e verdade, isto é, como servos e membros da Igreja universal do Cristo, cujo templo é o nosso planeta e cujos fiéis são os que praticam aquele duplo amor, pelo exemplo e pela palavra, para que se lhe cumpra a promessa, de haver um só rebanho conduzido por um só pastor.

Assim tendo acontecido, volta Ele hoje a salvar, por meio da Nova Revelação e por intermédio dos Espíritos seus servidores, os que se perderam em meio daqueles escombros e reconduzi-los, em nome do Espírito da Verdade, ao caminho que leva a Deus.

Ovelha desgarrada

12. Que vos parece? Se um homem tem cem ovelhas e uma delas se desgarra, ele não deixa as outras noventa e nove nos montes para ir procurar a que se desgarrou? 13. E se acontece que a encontre, em verdade vos digo que essa ovelha lhe dará mais alegria que as outras noventa e nove que não se extraviaram. 14. Assim, não é da vontade de meu pai que está nos céus que pereça um só que seja destes pequeninos.

O mesmo é o pensamento que ditou as parábolas da ovelha desgarrada e da dracma perdida. Visam ao mesmo fim os ensinamentos que derivam de ambas. Apenas, a da dracma objetiva, de modo especial, os pobres a quem Jesus se dirigia.

Ele viera em socorro dos que fraquejam, ou que, apavorados com os obstáculos do caminho, retrocedem. O pai de família cuida com ternura do filho doente e o coração se lhe alvoroça de ventura, quando o vê restabelecido.

Foi o que fez o Filho bem-amado do Pai, durante a sua missão terrena. Era o que fazia, antes que descesse a desempenhar essa missão, desde que o homem surgiu no planeta, o que continuou a fazer, depois do desempenho daquela missão, e faz ainda agora, por intermédio dos Espíritos do Senhor, que sempre trabalharam e trabalham pelo progresso da nossa Humanidade. Todos os seus cuidados se hão sempre concentrado e concentram nas suas ovelhas; exerce, porém, maior vigilância sobre as que sofrem e as que um mau pastor deixou se perdessem. Ele as procura e, quando a sua voz amorosa chega a ecoar no coração daquela que se perdera, oh! então, o bom pastor corre para essa que respondeu ao seu chamamento e, tomando-a nos braços, a reconduz ao aprisco, para que não mais se aparte do rebanho.

Não é da vontade de meu Pai que está nos céus que nenhum destes pequeninos pereça. Quer isto dizer que nenhuma criatura do Senhor permanecerá afastada dele; todas, mais cedo ou mais tarde, se irão reunir a seus pés. Cumpre, pois, trabalhemos, para que, quanto antes, possamos obter o lugar que nos está reservado na vida eterna; isto é, para que o mais depressa possível entremos nessa existência ditosa, onde tudo é atividade, caridade, amor, ciência e progresso.

Se os “príncipes da Igreja” quisessem compreender as palavras de Jesus, certamente não insistiriam em pregar a condenação a penas eternas e a queda dos anjos, duplo erro que o progresso das inteligências e a consciência moderna já condenaram como falsidades, monstruosidades, em face da onipotência, da justiça, da bondade e da misericórdia infinita de Deus, Pai de todos, Criador de tudo o que existe, cujo amor universal, infinito, abrange todas as criaturas; de Deus, que olha com paternal afeto, tanto para o mais pequenino animálculo, como para o rei da Terra. É um duplo erro que a Nova Revelação vem condenar em nome de Jesus, por intermédio dos Espíritos do Senhor, órgãos do Espírito da Verdade.

Palavras de Jesus relativas ao perdão e ao esquecimento das injúrias e das ofensas

15. Se contra ti pecou o teu irmão, vai e o repreende, mas a sós com ele. Se te atender, tê-lo-ás ganhado. 16.Se, porém, não te atender, faze-te acompanhar de uma ou duas pessoas, a fim de que tudo seja confirmado pela autoridade de duas ou três testemunhas. 17. Se também não as atender, comunica-o à Igreja; e, se também à Igreja ele não atender, trata-o como gentio e publicano.

Quer isto dizer: se houverdes de fazer a algum de vossos irmãos uma censura qualquer, procurai formulá-la com palavras brandas, persuasivas, a fim de que ele se corrija. Se vos houver ofendido, perdoai-lhe com sinceridade a ofensa recebida, ocultando-a dos estranhos, para que ele não fique vexado, e Deus vos perdoará do mesmo modo por que houverdes perdoado.

Não guardeis jamais prevenção alguma contra um irmão vosso. Jamais, cedendo a um rancor que, em certos casos, do ponto de vista humano, possa parecer legítimo, vos arrisqueis a fazer que aquele que vos ofendeu recalque para o fundo do coração o seu arrependimento sincero.

Razão nenhuma, aliás, pode haver, para procedermos de modo contrário, pois sabemos que, conforme o disse Nosso Senhor Jesus Cristo, seremos julgados como houvermos julgado. Além disso, não nos devemos esquecer de que, amiúde, não apenas sete vezes no dia, mas setenta vezes sete vezes ofendemos a Majestade divina, ofensas estas que consistem na transgressão de suas leis e em todas as tentativas que façamos para nos subtrairmos à ação delas.

Usemos, pois, para com os nossos irmãos, da benevolência de que tanta necessidade temos e digamos, sinceros, ao Senhor: “Perdoa as minhas ofensas, como perdoo as de meus Irmãos.

Quanto ao aconselhar Jesus, para os que o ouviam, que o ofendido chamasse testemunhas, caso não o atendesse o ofensor, e recorresse à Igreja, se este persistisse em não se emendar, cumpre não olvidemos que Ele falava aos Judeus, povo rixento, rancoroso e vingativo. Conseguir, portanto, que, entre eles, o ofendido, depois de valer-se daqueles expedientes, esquecesse e desprezasse as ofensas, esquecendo e desprezando o ofensor, com o considerá-lo gentio e publicano, já representava uma conquista imensa.

Gentio, para os Judeus, significava bárbaro, idólatra. Publicanos eram os cobradores de impostos, função que os tornava odiosos.

Poder de ligar e desligar dado por Jesus aos apóstolos. Sua presença onde duas ou três pessoas se acharem reunidas em seu nome

18. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na Terra será ligado no céu e tudo que desligardes na Terra será desligado no céu. 19. Também vos digo que, se dois dentre vós se reunirem na Terra, aquilo que pedirem lhes será concedido por meu pai que está nos céus. 20. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei eu no meio deles.

Explicado, como já deixamos, o poder de ligar e desligar, que Jesus conferiu aos seus discípulos, cumpre levemos em conta que eles, que já eram bastante esclarecidos, mais ainda o seriam, quando lhes fosse dada toda a luz, nos limites da missão terrena de cada um. Já de si mesmos elevados, inspirados e guiados por Espíritos superiores, eles se achavam em condições de julgar, com sabedoria e acerto, da moralidade e dos sentimentos dos homens. A prova temo-la no fato do julgamento e da condenação de Ananias, por Pedro. Veja-se, para boa compreensão do que dizemos, como esse fato se deu. Advertido misteriosamente, isto é, como médium audiente, por aqueles Espíritos, da perfídia de Ananias, Pedro se achou em estado de julgá-lo com segurança e de lhe condenar o procedimento.

A perspicácia dos Apóstolos, pois que todos eram médiuns de grandes faculdades, sobretudo audientes, resultava da elevação pessoal deles e dos avisos que recebiam de seus guias espirituais. Tais faculdades, entretanto, por isso mesmo que eram pessoais e devidas à elevação espiritual de cada um, não se transmitiram por herança aos que se arvoraram em seus sucessores. O Mestre, quando proferiu as palavras constantes nos versículos acima, só se dirigiu aos Apóstolos e não a esses pretensos sucessores que, degenerados, como Ele os antevia, não estariam aptos a receber tão alta investidura.

Cumpre dizer, porém, que, entre os sucessores dos Apóstolos (Judeus e Gentios), alguns houve que, pela sua santidade e por suas faculdades mediúnicas, com a assistência e o concurso de seus guias espirituais, puderam e podem colocar-se em condições de ligar e desligar, no verdadeiro sentido destas palavras. Entre nós espíritas, também, necessariamente, alguns há de haver que, preenchendo essas condições, do mesmo modo podem ligar e desligar. Mas, quão reduzido não será o número desses!

Quanto à promessa, que Jesus fez aos que se reúnam em seu nome, de lhes conceder Deus o que pedirem, importa entendamos que se referia não a pedidos formulados apenas com os lábios, mas a súplicas que se façam do imo d’alma, com um sentimento profundo e santo, e que santo e justo seja o que pretenda o pedinte obter. Da sua promessa está, pois, excluído, é claro, tudo o que diga respeito às coisas mesquinhas do mundo, a interesses exclusivamente humanos.

Assim também, para que se cumpra a sua promessa de estar com aqueles que se reúnam em seu nome, importa, antes de tudo, saber o em que consiste acharem-Se dois, ou três, ou muitos, reunidos em nome de Jesus. Para que tal se dê, é preciso que a todos anime o desejo de lhe seguir a lei, que todos se achem possuídos do amor a Deus e ao próximo. Fora daí não há reunião em nome de Jesus.

Pelo estudo da Doutrina Espírita, ficamos conhecendo a influência atrativa que exercem os fluídos simpáticos, que são o laço que aproxima, uns dos outros, os Espíritos, se não da mesma ordem, pelo menos possuídos dos mesmos sentimentos, dos mesmos gostos, dos mesmos pendores. Se, portanto, intimamente ligados pelo amor a Deus, nos reunirmos para a obtenção de suas graças, formando uma cadeia simpática bastante sólida, e apelarmos para a proteção do divino Mestre, Ele acudirá sem dúvida ao nosso chamamento, no sentido de que seus emissários nos cercarão e nos banharão os Espíritos nos eflúvios de amor que implorarmos.

Mas, como havemos de esperar resultados infalíveis, quando ainda tão raros são os homens animados de bons sentimentos, do verdadeiro sentimento de amor; quando vemos serem tantos os tíbios, os indiferentes, os indignos, mesmo entre os que se reúnem em reduzido número? O Senhor, todavia, sabe contar suas ovelhas, e caras lhe são as cabeças fiéis.

Entretanto, a Igreja Romana se baseia no texto do versículo 20, para dar valor aos seus concílios, considerando-os meio superior a quaisquer outros de se obterem a verdade, a sã e legítima interpretação das sagradas escrituras, dizendo: Que respeito não devem merecer os concílios, nos quais a Igreja toda se acha reunida, na pessoa de seus pastores, constituindo uma assembleia infalível, pois que assistida e inspirada pelo Espírito Santo!

Como, porém, se poderá supor assistida por Jesus, pelos seus emissários, inspirada pelo Espírito Santo, uma assembleia em que há discussões inflamadas, controvérsias tremendas e muitas vezes acrimoniosas; em que ainda nenhuma questão religiosa foi decidida por unanimidade? Ora, se nos concílios, compostos de “homens de Deus”, infalíveis em seus julgamentos, diversos eram os pareceres; se muitos de seus membros mantinham suas opiniões contra as da maioria triunfante, quais as influências que guiavam os do sacro colégio? Desde que divergentes se mostram as opiniões nos concílios, por que meio se há de distinguir o que é inspirado pelo Espírito Santo e o que o é por Satanás?

Dirão talvez: pela sabedoria humana, pela experiência, pelo estudo, pelas tradições. Repliquemos, nesse caso: Não; só a razão pode decidir e, para a razão, infalível somente Deus o é. Pastores humanos, quer insulados, quer reunidos em concílio, são tão falíveis quanto os outros homens, porque estão sujeitos, como estes, às boas e às más influências espirituais.

Nem objete a Igreja que a infalibilidade está com a maioria dos membros dos seus concílios. Como poderá prová-lo? Ao contrário, a minoria deles é que tem caminhado, como ainda hoje se dá com a minoria dos que formam a coletividade espírita, nas pegadas do Mestre; é que lhe segue os exemplos de doçura, de humildade, de desinteresse, de paciência, de caridade e de amor. Quais e quantos, dos que hão constituído a maioria dos concílios, são os que, imitando os Apóstolos, exemplificaram a abnegação e o devotamento, a tolerância e a fraternidade para com todos os homens? Muito ao invés disso, nessas maiorias foi sempre onde se mostraram o orgulho, a ambição, o fanatismo, a intolerância, o egoísmo e, frequentemente, a incredulidade. Quem então os assistia e inspirava: O Espírito Santo, ou Satanás? (3)

Dizem também os sacerdotes romanos, para afastar da Revelação Espírita os homens, que só Satanás teve e tem o poder de se comunicar e só ele se comunica mediunicamente com as criaturas humanas. Tais afirmativas não passam de puerilidades interesseiras, monstruosas em si mesmas, devidas à ignorância, ou à má-fé, é que são desmentidas, assim pelas tradições históricas, como pelos fatos ocorridos em todos os tempos e entre todos os povos, e ainda pelas revelações que o Senhor nos tem enviado.

Negar a ação mediúnica, oculta ou ostensiva, do Espírito Santo, isto é, dos Espíritos bons, dos Espíritos elevados, dos Espíritos de luz e verdade, para só admitir a de Satanás, isto é, a dos Espíritos do erro e da mentira, equivale a rejeitar todo o passado da Humanidade terrena, a tradição de todos os acontecimentos que ela registrou, o Antigo e o Novo Testamento, os fatos, que um e outro relatam, de comunicação dos “anjos”, isto é, dos Espíritos purificados, com os homens; a manifestação espírita feita a Moisés no Sinai, as tábuas da lei, o Decálogo; a anunciação, a Abraão, da vinda do Messias e, depois, aos hebreus, pelos profetas de Israel.

Pretende ainda a Igreja que nos abstenhamos das comunicações com o mundo espiritual, porque Moisés proibiu a evocação dos mortos. Ë real essa proibição, mas, para lhe descobrirmos a causa, basta atentemos nos motivos que a inspiraram. Atrasado e supersticioso, o povo hebreu estava, no entanto, destinado a constituir-se o depositário da crença monoteísta, para transmiti-la às gerações futuras, e Moisés lhe proibiu que interrogasse os mortos, para preservá-lo de ser, pelos Espíritos inferiores e impuros que o cercavam, desviado da senda que lhe cumpria trilhar. Assim sendo, não há o que estranhemos naquela proibição, quando não ignoramos que, hoje mesmo, não devemos pôr-nos em comunicação com o mundo invisível, senão nas condições que a própria doutrina indica, para não suceder que, em virtude da lei de afinidade, Espíritos inferiores, similares aos nossos, nos venham enganar e perder.

Querer que evitemos essa comunicação, pela impossibilidade de discernirmos o que é verdade do que é impostura, é formular uma objeção que inquina igualmente de incerteza as decisões dos concílios, uma vez que, nunca tendo havido, entre os seus membros, unanimidade de sentimentos, de pensamentos, de vontades, de aspirações, eles forçosamente se acharam sempre sob dupla influência: uma boa, outra má, sem se poder determinar quais os que recebiam a boa.

Mas, não nos iludamos com esses sofismas dos que querem que cegamente nos entreguemos à dominação de obscurantistas retardatários, que não admitem discussão, nem luz, nem progresso, nem raciocínio, nem compreensão. Para as inspirações da Igreja, como para as dos médiuns, há um critério infalível: a consciência, que exerce a sua ação fiscalizadora por meio da razão, verdadeiro testemunho de Deus entre os homens.

Investiguemos a história dos papas, dos concílios todos e procuremos, nos julgamentos por eles proferidos e nas opiniões emitidas, os sentimentos de abnegação, de desinteresse, de amor universal que lhes presidiram às decisões e, quando os acharmos, poderemos dizer: Isto emanou verdadeiramente do Espírito Santo.

Para as comunicações particulares, a pedra de toque é a mesma. Onde quer que se nos deparem o amor e a caridade, abatendo o orgulho, a avareza, a ambição, os vícios que disputam a posse da Humanidade e a dilaceram, poderemos dizer: Isso provém dos bons Espíritos, dos Espíritos do Senhor; foi o Espírito Santo o inspirador dos médiuns.

E por que havemos de estranhar que o sacerdócio romano afirme que as comunicações espíritas procedem todas de Satanás, quando sabemos que o sacerdócio hebreu atribuía a Belzebu o poder que Jesus tinha de expulsar dos obsidiados os Espíritos da treva?

Assim como, sob o regime da lei de Moisés, numerosos profetas, médiuns inspirados, audientes e videntes, surgiram em Israel, Espíritos em missão, tendo por objetivo libertar os Israelitas da tradição e da ambição dos levitas e reconduzi-los às crenças puras; assim como, para o prosseguimento da revelação que Ele trouxera ao mundo, também houve, entre os discípulos do Cristo, médiuns inspirados, audientes e videntes; hoje, para a revelação que nos trazem os Espíritos do Senhor, há igualmente, e haverá médiuns de faculdades múltiplas, para nos transmitirem, da verdade absoluta, a parcela que já possamos e devemos receber.

Cumpre-se assim o que Jesus anunciou e prometeu, quando disse que, nos tempos do “fim do mundo”, cairiam do céu as estrelas e as virtudes do céu se abalariam (MATEUS, capítulo 24, versículo 29); que em seu nome o Pai enviaria aos homens o Consolador, que é o Espírito Santo, o qual lhes ensinaria todas as coisas e lembraria quanto Ele dissera (João, capítulo 14, versículo 26).

Os tempos preditos chegaram. O Espírito da Verdade, conjunto dos Espíritos do Senhor, estão vindo preparar e realizar o fim do mundo do erro e da mentira, glorificar a Jesus, recordar-nos tudo o que Ele disse, explicando, em espírito e verdade, e desenvolvendo os seus ensinamentos, ensinar-nos progressivamente toda a verdade, anunciar-nos as coisas que hão de vir, preparar, enfim, o novo advento do Mestre que, quando disso formos dignos, virá mostrar-nos sem véu a verdade, da qual Ele é o espírito, o complemento, a sanção.

(3) Tais foram os escândalos provocados pelas discussões violentas verificadas nesses Concílios, que resolveram suprimi-los, criando o dogma da infalibilidade papal.

Perdão das injúrias e ofensas. Parábola dos dez mil talentos

21. Então, aproximando-Se dele, Pedro lhe perguntou: Senhor, perdoarei a meu irmão todas as vezes que pecar contra mim? Fá-lo-ei até sete vezes? 22. Respondeu Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23. Por isso o reino dos céus se assemelha a um homem rei que quis tomar contas aos seus servos. 24. Tendo começado o ajuste, apresentou-se-lhe um que lhe devia dez mil talentos 25. Como não tivesse com que os pagar, ordenou seu senhor que fossem vendidos ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, para pagamento da dívida. 26. Aquele servo, porém, lançando-se-lhe aos pés, lhe suplicava: Senhor, tem paciência comigo e tudo te pagarei. 27. O senhor, então, compadecido dele, o mandou embora e lhe perdoou a dívida. 28. Daí saindo, entretanto, aquele servo encontrou um companheiro que lhe devia cem denários e, agarrando-o, lhe dizia, a sufocá-lo: Paga o que me deves. 29. O companheiro, lançando-se-lhe aos pés, lhe rogava: Tem paciência comigo e tudo te pagarei. 30. O outro não quis; foi-se dali e mandou metê-lo no cárcere até que pagasse o que devia. 31. Vendo os outros servos, seus companheiros, o que se passava, ficaram muito contristados e foram contar ao senhor o que havia ocorrido. 32. Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei, porque me pediste, toda a tua dívida; 33, não devias tu também ter compaixão de teu companheiro, como tive de ti? 34. E, irritado, o entregou aos verdugos até que pagasse toda a sua dívida. 35. Assim também fará convosco meu Pai celestial, se cada um de vós não perdoar a seu irmão do íntimo do coração.

Não levemos em conta as ofensas que recebamos; sejamos sempre prontos a perdoar tantas vezes quantas formos ofendidos, não esquecendo que o Senhor nos julgará do mesmo modo por que houvermos julgado os nossos irmãos. Saldemos, pois, todas as suas dívidas, dando-lhes tempo para pagá-las, como o Senhor mesmo lhes dá. Se queremos que o nosso Pai, a quem tanto temos ofendido e ofendemos, use de misericórdia para conosco, sejamos misericordiosos. Tenhamos sempre presente ao nosso espírito esta grande sentença, chave de todos os ensinos: Não façais aos outros o que não desejaríeis vos fizessem

A falta ou a recusa de perdão, de nossa parte, é egoísmo, secura ou dureza de coração, muitas vezes consequência do orgulho, vícios e defeitos esses que constituem não só casos de expiação e de reencarnações, como também um obstáculo a que o Espírito saia dos mundos inferiores, o que somente se dá, quando se há tornado capaz de perdoar sempre, incessantemente, do fundo d’alma a seu irmão.

Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

 

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