Evangelho segundo Mateus - cap. 8

O leproso

(Marcos, 1:40-45; Lucas, 5:12-16)

1. Tendo Jesus descido do monte, grande multidão o acompanhou; 2, e, aproximando-se dele, um leproso se pôs a adorá-lo, dizendo: Senhor, se quiseres, podes curar-me. 3. Jesus, estendendo a mão, tocou-o e disse: Quero-o; estás curado. E no mesmo instante lhe desapareceu a lepra. 4. E Jesus acrescentou: Não fales disto a ninguém; mas vai mostrar-te aos sacerdotes e faze a oferenda prescrita por Moisés, a fim de que lhes sirva de testemunho.

Jesus recompensou a fé que verificara existir naquele pobre homem, cujo Espírito, por maneira tão dolorosa, expiava suas culpas de vidas anteriores. Mas, sabendo que ainda não era tempo de dar publicidade ampla às graças que espalhava, recomendou ao homem que a ninguém referisse a cura de que fora objeto.

Ainda hoje assim é. o Senhor acode a curar a lepra dos corações de suas ovelhas; porém, nem todos se acham em estado de compreender a graça que Ele lhes faz, pelo que os bons Espíritos, seus enviados, nos recomendam: procedei com prudência.

Relativamente às curas espíritas, talvez ainda não haja também chegado o tempo de serem praticadas abertamente. Assim sendo, com prudência devem agir os que as possam operar como instrumentos dos Espíritos do Senhor, a fim de que os benefícios da sua misericórdia, espalhados pelos que se acham aptos a recebê-lo, não se tornem causa de acréscimo de responsabilidade e de dívidas morais, para os que não se encontrem em condições de apreciá-los, e a fim também de que o Consolador, que aí está entre nós com o nome de Espiritismo, não veja sobposto o seu objetivo capital, que é curar as almas, ao interesse egoístico da cura apenas dos corpos.

E tanto mais compreensível é o conselho, que nos vem do Alto, para que obremos com prudência, quando não há duvidar de que, em sendo oportuno, os benefícios do Senhor sempre se divulgam, faça-se o que se fizer em contrário a essa divulgação. É disso evidente sinal o fato de haver aquele que deixara de ser leproso desobedecido ao que lhe determinara- o divino Mestre.

Sua cura, que foi instantânea, se operou por ato da vontade poderosa de Jesus, atuando sobre os fluídos apropriados a produzi-la e efetuando uma concentração magnética deles sobre o doente.

O magnetismo humano já opera curas que, todavia, não podemos ainda compreender. Quanto mais, espiritualizando-se pela sua depuração, o homem se aproximar da vida espiritual, quanto mais em condições se puser, conseguintemente, de exercer ação sobre os fluídos que o cercam, tanto mais facilmente os poderá empregar como meio curativo.

Longe estamos de imaginar sequer o que pode o homem conseguir do magnetismo e menos ainda o que poderá a seu tempo.

Nada houve, pois, de sobrenatural na cura do leproso, operada por Jesus. Não houve, por conseguinte, milagre algum senão aos olhos dos homens, aos quais o fato, como tantos outros, pareceu milagroso, por desconhecerem completamente a lei natural que lhe presidiu à realização.

Que fazem os médicos da Terra, para chegarem a purificar a pele de um leproso? Tratam a massa do sangue, procurando despojá-la de tudo o que a corrompe. Do mesmo modo procedem os enviados do Pai.

Enquanto o nosso organismo material não se tornar de natureza elevada, têm eles que depurar a fonte das nossas impurezas. O corpo nos retém cativa a alma. Tempo, porém, virá em que nossa alma recuperará a sua liberdade e desferirá o voo, elevando-nos o corpo a um alto grau de pureza, isto é, tornando-o inteiramente fluídico.

Os leprosos eram excluídos do convívio social. Para que aquele, a quem Ele curara, pudesse volver a esse convívio, foi que Jesus lhe mandou que se mostrasse aos príncipes dos sacerdotes e levasse, em testemunho da sua cura, a oferenda prescrita por Moisés.

Pelo que respeita a essa oferenda, para se lhe compreender o significado, atenda-se a que tudo era emblemático na legislação mosaica. Assim como se sacrificavam as primícias dos rebanhos, imitando-se a consagração dos primogênitos das famílias; assim como se degolava a vítima propiciatória, para redimir as faltas dos povos, assim também os leprosos eram obrigados a levar uma oferenda ao Senhor, a título de penhor da purificação obtida e de gratidão pelo benefício recebido.

Cada um oferecia o que estava ao seu alcance e aquele que mais oferecia era então, como ainda hoje, aos olhos dos homens, considerado o mais limpo. Com efeito, não é comum, entre os homens, o interesse do juiz influir no julgamento?

Se Jesus se conservava nos lugares ermos, como dizem os Evangelistas, era porque, perseguido, a bem dizer, pelas multidões, mais curiosas de milagres do que do reino dos céus, Ele se via forçado a procurar sítios mais espaçosos.

Quanto ao retirar-se para o deserto, a fim de orar, como pensavam seus discípulos, o que se dava, conforme já foi explicado, era que lhes desaparecia das vistas, fazendo cessar a visibilidade e a tangibilidade do seu corpo celeste, ou, seja, fluídico, a fim de volver às regiões celestiais onde paira de contínuo o seu Espírito excelso.

O centurião

(Lucas, 7:1-10)

5. Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, veio ter com Ele um centurião e lhe dirigiu esta súplica: 6. Senhor, meu servo está de cama, em minha casa, atacado de paralisia e sofre extremamente. 7. Jesus disse: Irei lá e o curarei. 8. Mas o centurião lhe ponderou: Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; dize apenas uma palavra, e o meu servo estará curado; 9, porquanto sou um homem submetido a outro; tenho, sob minhas ordens, soldados; digo a um: vai lá e ele vai; a outro; vem cá e ele vem; a meu servo digo: faze isto e ele faz. 10. Ouvindo estas palavras, Jesus se encheu de admiração e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que ainda não encontrara em Israel tão grande fé. 11. Também vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão à mesa no reino dos céus com Abraão, Isaac e Jacob; 12, mas que os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes. 13. E, voltando-se para o centurião, disse: Vai e seja feito como acreditaste. Nessa mesma hora o servo ficou curado.

A cura do servo do centurião, como a do leproso, também se operou pela aplicação do mesmo princípio, o princípio magnético, e não por milagre. Assim como a pilha galvânica pode momentaneamente dar movimento aos músculos e aos nervos de um cadáver, também a concentração, por efeito magnético, de certos fluídos espalhados na atmosfera pode operar sobre o organismo vivo um abalo violento que o regenere.

Na força daquele que, pela ação exclusiva da sua vontade, obtinha tais efeitos é que se poderia ver um milagre; mas, é natural a explicação dessa força. Do mesmo modo que o solo que pisamos se acha juncado de plantas cujas propriedades curativas ainda se não conhecem, também a atmosfera que nos cerca contém propriedades fortificantes, purificadoras e regeneradoras, das quais só aprenderemos a servir-nos quando nos entregarmos a estudos morais, que nos elevem à altura da Ciência que teremos de adquirir para as conhecermos devidamente.

Dizemos estudos morais, porque só esses estudos nos desembaraçarão dos instintos brutais que escravizam a nossa vontade, tornando-a capaz de os dominar, de dominar os nossos sentidos, de aproximar-nos, portanto, da perfeição e de aumentar os nossos poderes.

Somente a depuração moral nos possibilitará os estudos necessários ao conhecimento dos fluídos magnéticos dotados daquelas propriedades fortificantes, depurativas e regeneradoras.

Antes mesmo, porém, que chegue às condições de se utilizar diretamente desses fluídos, poderá o homem servir-se deles com bom resultado, mediante o auxilio dos Espíritos protetores da Humanidade, os quais, valendo-se do magnetismo espiritual, lhos colocarão ao alcance, como, aliás, já o fazem com os médiuns curadores.

Como, porém, a depuração moral do homem só muito lentamente se vai operando, claro é que ainda muito tardará que ele se ache apto a manejar sempre com eficácia aqueles fluídos. Enquanto não atinge esse ponto, cumpre-lhe servir-se, oportuna e criteriosamente, assim do sonambulismo magnético e do magnetismo humano, como da ciência médica, que lhe indica as substâncias minerais, vegetais e animais, possuidoras de propriedades curativas já conhecidas e de outras que ainda virão a ser descobertas.

Em última análise, todas as curas, que se obtém pelo uso de substâncias medicamentosas, são produzidas pelos fluídos a que nos vimos referindo, pois que, quando uma planta, por exemplo, denota possuir virtude curadora para tal ou qual enfermidade, o que se dá é que essa planta tem a propriedade de saturar-se, por efeito da lei de afinidade, dos fluídos apropriados a restabelecer, no organismo humano, o desequilíbrio fluídico que ali se verificou e que é a enfermidade, fluídos que ela leva ao dito organismo, quando é nele introduzida, sob esta ou aquela forma.

Por aí se vê que a medicina não deve constituir um sistema, mas um meio de restabelecer-se no organismo aquele equilíbrio, quando desfeito, e a harmonia das forças vitais, quando perturbada. Os que se consagram à meritória missão de aliviar os sofrimentos físicos da Humanidade devem entregar-se a profundos e perseverantes estudos teóricos e experimentais, para poder lançar mão, com oportunidade e proveito, tanto daquela ciência, adotando o princípio dos contrários, ou o dos semelhantes, bem como do magnetismo humano e do sonambulismo magnético, visto que todos esses elementos são do domínio da Natureza.

Cumpre, porém, que o homem remonte sempre à origem do mal que deseje remediar; que, sobretudo, procure sempre, em todas as dores físicas, dores orgânicas, bem entendido, a causa moral de onde elas se geram. É claro que aquele que quebra um braço a nenhuma dor secreta pode atribuir o fato, ou a maus pendores; mas, nos inúmeros males que afligem o gênero humano, se pesquisarmos o fundo dos corações e das consciências, encontraremos sempre a raiz dessa árvore que se estende por sobre todos os membros. O coração ou a alma estão quase sempre atacados. Daí a perturbação do sistema nervoso, fonte de todas as enfermidades, de todos os sofrimentos. Perscrute o que sofre os seus antecedentes e descobrirá muitas vezes o pesar oculto de uma ação, um acontecimento que interessou a saúde, viciando o sangue que deve circular puro nas veias.

Ainda não encontrara tão grande fé em Israel. —Assim dizendo, quis Jesus assinalar que filho de Deus, no sentido particular em que Ele usava dessa locução, é todo aquele que em Deus tem fé, seja judeu ou gentio; que ter fé em Deus não é privilégio desta ou daquela seita religiosa; e que o que tem fé, seja ele o que for, Deus não o rejeita, como faz a Igreja Romana com os que não se lhe curvam ao jugo, aos quais ela não só repele do seu seio, como presunçosamente os declara repelidos do Senhor.

Orgulhosa dos bens que recebeu, não admite lhe caiba reparti-los, esquecida do caso da Cananeana, de quem Jesus, para dar sublime ensinamento, provocou uma resposta, que foi formulada nos seguintes termos: O cãozinho se nutre das migalhas que caem da mesa de seu dono. (MATEUS, capítulo 15, versículo 27; MARCOS, capítulo 7, versículo 28.)

Chamada a continuar a obra dos primeiros cristãos, a Igreja começou a desempenhar com zelo a sua tarefa; mas o êxito a embriagou e ei-la sacrificando a Mamon, esquecida da humildade do Mestre divino e dos princípios evangélicos, repelindo, cheia de orgulho, os que procuram abrir-lhe os olhos e opondo-se, pelas conveniências políticas, até às conversões à religião ortodoxa! O véu dos interesses inconfessáveis, da ânsia de predomínio dos mistérios, lhe impede completamente a visão da luz. Esse véu, porém, será arrancado, porque Deus o quer. A grandiosidade dos ensinos espíritas, a verdade da ciência espírita irão tirando uma a uma as camadas de obscurantismo que os séculos no seu perpassar lhe colocaram em cima, ocultando-lhe a luz.

A Igreja do Cristo tem por templo o nosso planeta, por fiéis todos os que praticam a sua moral simples e sublime e por sacerdotes todos os corações puros que arrebanham os Espíritos transviados, para os reconduzir Àquele que empunha o grande cajado de pastor. Mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores (capítulo 8, versículo 12 de MATEUS). Isto significa que os que receberam a palavra do Senhor e dela não fizeram o uso que deviam fazer; que os que se julgavam salvos, pela única razão de suporem com o direito de absolver e de condenar, serão pesados na mesma balança em que pesavam os outros e passarão na erraticidade pelas torturas morais apropriadas a fazê-los aperfeiçoar-se.

Cura da sogra de Pedro. Enfermidades curadas

(Marcos, 1:29-34; Lucas, 4:38-41)

14. Tendo ido à casa de Pedro, Jesus aí encontrou a sogra deste de cama e com febre. 15. Tocou-lhe na mão e a febre desapareceu, ela se levantou imediatamente e se pôs a servi-los. 16. Pela tarde apresentaram-lhe muitos possessos e de todos expulsou ele com a sua palavra os maus Espíritos e curou os que estavam doentes; 17, a fim de que se cumprissem estas palavras do profeta Isaías: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças.

As curas físicas, que Jesus operava, eram sempre efeito da ação magnética que Ele exercia sobre os doentes, pelo poder da sua vontade que, em cada caso, reunia e combinava instantaneamente os fluídos apropriados a curar a enfermidade de que se tratava. Do mesmo modo, pela ação da sua vontade poderosa e incontrastável, é que realizava a cura dos padecentes de obsessão ou subjugação espiritual. Não podendo resistir àquela ação, os Espíritos inferiores se afastavam de suas vítimas, deixando-as livres do jugo que as oprimia, e, as mais das vezes, por intermédio destas, que então se tornavam médiuns falantes, davam testemunho da grandeza espiritual do Cristo, da sua autoridade suprema de enviado divino, da superioridade extrema que lhe advinha da sua qualidade de Espírito de pureza perfeita e imaculada, clamando: És o Filho de Deus!

«Se obedeceres à voz do Senhor teu Deus e obrares o que é reto diante de seus olhos e obedeceres aos seus mandamentos e guardares todos os seus preceitos, eu não enviarei sobre ti qualquer das enfermidades que mandei contra o Egito; porque eu sou o Senhor que te sara.” (“Êxodo”, capítulo 15, versículo 26.)

Ao defrontar com os leprosos que se amontoavam nas vizinhanças de Betsaida (LUCAS, capítulo 17, versículo 12), Jesus confirma essas palavras, demonstrando ter o poder de os curar, revelando, pois, ser de fato o preposto imediato do Senhor que sara. Ele é bem portanto, o médico das almas, como o disse, capaz de curá-las todas do pecado que as enferma, causando-lhe males atrozes. Portador ao mundo e distribuidor do divino perdão, base da sua medicina, Ele muda a enfermidade em saúde, transformando a morte em vida, que é a salvação.

Anelando por esta, entoemos com o salmista o nosso cântico, dizendo, em testemunho da nossa fé: “Ele perdoa todas as minhas maldades e sara todas as minhas enfermidades. Redime da morte a minha vida. Bendize, ó minha alma, o Senhor.

Seguir a Jesus. Deixar que os mortos enterrem seus mortos

18. Vendo-se Jesus cercado por grande multidão, resolveu atravessar o lago. 19. Então um escriba se aproximou e lhe disse: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. 20. Jesus lhe disse: As raposas têm suas tocas, os pássaros do céu têm seus ninhos; mas o filho do homem não tem onde repousar a cabeça. 21. Outro discípulo lhe disse: Senhor, permite que primeiro eu vá enterrar meu pai. 22. Jesus lhe retrucou: Deixa que os mortos enterrem seus mortos.

O filho do homem não tem onde repousar a cabeça. - Jesus, que era sempre Espírito livre, pois que não sofrera a encarnação humana; que, como temos dito, sempre que desaparecia da vista dos homens, era porque ascendia às regiões celestiais donde dirige a marcha da Humanidade terrena, o que ainda não fora revelado, nem explicado, porque não seria compreendido, não tinha onde descansasse das fadigas a que o julgavam sujeito os que o supunham um homem comum e esses eram todos os que lhe seguiam as pegadas, os que o acompanhavam pelas estradas da Palestina.

Além disso, porém, com essas palavras, dirigidas aos que o consideravam passível de todas as vicissitudes da existência corpórea, quis Ele significar que os cuidados e esforços pela conquista cujos meios de efetivação constituíam o objeto capital da sua missão, deve a criatura sobrepô-los às voluptuosidades, às doçuras e ao repouso exagerado da vida material, que precisa caracterizar-se pela atividade no bem, pela energia contra os pendores malsãos, pelo desprendimento das coisas perecíveis e pela confiança em Deus.

Deixa que os mortos enterrem seus mortos. Não pretendeu, é claro, o divino Mestre, isso dizendo, aconselhar e, menos, autorizar que se deixem insepultos os corpos, nem que faltemos às obrigações que os laços de família ou de amizade nos impõem. Apenas teve em mira mostrar que não se deve fazer do enterramento dos corpos um culto, ou, o que ainda é pior, um motivo de ostentação e de fausto. Quis tão-somente, Ele que viera demonstrar que o que tem valor real é o Espírito e não o corpo, ensinar que para aquele e não para este é que devemos fazer convirjam os nossos principais e maiores cuidados, ensinar que o nosso culto aos entes amados que regressam à vida extraterrena, o nosso luxo para com eles devem consistir nas preces fervorosas e constantes, saídas do coração, e não em atenções pueris dispensadas aos despojos putrescíveis, que a terra reclama para o trabalho de decomposição que lhe incumbe.

Os mortos, de que Jesus falava, são os que vivem exclusivamente para o corpo e não para o Espírito e pelo Espírito. Que esses, aos quais falecem outras consolações, se abracem e agarrem à podridão e ponham todos os cuidados em enterrar seus mortos. Que os outros, porém, os que vivem mais para e pelo Espírito, do que para o corpo, se apliquem em pregar a vida eterna em consolar e exortar os homens a que busquem o carreiro conducente a essa vida, onde tudo é perfume, alegria e luz.

Logo que, pelo médium que o auxiliava, acabavam de ser dadas ao Sr. J. B. Roustaing as explicações que deixamos resumidas, outro Espírito, como enviado de Jesus e em seu nome, fez que o mesmo médium escrevesse, com caligrafia diferente da anterior e magistral, o seguinte:

“Deixai que os mortos enterrem seus mortos e ide vós anunciar o reino de Deus. Deixai entregues a si mesmos os que se mostram incapazes de ver a luz. Tratai, primeiramente, de levá-la aos que a desejam.

“Aquele que, tendo posto a mão no arado, olha para trás de si não é apto para o reino de Deus: É preciso que as condições pessoais, egoísticas, não vos façam voltar atrás, e abandonar a obra que tendes de executar. Começastes a caminhar para a frente, segui o vosso caminho, pois parar é recuar.

“Jesus vos abençoa”.

Em seguida, com a mesma caligrafia de antes, escreveu o médium:

“Foi um Espírito, intermediário de Jesus junto de vós, quem se manifestou e vos transmitiu a palavra do Mestre.

“O Senhor, com vigilante ternura, olha para todos vós e seu amor leva em conta os vossos menores esforços. Mas, se por estar Jesus muito acima dos Espíritos que vos servem de guias e protetores, estes não são por Ele pessoalmente dirigidos, com mais forte razão, entre Ele e vós, indispensáveis são os intermediários. O Espírito que vos transmitiu as suas palavras é um dos que lhe recabem as ordens e espalham, sob a sua direção, a luz e a ciência.

“Grande seja o vosso reconhecimento! A bondade do Senhor desce sobre os que se esforçam por submeter-se às suas leis. Paciência, coragem, perseverança, fé e amor. MATEUS, MARCOS, LUCAS e JOÃO”.

Tempestade aplacada

(Marcos, 4:35-40; Lucas, 8:22-25)

23. Tomou em seguida a barca, acompanhado pelos discípulos. 24. E eis que se levantou no mar uma tempestade tão grande que as ondas cobriam a barca. Ele entretanto dormia. 25. Os discípulos então se aproximaram dele e o despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos, que perecemos. 26. Jesus lhes respondeu: Por que tendes medo, homens de pouca fé? E. levantando-se, mandou que os ventos e o mar se aquietassem e grande bonança logo se fez. 27. Os homens, cheios de admiração, diziam: Quem é este a cujas ordens os ventos e o mar obedecem?

Jesus, como governador, diretor e protetor do nosso planeta, a cuja formação presidiu, missão que por si só indica a grandeza excelsa do seu Espírito, tinha, por efeito dessa excelsitude, o conhecimento de todos os fluídos e o poder de utilizá-los conforme entendesse, de acordo com as leis naturais que lhes regem as combinações e aplicações.

Ora, dados esse conhecimento e esse poder, tão fácil lhe era curar uma enfermidade, como aplacar uma tormenta, modificando as condições dos elementos que as produzem, todos de natureza fluídica, fazendo cessar entre eles o desequilíbrio que as ocasiona.

Cumpre ponderar que tais fenômenos visam a um fim providencial o aperfeiçoamento do orbe, em correspondência com o progresso da Humanidade e de tudo o que lhe concerne.

Os que sucumbem, vitimados por eles, são os que escolheram ou se viram obrigados a passar pela prova de terminarem dessa maneira a existência terrena. É o que igualmente se dá com os que perecem nos incêndios, nos terremotos, pela peste, pela fome, pela guerra, etc., visto que nada se dá por obra do acaso; que tudo tem uma justa razão de ser. A pena de talião, como já tivemos ensejo de mostrar, é uma realidade, do ponto de vista espiritual, para os Espíritos culpados, os quais, amiúde, sentem a necessidade de passar por aquilo que fizeram a outros e então encarnam nas condições apropriadas à satisfação dessa necessidade.

O certo é que tudo segue marcha regular, estabelecida pela onisciência divina, concorrendo tudo para um contínuo progresso, assim de ordem física, como de ordem intelectual e moral. Tudo, pois, em a Natureza, é preparado e conduzido pela ação de Espíritos prepostos à execução dos sábios desígnios de Deus, exercendo-se essa ação de conformidade com as leis naturais e imutáveis que o Supremo legislador do Universo pôs, desde toda a eternidade.

Com o conhecimento perfeito de todas essas leis e com o poder, por assim dizer, divino que possui, em relação ao nosso planeta, a vontade potentíssima de Jesus, o mais graduado daqueles Espíritos, era e foi bastante, para fazer que a tempestade cessasse, o tempo se tornasse de novo calmo e sereno o mar.

Também o homem operará um dia fatos desses, que aos seus olhos ainda assumem as proporções de verdadeiros prodígios, porque grande nele só há o orgulho, causador único da sua extrema fraqueza. Operá-los-á quando, pela elevação dos sentimentos, pelo progresso espiritual, se tornar senhor da ciência do Magnetismo e capaz de praticá-la, sob a influência e o auxílio espíritas, determinando, pelas combinações fluídicas, a atração magnética e todos os demais efeitos decorrentes daquele agente universal. Assim, dia virá em que todos os fatos que presentemente ainda nos maravilham e assombram se nos tornarão familiares. Tal se dará quando houvermos chegado a um alto grau de pureza moral. Ë esta uma verdade, cujo fundamento integral se encontra nas seguintes palavras do divino Mestre: Fareis as obras que eu faço e fareis outras ainda maiores. (João, capítulo 14, versículo 12.)

No estado de inferioridade em que ainda se acha o nosso planeta, as hecatombes, as pestes, a fome e a guerra contribuem para o progresso dos povos, porque são meios de provação e expiação e servem para o desenvolvimento da civilização e da Ciência, de adiantamento moral e intelectual, abrindo ensejos à atividade, à prática do devotamento e da caridade.

São efetivamente flagelos, no sentido de que atingem indistintamente grandes e pequenos; mas, são, principalmente, meios apropriados a lembrar ao homem que todos estamos sujeitos ao poder divino, perante o qual todas as cabeças se encontram à mesma altura. Não devemos, pois, lamentar que tais calamidades se abatam sobre este ou aquele país. Devemos, ao contrário, bendizer do Senhor, “que estende seu flagelo por sobre as massas e pesa na sua balança o valor de seus povos; que manda às nações o progresso e a paz aos homens de boa-vontade”.

Tudo, repetimos, segue marcha regular, objetivando o progresso, assim de ordem física, como de ordem intelectual e moral.

Legião de maus Espíritos expulsos. Libertação dos subjugados. Porcos precipitados no mar (ou lago)

(Marcos, 5:20; Lucas, 8:26-40)

28. Ao chegar Jesus, na outra margem do lago, à terra dos Gerasênios, vieram-lhe ao encontro, saindo dos túmulos, dois possessos tão furiosos que ninguém ousava passar por aquele caminho; 29. e se puseram a gritar: Jesus, filho de Deus, que há entre ti e nós? vieste aqui para nos atormentar antes do tempo? 30. Não longe dali havia uma grande vara de porcos pastando; 31, e os demônios suplicaram a Jesus: Se nos expulsares daqui, manda-nos para aqueles porcos. 32. Jesus lhes disse: Ide; e eles, saindo dos possessos, passaram para os porcos; logo toda a manada partiu a correr impetuosamente e se foi precipitar no lago, onde os porcos morreram afogados. 33. Então, os que os guardavam fugiram e, indo à cidade, narraram tudo o que sucedera aos possessos. 34. Todos os habitantes da cidade saíram ao encontro de Jesus e, ao vê-lo, lhe pediram que se retirasse do país.

A subjugação consiste na ação dominadora que o mau Espírito exerce sobre um outro Espírito que, por mais fraco, se deixou dominar e aquele sujeita temporariamente à sua vontade.

Para produzir esse efeito, o subjugador atua fluidicamente sobre o outro, encarnado, combinando com os fluídos deste os do seu perispírito, utilizando-se de todos os elementos de mediunidade, que lhe ofereça a organização da sua vítima. Fá-la então sentir a sua presença de todas as maneiras, ouvir, falar, ver e praticar os atos a que lhe apraza impeli-lo, efeitos que a medicina oficial capitula de loucura.

No caso de possessão, o domínio é mais completo. O Espírito obsessor como que se substitui ao do encarnado no seu corpo, donde, por assim dizer, expulsa o outro, para servir-se desse corpo, como se lhe pertencera, ficando a este ligada a vítima, apenas por um cordão fluídico, com o auxílio do perispírito. Combinando os fluídos do seu perispírito com os do perispírito do encarnado, o mau Espírito se introduz no instrumento corpóreo deste último e lhe imprime uma ação que é efeito daquela combinação fluídica. Essa substituição tanto pode dar-se no estado de vigília, como no de sonambulismo do encarnado.

Há ainda um caso excepcional de substituição, caso em que esta se dá voluntariamente, da parte do encarnado, e com permissão dos anjos de guarda, para fim útil, qual o da manifestação de um Espírito obsessor, a fim de ser doutrinado e esclarecido, a benefício seu e de suas vítimas.

Foi nessa condição de possessos de Espíritos maus que dois indivíduos, ou um só, o número pouco importa, se apresentaram a Jesus que, expelindo deles os seus perseguidores, fez que estes se manifestassem visualmente aos porcos, os quais, espavoridos com a visão, debandaram em precipitação tão grande, que foram cair no mar. Os Espíritos obsessores, obedecendo à vontade de Jesus, apenas se fizeram visíveis aos porcos, espantando-os. Não passaram para estes, como disseram os Evangelistas, pela ignorância do que só agora foi revelado a tal respeito, porquanto o perispírito do Espírito não pode atuar fluidicamente sobre o dos animais, por ser impossível a combinação dos respectivos fluídos, uma vez que os princípios não são idênticos.

Ocorre, porém, dizer, que, se bem não possam ser médiuns, na acepção exata do termo, os animais, alguns pelo menos possuem a faculdade da vidência, tanto que se espantam com as visões que têm, prevenindo desse modo o homem da presença do Espírito.

Quanto ao conhecimento dos meios e processos pelos quais se produzem esses fenômenos de visão nos animais, ainda o não podemos ter, porque nos falta o da natureza dos fluídos, de suas propriedades e das combinações de que são passíveis. Nem por isso, entretanto, nos deve importar a incredulidade e a negação dos sábios, dos materialistas, de todos os que se supõem senhores exclusivos da verdade, do bom-senso, da razão e do mundo, que chamam seu. Para firmarmos a nossa crença, na realidade dos efeitos terríveis e formidáveis da ação dos Espíritos inferiores, temos os fatos autenticados pelos Evangelistas, temos a ciência espírita, cujo estudo leva ao conhecimento de tais fatos, temos a nova revelação, que nos veio desvendar os segredos de além-túmulo, temos as manifestações mediúnicas que, cada vez em maior número, se dão por toda a parte, demonstrando o poder, a extensão e as modalidades várias da atuação dos seres do plano incorpóreo sobre os encarnados.

A subjugação, como a obsessão, em geral, é uma expiação, sempre adequada e proporcionada aos crimes e faltas cometidos pelos que a sofrem e a se verificar em condições de despertar a consciência, de ocasionar o remorso e acarretar o arrependimento, que determina o perdão, cujos misericordiosos efeitos sobre o Espírito já tivemos ocasião de apreciar.

Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

 

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