O leproso
(Marcos,
1:40-45; Lucas, 5:12-16)
1.
Tendo Jesus descido do monte, grande multidão o acompanhou; 2, e, aproximando-se
dele, um leproso se pôs a adorá-lo, dizendo: Senhor, se quiseres, podes
curar-me. 3. Jesus, estendendo a mão, tocou-o e disse: Quero-o; estás curado. E
no mesmo instante lhe desapareceu a lepra. 4. E Jesus acrescentou: Não fales
disto a ninguém; mas vai mostrar-te aos sacerdotes e faze a oferenda prescrita
por Moisés, a fim de que lhes sirva de testemunho.
Jesus recompensou a fé que
verificara existir naquele pobre homem, cujo Espírito, por maneira tão
dolorosa, expiava suas culpas de vidas anteriores. Mas, sabendo que ainda não
era tempo de dar publicidade ampla às graças que espalhava, recomendou ao homem
que a ninguém referisse a cura de que fora objeto.
Ainda hoje assim é. o Senhor
acode a curar a lepra dos corações de suas ovelhas; porém, nem todos se acham
em estado de compreender a graça que Ele lhes faz, pelo que os bons Espíritos,
seus enviados, nos recomendam: procedei com prudência.
Relativamente às curas
espíritas, talvez ainda não haja também chegado o tempo de serem praticadas
abertamente. Assim sendo, com prudência devem agir os que as possam operar como
instrumentos dos Espíritos do Senhor, a fim de que os benefícios da sua
misericórdia, espalhados pelos que se acham aptos a recebê-lo, não se tornem
causa de acréscimo de responsabilidade e de dívidas morais, para os que não se
encontrem em condições de apreciá-los, e a fim também de que o Consolador, que
aí está entre nós com o nome de Espiritismo, não veja sobposto o seu objetivo
capital, que é curar as almas, ao interesse egoístico da cura apenas dos
corpos.
E tanto mais compreensível é
o conselho, que nos vem do Alto, para que obremos com prudência, quando não há
duvidar de que, em sendo oportuno, os benefícios do Senhor sempre se divulgam,
faça-se o que se fizer em contrário a essa divulgação. É disso evidente sinal o
fato de haver aquele que deixara de ser leproso desobedecido ao que lhe
determinara- o divino Mestre.
Sua cura, que foi instantânea, se operou por ato da vontade poderosa de Jesus, atuando sobre os fluídos apropriados a produzi-la e efetuando uma concentração magnética deles sobre o doente.
O magnetismo humano já opera
curas que, todavia, não podemos ainda compreender. Quanto mais,
espiritualizando-se pela sua depuração, o homem se aproximar da vida
espiritual, quanto mais em condições se puser, conseguintemente, de exercer
ação sobre os fluídos que o cercam, tanto mais facilmente os poderá empregar
como meio curativo.
Longe estamos de imaginar
sequer o que pode o homem conseguir do magnetismo e menos ainda o que poderá a
seu tempo.
Nada houve, pois, de
sobrenatural na cura do leproso, operada por Jesus. Não houve, por conseguinte,
milagre algum senão aos olhos dos homens, aos quais o fato, como tantos outros,
pareceu milagroso, por desconhecerem completamente a lei natural que lhe
presidiu à realização.
Que fazem os médicos da
Terra, para chegarem a purificar a pele de um leproso? Tratam a massa do
sangue, procurando despojá-la de tudo o que a corrompe. Do mesmo modo procedem
os enviados do Pai.
Enquanto o nosso organismo
material não se tornar de natureza elevada, têm eles que depurar a fonte das
nossas impurezas. O corpo nos retém cativa a alma. Tempo, porém, virá em que
nossa alma recuperará a sua liberdade e desferirá o voo, elevando-nos o corpo a
um alto grau de pureza, isto é, tornando-o inteiramente fluídico.
Os leprosos eram excluídos
do convívio social. Para que aquele, a quem Ele curara, pudesse volver a esse
convívio, foi que Jesus lhe mandou que se mostrasse aos príncipes dos
sacerdotes e levasse, em testemunho da sua cura, a oferenda prescrita por
Moisés.
Pelo que respeita a essa
oferenda, para se lhe compreender o significado, atenda-se a que tudo era
emblemático na legislação mosaica. Assim como se sacrificavam as primícias dos
rebanhos, imitando-se a consagração dos primogênitos das famílias; assim como
se degolava a vítima propiciatória, para redimir as faltas dos povos, assim
também os leprosos eram obrigados a levar uma oferenda ao Senhor, a título de
penhor da purificação obtida e de gratidão pelo benefício recebido.
Cada um oferecia o que
estava ao seu alcance e aquele que mais oferecia era então, como ainda hoje,
aos olhos dos homens, considerado o mais limpo. Com efeito, não é comum, entre
os homens, o interesse do juiz influir no julgamento?
Se Jesus se conservava nos
lugares ermos, como dizem os Evangelistas, era porque, perseguido, a bem dizer,
pelas multidões, mais curiosas de milagres do que do reino dos céus, Ele se via
forçado a procurar sítios mais espaçosos.
Quanto ao retirar-se para o
deserto, a fim de orar, como pensavam seus discípulos, o que se dava, conforme
já foi explicado, era que lhes desaparecia das vistas, fazendo cessar a
visibilidade e a tangibilidade do seu corpo celeste, ou, seja, fluídico, a fim
de volver às regiões celestiais onde paira de contínuo o seu Espírito excelso.
O centurião
(Lucas,
7:1-10)
5.
Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, veio ter com Ele um centurião e lhe dirigiu
esta súplica: 6. Senhor, meu servo está de cama, em minha casa, atacado de
paralisia e sofre extremamente. 7. Jesus disse: Irei lá e o curarei. 8. Mas o
centurião lhe ponderou: Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; dize
apenas uma palavra, e o meu servo estará curado; 9, porquanto sou um homem
submetido a outro; tenho, sob minhas ordens, soldados; digo a um: vai lá e ele
vai; a outro; vem cá e ele vem; a meu servo digo: faze isto e ele faz. 10.
Ouvindo estas palavras, Jesus se encheu de admiração e disse aos que o seguiam:
Em verdade vos digo que ainda não encontrara em Israel tão grande fé. 11.
Também vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão à
mesa no reino dos céus com Abraão, Isaac e Jacob; 12, mas que os filhos do
reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de
dentes. 13. E, voltando-se para o centurião, disse: Vai e seja feito como
acreditaste. Nessa mesma hora o servo ficou curado.
A cura do servo do
centurião, como a do leproso, também se operou pela aplicação do mesmo
princípio, o princípio magnético, e não por milagre. Assim como a pilha
galvânica pode momentaneamente dar movimento aos músculos e aos nervos de um
cadáver, também a concentração, por efeito magnético, de certos fluídos
espalhados na atmosfera pode operar sobre o organismo vivo um abalo violento
que o regenere.
Na força daquele que, pela
ação exclusiva da sua vontade, obtinha tais efeitos é que se poderia ver um
milagre; mas, é natural a explicação dessa força. Do mesmo modo que o solo que
pisamos se acha juncado de plantas cujas propriedades curativas ainda se não
conhecem, também a atmosfera que nos cerca contém propriedades fortificantes,
purificadoras e regeneradoras, das quais só aprenderemos a servir-nos quando
nos entregarmos a estudos morais, que nos elevem à altura da Ciência que
teremos de adquirir para as conhecermos devidamente.
Dizemos estudos morais,
porque só esses estudos nos desembaraçarão dos instintos brutais que escravizam
a nossa vontade, tornando-a capaz de os dominar, de dominar os nossos sentidos,
de aproximar-nos, portanto, da perfeição e de aumentar os nossos poderes.
Somente a depuração moral
nos possibilitará os estudos necessários ao conhecimento dos fluídos magnéticos
dotados daquelas propriedades fortificantes, depurativas e regeneradoras.
Antes mesmo, porém, que
chegue às condições de se utilizar diretamente desses fluídos, poderá o homem
servir-se deles com bom resultado, mediante o auxilio dos Espíritos protetores
da Humanidade, os quais, valendo-se do magnetismo espiritual, lhos colocarão ao
alcance, como, aliás, já o fazem com os médiuns curadores.
Como, porém, a depuração
moral do homem só muito lentamente se vai operando, claro é que ainda muito
tardará que ele se ache apto a manejar sempre com eficácia aqueles fluídos.
Enquanto não atinge esse ponto, cumpre-lhe servir-se, oportuna e
criteriosamente, assim do sonambulismo magnético e do magnetismo humano, como
da ciência médica, que lhe indica as substâncias minerais, vegetais e animais,
possuidoras de propriedades curativas já conhecidas e de outras que ainda virão
a ser descobertas.
Em última análise, todas as
curas, que se obtém pelo uso de substâncias medicamentosas, são produzidas
pelos fluídos a que nos vimos referindo, pois que, quando uma planta, por
exemplo, denota possuir virtude curadora para tal ou qual enfermidade, o que se
dá é que essa planta tem a propriedade de saturar-se, por efeito da lei de
afinidade, dos fluídos apropriados a restabelecer, no organismo humano, o
desequilíbrio fluídico que ali se verificou e que é a enfermidade, fluídos que
ela leva ao dito organismo, quando é nele introduzida, sob esta ou aquela
forma.
Por aí se vê que a medicina
não deve constituir um sistema, mas um meio de restabelecer-se no organismo
aquele equilíbrio, quando desfeito, e a harmonia das forças vitais, quando
perturbada. Os que se consagram à meritória missão de aliviar os sofrimentos
físicos da Humanidade devem entregar-se a profundos e perseverantes estudos
teóricos e experimentais, para poder lançar mão, com oportunidade e proveito,
tanto daquela ciência, adotando o princípio dos contrários, ou o dos
semelhantes, bem como do magnetismo humano e do sonambulismo magnético, visto
que todos esses elementos são do domínio da Natureza.
Cumpre, porém, que o homem
remonte sempre à origem do mal que deseje remediar; que, sobretudo, procure
sempre, em todas as dores físicas, dores orgânicas, bem entendido, a causa
moral de onde elas se geram. É claro que aquele que quebra um braço a nenhuma
dor secreta pode atribuir o fato, ou a maus pendores; mas, nos inúmeros males
que afligem o gênero humano, se pesquisarmos o fundo dos corações e das
consciências, encontraremos sempre a raiz dessa árvore que se estende por sobre
todos os membros. O coração ou a alma estão quase sempre atacados. Daí a
perturbação do sistema nervoso, fonte de todas as enfermidades, de todos os
sofrimentos. Perscrute o que sofre os seus antecedentes e descobrirá muitas
vezes o pesar oculto de uma ação, um acontecimento que interessou a saúde,
viciando o sangue que deve circular puro nas veias.
Ainda
não encontrara tão grande fé em Israel. —Assim dizendo, quis Jesus
assinalar que filho de Deus, no sentido particular em que Ele usava dessa
locução, é todo aquele que em Deus tem fé, seja judeu ou gentio; que ter fé em
Deus não é privilégio desta ou daquela seita religiosa; e que o que tem fé,
seja ele o que for, Deus não o rejeita, como faz a Igreja Romana com os que não
se lhe curvam ao jugo, aos quais ela não só repele do seu seio, como
presunçosamente os declara repelidos do Senhor.
Orgulhosa dos bens que
recebeu, não admite lhe caiba reparti-los, esquecida do caso da Cananeana, de
quem Jesus, para dar sublime ensinamento, provocou uma resposta, que foi
formulada nos seguintes termos: O cãozinho se nutre das migalhas que caem da
mesa de seu dono. (MATEUS, capítulo 15, versículo 27; MARCOS, capítulo 7,
versículo 28.)
Chamada a continuar a obra
dos primeiros cristãos, a Igreja começou a desempenhar com zelo a sua tarefa;
mas o êxito a embriagou e ei-la sacrificando a Mamon, esquecida da humildade do
Mestre divino e dos princípios evangélicos, repelindo, cheia de orgulho, os que
procuram abrir-lhe os olhos e opondo-se, pelas conveniências políticas, até às
conversões à religião ortodoxa! O véu dos interesses inconfessáveis, da ânsia
de predomínio dos mistérios, lhe impede completamente a visão da luz. Esse véu,
porém, será arrancado, porque Deus o quer. A grandiosidade dos ensinos
espíritas, a verdade da ciência espírita irão tirando uma a uma as camadas de
obscurantismo que os séculos no seu perpassar lhe colocaram em cima,
ocultando-lhe a luz.
A Igreja do Cristo tem por
templo o nosso planeta, por fiéis todos os que praticam a sua moral simples e
sublime e por sacerdotes todos os corações puros que arrebanham os Espíritos
transviados, para os reconduzir Àquele que empunha o grande cajado de pastor.
Mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores (capítulo 8,
versículo 12 de MATEUS). Isto significa que os que receberam a palavra do
Senhor e dela não fizeram o uso que deviam fazer; que os que se julgavam salvos,
pela única razão de suporem com o direito de absolver e de condenar, serão
pesados na mesma balança em que pesavam os outros e passarão na erraticidade
pelas torturas morais apropriadas a fazê-los aperfeiçoar-se.
Cura da sogra de Pedro. Enfermidades curadas
(Marcos,
1:29-34; Lucas, 4:38-41)
14.
Tendo ido à casa de Pedro, Jesus aí encontrou a sogra deste de cama e com
febre. 15. Tocou-lhe na mão e a febre desapareceu, ela se levantou
imediatamente e se pôs a servi-los. 16. Pela tarde apresentaram-lhe muitos
possessos e de todos expulsou ele com a sua palavra os maus Espíritos e curou
os que estavam doentes; 17, a fim de que se cumprissem estas palavras do
profeta Isaías: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou com as
nossas doenças.
As curas físicas, que Jesus
operava, eram sempre efeito da ação magnética que Ele exercia sobre os doentes,
pelo poder da sua vontade que, em cada caso, reunia e combinava
instantaneamente os fluídos apropriados a curar a enfermidade de que se
tratava. Do mesmo modo, pela ação da sua vontade poderosa e incontrastável, é que
realizava a cura dos padecentes de obsessão ou subjugação espiritual. Não
podendo resistir àquela ação, os Espíritos inferiores se afastavam de suas
vítimas, deixando-as livres do jugo que as oprimia, e, as mais das vezes, por
intermédio destas, que então se tornavam médiuns falantes, davam testemunho da
grandeza espiritual do Cristo, da sua autoridade suprema de enviado divino, da
superioridade extrema que lhe advinha da sua qualidade de Espírito de pureza
perfeita e imaculada, clamando: És o Filho de Deus!
«Se obedeceres à voz do
Senhor teu Deus e obrares o que é reto diante de seus olhos e obedeceres aos
seus mandamentos e guardares todos os seus preceitos, eu não enviarei sobre ti
qualquer das enfermidades que mandei contra o Egito; porque eu sou o Senhor que
te sara.” (“Êxodo”, capítulo 15, versículo 26.)
Ao defrontar com os leprosos
que se amontoavam nas vizinhanças de Betsaida (LUCAS, capítulo 17, versículo
12), Jesus confirma essas palavras, demonstrando ter o poder de os curar,
revelando, pois, ser de fato o preposto imediato do Senhor que sara. Ele é bem
portanto, o médico das almas, como o disse, capaz de curá-las todas do pecado
que as enferma, causando-lhe males atrozes. Portador ao mundo e distribuidor do
divino perdão, base da sua medicina, Ele muda a enfermidade em saúde,
transformando a morte em vida, que é a salvação.
Anelando por esta, entoemos
com o salmista o nosso cântico, dizendo, em testemunho da nossa fé: “Ele perdoa
todas as minhas maldades e sara todas as minhas enfermidades. Redime da morte a
minha vida. Bendize, ó minha alma, o Senhor.
Seguir a Jesus. Deixar que os mortos
enterrem seus mortos
18.
Vendo-se Jesus cercado por grande multidão, resolveu atravessar o lago. 19.
Então um escriba se aproximou e lhe disse: Mestre, seguir-te-ei para onde quer
que fores. 20. Jesus lhe disse: As raposas têm suas tocas, os pássaros do céu
têm seus ninhos; mas o filho do homem não tem onde repousar a cabeça. 21. Outro
discípulo lhe disse: Senhor, permite que primeiro eu vá enterrar meu pai. 22.
Jesus lhe retrucou: Deixa que os mortos enterrem seus mortos.
O
filho do homem não tem onde repousar a cabeça. - Jesus, que era
sempre Espírito livre, pois que não sofrera a encarnação humana; que, como
temos dito, sempre que desaparecia da vista dos homens, era porque ascendia às
regiões celestiais donde dirige a marcha da Humanidade terrena, o que ainda não
fora revelado, nem explicado, porque não seria compreendido, não tinha onde
descansasse das fadigas a que o julgavam sujeito os que o supunham um homem
comum e esses eram todos os que lhe seguiam as pegadas, os que o acompanhavam
pelas estradas da Palestina.
Além disso, porém, com essas
palavras, dirigidas aos que o consideravam passível de todas as vicissitudes da
existência corpórea, quis Ele significar que os cuidados e esforços pela
conquista cujos meios de efetivação constituíam o objeto capital da sua missão,
deve a criatura sobrepô-los às voluptuosidades, às doçuras e ao repouso exagerado
da vida material, que precisa caracterizar-se pela atividade no bem, pela
energia contra os pendores malsãos, pelo desprendimento das coisas perecíveis e
pela confiança em Deus.
Deixa que os mortos enterrem
seus mortos. Não pretendeu, é claro, o divino Mestre, isso dizendo, aconselhar
e, menos, autorizar que se deixem insepultos os corpos, nem que faltemos às
obrigações que os laços de família ou de amizade nos impõem. Apenas teve em
mira mostrar que não se deve fazer do enterramento dos corpos um culto, ou, o
que ainda é pior, um motivo de ostentação e de fausto. Quis tão-somente, Ele
que viera demonstrar que o que tem valor real é o Espírito e não o corpo,
ensinar que para aquele e não para este é que devemos fazer convirjam os nossos
principais e maiores cuidados, ensinar que o nosso culto aos entes amados que
regressam à vida extraterrena, o nosso luxo para com eles devem consistir nas
preces fervorosas e constantes, saídas do coração, e não em atenções pueris
dispensadas aos despojos putrescíveis, que a terra reclama para o trabalho de
decomposição que lhe incumbe.
Os mortos, de que Jesus
falava, são os que vivem exclusivamente para o corpo e não para o Espírito e
pelo Espírito. Que esses, aos quais falecem outras consolações, se abracem e
agarrem à podridão e ponham todos os cuidados em enterrar seus mortos. Que os
outros, porém, os que vivem mais para e pelo Espírito, do que para o corpo, se
apliquem em pregar a vida eterna em consolar e exortar os homens a que busquem
o carreiro conducente a essa vida, onde tudo é perfume, alegria e luz.
Logo que, pelo médium que o
auxiliava, acabavam de ser dadas ao Sr. J. B. Roustaing as explicações que
deixamos resumidas, outro Espírito, como enviado de Jesus e em seu nome, fez
que o mesmo médium escrevesse, com caligrafia diferente da anterior e
magistral, o seguinte:
“Deixai que os mortos
enterrem seus mortos e ide vós anunciar o reino de Deus. Deixai entregues a si
mesmos os que se mostram incapazes de ver a luz. Tratai, primeiramente, de
levá-la aos que a desejam.
“Aquele que, tendo posto a
mão no arado, olha para trás de si não é apto para o reino de Deus: É preciso
que as condições pessoais, egoísticas, não vos façam voltar atrás, e abandonar
a obra que tendes de executar. Começastes a caminhar para a frente, segui o
vosso caminho, pois parar é recuar.
“Jesus vos abençoa”.
Em seguida, com a mesma
caligrafia de antes, escreveu o médium:
“Foi um Espírito,
intermediário de Jesus junto de vós, quem se manifestou e vos transmitiu a
palavra do Mestre.
“O Senhor, com vigilante
ternura, olha para todos vós e seu amor leva em conta os vossos menores
esforços. Mas, se por estar Jesus muito acima dos Espíritos que vos servem de
guias e protetores, estes não são por Ele pessoalmente dirigidos, com mais
forte razão, entre Ele e vós, indispensáveis são os intermediários. O Espírito
que vos transmitiu as suas palavras é um dos que lhe recabem as ordens e
espalham, sob a sua direção, a luz e a ciência.
“Grande seja o vosso
reconhecimento! A bondade do Senhor desce sobre os que se esforçam por
submeter-se às suas leis. Paciência, coragem, perseverança, fé e amor. MATEUS,
MARCOS, LUCAS e JOÃO”.
Tempestade aplacada
(Marcos,
4:35-40; Lucas, 8:22-25)
23.
Tomou em seguida a barca, acompanhado pelos discípulos. 24. E eis que se
levantou no mar uma tempestade tão grande que as ondas cobriam a barca. Ele
entretanto dormia. 25. Os discípulos então se aproximaram dele e o despertaram,
dizendo: Senhor, salva-nos, que perecemos. 26. Jesus lhes respondeu: Por que
tendes medo, homens de pouca fé? E. levantando-se, mandou que os ventos e o mar
se aquietassem e grande bonança logo se fez. 27. Os homens, cheios de
admiração, diziam: Quem é este a cujas ordens os ventos e o mar obedecem?
Jesus, como governador,
diretor e protetor do nosso planeta, a cuja formação presidiu, missão que por
si só indica a grandeza excelsa do seu Espírito, tinha, por efeito dessa
excelsitude, o conhecimento de todos os fluídos e o poder de utilizá-los
conforme entendesse, de acordo com as leis naturais que lhes regem as
combinações e aplicações.
Ora, dados esse conhecimento
e esse poder, tão fácil lhe era curar uma enfermidade, como aplacar uma
tormenta, modificando as condições dos elementos que as produzem, todos de
natureza fluídica, fazendo cessar entre eles o desequilíbrio que as ocasiona.
Cumpre ponderar que tais
fenômenos visam a um fim providencial o aperfeiçoamento do orbe, em
correspondência com o progresso da Humanidade e de tudo o que lhe concerne.
Os que sucumbem, vitimados
por eles, são os que escolheram ou se viram obrigados a passar pela prova de
terminarem dessa maneira a existência terrena. É o que igualmente se dá com os
que perecem nos incêndios, nos terremotos, pela peste, pela fome, pela guerra,
etc., visto que nada se dá por obra do acaso; que tudo tem uma justa razão de
ser. A pena de talião, como já tivemos ensejo de mostrar, é uma realidade, do
ponto de vista espiritual, para os Espíritos culpados, os quais, amiúde, sentem
a necessidade de passar por aquilo que fizeram a outros e então encarnam nas
condições apropriadas à satisfação dessa necessidade.
O certo é que tudo segue
marcha regular, estabelecida pela onisciência divina, concorrendo tudo para um
contínuo progresso, assim de ordem física, como de ordem intelectual e moral.
Tudo, pois, em a Natureza, é preparado e conduzido pela ação de Espíritos
prepostos à execução dos sábios desígnios de Deus, exercendo-se essa ação de
conformidade com as leis naturais e imutáveis que o Supremo legislador do
Universo pôs, desde toda a eternidade.
Com o conhecimento perfeito
de todas essas leis e com o poder, por assim dizer, divino que possui, em
relação ao nosso planeta, a vontade potentíssima de Jesus, o mais graduado
daqueles Espíritos, era e foi bastante, para fazer que a tempestade cessasse, o
tempo se tornasse de novo calmo e sereno o mar.
Também o homem operará um
dia fatos desses, que aos seus olhos ainda assumem as proporções de verdadeiros
prodígios, porque grande nele só há o orgulho, causador único da sua extrema
fraqueza. Operá-los-á quando, pela elevação dos sentimentos, pelo progresso
espiritual, se tornar senhor da ciência do Magnetismo e capaz de praticá-la,
sob a influência e o auxílio espíritas, determinando, pelas combinações
fluídicas, a atração magnética e todos os demais efeitos decorrentes daquele
agente universal. Assim, dia virá em que todos os fatos que presentemente ainda
nos maravilham e assombram se nos tornarão familiares. Tal se dará quando
houvermos chegado a um alto grau de pureza moral. Ë esta uma verdade, cujo fundamento
integral se encontra nas seguintes palavras do divino Mestre: Fareis as obras
que eu faço e fareis outras ainda maiores. (João, capítulo 14, versículo 12.)
No estado de inferioridade
em que ainda se acha o nosso planeta, as hecatombes, as pestes, a fome e a
guerra contribuem para o progresso dos povos, porque são meios de provação e
expiação e servem para o desenvolvimento da civilização e da Ciência, de
adiantamento moral e intelectual, abrindo ensejos à atividade, à prática do
devotamento e da caridade.
São efetivamente flagelos,
no sentido de que atingem indistintamente grandes e pequenos; mas, são,
principalmente, meios apropriados a lembrar ao homem que todos estamos sujeitos
ao poder divino, perante o qual todas as cabeças se encontram à mesma altura.
Não devemos, pois, lamentar que tais calamidades se abatam sobre este ou aquele
país. Devemos, ao contrário, bendizer do Senhor, “que estende seu flagelo por
sobre as massas e pesa na sua balança o valor de seus povos; que manda às
nações o progresso e a paz aos homens de boa-vontade”.
Tudo, repetimos, segue
marcha regular, objetivando o progresso, assim de ordem física, como de ordem
intelectual e moral.
Legião de maus Espíritos expulsos.
Libertação dos subjugados. Porcos precipitados no mar (ou lago)
(Marcos,
5:20; Lucas, 8:26-40)
28.
Ao chegar Jesus, na outra margem do lago, à terra dos Gerasênios, vieram-lhe ao
encontro, saindo dos túmulos, dois possessos tão furiosos que ninguém ousava
passar por aquele caminho; 29. e se puseram a gritar: Jesus, filho de Deus, que
há entre ti e nós? vieste aqui para nos atormentar antes do tempo? 30. Não
longe dali havia uma grande vara de porcos pastando; 31, e os demônios
suplicaram a Jesus: Se nos expulsares daqui, manda-nos para aqueles porcos. 32.
Jesus lhes disse: Ide; e eles, saindo dos possessos, passaram para os porcos;
logo toda a manada partiu a correr impetuosamente e se foi precipitar no lago,
onde os porcos morreram afogados. 33. Então, os que os guardavam fugiram e,
indo à cidade, narraram tudo o que sucedera aos possessos. 34. Todos os
habitantes da cidade saíram ao encontro de Jesus e, ao vê-lo, lhe pediram que
se retirasse do país.
A subjugação consiste na
ação dominadora que o mau Espírito exerce sobre um outro Espírito que, por mais
fraco, se deixou dominar e aquele sujeita temporariamente à sua vontade.
Para produzir esse efeito, o
subjugador atua fluidicamente sobre o outro, encarnado, combinando com os
fluídos deste os do seu perispírito, utilizando-se de todos os elementos de
mediunidade, que lhe ofereça a organização da sua vítima. Fá-la então sentir a
sua presença de todas as maneiras, ouvir, falar, ver e praticar os atos a que
lhe apraza impeli-lo, efeitos que a medicina oficial capitula de loucura.
No caso de possessão, o
domínio é mais completo. O Espírito obsessor como que se substitui ao do
encarnado no seu corpo, donde, por assim dizer, expulsa o outro, para servir-se
desse corpo, como se lhe pertencera, ficando a este ligada a vítima, apenas por
um cordão fluídico, com o auxílio do perispírito. Combinando os fluídos do seu
perispírito com os do perispírito do encarnado, o mau Espírito se introduz no
instrumento corpóreo deste último e lhe imprime uma ação que é efeito daquela
combinação fluídica. Essa substituição tanto pode dar-se no estado de vigília,
como no de sonambulismo do encarnado.
Há ainda um caso excepcional
de substituição, caso em que esta se dá voluntariamente, da parte do encarnado,
e com permissão dos anjos de guarda, para fim útil, qual o da manifestação de
um Espírito obsessor, a fim de ser doutrinado e esclarecido, a benefício seu e
de suas vítimas.
Foi nessa condição de
possessos de Espíritos maus que dois indivíduos, ou um só, o número pouco
importa, se apresentaram a Jesus que, expelindo deles os seus perseguidores,
fez que estes se manifestassem visualmente aos porcos, os quais, espavoridos
com a visão, debandaram em precipitação tão grande, que foram cair no mar. Os
Espíritos obsessores, obedecendo à vontade de Jesus, apenas se fizeram visíveis
aos porcos, espantando-os. Não passaram para estes, como disseram os
Evangelistas, pela ignorância do que só agora foi revelado a tal respeito, porquanto
o perispírito do Espírito não pode atuar fluidicamente sobre o dos animais, por
ser impossível a combinação dos respectivos fluídos, uma vez que os princípios
não são idênticos.
Ocorre, porém, dizer, que,
se bem não possam ser médiuns, na acepção exata do termo, os animais, alguns
pelo menos possuem a faculdade da vidência, tanto que se espantam com as visões
que têm, prevenindo desse modo o homem da presença do Espírito.
Quanto ao conhecimento dos
meios e processos pelos quais se produzem esses fenômenos de visão nos animais,
ainda o não podemos ter, porque nos falta o da natureza dos fluídos, de suas
propriedades e das combinações de que são passíveis. Nem por isso, entretanto,
nos deve importar a incredulidade e a negação dos sábios, dos materialistas, de
todos os que se supõem senhores exclusivos da verdade, do bom-senso, da razão e
do mundo, que chamam seu. Para firmarmos a nossa crença, na realidade dos
efeitos terríveis e formidáveis da ação dos Espíritos inferiores, temos os
fatos autenticados pelos Evangelistas, temos a ciência espírita, cujo estudo
leva ao conhecimento de tais fatos, temos a nova revelação, que nos veio
desvendar os segredos de além-túmulo, temos as manifestações mediúnicas que,
cada vez em maior número, se dão por toda a parte, demonstrando o poder, a
extensão e as modalidades várias da atuação dos seres do plano incorpóreo sobre
os encarnados.
A subjugação, como a
obsessão, em geral, é uma expiação, sempre adequada e proporcionada aos crimes
e faltas cometidos pelos que a sofrem e a se verificar em condições de
despertar a consciência, de ocasionar o remorso e acarretar o arrependimento, que
determina o perdão, cujos misericordiosos efeitos sobre o Espírito já tivemos
ocasião de apreciar.
Elucidações evangélicas. FEB
(e-book).
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