No meio espírita, evita-se,
a todo custo, a discussão – como se ela fosse um produto do mal, de dissensão,
de briga. Se não sabemos discutir qualquer tipo de assunto com educação,
civilidade e equilíbrio, algo está errado conosco, e não com a prática de
discutir as ideias para se chegar a um resultado que melhor atenda ao objetivo
a ser alcançado.
De início, cabe-nos entender
que discutir ideias não é discutir pessoas. Também, discussão num plano
racional não deve ter a função de depreciar a ideia de quem quer que seja. Na
maioria das vezes, é o nosso orgulho que não nos permite uma flexibilidade em
termos de discussão.
Discutimos querendo ganhar,
com o objetivo de impor nossa opinião. Daí surgem as maiores dificuldades no
trato com as ideias alheias. Não que o processo, em si mesmo, seja mau, nós é
que não estamos preparados para utilizá-lo convenientemente. Em um grupo,
quando se utiliza do recurso da discussão de ideias, sem pretensões hegemônicas
de quem quer que seja, a possibilidade de crescimento do conjunto logo se
evidencia. O resultado é positivo. Todos se sentem participantes e passam, com
o tempo, a se identificar com o objetivo a ser alcançado, condição básica para
um bom resultado.
Quando as pessoas se desentendem numa discussão, é sinal de que não sabem conviver com a diferença. Kardec, na Revista Espírita (Edição FEB), de novembro de 1858, às p. 444-445, diz que “[...] podemos pensar de modo diverso sem, por isso, deixar de nos estimarmos”. E o Codificador, nesse mesmo texto, nos dá uma grande lição de humildade quando assevera: “[...] e, se externamos a nossa maneira de ver, trata-se apenas da nossa maneira de ver, e não de uma opinião pessoal que pretendamos impor aos outros; entregamo-la à discussão, estando prontos para a ela renunciar se demonstrarem que laboramos em erro”.
Muitas vezes não buscamos
apreciar as diversas ideias com isenção, para que se dê curso à mais
apropriada. Colocamo-nos na postura personalista de evidenciar a nós mesmos,
mais interessados em impor nosso modo de pensar: eis o nó da questão.
Alguns alegam que a
discussão traz dificuldades ao ambiente espiritual da instituição espírita.
Contudo, calado e contrariado, qualquer um pode comprometer o ambiente de uma
reunião. No entanto, com a liberdade de expor sua ideia, sua contrariedade, o
grupo tem possibilidades de se ajustar à sua própria realidade e, assim,
esclarecer, orientar e encontrar caminhos de progresso para o todo.
De que adianta não
expressarmos verbalmente nossas ideias, quando discordantes, se as mantemos
conosco e também influenciando o ambiente? Contrariados e mudos, poderemos
comprometer seriamente o resultado de uma reunião, tanto de divulgação quanto
de trabalho mediúnico.
Com a discussão de ideias,
pode-se construir relacionamentos mais transparentes, mais sadios e, assim, um
grupo forte pelos verdadeiros laços da fraternidade. Mas, quando fala mais alto
o individualismo, o personalismo, realmente fica muito difícil, impossível
mesmo, construir-se vias de acesso para o progresso de um grupo e da verdadeira
fraternidade.
Fonte: Reformador, ano 124,
nº 2.133, dezembro de 2006, por Jayme Lobato.
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