Fantasma, assombração, alma
penada, histórias do outro mundo sempre povoaram o imaginário humano,
despertando- -lhe curiosidade e fantasiando-lhe a criatividade. Esses assuntos
geralmente são tratados no âmbito do sobrenatural, desconhecido, maravilhoso ou
pavoroso, beirando muitas vezes ao horror, terror ou coisas malignas e
trevosas. Basta assistir a um dos diversos seriados televisivos para
verificarmos como o assunto ainda é visto de maneira nebulosa, embora já se
observe em alguns deles um toque de seriedade. Se houvesse o mínimo
conhecimento do Espiritismo, tudo ficaria mais inteligível para os envolvidos
na produção desses programas e para seus espectadores.
A Doutrina codificada por
Allan Kardec desmistifica essa crendice decorrente da ignorância ao esclarecer
que a morte não existe e que os Espíritos nada mais são do que nós mesmos,
amanhã, após a desencarnação. Trata-se de uma continuação normal da vida que é
uma só, apresentada em duas facetas: a existência física, corporal, passageira,
e a existência imortal, definitiva e perene.
Cientes de que as histórias
fantasmagóricas nada mais são do que fruto da imaginação fértil dos animadores
de fantasias, ou resultado da manifestação de Espíritos que, de certa forma,
desejam chamar a atenção para a sua existência, não podemos deixar de
considerar que algumas situações são de incitar a vontade de sempre aprender um
pouco mais sobre temas que podem esclarecer nossa própria origem ou explicar a
razão de nos encontrarmos em determinadas situações, num ou noutro plano da
vida.
Você, prezado leitor,
acredita em fantasma?
Fantasmas no outro mundo
“Dois autênticos fantasmas”.
É com essa expressão que André Luiz designa dois vultos que vê a certa
distância caminhando pela Colônia “Nosso Lar”. Assusta-se diante da visão
fantasmagórica, “volta apressadamente ao interior”1 e expõe a
Narcisa o ocorrido. A enfermeira, bem humorada, explicou-lhe do que se tratava.
Acompanhemos a narrativa do
repórter do Além, transcrita do capítulo “Curiosas observações” da obra Nosso Lar:
Instantes
depois, divisei ao longe dois vultos enormes que me impressionaram vivamente.
Pareciam dois homens de substância indefinível, semiluminosa. Dos pés e dos
braços pendiam filamentos estranhos, e da cabeça como que se escapava um longo
fio de singulares proporções. Tive a impressão de identificar dois autênticos
fantasmas. [...]1
André Luiz prossegue a
narrativa, explicando, na palavra da abnegada enfermeira, tratar-se de irmãos
da Terra, que ali se encontravam pelo desprendimento do sono físico. Eram
Espíritos missionários, ainda encarnados, que transitavam livremente por “Nosso
Lar” em decorrência de sua elevada condição espiritual. Narcisa concluiu a
explicação, informando:
[...]
Os filamentos e fios que observou são singularidades que os diferenciam de nós
outros. [...]1
Estudo
diário da obra kardequiana
O estudo espírita é de
fundamental importância para nosso esclarecimento, pois possibilita ampliar o
campo de visão, facultando-nos enxergar novos horizontes, antes não percebidos.
O estudo aclara a mente e nos liberta da ignorância, ensejando-nos gradativa
compreensão em torno do que acontece ao redor, sem que, na maioria das vezes,
nos demos conta.
Observemos esta curiosidade:
numa dessas noites, estava em minha leitura diária de Kardec, quando me
defrontei com um interessante capítulo das evocações, em O Livro dos Médiuns. 2 e 3 Cheguei à seguinte pergunta:
“Quando ausente do corpo, como o Espírito é avisado da necessidade de voltar a
ele?”. A resposta foi a que segue transcrita:
O
Espírito de uma pessoa viva jamais está completamente separado do seu corpo.
Qualquer que seja a distância a que se transporte, continua ligado a ele por um
laço fluídico que serve para chamá-lo, quando necessário. Esse laço só se
desfaz com a morte.2
Já temos algumas informações
valiosas para entendimento: o Espírito encarnado se mantém ligado ao corpo
físico por meio de um laço fluídico, desfeito apenas com a extinção da vida
orgânica, ou seja, com a morte.
Acompanhemos a interessante
observação que Kardec faz, logo após a resposta dos Espíritos:
Muitas
vezes esse laço fluídico é percebido pelos médiuns videntes. É uma espécie de
rastro fosforescente que se perde no espaço e na direção do corpo. Alguns
Espíritos têm dito que é por ele que se reconhecem os que ainda se acham presos
ao mundo corpóreo. 3 (Grifo nosso.)
É impressionante a
coincidência de ideias entre o texto do Codificador e a informação psicografada
por Chico Xavier, revelando a congruência e fidedignidade do trabalho do médium
mineiro com a base estabelecida no melhor roteiro e guia para educação das
faculdades medianímicas jamais existente em todos os tempos: O Livro dos Médiuns.
À
procura de um conceito
Mas, afinal, o que é que
escolher uma alternativa dentre as enumeradas a seguir, qual seria a mais
adequada em sua opinião? ( ) É o próprio perispírito. ( ) Refere-se a uma
extensão do perispírito. ( ) Tem a ver com a aura. ( ) Relaciona-se exatamente
esse laço fluídico, também denominado cordão fluídico ou prateado? Se você
tivesse com o duplo etérico.( ) Nenhuma das anteriores.
Ficou em dúvida? Eu também.
Observe e que não há
absoluta concordância entre os autores, encarnados ou desencarnados, indicando
que o tema requer estudos aprofundados. Para responder a questão, vamos nos
valer do livro O Espiritismo de A a Z4 para buscar alguns conceitos:
que o grau de dificuldade é relativamente complexo
Perispírito:
(do grego – peri – em torno).
Envoltório semimaterial do Espírito. Sua finalidade é tríplice: manter
indestrutível e intacta a individualidade; servir de substrato ao corpo físico,
durante a encarnação; constituir o laço de união entre o Espírito e o corpo
físico, para a transmissão recíproca das sensações de um e das ordens do outro.
Aura: exteriorização
perispiritual; resultado da difusão dos campos energéticos que partem do
perispírito, envolvendo-se com o duplo etérico e o manancial de irradiações das
células físicas; a alma encarnada ou desencarnada está envolvida na própria
aura ou túnica de forças eletromagnéticas; couraça vibratória, espécie de
carapaça fluídica.
Duplo
etérico: corpo vital; extensão do perispírito; uma das capas do
perispírito; eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo
de carne, formado por emanações neuropsíquicas que pertencem ao campo
fisiológico [...] destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao
instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora.
Considerações quase finais.
Pelos conceitos apresentados,
conclui-se que o perispírito e a aura não se extinguem com a morte física. O
duplo etérico sim. Talvez, por essa característica, pudéssemos considerar,
abrindo-se naturais perspectivas ao aprofundamento cognitivo, que esse laço
fluídico emanado da cabeça dos encarnados em desdobramento – designado “rastro
fosforescente”por Allan Kardec, e “longo fio de singulares proporções” por
André Luiz –, trata-se do cordão fluídico, “elo fundamental entre corpo físico
e perispírito”.5
Por compreendermos que “o
duplo etérico só existe em função da sustentação perispirítica”,6 poderíamos
elucubrar que o laço fluídico se constituiria, genericamente em provável
expansão perispiritual e, especificamente, em uma extensão do duplo etérico.
E
os fantasmas?
A propósito, acredite você
ou não, amigo leitor, os fantasmas existem... Eles são seres reais muito
distantes dos diáfanos e vaporosos espectros plasmados pela imaginação humana.
Os fantasmas somos nós mesmos, quando, desencarnando, vivemos feito almas
penadas a assustar os “vivos de cá e de lá”. Mas, isso é outra história.
Referências:
1 XAVIER, Francisco C. Nosso lar. Pelo Espírito André Luiz. 4. ed. esp. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 33, p. 205-206.
2 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns ou Guia dos médiuns e dos evocadores. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Pt. 2, cap. 25, q. 284, it. 40.
3 ______. ______. Comentário
de Kardec à q. 284, it. 40.
4 SOBRINHO, Geraldo C.
(Coord.) O espiritismo de A a Z. 4. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012.
Vocábulos: aura, duplo etérico e perispírito.
5 GURGEL, Luiz Carlos de M.
O passe espírita. 5. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Pt. 2, cap. 5, p.
91.
6 ZIMMERMANN, Zalmino. O
duplo etérico. In: ______. Perispírito. Campinas, SP: CEAK, 2000. p. 194.
Fonte: Reformador, ano 130,
nº 2.198, maio 2012, por Geraldo Campetti Sobrinho (e-book).
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