Ação edificante e duradoura
“Aquele, porém, que recebe a semente em
boa terra é o que escuta a palavra, que lhe presta atenção e em quem ela produz
frutos, dando cem ou sessenta, ou trinta por um.” (S. Mateus, 13:23.) (1)
A passagem em destaque,
contida na “Parábola do Semeador”, se expressa na ação da evangelização
espírita infanto-juvenil, no seu sentido amplo: semeiam os evangelizadores quando trabalham em benefício da
divulgação do Espiritismo; semeiam as
crianças e os jovens, ao serem evangelizados, na busca da segurança moral e
do amor, indispensáveis à felicidade do ser; semeiam os pais ao atenderem às responsabilidades que lhes são
conferidas nos cuidados a se ter para com os filhos, encaminhando-os às escolas
de evangelização; e semeiam os dirigentes
espíritas, ao avaliarem a importância dessa tarefa nobilíssima, que é
desenvolvida e organizada nas unidades fundamentais do Movimento Espírita, que
são: os centros, os grupos e as demais instituições.
O Espírito Emmanuel, em
mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, no ano de 1938, e
reproduzida em Reformador de agosto
de 2011, devido à sua plena atualidade, observa: [...]
Nenhuma
mensagem do mundo espiritual pode ultrapassar a lição permanente e eterna do
Cristo, e a questão, sempre nova, do Espiritismo é, acima de tudo, evangelizar,
ainda mesmo com sacrifício de outras atividades de ordem doutrinária.
A
alma humana está cansada de ciência sem sabedoria e, envenenado pelo pensamento
moderno, o cérebro, nas suas funções culturais, precisa ser substituído pelo
coração, pela educação do sentimento.
O
Evangelho e o trabalho incessante pela renovação do homem interior devem
constituir a nossa causa comum [...]. (2)
Ora, a infância é a fase mais profícua para motivar o desabrochar das capacidades e aptidões dos indivíduos favorecendo a sua evangelização. Sobre essa asserção, os Espíritos superiores afirmam:
Encarnando,
com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais
acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento,
para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo. (3)
E concluem, em outra questão
de O Livro dos Espíritos:
[...]
Os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para se
melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos
conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se
lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que
Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas [...]. (4)
É nesse período fértil que
as crianças devem receber as orientações iniciais de uma boa educação moral-cristã,
que lhes permita, na idade adulta, aplicar as leis divinas sem transgredi-las,
e que poderá livrá-las dos descomedimentos futuros a que estão submetidos todos
aqueles que não foram preparados para proceder corretamente, esforçando-se para
tudo fazer pelo bem do próximo. O homem “praticando a lei de Deus, a muitos
males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o
comporte a sua existência grosseira”. (5) Ao analisar essa assertiva, Allan
Kardec conclui, apropriadamente:
Já
nesta vida somos punidos pelas infrações, que cometemos, das leis que regem a
existência corpórea, sofrendo os males consequentes dessas mesmas infrações e
dos nossos próprios excessos. Se, gradativamente, remontarmos à origem do que
chamamos as nossas desgraças terrenas, veremos que, na maioria dos casos, elas
são a consequência de um primeiro afastamento nosso do caminho reto.
Desviando-nos deste, enveredamos por outro, mau, e, de consequência em
consequência, caímos na desgraça. (6)
Sem crer em Deus e na sua
justiça, sem a certeza da imortalidade da alma e da pluralidade das
existências, sem conhecer e empregar as leis morais, que irão nortear as
responsabilidades individuais por todos os atos bons ou maus que cometemos,
determinando as provas e resgates futuros, torna-se muito difícil a compreensão
do verdadeiro significado da vida na Terra. É preciso preparar os Espíritos
encarnados, a partir da mais tenra idade, ensinando-lhes esses pensamentos, de
acordo com o estágio de desenvolvimento e da capacidade cognitiva que
apresentem, sem esperar que cresçam desprovidos desses conhecimentos, até que
se hajam esclarecidos pelos estudos mais acurados da Doutrina e pelas
experiências significativas a serem vividas na fase adulta. Portanto, nada é
mais útil para a evangelização das pessoas espíritas do que fazê-las refletir,
desde pequenas, sobre os princípios elementares do Espiritismo, trocando as
conquistas e os interesses transitórios por aquisição de proveitos espirituais.
Ao avaliarmos os efeitos que
acarretam a falta de cuidado dos pais na orientação religiosa dos filhos,
recordamos os compromissos assumidos por eles, pois, como adeptos do
Espiritismo, “a doutrina que professam mais não é do que o desenvolvimento e a
aplicação da do Evangelho, também a eles se dirigem as palavras do Cristo”. (7)
Não permitir que as crianças frequentem as aulas de evangelização
espírita-cristã, com a desculpa de que no futuro poderão escolher por si mesmas
os caminhos doutrinários a serem trilhados, é tornar-se indiferente ao destino
dos seres que acolheram no abrigo familiar, sem lhes dar a chance de saber
sobre as coisas espirituais e de afastar-se da preponderância do materialismo:
[...]
As ideias espíritas, ao contrário, são um penhor de ordem e tranquilidade,
porque, pela sua influência, os homens se tornam melhores uns para com os
outros, menos ávidos das coisas materiais e mais resignados aos decretos da
Providência. (8)
Considerando-se que o
egoísmo e o orgulho prejudicam enormemente a maioria dos homens, por que não
conceder aos filhos a oportunidade de adquirirem qualidades que lhes
possibilitem conquistar a paz no cultivo da caridade legítima? É possível
remediar esse mal desde cedo, motivando os filhos para a vivência de certos
deveres cristãos como fonte primeira para o seu aperfeiçoamento no porvir? O
bondoso Espírito Adolfo Bezerra de Menezes, em comunicação obtida pela médium
Yvonne A. Pereira, na noite de 11 de agosto de 1966, no Rio de Janeiro, dá sua
opinião sobre o tema, asseverando:
O
lar é a grande escola da família, em cujo seio o indivíduo se habilita para a
realização dos próprios compromissos perante as Leis de Deus e para consigo
mesmo, na caminhada para o progresso. É aí [...], que a criança, o cidadão
futuro [...] se deverá educar, adquirindo aquela sólida formação
moral-religiosa que resistirá, vitoriosamente, aos embates das lutas
cotidianas, das provações e mil complexos próprios de um planeta ainda
inferior. [...] (9)
Mais à frente, na mesma
mensagem, alerta-nos ele:
Se
se descurou, porém, a educação na primeira infância, a puberdade e a
adolescência tornar-se-ão fases de orientação mais difícil. [...] (10)
Os seres humanos passam por
importantes ciclos evolutivos, procurando, na atualidade, respostas às suas
indagações, sobretudo para manter as ideias cristãs que lhes aclarem as mentes
e os sustentem em ocasiões tão críticas. Buscam a fé raciocinada para
libertarem-se dos intrincados dogmas das demais crenças, que não interpretam
com coerência a doutrina de Jesus, por não oferecerem amparo e esclarecimentos
genuínos às criaturas, levando-as a suportar melhor esses instantes de
aflitivas transições. O Espírito Emmanuel, ao falar da educação evangélica,
destaca a importância da chegada do Consolador prometido pelo Mestre para “o
esforço de regeneração em cada indivíduo” (11) e justifica que a sua “palavra
bate insistentemente nas antigas teclas do Evangelho cristão, porquanto não
existe outra fórmula que possa dirimir o conflito da vida atormentada dos
homens”. (12)
Por meio da evangelização,
faremos despertar, nas almas infantis, mudanças em suas disposições morais,
diminuindo as influências materialistas e fazendo-as pensar e sentir de outra
maneira, certos de que “toda a tarefa, no momento, é formar o espírito
genuinamente cristão; terminado esse trabalho, os homens terão atingido o dia
luminoso da paz universal e da concórdia de todos os corações”. (13)
Referências:
1)
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2011. Cap. 17, it. 5.
2)
XAVIER, Francisco C. À luz do evangelho. Pelo
Espírito Emmanuel. In: Reformador, ano 129, n. 2.189, p. 17(295), ago. 2011.
3)
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.
Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 383.
4)
______. ______. Q. 385.
5)
______. ______. Q. 921.
6)
______. ______. Comentário de Kardec à q.
921.
7)
______. O evangelho segundo o espiritismo.
Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 24,
it. 16.
8)
______. O livro dos espíritos. Trad. Guillon
Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Conclusão, it. 6, p. 546.
9)
SOUZA, Juvanir Borges de. (Coord). Bezerra de
Menezes: ontem e hoje. 4. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. P. 3, cap.
15, p. 146.
10)
______. ______. p. 147.
11)
XAVIER, Francisco C. Emmanuel. Pelo Espírito
Emmanuel. 27. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 35, it. Necessidade
da educação pura e simples, p. 236.
12)
______. ______. Cap. 35, it. Urge reformar,
p. 236.
13)
______. ______. Cap. 35, it. Formação da mentalidade
cristã, p. 239.
Fonte: Reformador, ano 130, nº 2.194, janeiro 2012 (e-book)
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