O dia D

Dia D, termo usado nos círculos militares, marca o início de determinada operação bélica.

O mais famoso ocorreu em 6 de junho de 1944, na maior operação militar aeronaval da História. Cento e cinquenta e cinco mil homens, dos exércitos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá, lançaram-se nas praias da Normandia, região da França atlântica, dando início à libertação europeia do domínio nazista.

Começava o colapso do III Reich, o império que, segundo a propaganda de Adolf Hitler, deveria dominar o Mundo por mil anos.

Aquelas operações culminariam com o fim da Segunda Guerra Mundial, cujo início ocorrera cinco anos antes, com a invasão da Polônia pelas forças nazistas.

Após onze meses, a Alemanha rendia-se. O mesmo aconteceria com seu aliado, o Japão, quatro meses depois.

Terminava, assim, em agosto de 1945, a pior de todas as guerras, com o espantoso saldo de cinquenta milhões de mortos, aproximadamente.

A Segunda Guerra Mundial foi relativamente curta, se confrontada com outras que se estenderam por décadas.

A pior de todas tem milhares de anos.

Eclodiu desde o aparecimento do Homem, envolvendo o embate entre duas concepções, definidas pelo Dicionário Houaiss:  

Espiritualismo. Doutrina que remonta às origens gregas da filosofia, e que consiste na afirmação da existência ou realidade substancial do Espírito, e de sua autonomia, diferença e preponderância em relação ao corpo material.

Tradução: Somos Espíritos imortais. Vivíamos antes do berço. Continuaremos a viver depois do túmulo.  

Materialismo. Doutrina que identifica, na matéria e em seu movimento, a realidade fundamental do universo, com a capacidade de explicação para todos os fenômenos naturais, sociais e mentais.

Tradução: Somos um agregado celular que, por razões insondáveis, adquiriu a capacidade de pensar, efemeramente, até que se esgote sua vitalidade, retornando ao pó, segundo a expressão bíblica.

O materialismo, infelizmente, tem dominado o mundo, não como ideia, já que a vasta maioria dos homens admite a existência e sobrevivência da Alma, conforme ensinam as religiões, mas como vivência, como maneira de ser.

Raros comportam-se de acordo com a noção de que continuaremos a viver após a morte física e de que nos pedirão contas, no Além, do que estamos aprontando na Terra.

Isso porque a sobrevivência tem sido uma questão de fé, defendida pelas religiões, com base em especulações que recendem a fantasia.

Nesse milenar conflito há um Dia D.

Ocorreu há cento e quarenta e nove anos, no dia 18 de abril de 1857, com o lançamento de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.

Incursões ocorreram antes disso, envolvendo agentes infiltrados no território inimigo, Espíritos que se manifestavam com o concurso de indivíduos dotados de grande sensibilidade, os médiuns.

Com o Espiritismo tivemos autêntica invasão, que tende a ampliar-se e multiplicar-se, na medida em que os iniciantes aprendam como se processa o fenômeno mediúnico, que permite o intercâmbio com o Além.

Temos no Espiritismo o mais importante esforço de guerra na luta contra o materialismo, cujo sucesso é de importância vital para que a Terra deixe de ser um planeta de Provas e Expiações e seja promovida a Mundo de Regeneração, como está em O Evangelho segundo o Espiritismo.

Há que se considerar as posturas dos combatentes espíritas, conforme a definição de Kardec, em O Livro dos Médiuns:  

Espíritas sem o saberem (...)Sem jamais terem ouvido tratar da Doutrina Espírita, possuem o sentimento inato dos grandes princípios que dela decorrem e esse sentimento se reflete em algumas passagens de seus escritos e de seus discursos, a ponto de suporem, os que os ouvem, que eles são completamente iniciados.(...) (Primeira Parte, cap. III, item 27.)

Ainda que não engajados, contribuem para o esforço de guerra.  

Espíritas experimentadores

Os que creem pura e simplesmente nas manifestações. Para eles o Espiritismo é apenas uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos. (Idem, ibidem. item 28, 1º subitem.)

Meros simpatizantes, não se dispõem a pegar nas armas.  

Espíritas imperfeitos

Os que no Espiritismo veem mais do que fatos; compreendem-lhe a parte filosófica; admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam. Insignificante ou nula é a influência que lhes exerce nos caracteres. Em nada alteram seus hábitos e não se privariam de um só gozo que fosse. O avarento continua a sê-lo, o orgulhoso se conserva cheio de si, o invejoso e o cioso sempre hostis. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima. (...) (Idem, ibidem. 2º subitem.)

Postura espiritualista;comportamento materialista.  

Espíritas exaltados

A espécie humana seria perfeita, se sempre tomasse o lado bom das coisas. Em tudo, o exagero é prejudicial. Em Espiritismo, infunde confiança demasiado cega e frequentemente pueril, no tocante ao mundo invisível, e leva a aceitar-se, com extrema facilidade e sem verificação, aquilo cujo absurdo, ou impossibilidade a reflexão e o exame demonstrariam. O entusiasmo, porém, não reflete, deslumbra. Esta espécie de adeptos é mais nociva do que útil à causa do Espiritismo. São os menos aptos para convencer a quem quer que seja, porque todos, com razão, desconfiam dos julgamentos deles. Graças à sua boa-fé, são iludidos, assim por Espíritos mistificadores, como por homens que procuram explorar-lhes a credulidade. (Idem, ibidem, 4º subitem.)

Soldados despreparados, abrem flancos nas fileiras espíritas.

Espíritas cristãos

Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pendores. (...) (Idem, ibidem, 3º subitem.)

Disciplinados e firmes em seus ideais, esses soldados estão empenhados no bom combate, a que se referia o apóstolo Paulo, o esforço do Bem aliado ao empenho de renovação.

Notável a expressão espírita cristão, que situa na vanguarda da espiritualização da Humanidade os espíritas que se ligam aos valores do Evangelho.

Se aspiramos a essa gloriosa realização, é bom ter sempre presente uma observação do Espírito Lacordaire, no capítulo V, item 18, de O Evangelho segundo o Espiritismo:

O militar que não é mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o repouso no campo nenhuma ascensão de posto lhe faculta. Sede, pois, como o militar e não desejeis um repouso em que o vosso corpo se enervaria e se entorpeceria a vossa alma. Alegrai-vos, quando Deus vos enviar para a luta. Não consiste esta no fogo da batalha, mas nos amargores da vida, onde, às vezes, de mais coragem se há mister do que num combate sangrento, porquanto não é raro que aquele que se mantém firme em presença do inimigo fraqueje nas tenazes de uma pena moral. Nenhuma recompensa obtém o homem por essa espécie de coragem; mas, Deus lhe reserva palmas de vitória e uma situação gloriosa. Quando vos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade, sobreponde-vos a ela, e, quando houverdes conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero, dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: “Fui o mais forte”. (...)

Esses, leitor amigo, os heróis que contribuirão decisivamente para a vitória dos exércitos espiritualistas, habilitando-se à suprema comenda: soldados do Cristo!

Fonte: Reformador, ano 124, nº 2.125, abril 2006, por Richard Simonetti.

 

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