Evangelho segundo Mateus - cap. 21

Entrada de Jesus em Jerusalém. Mercadores expulsos do templo. A casa do Senhor é casa de oração e não, pelo tráfico, um covil de ladrões. Predição da ruína de Jerusalém

1. Quando se aproximavam de Jerusalém, ao chegarem a Betfagé, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos, 2, dizendo-lhes: Ide a essa aldeia que vos está defronte e lá encontrareis amarrada uma jumenta com o seu jumentinho; desamarrai-a e trazei-mos. 3. Se alguém vos disser qualquer coisa, respondei que o Senhor precisa deles e logo vo-los deixarão trazer. 4. Ora, tudo isso aconteceu, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta: 5. “Dizei à filha de Sião” (1): “Eis que vem a ti o teu rei, cheio de doçura, montado numa jumenta e trazendo o jumentinho que está sob o jugo”. 6. Os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes ordenara. 7. Trouxeram a jumenta com o jumentinho, cobriram-nos com suas vestes e o fizeram montar. 8. Da multidão muitos então estenderam pelo caminho suas roupas, enquanto outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam pela estrada. 9. E a turba toda, tanto os que iam à frente como os que vinham atrás, clamava: Hosana ao filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas! 10. Quando ele entrou em Jerusalém, a cidade toda se abalou e perguntavam: Este quem é? 11. A multidão respondia: É Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia. 12. Jesus entrou no templo de Deus e expulsou todos os que ali vendiam e compravam; derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos que vendiam pombas, 13, dizendo-lhes: Está escrito: “Minha casa será chamada casa de oração”. E fizestes dela um covil de ladrões. 14. Vieram então ao templo cegos e coxos e ele os curou. 15. Vendo, porém, as maravilhas que ele operava e ouvindo os meninos que clamavam no templo: Hosana ao filho de Davi, os príncipes dos sacerdotes e os escribas se indignaram. 16, e lhe perguntaram: Ouves o que eles dizem? Respondeu-lhes Jesus: Sim. E nunca lestes isto: “Da boca dos meninos e das criancinhas que ainda mamam, tiraste perfeito louvor”. 17. E, deles se apartando, retirou-se da cidade e foi para Betânia, onde passou a noite.

Aqui, como sempre, o ensinamento do manso Nazareno é o mesmo: a humildade, a santa humildade que purifica o coração, desarma os poderosos, lava de suas impurezas a alma e a leva aos sacratíssimos pés do Altíssimo.

Nem pompa, nem luxo teve a sua entrada em Jerusalém, que se tornou triunfal apenas pelo entusiasmo que suas virtudes despertaram na multidão. Ele era sempre modesto e simples, como a moral que pregava e exemplificava.

Expulsou do templo os vendilhões, dizendo: Está escrito: “Minha casa é casa de oração”, e a transformastes num covil de ladrões. Essas palavras, entretanto, parece que até hoje não chegaram aos ouvidos de muita gente, pois que inúmeros são ainda os que negociam, comprando e vendendo orações, perdões e indulgências, resgatando crimes a peso de ouro e fazendo das bênçãos do Senhor objeto de vil comércio.

Era este o pensamento que aquelas palavras exprimiam: Desconfiai dos que vendem o perdão e as graças, dos que exploram a credulidade e a ignorância, porquanto praticam roubo, mercando o que lhes não pertence, o que não têm nem mesmo para si.

Os discípulos, em multidão, clamavam: Hosana! Oh! que suas vozes, abafando os queixumes da Terra, continuem a clamar homens ao Senhor, Àquele que traz a paz aos humildes e aos pequeninos, que faz se curvem as frontes dos soberbos e dos orgulhosos!

As palavras dos profetas Isaías (capítulo 42, versículos 1, 2 e 11) e Zacarias (capítulo 9, versículo 9), lembradas pelo Evangelista, encerravam, sob o véu da letra, uma alusão à graduação espírita de Jesus, nosso rei, que até nós desceu. Ë nosso rei, por isso que, preposto por Deus, é o protetor e o governador do nosso planeta, a cuja formação presidiu, encarregado do seu desenvolvimento, do seu progresso e de conduzir à perfeição a Humanidade que o veio habitar.

A manifestação, de que o Mestre foi objeto, tinha de se produzir. Se os homens a ela se houvessem oposto, as mesmas pedras clamariam, isto é, os Espíritos que o cercavam teriam feito se ouvissem vozes, entoando louvores ao “filho de Davi”, àquele que, aos olhos dos homens, era o filho de Davi.

Versículos 10 e 11. A cidade de Jerusalém se levantou em peso, comovida e surpresa, a perguntar: “Este quem é ?“ E a multidão que o acompanhava dizia: Jesus, o profeta de Nazaré, na Galiléia”. Jesus nunca disse que era Deus e seus discípulos só lhe atribuíram a divindade, depois de finda a sua missão, tendo em vista os “milagres” por Ele realizados e o fato “miraculoso” da sua ressurreição e das suas aparições em seguida a esta, não admitindo que a outrem, senão somente a um Deus encarnado, fosse possível realizar tais coisas.

Mas, na marcha do tempo e do progresso humano, tudo tem a sua razão de ser, segundo a presciência e a sabedoria infinitas de Deus.

A revelação nova, despojando da letra o espírito, nos veio explicar, em espírito e verdade, quem é Jesus Cristo.

Quanto ao tráfico, tendo por objeto o reino de Deus, constitui uma impiedade. Os Judeus, como se sabe, resgatavam suas faltas por meio do sacrifício de vítimas propiciatórias e os mercadores lhes forneciam as vítimas, os vasos com perfumes, o que tudo era trazido para o templo e aí vendido. Essa a origem daquele tráfico. Depois, o negócio se ampliou e o templo, que era considerado a casa de Deus, se tornou sede de toda sorte de transações comerciais. A Bolsa dos tempos atuais, com as suas baixezas, teve um modelo no templo de Israel.

Entretanto, se atentarmos bem nas palavras de Jesus quando dali expulsou os que negociavam, veremos claramente que esse seu ato não obedeceu ao pensamento de defender a pureza de um templo de pedra, apresentando-o como lugar verdadeiramente sagrado, em que tais coisas constituíam uma ofensa à Divindade. Ele, que ensinara ser Deus espírito, e só dever ser adorado em espírito e verdade, estaria em contradição consigo mesmo, se expulsasse do templo os vendilhões, por ser ali a casa de Deus. Cumpre também atentemos nas suas palavras: “Minha casa será chamada por todos, etc.” Se aquela fosse a “sua” casa e a casa de Deus, Ele, dizendo isso, se teria declarado Deus.

Aquele ato, pois, foi todo simbólico e, à luz da Nova Revelação, o seu simbolismo se faz claramente compreensível.

O mundo terreno, como todos os que o Criador semeou pelo espaço infinito, é uma das inúmeras casas existentes na infinita morada do Senhor do Universo e é também um templo, onde a cada uma de suas criaturas corre o dever de adorá-lo na prática do amor, cuja lei é a lei das leis. Casa, portanto, de oração, Ele o é igualmente, porquanto orar é trabalhar na obra do progresso comum, trabalhando cada qual pelo seu próprio progresso intelectual e moral.

Preposto pelo Pai à formação e ao governo dessa casa, tem Jesus a devorá-lo, na frase do profeta, o zelo dela e, tomado desse zelo, não obstante o seu amor ilimitado, ou, antes, impelido por esse amor, não hesita em expulsar da casa que lhe foi confiada e que, como tal é a “sua” casa, do templo onde só em espírito e verdade, conforme Ele o ensinou e exemplificou, se deve adorar a Deus, isto é, praticando a caridade, a fraternidade, a justiça e o perdão, aqueles que, mercadejando com as coisas santas, a transformam em covil de ladrões.

Mercadejam com as coisas santas os que, sendo Espíritos, como o são todos os homens, só prestam culto à matéria; os que, em vez do amor, cultivam o ódio, em vez da caridade, praticam a intolerância, movidos pelo egoísmo e pelo orgulho; os que, escravos de paixões subalternas, se esforçam por escravizar ao erro os seus semelhantes, a fim de melhor dominá-los; os que, em suma, se servem das faculdades espirituais, que lhes foram outorgadas para se elevarem gradualmente e se aproximarem do centro de toda a perfeição, empregando-as em rebaixar aquele que é esse centro, para dele fazerem cúmplice de seus delitos e iniquidades.

Esses, os que transformam a casa do Pai em covil de ladrões. Esses, portanto, os que daí serão expulsos, chegado o momento em que da presença deles deva ser expurgado o templo, para não continuarem a constituir-se pedra de escândalo aos que, redimidos pela dor, se hajam tornado capazes da verdadeira oração, da oração do trabalho santificado pelo amor e pela humildade.

E para onde serão expulsos os que sejam encontrados por Jesus no templo a mercadejar com as coisas santas? Para outras casas da morada infinita do Pai, casas que, como templos que também são, outras tantas oficinas de trabalho são igualmente, mas onde o trabalho é mais árduo, mais penoso, mais amargo, tão áspero e doloroso que dará aos que a Ele se vejam compelidos a impressão aflitiva de haverem perdido um paraíso, de terem sido expulsos de um éden, que tal se lhes afigurará o mundo donde foram banidos.

É isso o que Jesus simbolizou no fato, que os Evangelistas referiram, de ter expulsado do templo de Jerusalém os mercadores que lá assentaram suas bancas. Não foi, decerto, repetimos, o zelo por uma edificação material, onde Deus não habita, que o levou a Ele, que pregava a adoração do Pai em espírito e verdade, a vergastar com o látego de fogo da sua palavra de verdade os que ali comerciavam.

Expulsando-os de lá, ensinava, sobretudo, aos homens a expulsar com energia as paixões e os vícios de seus corações que, acima dos mundos, são os templos mais grandiosos que o Senhor, Ele próprio, edificou para ser adorado por seus filhos, templos onde passa a habitar eternamente, desde que neles só se encontrem virtudes os anjos de sua glória.

Dessa expulsão podemos e devemos concluir que tempo virá em que, praticando os homens a lei do amor, não mais eles adorarão o Pai nem no monte, nem em Jerusalém, mas em espírito e verdade, em que, por todas as nações, a Terra será chamada “casa de oração”.

Com a prudência e a habilidade do oculista que, operando a catarata, prepara o cego para ver a luz, os Espíritos do Senhor, como mensageiros do Espírito da Verdade, vêm e virão levantar progressivamente o véu que rouba às vistas humanas a verdade, a fim de que o que era secreto seja conhecido e o que estava oculto se torne patente. Eles vêm e virão encaminhar os homens, mediante a prática da humildade, do desinteresse, da justiça, do amor e da caridade, da renúncia de si mesmos, da indulgência, do perdão e do olvido das ofensas e das injúrias, do devotamento entre todos e por todos, para a verdadeira fraternidade, que só ela pode estabelecer e estabelecerá entre todos, com sinceridade, a igualdade e a liberdade, pela reciprocidade e pela solidariedade, efetivando desse modo a regeneração humana, que o Mestre predisse e prometeu.

E, quando a unidade fraternal estiver consumada, o reino de Deus estará estabelecido. Então, no nosso planeta depurado (nova Jerusalém) aparecerá em todo o seu fulgor espírita o nosso protetor e governador, Jesus nosso Mestre e nosso Rei, e reboará por toda a parte o brado imenso que os homens, regenerados, tornados verdadeiramente irmãos, soltarão em conjunto e em uníssono, como outrora a multidão, quando da sua entrada em Jerusalém: Bendito o rei que vem em nome do Senhor! E os Espíritos que houverem preparado e efetuado a regeneração, a purificação da Humanidade, farão de novo ouvir o cântico dos anjos que conduziram os pastores ao presepe de Belém: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na Terra aos homens de boa-vontade!

(1) Jerusalém era edificada no monte Sião.

Parábola da figueira que secou

18. Pela manhã, ao voltar para a cidade, teve fome. 19, e, vendo uma figueira à beira do caminho, dela se aproximou, mas não achou ali senão folhas. Disse-lhe então: Nunca mais nasça fruto de ti. No mesmo instante a figueira secou. 20. Vendo isso, os discípulos diziam entre si, tomados de assombro: Como secou num instante! 21. Disse-lhes então Jesus: Em verdade vos digo, que, se tiverdes fé e não hesitardes em vosso coração, não só fareis isto a uma figueira, mas ainda se disserdes a este monte: Tira-te dai e lança-te no mar, assim se fará. 22. E obtereis tudo o que com fé pedirdes na vossa prece.

Com a parábola da figueira que secou, quis Jesus lembrar a seus discípulos e a quantos o seguiam estes ensinamentos que já lhes dera: a árvore que não dá frutos é condenada; em tempo algum deve o homem ser estéril; jamais deve deixar de dar frutos, trabalhando sem cessar pelo seu progresso e pelo progresso de seus irmãos.

Perguntando-lhe os discípulos, que já tinham a percepção das coisas espirituais: Como secou assim num instante? O Mestre apenas respondeu: “A fé tudo pode”, o que equivalia a dizer que a sua vontade forte fora a causa determinante do fato que os surpreendia.

O exemplo, de molde a tocar a imaginação dos que o seguiam, fazendo-lhes compreender a necessidade de não serem estéreis em tempo algum, foi também de molde a lhes ensinar o poder e a força da vontade, se apoiada na fé, ensino que era necessário aos seus discípulos, para que fossem instrumentos simultaneamente dóceis e inconscientes dos Espíritos do Senhor, que os assistiriam no desempenho de suas missões, quando Ele, o Mestre, não mais na Terra estivesse.

A figueira secou subitamente, por lhe terem sido retirados da seiva, a uma ordem mental de Jesus, juntamente com a essência espiritual, que foi levada para outro ponto, os fluídos que dão vida à planta e os fluídos necessários à vegetação material.

A parábola da figueira que secou teve por objeto concitar o homem a utilizar a existência terrena, progredindo, mediante a expiação e a reparação de suas faltas, e adverti-lo também de que o Espírito culpado, que até à época em que deva operar-se a separação do joio e do bom grão, permanecer surdo às inspirações de seus guias e dos bons Espíritos, não mais dará frutos na Terra: será rechaçado para mundos inferiores, correspondentes ao grau da sua culpabilidade e às necessidades do seu progresso, do seu adiantamento.

Resposta de Jesus aos príncipes dos sacerdotes, aos escribas e aos anciães do povo. Parábola dos dois filhos

23. Tendo vindo ao templo e estando a ensinar, chegaram-se a ele os príncipes dos sacerdotes e os anciães do povo e lhe perguntaram: Com que autoridade fazes estas coisas e quem te deu este poder? 24. Respondeu Jesus: Também eu vos farei uma pergunta e, se a ela responderdes, dir-vos-ei com que autoridade faço estas coisas. 25. Donde era o batismo de João? do céu ou dos homens? Eles, porém, discorriam assim entre si: 26. Se respondermos que era do céu, ele nos dirá: Por que então não lhe destes crédito? Se respondermos que era dos homens, teremos que temer o povo, pois que João era tido por todos como profeta. 27. Responderam então a Jesus: Não sabemos. Replicou-lhes ele: Não vos direi tampouco com que autoridade faço estas coisas. 28. Mas, que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: Meu filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. 29. Ao que o filho respondeu: Não quero. Mais tarde, entretanto, tocado de arrependimento, foi. 30. Dirigindo-se ao outro filho, disse-lhe o homem a mesma coisa. Este respondeu: Eu vou, Senhor, e não foi. 31. Qual dos dois fez a vontade ao pai? O primeiro, disseram eles. Observou-lhes então Jesus: em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes vos precederão no reino de Deus. 32. Porquanto, João veio a vós pelo caminho da justiça e não o acreditastes, ao passo que os publicanos e as meretrizes creram nele. Vós, nem mesmo depois de ver isso, fizestes penitência, nem ficastes inclinados a crê-lo.

Os que interpelaram o Cristo sobre a autoridade com que Ele fazia aquelas coisas e procedia da maneira que todos viam, eram príncipes dos sacerdotes, escribas e fariseus, os quais, tendo sido testemunhas dos atos de João, não se renderam à evidência. Não havendo percebido em que fonte hauria Ele a sua força, ainda menos compreenderiam e admitiriam o testemunho da sua palavra.

Se lhes respondera que o poder lhe vinha de Deus, houvera-os provocado a apressar o termo da sua missão. O que deixou transparecer claramente, evitando responder de modo direto à pergunta que lhe fora feita.

Promessas realizáveis no futuro e estímulo para o presente é o que se nos depara nestas palavras suas: “Os publicanos e as meretrizes vos precederão no reino dos céus”. Foi como se dissera: “Esses são filhos rebeldes, que tardam em ir trabalhar na vinha do Pai de família, que só vão tardiamente, quando arrependidos, mas que vão; ao passo que vós, orgulhosos, que destes na Igreja os primeiros passos, “que dissestes: Vou, Senhor, mas ficastes parados, que haveis mesmo, muitas vezes, retrogradado, chegareis tarde, muito tarde ao reino dos céus, pois que será mister compreendais a vossa falta. Tereis, entretanto, que ir e ireis para a vinha, tereis que trabalhar com ardor, a fim de recuperardes o tempo perdido. Quando, porém, chegardes, os publicanos e os de má vida, que se arrependeram a tempo, que cumpriram a sua tarefa, lá estarão desde muito à vossa espera, para vos estenderem as mãos e vos ajudarem a transpor a entrada”.

Ouçam os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os fariseus dos nossos dias, que tiverem ouvidos de ouvir.

Parábola da vinha e dos vinhateiros

33. Ouvi outra parábola: Um homem pai de família havia que plantou uma vinha. Cercou-a com uma sebe, cavou no interior um lagar, edificou uma torre, arrendou a vinha a alguns agricultores e partiu para longe. 34. Aproximando-se a estação dos frutos, mandou ele seus servos aos vinhateiros para receberem os frutos que lhe cabiam. 35. Os vinhateiros, porém, agarraram os servos, feriram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram. 36. De novo o dono da vinha mandou outros servos em maior número do que os primeiros e os vinhateiros os trataram do mesmo modo. 37. Mandou por último seu próprio filho, dizendo: A meu filho eles terão respeito. 38. Mas, ao vê-lo, os vinhateiros disseram entre si: Este é o herdeiro; vamos, matemo-lo e ficaremos donos da sua herança. 39. Agarraram-no, lançaram-no fora da vinha e o mataram. 40. Ora, quando o dono da vinha vier, que fará àqueles agricultores? 41. Responderam-lhe: Aniquilará os malvados como merecem, arrendará a vinha a outros vinhateiros, que, nas épocas próprias, lhe entreguem os frutos.

O povo de Israel constitui o emblema da parábola. Ele recebera do Pai celestial sucessivas revelações da verdade divina, por intermédio dos profetas e, afinal, por Moisés, no monte Sinai. Bem poucos têm sido, entretanto, com relação ao número total das criaturas que hão composto a Humanidade até aos nossos dias, os que as receberam como deviam e trilharam o caminho que elas lhes traçavam. Veio depois o Messias, o “herdeiro”, no dizer da parábola, ampliá-las e foi repelido e sacrificado, como os mensageiros que o precederam. Vem agora a revelação que todos deviam esperar, de acordo. com a promessa do Filho de Deus, para completar e dar início à fase de renovação do nosso planeta e de transformação moral da Humanidade, e ainda as mesmas hostilidades encontra.

Israel é a vinha que o Senhor plantou; a sebe de que a cercou representa os cuidados que tomou para que conservada fosse a lembrança do seu nome. O lagar é o emblema da provação, da expiação, da reencarnação, em suma. A torre seria a habitação indestrutível dos vinhateiros, se houveram cuidado devidamente da vinha. Os servos do dono desta são os profetas que repetidamente têm vindo fazer sentir aos homens que não estavam trilhando o caminho que lhes fora indicado.

As palavras dos vinhateiros: “Este é o herdeiro (referência ao Cristo), vamos, matemo-lo e a herança será nossa”, tiveram por fim mostrar a cegueira dos que, recusando dar a Deus o que é de Deus, repelindo todas as advertências que lhes foram feitas e ainda o são, pensavam nada terem que recear daquele a quem ofendiam e ainda ofendem com a ingratidão e o endurecimento que demonstram.

Os a quem se aplicavam essas palavras da parábola naturalmente estão, em parte ao menos, reencarnados na Terra. O que elas objetivavam mostrar se aplica a esses, como a nós outros. A geração daquele tempo não passou, conforme o disse Jesus, nestes termos: “Esta geração não passará sem que tenhais visto vir o filho do homem na sua glória”. (MATEUS, capítulo 24, versículo 34. LUCAS, capítulo 21, versículo 32.)

O povo judeu representa os vinhateiros, até à “morte” de Jesus. A partir de então, a vinha foi retirada do poder dos “maus” vinhateiros e dada a “outros”, Os cristãos substituíram os Judeus e foram até ao presente os novos vinhateiros. A vinha que o Senhor lhes arrendou é a Humanidade inteira e a sebe com que a cercou é a lei de amor, que o seu Filho bem-amado desceu a pregar pela palavra e pelo exemplo. O lagar, como sempre é a reencarnação, mediante a qual se extraem dos frutos da vinha, expremendo-se-lhes a parte material e perecível, o “espírito”, que se não altera e dura eternamente. Constituem-no, pois, as provas, as expiações, em suma todas as conjunturas difíceis por que passamos, para que os nossos Espíritos se depurem e desprendam da matéria, que é, para eles, o cadinho da purificação.

A torre, que é o nosso planeta, será a habitação indestrutível dos vinhateiros que houverem cuidado da vinha, o lugar seguro onde eles depositarão o suco da uva, quando lhe houverem dado, pelo trabalho, a propriedade e a pureza de que necessita para ficar guardado nela. Será, portanto, o nosso planeta, quando se houver tornado mundo superior.

Assim, com relação aos que receberam a vinha com todos os elementos para cultivá-la e fazê-la produzir e que continuam a ofender, imitando os que os antecederam, e a repelir os emissários do Senhor, que nos trazem precioso auxílio para o trabalho que nos incumbe, esta parábola mostra o prêmio e as penas que receberão, quando soar a hora de proceder-se à separação dos que mereçam permanecer no planeta depurado e os que hajam de ser dele expulsos como maus vinhateiros, Estes serão os que se houverem obstinado em repelir a nova explosão do amor do Pai, expressa na Revelação Espírita, o Consolador prometido pelo seu Filho, bem-amado, até ao momento em que Este, conforme também o prometeu, vier, na majestade do seu poder, trazer aos bons e diligentes trabalhadores da vinha o prêmio da sua presença gloriosa, assinalando ser chegado o tempo de figurar a Terra entre os orbes regenerados.

Por haver Ele dito que aquela geração não passaria. sem que houvesse visto o Filho do homem vir na sua glória, conclui-se que a mesma geração ainda revive na Terra, ao menos em parte, reencarnados muitos dos Espíritos que a compunham. Os novos vinhateiros, portanto, são ainda os mesmos e, assim, a parábola, dita com relação a eles, também a nós se aplica. Ora, as circunstâncias em que nos vemos são tais, que não podemos alimentar dúvidas quanto ao que nos espera, se não cuidarmos devotadamente da vinha do Senhor. Outro não virá a ser o nosso destino, senão o de nos vermos compelidos a encarnações em planetas inferiores à Terra na atualidade, depois de passarmos pelos tormentos e angústias de acerbos remorsos, na erraticidade, caso não tratemos de aceitar solícitos o auxílio que nos trazem os emissários do nosso Senhor e Mestre e de empregar os maiores esforços por libertar-nos de todos os vícios e paixões, que são os nossos únicos inimigos, para praticarmos, sobretudo pelo exemplo, a moral que Ele personifica.

Perseverando nesses esforços e multiplicando-os cada vez mais, é que devemos aguardar, e para ela concorrer, a transformação do nosso mundo, a sua elevação da condição em que ainda se encontra, de mundo material, para a de mundo fluídico, transformação que se operará, não de um momento para outro, porém pouco a pouco, gradativamente, através de fases assinaladas por esses fenômenos a que chamamos calamidades, flagelos. À medida que ela se for operando, os maus vinhateiros irão sendo expulsos e, completada que esteja, o Senhor, o dono da vinha implantará em todos os corações o seu reino. O Senhor é Deus, que reina nos corações puros.

Continuação da parábola da vinha e dos vinhateiros. Jesus pedra angular

42. Perguntou-lhes Jesus: Nunca lestes isto nas Escrituras: “A pedra que os edificadores recusaram se tornou pedra angular; obra foi isto do Senhor, maravilhosa aos nossos olhos”? 43. Eis por que declaro que o reino de Deus vos será tirado e dado a um povo que dele colha frutos. 44. Aquele que se deixar cair sobre essa pedra se despedaçará e aquele sobre quem ela cair ficará esmagado. 45. Ouvindo essas palavras, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus conheceram que era deles que Jesus falava. 46. Quiseram então apoderar-se deste, mas temeram o povo, que o considerava um profeta.

Jesus personifica a moral, a lei de amor que pregou aos homens, pela palavra e pelo exemplo; personifica a doutrina que ensinou e que, só? o véu da letra, é a fórmula das verdades eternas, doutrina que, como Ele próprio o disse, não é sua, mas daquele que o enviou. Ele é a pedra angular. Os que rejeitam a pedra que se lhes oferece, para a construção do edifício que os há de abrigar na eternidade, também rejeitam a pedra angular, a que os sustentará. Contra ela se despedaçarão.

Os Judeus repeliram a Jesus, o enviado, o ungido do Senhor. Despedaçaram-se de encontro a essa pedra, que havia e há de resistir aos séculos dos séculos. Não a rejeitemos, por nossa vez, porque a mesma sorte nos aguardará.

O Espiritismo não é a personificação do Cristo; é, porém, a expressão do seu pensamento, a continuação e a conclusão da sua obra. Tendo soado a hora em que o reinado do espírito que vivifica substituirá o da letra que mata, Jesus, depois de ter vindo entre os homens, lhes envia o Espírito da Verdade, por intermédio dos Espíritos do Senhor, missionários errantes e encarnados. Ele nos envia e enviará sucessivamente os servos do Pai de família.

Não nos choquemos contra essa pedra fundamental do edifício da nossa felicidade eterna.

Novos vinhateiros, quem quer que sejamos: judeus, gentios, cristãos, espíritas, a vinha que nos foi arrendada é toda a Humanidade. Façamo-la produzir frutos que, em cada nova estação, entreguemos aos servos que. o Senhor nos mandará, com o encargo de recebê-los.

O mandamento prescreve que nos amemos uns aos outros. Ensinemos pela palavra e pelo exemplo aos nossos irmãos que no progresso coletivo se encontra a condição do progresso pessoal de cada um. Trabalhemos pela união fraternal de todos os homens, por congregá-los em torno da bandeira cujo lema é amor e caridade”.

Agitemos, por sobre as nossas cabeças, o facho da luz espírita, a fim de que ela esclareça a Humanidade, acerca de suas origens, de seus fins, de seus destinos. Propaguemos, pela palavra e pelo exemplo, a lei de amor, os meios e os modos de praticá-la, material, moral e intelectualmente. Preparemos, dessa maneira, o advento do espírito e a vinda dos tempos preditos e prometidos em que, desprezando todos os mandamentos humanos, para somente obedecer aos mandamentos de Deus que, conforme o proclamou o seu Cristo, encerram toda a lei e os profetas, os homens serão adoradores do Pai em espírito e verdade; dos tempos em que, sendo todos um, pela comunhão dos pensamentos, dos corações e dos atos, todos se reunirão em nome de Jesus, que então estará entre todos, para praticar a adoração do Criador, pela prece e pela instrução em comum, sob a presidência do mais digno, do de maior mérito, em virtude do seu adiantamento moral e intelectual, o qual será designado por voto unânime, visto que então o Espírito Santo se achará com os que o escolherem, todos verdadeiros membros da Igreja do Cristo.

Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

 

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