Entrada de Jesus em Jerusalém.
Mercadores expulsos do templo. A casa do Senhor é casa de oração e não, pelo
tráfico, um covil de ladrões. Predição da ruína de Jerusalém
1.
Quando se aproximavam de Jerusalém, ao chegarem a Betfagé, perto do monte das
Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos, 2, dizendo-lhes: Ide a essa
aldeia que vos está defronte e lá encontrareis amarrada uma jumenta com o seu
jumentinho; desamarrai-a e trazei-mos. 3. Se alguém vos disser qualquer coisa,
respondei que o Senhor precisa deles e logo vo-los deixarão trazer. 4. Ora,
tudo isso aconteceu, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta: 5.
“Dizei à filha de Sião” (1): “Eis que vem a ti o teu rei, cheio de doçura,
montado numa jumenta e trazendo o jumentinho que está sob o jugo”. 6. Os
discípulos foram e fizeram como Jesus lhes ordenara. 7. Trouxeram a jumenta com
o jumentinho, cobriram-nos com suas vestes e o fizeram montar. 8. Da multidão
muitos então estenderam pelo caminho suas roupas, enquanto outros cortavam
ramos de árvores e os espalhavam pela estrada. 9. E a turba toda, tanto os que
iam à frente como os que vinham atrás, clamava: Hosana ao filho de Davi!
Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas! 10. Quando ele
entrou em Jerusalém, a cidade toda se abalou e perguntavam: Este quem é? 11. A
multidão respondia: É Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia. 12. Jesus entrou
no templo de Deus e expulsou todos os que ali vendiam e compravam; derrubou as
mesas dos cambistas e os bancos dos que vendiam pombas, 13, dizendo-lhes: Está
escrito: “Minha casa será chamada casa de oração”. E fizestes dela um covil de
ladrões. 14. Vieram então ao templo cegos e coxos e ele os curou. 15. Vendo,
porém, as maravilhas que ele operava e ouvindo os meninos que clamavam no
templo: Hosana ao filho de Davi, os príncipes dos sacerdotes e os escribas se
indignaram. 16, e lhe perguntaram: Ouves o que eles dizem? Respondeu-lhes
Jesus: Sim. E nunca lestes isto: “Da boca dos meninos e das criancinhas que
ainda mamam, tiraste perfeito louvor”. 17. E, deles se apartando, retirou-se da
cidade e foi para Betânia, onde passou a noite.
Aqui, como sempre, o
ensinamento do manso Nazareno é o mesmo: a humildade, a santa humildade que
purifica o coração, desarma os poderosos, lava de suas impurezas a alma e a
leva aos sacratíssimos pés do Altíssimo.
Nem pompa, nem luxo teve a
sua entrada em Jerusalém, que se tornou triunfal apenas pelo entusiasmo que
suas virtudes despertaram na multidão. Ele era sempre modesto e simples, como a
moral que pregava e exemplificava.
Expulsou do templo os vendilhões, dizendo: Está escrito: “Minha casa é casa de oração”, e a transformastes num covil de ladrões. Essas palavras, entretanto, parece que até hoje não chegaram aos ouvidos de muita gente, pois que inúmeros são ainda os que negociam, comprando e vendendo orações, perdões e indulgências, resgatando crimes a peso de ouro e fazendo das bênçãos do Senhor objeto de vil comércio.
Era este o pensamento que
aquelas palavras exprimiam: Desconfiai dos que vendem o perdão e as graças, dos
que exploram a credulidade e a ignorância, porquanto praticam roubo, mercando o
que lhes não pertence, o que não têm nem mesmo para si.
Os discípulos, em multidão,
clamavam: Hosana! Oh! que suas vozes,
abafando os queixumes da Terra, continuem a clamar homens ao Senhor, Àquele que
traz a paz aos humildes e aos pequeninos, que faz se curvem as frontes dos
soberbos e dos orgulhosos!
As palavras dos profetas
Isaías (capítulo 42, versículos 1, 2 e 11) e Zacarias (capítulo 9, versículo
9), lembradas pelo Evangelista, encerravam, sob o véu da letra, uma alusão à
graduação espírita de Jesus, nosso rei, que até nós desceu. Ë nosso rei, por
isso que, preposto por Deus, é o protetor e o governador do nosso planeta, a
cuja formação presidiu, encarregado do seu desenvolvimento, do seu progresso e
de conduzir à perfeição a Humanidade que o veio habitar.
A manifestação, de que o
Mestre foi objeto, tinha de se produzir. Se os homens a ela se houvessem
oposto, as mesmas pedras clamariam, isto é, os Espíritos que o cercavam teriam
feito se ouvissem vozes, entoando louvores ao “filho de Davi”, àquele que, aos
olhos dos homens, era o filho de Davi.
Versículos 10 e 11. A cidade
de Jerusalém se levantou em peso, comovida e surpresa, a perguntar: “Este quem
é ?“ E a multidão que o acompanhava dizia: Jesus, o profeta de Nazaré, na
Galiléia”. Jesus nunca disse que era Deus e seus discípulos só lhe atribuíram a
divindade, depois de finda a sua missão, tendo em vista os “milagres” por Ele
realizados e o fato “miraculoso” da sua ressurreição e das suas aparições em
seguida a esta, não admitindo que a outrem, senão somente a um Deus encarnado,
fosse possível realizar tais coisas.
Mas, na marcha do tempo e do
progresso humano, tudo tem a sua razão de ser, segundo a presciência e a
sabedoria infinitas de Deus.
A revelação nova, despojando
da letra o espírito, nos veio explicar, em espírito e verdade, quem é Jesus
Cristo.
Quanto ao tráfico, tendo por
objeto o reino de Deus, constitui uma impiedade. Os Judeus, como se sabe,
resgatavam suas faltas por meio do sacrifício de vítimas propiciatórias e os
mercadores lhes forneciam as vítimas, os vasos com perfumes, o que tudo era
trazido para o templo e aí vendido. Essa a origem daquele tráfico. Depois, o
negócio se ampliou e o templo, que era considerado a casa de Deus, se tornou
sede de toda sorte de transações comerciais. A Bolsa dos tempos atuais, com as
suas baixezas, teve um modelo no templo de Israel.
Entretanto, se atentarmos
bem nas palavras de Jesus quando dali expulsou os que negociavam, veremos
claramente que esse seu ato não obedeceu ao pensamento de defender a pureza de
um templo de pedra, apresentando-o como lugar verdadeiramente sagrado, em que
tais coisas constituíam uma ofensa à Divindade. Ele, que ensinara ser Deus
espírito, e só dever ser adorado em espírito e verdade, estaria em contradição
consigo mesmo, se expulsasse do templo os vendilhões, por ser ali a casa de
Deus. Cumpre também atentemos nas suas palavras: “Minha casa será chamada por
todos, etc.” Se aquela fosse a “sua” casa e a casa de Deus, Ele, dizendo isso,
se teria declarado Deus.
Aquele ato, pois, foi todo
simbólico e, à luz da Nova Revelação, o seu simbolismo se faz claramente
compreensível.
O mundo terreno, como todos
os que o Criador semeou pelo espaço infinito, é uma das inúmeras casas
existentes na infinita morada do Senhor do Universo e é também um templo, onde
a cada uma de suas criaturas corre o dever de adorá-lo na prática do amor, cuja
lei é a lei das leis. Casa, portanto, de oração, Ele o é igualmente, porquanto
orar é trabalhar na obra do progresso comum, trabalhando cada qual pelo seu
próprio progresso intelectual e moral.
Preposto pelo Pai à formação
e ao governo dessa casa, tem Jesus a devorá-lo, na frase do profeta, o zelo
dela e, tomado desse zelo, não obstante o seu amor ilimitado, ou, antes,
impelido por esse amor, não hesita em expulsar da casa que lhe foi confiada e
que, como tal é a “sua” casa, do templo onde só em espírito e verdade, conforme
Ele o ensinou e exemplificou, se deve adorar a Deus, isto é, praticando a
caridade, a fraternidade, a justiça e o perdão, aqueles que, mercadejando com
as coisas santas, a transformam em covil de ladrões.
Mercadejam com as coisas
santas os que, sendo Espíritos, como o são todos os homens, só prestam culto à
matéria; os que, em vez do amor, cultivam o ódio, em vez da caridade, praticam
a intolerância, movidos pelo egoísmo e pelo orgulho; os que, escravos de
paixões subalternas, se esforçam por escravizar ao erro os seus semelhantes, a
fim de melhor dominá-los; os que, em suma, se servem das faculdades
espirituais, que lhes foram outorgadas para se elevarem gradualmente e se
aproximarem do centro de toda a perfeição, empregando-as em rebaixar aquele que
é esse centro, para dele fazerem cúmplice de seus delitos e iniquidades.
Esses, os que transformam a
casa do Pai em covil de ladrões. Esses, portanto, os que daí serão expulsos,
chegado o momento em que da presença deles deva ser expurgado o templo, para
não continuarem a constituir-se pedra de escândalo aos que, redimidos pela dor,
se hajam tornado capazes da verdadeira oração, da oração do trabalho santificado
pelo amor e pela humildade.
E para onde serão expulsos
os que sejam encontrados por Jesus no templo a mercadejar com as coisas santas?
Para outras casas da morada infinita do Pai, casas que, como templos que também
são, outras tantas oficinas de trabalho são igualmente, mas onde o trabalho é
mais árduo, mais penoso, mais amargo, tão áspero e doloroso que dará aos que a
Ele se vejam compelidos a impressão aflitiva de haverem perdido um paraíso, de
terem sido expulsos de um éden, que tal se lhes afigurará o mundo donde foram
banidos.
É isso o que Jesus
simbolizou no fato, que os Evangelistas referiram, de ter expulsado do templo
de Jerusalém os mercadores que lá assentaram suas bancas. Não foi, decerto,
repetimos, o zelo por uma edificação material, onde Deus não habita, que o
levou a Ele, que pregava a adoração do Pai em espírito e verdade, a vergastar
com o látego de fogo da sua palavra de verdade os que ali comerciavam.
Expulsando-os de lá,
ensinava, sobretudo, aos homens a expulsar com energia as paixões e os vícios
de seus corações que, acima dos mundos, são os templos mais grandiosos que o
Senhor, Ele próprio, edificou para ser adorado por seus filhos, templos onde
passa a habitar eternamente, desde que neles só se encontrem virtudes os anjos
de sua glória.
Dessa expulsão podemos e
devemos concluir que tempo virá em que, praticando os homens a lei do amor, não
mais eles adorarão o Pai nem no monte, nem em Jerusalém, mas em espírito e
verdade, em que, por todas as nações, a Terra será chamada “casa de oração”.
Com a prudência e a
habilidade do oculista que, operando a catarata, prepara o cego para ver a luz,
os Espíritos do Senhor, como mensageiros do Espírito da Verdade, vêm e virão
levantar progressivamente o véu que rouba às vistas humanas a verdade, a fim de
que o que era secreto seja conhecido e o que estava oculto se torne patente.
Eles vêm e virão encaminhar os homens, mediante a prática da humildade, do
desinteresse, da justiça, do amor e da caridade, da renúncia de si mesmos, da
indulgência, do perdão e do olvido das ofensas e das injúrias, do devotamento
entre todos e por todos, para a verdadeira fraternidade, que só ela pode
estabelecer e estabelecerá entre todos, com sinceridade, a igualdade e a
liberdade, pela reciprocidade e pela solidariedade, efetivando desse modo a
regeneração humana, que o Mestre predisse e prometeu.
E, quando a unidade
fraternal estiver consumada, o reino de Deus estará estabelecido. Então, no
nosso planeta depurado (nova Jerusalém) aparecerá em todo o seu fulgor espírita
o nosso protetor e governador, Jesus nosso Mestre e nosso Rei, e reboará por
toda a parte o brado imenso que os homens, regenerados, tornados
verdadeiramente irmãos, soltarão em conjunto e em uníssono, como outrora a
multidão, quando da sua entrada em Jerusalém: Bendito o rei que vem em nome do
Senhor! E os Espíritos que houverem preparado e efetuado a regeneração, a
purificação da Humanidade, farão de novo ouvir o cântico dos anjos que
conduziram os pastores ao presepe de Belém: Glória
a Deus no mais alto dos céus e paz na Terra aos homens de boa-vontade!
(1) Jerusalém era edificada
no monte Sião.
Parábola da figueira que secou
18.
Pela manhã, ao voltar para a cidade, teve fome. 19, e, vendo uma figueira à
beira do caminho, dela se aproximou, mas não achou ali senão folhas. Disse-lhe
então: Nunca mais nasça fruto de ti. No mesmo instante a figueira secou. 20.
Vendo isso, os discípulos diziam entre si, tomados de assombro: Como secou num
instante! 21. Disse-lhes então Jesus: Em verdade vos digo, que, se tiverdes fé
e não hesitardes em vosso coração, não só fareis isto a uma figueira, mas ainda
se disserdes a este monte: Tira-te dai e lança-te no mar, assim se fará. 22. E
obtereis tudo o que com fé pedirdes na vossa prece.
Com a parábola da figueira
que secou, quis Jesus lembrar a seus discípulos e a quantos o seguiam estes
ensinamentos que já lhes dera: a árvore que não dá frutos é condenada; em tempo
algum deve o homem ser estéril; jamais deve deixar de dar frutos, trabalhando
sem cessar pelo seu progresso e pelo progresso de seus irmãos.
Perguntando-lhe os
discípulos, que já tinham a percepção das coisas espirituais: Como secou assim
num instante? O Mestre apenas respondeu: “A fé tudo pode”, o que equivalia a
dizer que a sua vontade forte fora a causa determinante do fato que os
surpreendia.
O exemplo, de molde a tocar
a imaginação dos que o seguiam, fazendo-lhes compreender a necessidade de não
serem estéreis em tempo algum, foi também de molde a lhes ensinar o poder e a
força da vontade, se apoiada na fé, ensino que era necessário aos seus
discípulos, para que fossem instrumentos simultaneamente dóceis e inconscientes
dos Espíritos do Senhor, que os assistiriam no desempenho de suas missões,
quando Ele, o Mestre, não mais na Terra estivesse.
A figueira secou
subitamente, por lhe terem sido retirados da seiva, a uma ordem mental de
Jesus, juntamente com a essência espiritual, que foi levada para outro ponto,
os fluídos que dão vida à planta e os fluídos necessários à vegetação material.
A parábola da figueira que
secou teve por objeto concitar o homem a utilizar a existência terrena,
progredindo, mediante a expiação e a reparação de suas faltas, e adverti-lo
também de que o Espírito culpado, que até à época em que deva operar-se a
separação do joio e do bom grão, permanecer surdo às inspirações de seus guias
e dos bons Espíritos, não mais dará frutos na Terra: será rechaçado para mundos
inferiores, correspondentes ao grau da sua culpabilidade e às necessidades do
seu progresso, do seu adiantamento.
Resposta de Jesus aos príncipes dos
sacerdotes, aos escribas e aos anciães do povo. Parábola dos dois filhos
23.
Tendo vindo ao templo e estando a ensinar, chegaram-se a ele os príncipes dos
sacerdotes e os anciães do povo e lhe perguntaram: Com que autoridade fazes
estas coisas e quem te deu este poder? 24. Respondeu Jesus: Também eu vos farei
uma pergunta e, se a ela responderdes, dir-vos-ei com que autoridade faço estas
coisas. 25. Donde era o batismo de João? do céu ou dos homens? Eles, porém,
discorriam assim entre si: 26. Se respondermos que era do céu, ele nos dirá:
Por que então não lhe destes crédito? Se respondermos que era dos homens,
teremos que temer o povo, pois que João era tido por todos como profeta. 27.
Responderam então a Jesus: Não sabemos. Replicou-lhes ele: Não vos direi
tampouco com que autoridade faço estas coisas. 28. Mas, que vos parece? Um
homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: Meu filho, vai
trabalhar hoje na minha vinha. 29. Ao que o filho respondeu: Não quero. Mais
tarde, entretanto, tocado de arrependimento, foi. 30. Dirigindo-se ao outro
filho, disse-lhe o homem a mesma coisa. Este respondeu: Eu vou, Senhor, e não
foi. 31. Qual dos dois fez a vontade ao pai? O primeiro, disseram eles.
Observou-lhes então Jesus: em verdade vos digo que os publicanos e as
meretrizes vos precederão no reino de Deus. 32. Porquanto, João veio a vós pelo
caminho da justiça e não o acreditastes, ao passo que os publicanos e as
meretrizes creram nele. Vós, nem mesmo depois de ver isso, fizestes penitência,
nem ficastes inclinados a crê-lo.
Os que interpelaram o Cristo
sobre a autoridade com que Ele fazia aquelas coisas e procedia da maneira que
todos viam, eram príncipes dos sacerdotes, escribas e fariseus, os quais, tendo
sido testemunhas dos atos de João, não se renderam à evidência. Não havendo
percebido em que fonte hauria Ele a sua força, ainda menos compreenderiam e
admitiriam o testemunho da sua palavra.
Se lhes respondera que o
poder lhe vinha de Deus, houvera-os provocado a apressar o termo da sua missão.
O que deixou transparecer claramente, evitando responder de modo direto à
pergunta que lhe fora feita.
Promessas realizáveis no
futuro e estímulo para o presente é o que se nos depara nestas palavras suas:
“Os publicanos e as meretrizes vos precederão no reino dos céus”. Foi como se
dissera: “Esses são filhos rebeldes, que tardam em ir trabalhar na vinha do Pai
de família, que só vão tardiamente, quando arrependidos, mas que vão; ao passo
que vós, orgulhosos, que destes na Igreja os primeiros passos, “que dissestes:
Vou, Senhor, mas ficastes parados, que haveis mesmo, muitas vezes,
retrogradado, chegareis tarde, muito tarde ao reino dos céus, pois que será
mister compreendais a vossa falta. Tereis, entretanto, que ir e ireis para a
vinha, tereis que trabalhar com ardor, a fim de recuperardes o tempo perdido.
Quando, porém, chegardes, os publicanos e os de má vida, que se arrependeram a
tempo, que cumpriram a sua tarefa, lá estarão desde muito à vossa espera, para
vos estenderem as mãos e vos ajudarem a transpor a entrada”.
Ouçam os príncipes dos
sacerdotes, os escribas e os fariseus dos nossos dias, que tiverem ouvidos de
ouvir.
Parábola da vinha e dos vinhateiros
33.
Ouvi outra parábola: Um homem pai de família havia que plantou uma vinha.
Cercou-a com uma sebe, cavou no interior um lagar, edificou uma torre, arrendou
a vinha a alguns agricultores e partiu para longe. 34. Aproximando-se a estação
dos frutos, mandou ele seus servos aos vinhateiros para receberem os frutos que
lhe cabiam. 35. Os vinhateiros, porém, agarraram os servos, feriram a um,
mataram a outro e a outro apedrejaram. 36. De novo o dono da vinha mandou
outros servos em maior número do que os primeiros e os vinhateiros os trataram
do mesmo modo. 37. Mandou por último seu próprio filho, dizendo: A meu filho
eles terão respeito. 38. Mas, ao vê-lo, os vinhateiros disseram entre si: Este
é o herdeiro; vamos, matemo-lo e ficaremos donos da sua herança. 39.
Agarraram-no, lançaram-no fora da vinha e o mataram. 40. Ora, quando o dono da
vinha vier, que fará àqueles agricultores? 41. Responderam-lhe: Aniquilará os
malvados como merecem, arrendará a vinha a outros vinhateiros, que, nas épocas
próprias, lhe entreguem os frutos.
O povo de Israel constitui o
emblema da parábola. Ele recebera do Pai celestial sucessivas revelações da
verdade divina, por intermédio dos profetas e, afinal, por Moisés, no monte
Sinai. Bem poucos têm sido, entretanto, com relação ao número total das
criaturas que hão composto a Humanidade até aos nossos dias, os que as
receberam como deviam e trilharam o caminho que elas lhes traçavam. Veio depois
o Messias, o “herdeiro”, no dizer da parábola, ampliá-las e foi repelido e
sacrificado, como os mensageiros que o precederam. Vem agora a revelação que
todos deviam esperar, de acordo. com a promessa do Filho de Deus, para
completar e dar início à fase de renovação do nosso planeta e de transformação
moral da Humanidade, e ainda as mesmas hostilidades encontra.
Israel é a vinha que o
Senhor plantou; a sebe de que a cercou representa os cuidados que tomou para
que conservada fosse a lembrança do seu nome. O lagar é o emblema da provação,
da expiação, da reencarnação, em suma. A torre seria a habitação indestrutível
dos vinhateiros, se houveram cuidado devidamente da vinha. Os servos do dono
desta são os profetas que repetidamente têm vindo fazer sentir aos homens que
não estavam trilhando o caminho que lhes fora indicado.
As palavras dos vinhateiros:
“Este é o herdeiro (referência ao Cristo), vamos, matemo-lo e a herança será
nossa”, tiveram por fim mostrar a cegueira dos que, recusando dar a Deus o que
é de Deus, repelindo todas as advertências que lhes foram feitas e ainda o são,
pensavam nada terem que recear daquele a quem ofendiam e ainda ofendem com a
ingratidão e o endurecimento que demonstram.
Os a quem se aplicavam essas
palavras da parábola naturalmente estão, em parte ao menos, reencarnados na
Terra. O que elas objetivavam mostrar se aplica a esses, como a nós outros. A
geração daquele tempo não passou, conforme o disse Jesus, nestes termos: “Esta
geração não passará sem que tenhais visto vir o filho do homem na sua glória”.
(MATEUS, capítulo 24, versículo 34. LUCAS, capítulo 21, versículo 32.)
O povo judeu representa os
vinhateiros, até à “morte” de Jesus. A partir de então, a vinha foi retirada do
poder dos “maus” vinhateiros e dada a “outros”, Os cristãos substituíram os
Judeus e foram até ao presente os novos vinhateiros. A vinha que o Senhor lhes
arrendou é a Humanidade inteira e a sebe com que a cercou é a lei de amor, que
o seu Filho bem-amado desceu a pregar pela palavra e pelo exemplo. O lagar,
como sempre é a reencarnação, mediante a qual se extraem dos frutos da vinha,
expremendo-se-lhes a parte material e perecível, o “espírito”, que se não
altera e dura eternamente. Constituem-no, pois, as provas, as expiações, em
suma todas as conjunturas difíceis por que passamos, para que os nossos
Espíritos se depurem e desprendam da matéria, que é, para eles, o cadinho da
purificação.
A torre, que é o nosso
planeta, será a habitação indestrutível dos vinhateiros que houverem cuidado da
vinha, o lugar seguro onde eles depositarão o suco da uva, quando lhe houverem
dado, pelo trabalho, a propriedade e a pureza de que necessita para ficar guardado
nela. Será, portanto, o nosso planeta, quando se houver tornado mundo superior.
Assim, com relação aos que
receberam a vinha com todos os elementos para cultivá-la e fazê-la produzir e
que continuam a ofender, imitando os que os antecederam, e a repelir os
emissários do Senhor, que nos trazem precioso auxílio para o trabalho que nos
incumbe, esta parábola mostra o prêmio e as penas que receberão, quando soar a
hora de proceder-se à separação dos que mereçam permanecer no planeta depurado
e os que hajam de ser dele expulsos como maus vinhateiros, Estes serão os que
se houverem obstinado em repelir a nova explosão do amor do Pai, expressa na
Revelação Espírita, o Consolador prometido pelo seu Filho, bem-amado, até ao
momento em que Este, conforme também o prometeu, vier, na majestade do seu
poder, trazer aos bons e diligentes trabalhadores da vinha o prêmio da sua
presença gloriosa, assinalando ser chegado o tempo de figurar a Terra entre os
orbes regenerados.
Por haver Ele dito que
aquela geração não passaria. sem que houvesse visto o Filho do homem vir na sua
glória, conclui-se que a mesma geração ainda revive na Terra, ao menos em
parte, reencarnados muitos dos Espíritos que a compunham. Os novos vinhateiros,
portanto, são ainda os mesmos e, assim, a parábola, dita com relação a eles,
também a nós se aplica. Ora, as circunstâncias em que nos vemos são tais, que
não podemos alimentar dúvidas quanto ao que nos espera, se não cuidarmos
devotadamente da vinha do Senhor. Outro não virá a ser o nosso destino, senão o
de nos vermos compelidos a encarnações em planetas inferiores à Terra na
atualidade, depois de passarmos pelos tormentos e angústias de acerbos
remorsos, na erraticidade, caso não tratemos de aceitar solícitos o auxílio que
nos trazem os emissários do nosso Senhor e Mestre e de empregar os maiores
esforços por libertar-nos de todos os vícios e paixões, que são os nossos
únicos inimigos, para praticarmos, sobretudo pelo exemplo, a moral que Ele
personifica.
Perseverando nesses esforços
e multiplicando-os cada vez mais, é que devemos aguardar, e para ela concorrer,
a transformação do nosso mundo, a sua elevação da condição em que ainda se
encontra, de mundo material, para a de mundo fluídico, transformação que se
operará, não de um momento para outro, porém pouco a pouco, gradativamente,
através de fases assinaladas por esses fenômenos a que chamamos calamidades,
flagelos. À medida que ela se for operando, os maus vinhateiros irão sendo
expulsos e, completada que esteja, o Senhor, o dono da vinha implantará em
todos os corações o seu reino. O Senhor é Deus, que reina nos corações puros.
Continuação da parábola da vinha e dos
vinhateiros. Jesus pedra angular
42.
Perguntou-lhes Jesus: Nunca lestes isto nas Escrituras: “A pedra que os
edificadores recusaram se tornou pedra angular; obra foi isto do Senhor,
maravilhosa aos nossos olhos”? 43. Eis por que declaro que o reino de Deus vos
será tirado e dado a um povo que dele colha frutos. 44. Aquele que se deixar
cair sobre essa pedra se despedaçará e aquele sobre quem ela cair ficará
esmagado. 45. Ouvindo essas palavras, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus
conheceram que era deles que Jesus falava. 46. Quiseram então apoderar-se
deste, mas temeram o povo, que o considerava um profeta.
Jesus personifica a moral, a
lei de amor que pregou aos homens, pela palavra e pelo exemplo; personifica a
doutrina que ensinou e que, só? o véu da letra, é a fórmula das verdades
eternas, doutrina que, como Ele próprio o disse, não é sua, mas daquele que o
enviou. Ele é a pedra angular. Os que rejeitam a pedra que se lhes oferece,
para a construção do edifício que os há de abrigar na eternidade, também
rejeitam a pedra angular, a que os sustentará. Contra ela se despedaçarão.
Os Judeus repeliram a Jesus,
o enviado, o ungido do Senhor. Despedaçaram-se de encontro a essa pedra, que
havia e há de resistir aos séculos dos séculos. Não a rejeitemos, por nossa
vez, porque a mesma sorte nos aguardará.
O Espiritismo não é a
personificação do Cristo; é, porém, a expressão do seu pensamento, a
continuação e a conclusão da sua obra. Tendo soado a hora em que o reinado do
espírito que vivifica substituirá o da letra que mata, Jesus, depois de ter
vindo entre os homens, lhes envia o Espírito da Verdade, por intermédio dos
Espíritos do Senhor, missionários errantes e encarnados. Ele nos envia e
enviará sucessivamente os servos do Pai de família.
Não nos choquemos contra
essa pedra fundamental do edifício da nossa felicidade eterna.
Novos vinhateiros, quem quer
que sejamos: judeus, gentios, cristãos, espíritas, a vinha que nos foi
arrendada é toda a Humanidade. Façamo-la produzir frutos que, em cada nova
estação, entreguemos aos servos que. o Senhor nos mandará, com o encargo de
recebê-los.
O mandamento prescreve que
nos amemos uns aos outros. Ensinemos pela palavra e pelo exemplo aos nossos
irmãos que no progresso coletivo se encontra a condição do progresso pessoal de
cada um. Trabalhemos pela união fraternal de todos os homens, por congregá-los
em torno da bandeira cujo lema é amor e caridade”.
Agitemos, por sobre as
nossas cabeças, o facho da luz espírita, a fim de que ela esclareça a
Humanidade, acerca de suas origens, de seus fins, de seus destinos.
Propaguemos, pela palavra e pelo exemplo, a lei de amor, os meios e os modos de
praticá-la, material, moral e intelectualmente. Preparemos, dessa maneira, o
advento do espírito e a vinda dos tempos preditos e prometidos em que,
desprezando todos os mandamentos humanos, para somente obedecer aos mandamentos
de Deus que, conforme o proclamou o seu Cristo, encerram toda a lei e os
profetas, os homens serão adoradores do Pai em espírito e verdade; dos tempos
em que, sendo todos um, pela comunhão dos pensamentos, dos corações e dos atos,
todos se reunirão em nome de Jesus, que então estará entre todos, para praticar
a adoração do Criador, pela prece e pela instrução em comum, sob a presidência
do mais digno, do de maior mérito, em virtude do seu adiantamento moral e
intelectual, o qual será designado por voto unânime, visto que então o Espírito
Santo se achará com os que o escolherem, todos verdadeiros membros da Igreja do
Cristo.
Elucidações evangélicas. FEB
(e-book).
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