Recusa do prodígio pedido pelos Fariseus
e Saduceus
1.
Os fariseus e saduceus se acercaram dele para o tentar e pediram lhes mostrasse
um sinal no céu. 2. Ele lhes respondeu: Ao cair da tarde dizeis: Fará bom
tempo, amanhã, porque o céu está avermelhado; 3, e ao amanhecer dizeis: O dia
hoje será tempestuoso, pois o céu está de um vermelho sombrio. 4. Sabeis
portanto reconhecer o que pressagia o aspecto do céu e não podeis reconhecer os
sinais dos tempos? Esta geração má e adúltera pede um sinal; nenhum lhe será
dado senão o do profeta Jonas. E, deixando-os, se foi embora.
Por “fariseus” e “saduceus”
os Apóstolos designavam os incrédulos. Eram tais os que foram ter com Jesus,
para o tentarem, isto é, a fim de o apanharem em falta, pois não reconheciam
poder no Mestre para fazer o que lhe pediam. Atualmente, a mesma coisa se
verifica. Não faltam os que exigem se lhes faculte observar prodígios, como
condição para que creiam. Entretanto, se fossem atendidos, não se dariam por
satisfeitos: tratariam de explicar os fatos de um modo que se lhes afiguraria
racional, do ponto de vista em que se colocam, e reclamariam “outra coisa”.
Orgulhosos, cegos, obstinados, rebeldes, fariam como presentemente fazem os
médicos, que, diante de uma cura que consideraram impossível, mas que os
Espíritos efetuaram, dizem que tal se verificou, porque a enfermidade não
precisava de remédio para desaparecer.
Jesus, por isso, respondeu
aos fariseus e saduceus que “nenhum outro sinal seria dado àquela geração má e
adúltera, senão o do profeta Jonas”.
Fermento dos Fariseus e dos Saduceus
5.
Seus discípulos, tendo passado para a outra margem do lago, se esqueceram de
levar pães. 6, Jesus lhes disse: Vede bem, preservai-vOS do fermento dos
fariseus e dos saduceus. 7. Ouvindo isso, os discípulos pensaram de si para si:
Ë porque não trouxemos pães. 8. Conhecendo-lhes o pensamento, Jesus lhes disse:
Homens de pouca fé, por que haveis de estar pensando que vos falei por não
terdes trazido pães? 9. Ainda não compreendeis e não vos lembrais dos cinco
pães para cinco mil homens e de quantos cestos enchestes com o que sobrou? 10.
Nem dos sete pães para quatro mil homens e dos cestos que levastes? 11. Como
pois não compreendeis que não vos falei de pão quando disse: Preservai-vos do
fermento dos fariseus e dos saduceus? 12. Os discípulos então compreenderam que
ele não lhes dissera que se preservassem do fermento dos pães e sim da doutrina
dos fariseus e dos saduceus.
Nesses conselhos que dava a
seus discípulos, Jesus falava para aquela época e para o futuro, no qual a sua
presciência lhe facultava ver o que sucederia.
Na interpretação que lhes deram os discípulos, encontramos a explicação precisa dessas palavras do divino Mestre. Constituem o fermento dos fariseus, do qual devemos preservar-nos, como aconselhado era aos discípulos, além das inspirações do orgulho, toda submissão covarde ao poder, o que significa a toda doutrina que nos queiram impor, desde que seja contrária à que o Cristo pregou e exemplificou, como o é, atualmente, a dos ortodoxos, católicos e protestantes, a qual, na maioria dos casos, de modo algum se conforma com a doutrina cristã, estando mesmo, as mais das vezes, em flagrante antagonismo com esta.
Sim, devemos preservar-nos
de todas as inspirações do orgulho e de toda submissão covarde ao poder, sempre
que este tente exercer qualquer ação sobre as nossas consciências, ou sobre os
nossos atos morais. Demos a César o que é de César, mas não esqueçamos que os
césares estão submetidos a Deus e que só este tem direito sobre todas as
criaturas.
Espíritas convictos, que,
por efeito do estudo, da meditação e dos ditames da nossa razão livre,
aceitamos a revelação nova, que vem concluir a obra do Cristianismo do Cristo,
obra de regeneração da Humanidade, por meio da luz e da verdade, pela
implantação da justiça, do amor, da caridade e da fraternidade universal, na
Terra, devemos resistir, com respeito, mas também com firmeza, a qualquer
oposição, venha de onde vier, visando impedir que executem a vontade de Deus os
bons Espíritos que se comunicam com os homens, como portadores daquela
revelação.
Temos um só Mestre, um único
Senhor e somos todos irmãos. Convencidos e conscientes disto, propaguemos a
verdade evangélica e, firmados nela, defendamos o nosso livre-arbítrio, a
liberdade da nossa consciência.
Palavras de Jesus confirmativas da
reencarnação. Alusão de relações mediúnicas que podem existir entre os homens e
as potências espirituais. Missão de Pedro na igreja do Cristo. Verdadeira
confissão
(Marcos,
8:27-30; Lucas, 9:18-21)
13.
Chegando às cercanias de Cesaréia de Filipe Jesus perguntou a seus discípulos:
Que é o que os homens dizem do filho do homem? 14. Eles responderam: Uns dizem
que é João Batista; outros que é Elias; outros, que é Jeremias ou um dos
profetas. 15. Jesus lhes perguntou: E vós quem dizeis que eu sou? 16. Simão
Pedro respondeu: és o Cristo, filho do Deus vivo. 17. Jesus respondeu:
Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue
que Isso te revelaram, mas meu pai que está nos céus. 18. E eu te digo que és
Pedro e que sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e contra ela não
prevalecerão as portas do inferno. 19. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; e
tudo o que ligares na Terra será também ligado no céu e o que desligares na
Terra será desligado nos céus. 20. Ordenou em seguida aos discípulos que a
ninguém dissessem ser ele Jesus o Cristo.
Estas passagens têm um duplo
fim, que muito importantes as tornam: lembrar aos homens o princípio da
reencarnação e não deixar esquecessem as relações mediúnicas que podem existir
entre eles e as entidades espirituais. Jesus firmava assim o que mais tarde
viria a ser posto em evidência, explicado e desenvolvido, em espírito e
verdade, pela Nova Revelação.
Com efeito, as perguntas
formuladas pelo Divino Mestre sobre o que pensavam dele as gentes e as
respostas que lhe foram dadas mostram não só que a opinião geral lhe atribuía
uma origem espiritual anterior àquela sua vida terrena, vendo nesta uma
existência nova num novo corpo, o que envolvia a ideia da preexistência da alma
e da reencarnação, como também que os hebreus sabiam, embora confusamente,
pelas tradições conservadas, que o homem pode voltar muitas vezes à Terra, para
concluir uma obra começada e interrompida pela morte humana.
Ora, não contestando a
opinião segundo a qual Ele podia ser a reencarnação de um Espírito, como o de
Elias, João, ou outro, Jesus confirmou a hipótese do renascimento, perguntando:
E vós quem dizeis que eu sou? hipótese que também confirmou no seu colóquio com
Nicodemos.
“Se a crença de reviver na
Terra, diz o autor da Divina Epopeia, sob o nome de ressurreição, a que hoje,
pela revelação nova, chamamos reencarnação, fosse um erro, Jesus, o verbo de
Deus, a luz verdadeira que alumia a todo que vem a este mundo, não teria
deixado de combatê-la, como combateu tantas outras. Ao contrário, Ele a
sancionou, proclamando-a como uma condição necessária e indispensável para o
progresso e adiantamento da Humanidade”.
Não
te admires de eu dizer: é necessário que torneis a nascer,
observou o divino Mestre a Nicodemos (Evangelho de João, capítulo 3, versículo
7). Deste modo ratificou Ele, conforme acima dissemos, a lei natural do
renascimento, da reencarnação, apresentando-a como uma realidade e realidade
ante a qual se dissipam todas as dúvidas oriundas dos absurdos que, sob a capa
do milagre, pretendem os ortodoxos que admitamos. A reencarnação, pois, o
renascimento, a obrigação que tem o Espírito de reviver, como meio de chegar ao
estado de pureza integral, ideia que já se continha na revelação hebraica, que
constituiu princípio fundamental na revelação messiânica, mas que não foi
apreendida por virtude das interpretações literais a que estiveram sujeitas
essas revelações, constitui hoje, pela revelação nova, que as vem explicar em
espírito, uma verdade axiomática, expressão fiel do pensamento do Mestre
Divino.
E
vós quem dizeis que eu sou? perguntou Jesus a Pedro, que lhe
respondeu: És o Cristo, Filho do Deus vivo, isto é, o Enviado do Senhor.
Retrucando, Jesus lhe fez ver que o conhecimento dessa verdade lhe fora dado
por uma revelação vinda do Pai que está nos céus.
De fato, como podia Pedro
saber, para o afirmar com tanta segurança e firmeza, que Jesus era o Enviado de
Deus, se tal coisa lhe não houvera sido revelada? E de que modo pudera ter tido
essa revelação, a não ser por uma inspiração mediúnica? Ë claro que, na
ocasião, ele foi apenas o instrumento que serviu para a revelação de uma
verdade, ou de um médium falante.
Logo, podemos e devemos
concluir não só que Pedro era médium, como que já então se davam essas
revelações a que a Doutrina Espírita chama mediúnicas.
Efetivamente, dotado de uma
organização física bastante maleável para se prestar a todas as influências
mediúnicas, Espírito intelectualmente mais adiantado do que os dos outros
apóstolos, Pedro era, dentre estes, o que possuía em maior extensão e poder os
dons da mediunidade. Era, pois, o que mais se prestava a servir de pedra
fundamental para a construção da Igreja do Cristo: “E eu te digo que és Pedro e
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.
Quer isto dizer que sobre a
mediunidade é que assenta essa Igreja, que assim repousa em alicerce
inabalável, porquanto a faculdade que aquele apóstolo possuía havia de
espalhar-se, como realmente aconteceu e está acontecendo, mais do que nunca,
nos tempos atuais, sem que o menor dano lhe possam causar os ódios sectaristas,
nem os interesses de qualquer natureza: “contra ela não prevalecerão as portas do
inferno”.
Assim sendo, é claro que
todos os verdadeiros espíritas e, sobretudo, os médiuns sinceros e humildes
servirão para aquela construção, trazendo-lhe cada um a sua pedra.
E, de tal modo, eles
poderão, como Pedro, espalhando de mais em mais, em torno de si, a luz que
forem recebendo, ligar também e desligar na Terra, certos de que o Senhor
ligará e desligará no céu.
Não quer isso dizer, está
visto, que o homem, quem quer que ele seja, tenha o poder de absolver ou
condenar, proferindo sentenças das quais não haja apelação, nem mesmo para
Deus. Quer unicamente significar que, conservando a integridade da alma e a
pureza do coração, obtendo, em consequência e cada vez mais, as luzes que
trazem os bons Espíritos, se tornarão também cada vez mais aptos a julgar das
coisas da Terra e das coisas do céu, a dirigir pelo bom caminho os outros
homens, a distinguir com segurança os que se desviam e os que marcham fiéis e a
poder fazer-lhes sentir isso, sem perigo de erro.
E não se argumente tampouco
com as palavras de Jesus declarando Pedro a pedra fundamental da sua Igreja,
para sustentar-se a infalibilidade do papa, chamado o sucessor daquele apóstolo
e o vigário exclusivo do Cristo na Terra.
Aquelas palavras foram
especialmente dirigidas a Pedro que, Espírito adiantado e devotado e, além
disso, excelente instrumento mediúnico, conforme já dissemos, dispunha, por ser
da vontade de Jesus e graças aos Espíritos superiores que o assistiam, de uma
perspicácia, que não podemos avaliar com exatidão. Sua visão penetrante descia
ao fundo das consciências, sondava os mais íntimos pensamentos e constante era
a sua comunicação com os emissários divinos. Ora, achando-se em tais condições,
ao seu alcance estava ligar e desligar na Terra (o que também se pode traduzir
por admitir ou não na Igreja do Cristo que, em sua origem, era simples reunião
de fiéis, os que se propunham a ingressar nela), visto que não fazia mais do
que pronunciar, em voz humana, os decretos que espiriticamente lhe eram
transmitidos.
Digam-nos, porém: quantos
Pedros já se contaram entre os que se hão instituído seus sucessores?
Se os dons, as virtudes e os
demais predicados por que Pedro se distinguia entre os discípulos não eram
inerentes à sua individualidade, mas ao encargo que o Mestre lhe conferiu de
pastorear o pequeno rebanho que formava a primitiva Igreja Cristã, nem só
nenhuma razão haveria para que fosse ele o escolhido e não outro, nem com os
que se disseram seus sucessores se teriam dado os fatos que a história dos
Papas e dos Concílios registra, fatos que mais ou menos continuam a
reproduzir-se e que explicam o desprestígio da Igreja de Roma, que tende a
desaparecer.
Não veem os homens do
Silabo, dos dogmas impostos pelo terror das fogueiras e dos martírios que, numa
época como a atual, em que a razão se emancipa de todas as tutelas, já não é
possível a imposição da fé cega?
Não, as coisas vão mudar.
Passado o tempo das fogueiras e dos apavorantes anátemas, despojado o Chefe da
Igreja do poder temporal, que mal e indevidamente exercia, porque o Mestre
disse: Regnum meum non est in hoc mundo (1), o prestígio, o poder, o reinado
daquele que queira ser ou haja de ser sucessor de Pedro somente poderão
demonstrar-se pela caridade, pela humildade, pelo desinteresse, pela mansidão e
abnegação, que foram as armas com que o Manso Cordeiro de Deus apeou potentados
e derrocou tronos de déspotas, a todos se sobrepondo pela exemplificação
daquelas virtudes sublimes. Mesmo, porém, que um homem aparecesse revestido de
tais virtudes, ainda assim não poderia, só por isso, considerar-se sucessor de
Pedro, que não mostrou apenas possuí-las, mas se distinguiu entre os demais
discípulos, muito embora estes também fossem exemplificadores dos ensinamentos
de Jesus.
Não, Pedro não teve, nem tem
sucessor na Terra. Quem pudera ou pode haver sucedido a esse altíssimo
Espírito, que preside ao progredir da fé, ao desenvolvimento da inteligência,
ao cumprimento das promessas de Jesus? Ele continuou e continua no desempenho
da sua missão espiritual, depois de haver desempenhado a sua missão humana.
Desempenhando esta última, deu princípio, com o concurso dos outros apóstolos e
dos discípulos que se lhe associaram, à edificação da Igreja do Cristo e,
desempenhando a sua missão espiritual, prossegue na execução desta obra e a concluirá.
E as portas do inferno não
prevalecerão contra ela, porque, sendo a Igreja do Cristo o conjunto dos filhos
do Senhor, não será atingido pelo sofrimento e pela expiação aquele que, tendo
sabido manter a integridade do coração e da alma, se esforçou por cumprir,
segundo a lei divina, todas as suas obrigações, todos os seus deveres, para com
Deus e para com os homens.
Pedro foi um discípulo
enérgico, devotado, fiel até à morte. Quem quer que construa sobre tal base não
terá que temer as portas do inferno.
Dar-te-ei
as chaves do reino dos céus, isto é: o conhecimento exato dos meios
de chegar à perfeição moral. Essas chaves a Igreja de Roma desprezou e deixou
se perdessem. De modo algum, portanto, pode o seu chefe considerar-se sucessor
do grande apóstolo. Detenha-se ela no caminho errado por onde funestamente
enveredou, volte ao verdadeiro caminho e continue a percorrê-lo do ponto até
onde chegaram Pedro e os apóstolos, os discípulos e seus primeiros imitadores,
que achará a Igreja do Cristo cuja edificação eles começaram e que o Espírito
da Verdade vem, progressivamente, ampliar e concluir.
Compreenda ela o sentido
verdadeiro das palavras que Jesus dirigiu a Pedro e aos Apóstolos, sentido que
espiriticamente é hoje revelado pelos enviados do Mestre Divino, e, então, como
os verdadeiros espíritas, também trabalhará, inspirada pelo Espírito da
Verdade, na edificação da Igreja do Cristo. Só então poderá, realmente, ligar e
desligar o que, bem entendido, não quer dizer absolver ou condenar seus irmãos mas
tornar-se, pela integridade do coração e da alma, pela obtenção das luzes dos
bons Espíritos, atraindo-os por aquela integridade, cada vez mais apta a julgar
das coisas da Terra e das coisas do céu, a dirigir os homens pelo bom caminho,
que é o dos mandamentos que Jesus declarou encerrarem toda a lei e os profetas,
e a distinguir com exatidão os que se desviam e os que marcham fiéis pela senda
que Ele traçou.
(1) Ao nosso ver, a privação
do poder temporal, se foi, individualmente, um mal, ou uma perda sensível para
o Sumo Pontífice, não o foi para a Igreja de que é ele o chefe, visto que
redundou no desaparecimento do que melhor provava não ser essa Igreja a do
Cristo. Não sendo deste mundo o reino do Filho de Deus, sua não podia ser a
Igreja cujo reinado era todo deste mundo. O ter sido despojado daquele poder,
valeu, pois. para a Igreja Romana por uma como galvanização. Graças a isso é
que ainda pôde ostentar a aparência de prestígio de que gozou nestes últimos
tempos. Obtendo, como recentemente obteve, em 1929, que lhe restituíssem o
poder temporal é que ela decretou a sua própria e definitiva condenação,
volvendo a oferecer ao mundo, quando no Espiritismo ressurge o verdadeiro
Cristianismo, a demonstração iniludível de que nela não está o espírito da Doutrina
Cristã, de que ela é a antítese da Igreja Universal do Cristo.
Predição. Palavras de Pedro. Resposta de
Jesus
(Marcos,
8:31-33; Lucas, 9:22)
21.
Em seguida começou Jesus a declarar aos discípulos ser preciso que Ele fosse a
Jerusalém, que aí sofresse muito dos anciães, dos escribas e dos príncipes dos
sacerdotes, que aí fosse morto e ressuscitasse ao terceiro dia. 22. Pedro,
chamando-o de parte, se pôs a repreendê-lo, dizendo: Tal não aconteça, Senhor;
nada disso te sucederá. 23. Jesus, voltando-se para Pedro, lhe disse: Afasta-te
de mim, Satanás, tu me és motivo de escândalo, pois que não tens o gosto das
coisas de Deus e sim o das coisas dos homens.
Tendo Jesus descido à Terra
para dar aos homens a maior prova, o maior exemplo de amor e de abnegação que
eles podiam receber, cumpria-lhe preparar seus discípulos para aquele ato
importantíssimo da sua missão, a fim de que, aos olhos de todos, na época, como
no futuro, ficasse demonstrado que sua “morte” e “crucificação” estavam
previstas, não foram acontecimentos puramente humanos.
Servindo-se das expressões ser
morto, ressuscitar —. o Cristo usava de uma linguagem que os homens pudessem
compreender. Apresentando o seu corpo a aparência da corporeidade humana,
importava-lhe passar pela metamorfose da morte. Depois, deixando no
esquecimento o corpo de carne de que parecia revestido, cumpria-lhe mostrar-se
aos homens, para que ficasse comprovada a sua identidade. Era, portanto,
preciso que os homens fossem prevenidos do acontecimento que sobreviria, a fim
de lhe apreenderem a razão, porquanto os próprios discípulos não teriam
compreendido o fato do reaparecimento do Mestre, se o não houvessem considerado
do ponto de vista da ressurreição, no sentido que davam a este termo.
Para os hebreus, a
ressurreição consistia na volta da alma a um corpo de carne, a um corpo
material, sem indagarem se se tratava sempre do mesmo corpo, sem inquirirem da
origem, nem do fim de tal corpo. Mas, tanto os discípulos, como, em geral, os
hebreus compreendiam a ressurreição que Jesus anunciara como tendo que ser a
volta de sua alma ao mesmo corpo. Essa a razão por que Ele permitiu a Tomé que
pusesse a mão na abertura que lhe haviam feito de um lado e os dedos nas chagas
que os cravos lhe abriram nas mãos e nos pés, retomando, para esse efeito, o
seu corpo que, como sabemos, era fluídico, de natureza perispirítica, com a
tangibilidade, a consistência, a aparência de um corpo humano.
Conseguintemente, sendo tal
a natureza do corpo de Jesus, não houve, com relação a Ele, nem morte, nem
ressurreição, no sentido que então era dado a estas expressões. Houve apenas
aparência de uma e outra coisa.
Foram todos morais os
sofrimentos que o Mestre suportou na cruz. O que das chagas lhe saía era uma
combinação puramente fluídica, com a aparência de sangue.
Sem dúvida, estas revelações
são de molde a alarmar, como de fato têm alarmado, muitas criaturas aferradas
às torturas físicas do grande modelo que nos foi enviado. Porém, forçoso é
vejamos em Jesus somente um Espírito, Espírito superior a todos os outros que
concorreram para a formação do nosso planeta e cujos sofrimentos, portanto,
foram todos morais, decorrentes do amor que consagrava e consagra a seus
protegidos, por vê-los tão endurecidos. Dizemos seus protegidos —porque Ele é o
nosso protetor, o governador do nosso planeta. Nessa qualidade, experimentava o
sofrimento que causa a uma mãe terna e carinhosa o ter que punir o filho
bem-amado.
Nos últimos momentos do seu
sacrifício na cruz, limitou-se a dizer em voz alta: Tudo está consumado, eis-me
aqui, Senhor, para mostrar aos homens, por meio de um exemplo prático, a
resignação, a obediência e a submissão com que se devem eles comportar, diante
das vontades do soberano Senhor. O brado que soltou do cimo do madeiro não foi
tampouco um brado de sofrimento. Deixando-o escapar no momento de “render a
alma” (está claro que apenas no entender dos homens), fê-lo com o intuito de
lhes chamar a atenção para aquele instante supremo e lhes fazer compreender,
por uma expansão de alegria e não de angústia, a felicidade do Espírito que se
desprende do seu grosseiro invólucro, para se elevar ao seu Criador.
Não faltarão os que digam:
“Que mérito era o dele em se submeter a tais torturas, se não experimentava os
sofrimentos físicos, uma vez que apenas aparente era o seu corpo.” Não
compreendem os que assim falam, que os sofrimentos morais são de intensidade
infinitamente maior do que os sofrimentos físicos; que o sofrimento, na
essência espiritual, é mais forte e mais vivo do que o possam ser, para os nossos
corpos, quaisquer sofrimentos humanos, ainda os mais agudos. Todos conhecemos
desgostos, mágoas e torturas morais superiores a qualquer dor física, tanto que
de bom grado os trocaríamos por dores desta natureza.
Jesus sofreu, sim, sofreu
cruelmente, não na sua “carne”, mas em seu “espírito”. Cada pancada do martelo
nos cravos que lhe traspassavam as mãos e os pés fluídicos, mas tangíveis, lhe
ia ferir a sensibilidade delicadíssima e lhe fazia correr da alma o sangue mais
precioso: o do amor e do devotamento que nos consagra. O divino modelo, que por
nós subiu ao Calvário, que padeceu por nós, sofreu e sofreu muito, conforme
mostraremos oportunamente, quando voltarmos a este ponto. (2)
Quanto ao haver desaparecido
do sepulcro o corpo de Jesus, é um fato que se explica pela mesma natureza
fluídica do invólucro corpóreo que Ele constituiu para o desempenho de sua
missão e cujos elementos componentes fez que voltassem ao meio de onde os
tirara, uma vez concluída aquela missão, retomando a partir daí, e continuando,
como Espírito, Espírito puro e perfeito, a desempenhar a sua missão espiritual,
na qualidade de protetor e governador do nosso planeta, missão que neste
momento desempenha entre nós por meio do Espírito da Verdade e da Nova
Revelação.
Versículo 22. As palavras
que Pedro dirigiu a Jesus, ao acabar este de predizer os seus sofrimentos,
“morte” e “ressurreição”, e também a resposta do Mestre àquele apóstolo, se
explicam da maneira seguinte: Do mesmo modo que os médiuns atuais, Pedro nem
sempre estava debaixo de uma influência estranha e, desde que isso se
verificava, seu Espírito agia livremente. Foi, pois, como homem que ele se viu
presa do temor de perder o seu Mestre querido. Não era possível que estivesse
privado sempre do seu livre-arbítrio. Poder-se-á, porventura, admitir, ou
supor, sequer, haja sido a inspiração dos bons Espíritos que o levou a negar o
Mestre?
Quanto à severidade da
resposta de Jesus, nada tem de estranhável, quando se sabe que todo Espírito
encarnado é fraco e falível, pelo só fato de ser encarnado, e que o Mestre não
podia deixar de querer se mantivesse Pedro constantemente em guarda contra as
fraquezas humanas, que sempre tornam a criatura incapaz de sentir o gosto das
coisas de Deus e só ter o das coisas do mundo.
A expressão satanás, de que
usou com relação àquele apóstolo em sentido puramente figurado, significa a má
influência, a má inspiração. Eram elas que faziam procurasse ele desviar o
Mestre do cumprimento do seu dever.
Respondendo a Pedro por
aquela forma, apropriada ao momento e ao futuro, deu-nos Jesus uma grande
lição: a de que a vontade do Senhor tem que predominar sempre sobre qualquer
vontade; que todos, encarnados e desencarnados, temos que nos curvar às suas
leis, com submissão, respeito e amor, mantendo-nos em guarda contra as
fraquezas humanas.
Humildes de coração,
auxiliemo-nos mutuamente, em tudo e por tudo e, com alegria que exprime
reconhecimento, recebamos as provas que ao Senhor praza enviar-nos, tendo os
nossos lábios e as nossas almas prontos sempre a bem dizer de todas as suas
decisões. Não choremos nunca, sobretudo nós, os espíritas, que recebemos a luz,
pois que as de gratidão são as únicas lágrimas que a fé pode verter.
Possuindo a presciência do
futuro, Jesus antevia as fases e condições dos progressos vindouros. Todas as
suas palavras, portanto, eram ditas para aquele momento e alcançavam o futuro.
Assim, quando disse a Pedro: “Afasta-te de mim, Satanás, etc.”, o divino Mestre
abrangia na sua apóstrofe as fases de erro e de materialidade que atravessaria
sua sublime doutrina de amor, perdão e bondade, por efeito dos dogmas e
mandamentos humanos, que a deturpariam; por efeito do orgulho, da intolerância
do fanatismo, do espírito de dominação, do despotismo religioso; por efeito da
predominância do gosto pelas coisas dos homens, isto é, das honrarias, do
fausto, das dignidades, do poder, dos favores e vantagens de ordem espiritual e
temporal, que não são coisas de Deus. Com relação à época atual, aquelas
palavras atingem a todos os que se mostrem hostis e rebeldes à Revelação
Espírita, trazida ao mundo pelos Espíritos do Senhor, como hostis e rebeldes à
Revelação Cristã se mostraram os escribas, os fariseus, os príncipes dos
sacerdotes e seus adeptos.
(2) Aliás, com os progressos
que a ciência espírita tem realizado e que são imensos em nossos dias; com os
subsídios importantes que para esses progressos têm trazido as experiências, a
que os cientistas deram o nome de “metapsíquicas”, sobre o que eles mesmos
convencionaram chamar “ectoplasma”, experiências, em muitas das quais se há
observado o reflexo dolorosíssimo que produz no médium qualquer abalo mais ou
menos violento nas formações ectoplásmicas, já se pode reconhecer não só que
dos sofrimentos ditos “físicos” não esteve isento o Divino Mestre, por ser de
natureza perispirítica o seu corpo, como também que esses sofrimentos foram,
para Ele, mais agudos e intensos do que os mais vivos que experimentemos, por
intermédio dos nossos corpos grosseiros, de carne putrescível.
Meios e condições sem os quais não se
pode ver na Terra o reino de Deus, em todo o seu poder
24.
Disse então Jesus a seus discípulos: Se alguém quiser vir nas minhas pegadas,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; 25, porquanto, aquele que
quiser salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por minha causa a
encontrará. 26. De que serve a um homem ganhar um mundo inteiro e perder a
alma? Que preço dará o homem para recobrar sua alma? 27. Pois o filho do homem
tem que vir na glória de seu pai, com seus anjos: e então dará a cada um de
acordo com suas obras. 28. Em verdade vos digo: Alguns há, entre os que aqui se
acham, que não morrerão sem ter visto o filho do homem vindo ao seu reino.
O devotamento absoluto, a
submissão sem limites são as condições únicas de chegarmos à perfeição relativa
que a Humanidade pode alcançar. Dedicando-nos aos nossos irmãos, pela prática
sem reservas da caridade, submetendo-nos aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus
Cristo, observando, em todos os nossos atos, os preceitos morais que Ele pregou
e exemplificou, estaremos no caminho seguro da nossa salvação. Sujeito às
necessidades materiais e aos instintos humanos, cumpre que o homem regule a sua
existência, tendo sempre em vista que o seu corpo é um empréstimo que o Senhor
lhe fez, como meio de efetuar a sua depuração e chegar até Ele. Não deve
apegar-se a esse corpo, nem ao tesouro que acumulou, porquanto nenhum dos dois
o salvará no outro mundo.
Aquele que se entrega aos
gozos materiais entra para a categoria dos que perdem a alma pelos bens
mundanos, dos que a “vendem ao demônio”, para usarmos de uma frase tantas vezes
repetida e tão mal compreendida. Consagrarmos o nosso corpo, isto é, a nossa
dedicação, o nosso trabalho, os nossos esforços ao bem da Humanidade,
afrontando incômodos e contrariedades, empregando as riquezas que possuamos em
auxiliar, com critério e prudência, os nossos irmãos, é caminharmos para a
salvação. Fazer o contrário é gozar materialmente, negligenciando a verdadeira
felicidade.
Que todos os nossos atos e
pensamentos tenham a guiá-los a gratidão ao nosso Deus e o amor aos nossos
irmãos; que nunca o egoísmo, ou o interesse pessoal manchem a pureza das nossas
consciências.
As palavras de Jesus, com
relação aos que dele se envergonham, abrangendo o passado, o presente e o
futuro, dizem respeito aos que se riem, ridiculizam e fogem das coisas santas,
de medo do ridículo. Com referência, especialmente, à era nova que se abre para
a Humanidade com o advento do Espiritismo e que irá até que comece a separação
do joio e do bom grão, elas entendem com os que, depois de terem conhecido a
verdade, usarem de disfarces para, pelo respeito humano, não confessarem suas
convicções. Desses, que são os que se envergonham de Jesus, também Ele se
envergonhará. Esses, quando chegar o momento daquela separação, se se
conservarem culpados, rebeldes, morrerão para o nosso planeta. Quer isto dizer
que não mais lhes será permitida a reencarnação na Terra. Ao terem de encarnar,
ver-se-ão constrangidos a fazê-lo em planetas inferiores a este, onde, como
condição necessária a que melhorem moralmente e progridam, a expiação
corresponderá à duração da falta.
Aludindo aos que não
morrerão (ou não “gostarão a morte”, como se lê nalgumas traduções dos
Evangelhos), sem terem visto chegar o reino de Deus em seu poder, Jesus se
referia à categoria de Espíritos que, encarnados naquela época, tinham de
chegar, de reencarnação em reencarnação, ao tempo em que o reino de Deus se
estabelecerá realmente na Terra; em que o divino Mestre se mostrará em todo o seu
esplendor aos homens, bastante puros, então, para poderem suportar o fulgor do
seu Espírito. A maior parte daqueles a quem Ele se referia, falando dos que
viveriam na Terra ao tempo da sua vinda, serão, nesse tempo, Espíritos
purificados e se acharão reencarnados em missão.
Elucidações evangélicas. FEB
(e-book).
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